Onde resiste a democracia americana

22 de setembro de 2020 § 15 Comentários

Têm sempre um grau de consistência maior que a média as análises de Luis Sergio Henriques na página de artigos de O Estado de S. Paulo. Domingo ele falava da relevância que terá fora das fronteiras americanas – especialmente no Brasil de Bolsonaro, “a cópia” – a eleição presidencial de novembro em que Donald Trump – “o original” – disputa a reeleição.

Ainda que assinalando a diferença entre os americanos, “indivíduos livres e acostumados à participação na vida pública” e nós “ibéricos tendentes à arquitetura social barroca, perdido o indivíduo numa totalidade que não domina e frequentemente o esmaga”, vê os sistemas políticos das duas grandes nações desafiados por um problema análogo, com “o abrasileiramento dos EUA e a americanização do Brasil” empurrando ambos para “a morte das democracias”.

Vai bem Luís Henrique quando aponta no “America First” de Trump a síntese da retirada dos EUA das instâncias multilaterais, a começar pela ONU, que não é tanto uma renúncia ao universalismo dos valores liberais trazidos ao mundo pela revolução americana, é mais “a explicitação da incapacidade de direção dos processos globais”. O isolacionismo do qual os Estados Unidos foram arrancados a duras penas no século 20 para defender a Europa de ameaças totalitárias de que eles mesmos sempre estiveram livres – o nazismo e o socialismo – foi sempre uma marca constitutiva do excepcionalismo daquele país.

Até quando registra que esse “déficit de hegemonia” está presente também internamente, com Trump, que rejeita de forma demagogicamente reacionária um processo de globalização que sabe irreversível ao “governar só para os seus” e apontar nas oposições cultural e política inimigos internos que ameaçam o “excepcionalismo” e o “destino manifesto” americanos, Luís Henrique vai bem.

Mas trai o seu próprio “barroquismo” ao deixar subentendido que essa participação na vida pública que existe lá e não existe aqui limita-se a um “costume” e não responde, como de fato responde, aos níveis radicalmente opostos de “empoderamento” (detesto a palavra mas para o caso não há melhor) que as instituições deles concretamente proporcionam e as nossas concretamente negam a sua majestade o povo.

Lá, com recall, iniciativa e referendo, o povo realmente manda no governo e por isso participa. Aqui o governo manda no povo e todas as instâncias de representação são falsas, e portanto o povo não perde tempo fingindo que participa. Não é uma diferença vagamente “cultural”, tudo decorre de uma diferença prática e concretíssima de mecanismos institucionais que onde quer que são instalados, produzem o mesmo efeito na disposição do povo de participar.

Vai sem dizer que, onde e quando pode, o povo “participa” no sentido de favorecer o seu interesse o que invariavelmente significa libertar-se da exploração dos parasitas da privilegiatura com resultados explosivos.

O Brasil tem dos EUA exclusivamente a visão que pinta deles o “gueto cultural” do antigo “Condado de York”. Mas Nova York é o pedaço menos americano e menos democrático da democracia americana, obcecada com a figura de sua majestade o presidente, igualmente a menos representativa de tudo que a revolução americana tem de mais revolucionário.

A União, à qual os estados resistiram até o último minuto na história da formação do país, é a coisa menos americana da democracia americana. A Constituição deles é, na verdade, uma negação da União, que ela reconhece como um mal necessário para manter a inserção do “Novo Mundo” no “Velho” mas que, por isso mesmo, cerca por todos os lados de profiláticos checks and balances. 

A União é, na verdade, tudo que a democracia americana tem de parecido com o resto do mundo. Mas o que a define e distingue de todo o resto é o que está daí para baixo. A democracia que se pratica nos estados e nos municípios, de cujas populações diretamente nascem os “ballot measures” (tudo que eles decidem, tendo a necessidade por única medida, que vai ser decidido no voto), esta sim é totalmente “excepcional” e, quase sempre, desconhecida para o resto do mundo porque é um perigo mortal para os poderes estabelecidos que “patrulham” ferozmente o assunto.

É esta que é indestrutível. São nesses Estados (e cidades) Unidos que o povo está de fato no poder. E, como todo mundo que um dia “comeu melado”, jamais abrirá mão dele.

Marcado:, , , , , , , , , , , ,

§ 15 Respostas para Onde resiste a democracia americana

  • A. disse:

    O artigo todo é magistral! Mas quero destacar um trecho que me tocou em especial:
    ” O isolacionismo do qual os Estados Unidos foram arrancados a duras penas no século 20 para defender a Europa de ameaças totalitárias de que eles mesmos sempre estiveram livres – o nazismo e o socialismo – foi sempre uma marca constitutiva do excepcionalismo daquele país.”
    Mais do que o elogiar, Fernão, quero agradece-lo!!!

    Curtido por 1 pessoa

  • Fernando Lencioni disse:

    É engraçado como ninguém consegue entender a importância da desconcentração de poder. Esse é o princípio básico da formação de um Estado verdadeiramente democrático. Ele molda inclusive o sistema tributário do país tornando mais justo e controlado. Continue na sua doutrinação. 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

    Curtido por 2 pessoas

    • flm disse:

      Sem esquecer (eu deveria ter sido mais explicito sobre esse ponto) que com a vida nos estados e nos municípios posta sob esse nível de controle do povo elimina-se automaticamente mais de 90% da corrupção. Sem sobra a mega, que impressiona mas sozinha não pesa tanto. E fica-se rico! Passa-se a sofrer as misérias humanas a partir de um patamar muito acima do das necessidades básicas…

      Curtido por 1 pessoa

  • Alexandre disse:

    Pois é essa “democracia que se pratica nos estados e nos municípios”, essa excepcionalidade dos EUA observada por Tocqueville, que não se vê registrada nas Globo News daqui. Para esses jornalistas, uma turma exibicionista que adora se considerar bacana, o que vale são as costas leste e oeste e o noticiário da CNN (de lá). O resto é red neck.

    Curtir

  • rubirodrigues disse:

    Sem dúvida a vida ocorre no município ou no distrito. Estado e União são construções estratégicas que até podem ser inteligentes e úteis para determinados fins, precisamente definidos. Quanto à “globalização inevitável” somente posso concordar se for a do quinto império de Fernando Pessoa a Antonio Vieira: globalização de uma ideia em razão de sua excelência. Globalização política é pesadelo final e não posso imaginar que alguém que tenha descendentes a apoie de sã consciência.

    Curtir

  • EVA WONGTSCHOWSKI disse:

    TExto maravilhoso. Inspirador. Grata. Eva

    Curtir

  • LSB disse:

    Prezado Fernão,

    Quanto à globalização “irreversível”, vou me alinhar ao sr. rubirodrigues.
    Entendo que a globalização ECONÔMICA não é só inevitável e irreversível como também é NATURAL! Ocorre desde o “início do mundo” e, de fato, é o que permitiu a raça humana construir civilizações, conhecimento, etc.
    (Jarod Diamond em “Armas, Germes e Aço” mostrou a importância das trocas entre as regiões. Aqueles que ficaram “apartados” de “rotas comerciais” não só mantiveram estágios bastante primitivos de desenvolvimento – em muitos casos, modelo caçador coletor mesmo – como houve até situações de “regressão” tecnológica quando do isolamento).

    Já quanto a globalização “política” (ou “globalismo” como uma boa parte dos críticos a nomeia) sou totalmente contra!
    No mínimo, essa ideia é muito “perigosa”, pois para dar certo (se é que pode dar certo), muito, mas muito sangue tem que rolar. Nesse linha de ação, deve-se mais do que aceitar, mas até mesmo defender e entender como positivas aos objetivos de longo prazo (globalização política) as Guerras do Iraque e do Afeganistão para levar a democracia a tais regiões.
    E se tudo der “certo”, 100% da “humanidade” “encenará” uma “cultura artificialmente homogeneizada” e viverá submetida a controles que farão a opressão orwelliana parecer o paraíso libertário.

    Claro que, em caráter excepcional, tratados e acordos políticos podem ser costurados, MAS como excepcionalidades. No geral, sou bem mais “Abaixo a ONU” do que “mais organismos multilaterais”.

    (nesse ponto, devemos lembrar que o interesse – ou melhor, as circunstâncias – de cada país europeu é muito diferente da realidade americana ou brasileira. Somos países “continentes” e, portanto, nossas necessidades – e possibilidades – geopolíticas são diametralmente opostas às de países “chácaras”).

    Noves fora a globalização, gostaria de ressaltar o comportamento do intelectual brasileiro sublinhado no seu texto.
    Não li esse artigo específico do Luís Sérgio Henriques, mas já li muito coisa dele. De fato, trata-se de um “pensador” muito preparado, culto e inteligente e em cuja obra sempre consigo garimpar alguma perspectiva interessante, um argumento bem construído, um ponto de vista válido, ainda que minha orientação política seja muito distinta da dela.
    Feito o elogio, faço a crítica:

    “Mas trai o seu próprio ‘barroquismo’ ao deixar subentendido que essa participação na vida pública que existe lá e não existe aqui limita-se a um ‘costume’ ”.

    Penso que o verbo “trair” é pouco. O que o cidadão faz é, em linguagem popular, safadeza!
    Sim, ele sabe muito bem como as coisas funcionam nos EUA e sabe muito bem o quanto isso é muito mais do que uma simples diferença de “costume”.
    Oras, ele ter uma visão negativa do sistema americano é válido.
    Ele ter uma visão positiva do sistema brasileiro é válido.
    Ele ter uma visão negativa sobre a descentralização americana é válida.
    E ele ter uma visão positiva da ultra centralização “socialista” brasileira é válido também.

    Agora, o que não é válido é mentir. Quando mente escancara a desonestidade intelectual e não pode mais ser considerado uma pessoa de “boa fé” (embora sempre haverá incautos, inocentes e idiotas úteis, velhinhas de Taubaté e mulheres “de malandro” para acreditarem no “cafajeste”).

    Digo isso porque o cidadão poderia defender a superioridade do nosso sistema em relação ao americano, MAS não poderia dizer que a “participação na vida pública que existe lá e não existe aqui limita-se a um ‘costume’ ”. Isso é mentira.
    Se fosse honesto, revelaria toda a monstruosa diferença entre os sistemas e, coerentemente com as próprias ideias, apontaria porque isso não é importante para o resultado final ou porque eles estão errados e nós certos (ou melhores ou mais evoluídos, enfim).

    Quando o “professor” marginaliza, menospreza e diminui a diferença existente – retratando-a como um “mero” e sem importância “costume” – não está apenas “traindo” seu barroquismo, cometendo um pequeno “engano” ou demonstrando um “inocente” lapso de memória, não.
    Ele está, de fato, tentando enganar e manipular o povo brasileiro confiando na ignorância do público associada à prática “religiosa” deste mesmo público de “adorar” “vacas sagradas” (no caso, ele próprio no alto de sua cátedra universitária).

    Em suma, em que pese o conhecimento do “intelectual”, seu papel não é de esclarecer o público (ainda que pudesse defender uma visão particular nesse esforço de “esclarecimento”, mas desde que não apelasse a distorções, mentiras e falácias), mas sim dedicado a um objetivo muito mais vil e pusilânime: enganar a audiência, confundir o leitor, manipular a Nação e fazer de tudo para defender/implantar/assegurar o seu canhestro modelo político econômico (que se não é exatamente o que está aí, pelo menos é muito mais próximo do que o modelo americano representa – e que, por isso, deve ser escondido, não divulgado, caluniado e difamado, se possível, e distorcido e não ou mal explicado para não haver risco nenhum do brasileiro se encantar).

    Para concluir, enquanto dermos “espaço”, “benefício da dúvida” e acreditarmos na “boa fé” desses “intelectuais gramscianos”, continuaremos a chafurdar na lama.

    Abs e boa sorte a todos
    LSB

    PS: apesar do meu comentário se basear em uma única passagem comentada pelo Fernão no seu artigo, eu já li, como já havia ressaltado, muitos textos do Luís Sérgio Henriques e, portanto, minha crítica aqui não se refere só a esta (ou só por esta) “gatunagem”; pelo contrário, conheço o “estilo gatuno literário” do cidadão e, portanto, a crítica é pelo “conjunto da obra”.
    Ademais, se esse “professor” (pausa para risos ou lágrimas, já que professor é quem ensina e não quem omite) fosse o único da “espécie” a demonstrar tal comportamento, a crítica também seria desnecessária uma vez que a vilania seria localizada e, portanto, com pouca capacidade de putrefazer nossa vida política. Todavia, esse prática velhaca, desonesta, ladina, trapaceira, bandida e estelionatária é praticamente padrão entre nossas “vacas sagradas” intelectuais.

    Curtido por 2 pessoas

  • Marcos Andrade Moraes disse:

    Vc não entendeu nada! Até o nome dele vc errou…

    Subentende-se uma ova, pois ele nem sequer chegou perto da sua infeliz inferência. O cerne do texto dele está aqui:

    “O fato é que o sistema político das duas grandes nações, por artes de um mundo que parece ignorar particularismos, encontra-se desafiado por uma questão análoga. Como efeito do abrasileiramento dos EUA ou da americanização do Brasil, ambos se tornaram casos de manual dos procedimentos em curso de “morte das democracias”, com a corrosão das suas normas escritas e não escritas, das suas regras e dos seus valores. ”

    Que coisa, sô.

    MAM

    Curtir

  • GATO disse:

    Frases como estas querem dizer o quê? “as nossas concretamente negam a sua majestade o povo ‘ “o povo realmente manda no governo e por isso participa ” “produzem o mesmo efeito na disposição do povo de participar”
    ….o povo daqui não quer saber de nada relacionado com obrigação, responsabilidade, participação coletiva, salvo raras ou escassas exceções. Reunião de condomínio, alguém ai vai…….vão apenas quando há novo reordenamento de vagas de garagem. Audiência Pública para discutir nova lei, novo processo, mudança de obrigações comunitárias, alguém vai…..somente se for pra definição de algum novo direito que interesse ao cidadão.
    Quando fui síndico, por renuncia do anterior, comecei a propor novas obras, que em termos monetários aumentavam em 50% o condomínio, se não houvesse comparecimento, os que lá estavam uma minoria consciente aprovava e depois vinha a chiadeira, era tarde, já estava aprovado. Com isso a frequência aumentou pois o medo do gastão fazer mais obras precisava ser barrado. Tudo acabou bem, inadimplência zero, mesmo com o aumento, pois todos queriam melhorias, mas precisavam participar, concordar com elas, ter um orçamento que comportasse esses gastos e acompanhar as obras, fiscalizar os gastos, livros abertos, orçamentos corretos. Pagar a taxa de condomínio no vencimento, pra ter liquidez e poder fazer melhorias para todos.
    Qual é o nosso problema em fazer isso, DÁ TRABALHO, TEM QUE PARTICIPAR e para isso tem que abrir mão de algum tempo, a minoria consciente faz, a maioria inconsequente só faz reclamar.
    O problema não é globalização, união, estado, município. É a consciência de participar no núcleo menor que pode ser uma vila de casas, um condomínio de prédios, uma rua, um bairro. A comunidade deixou pra lá, só interessa o individual e ai se deu mal. Coisas simples, vida simples, mas se podemos complicar……

    Curtir

  • LSB disse:

    Prezados,

    Depois que escrevi meu longo texto (22 de setembro de 2020 às 11:25), fiquei com certo receio de não ter sido “justo” com o artigo original (critiquei “de ouvido” – ou melhor, considerando a interpretação do Fernão).

    Assim, acabei procurando o artigo para conferir. Após a leitura, reavaliei mentalmente minha critica e pensei que, se tivesse que criticar o artigo novamente, seria por outros pontos e não esse que o Fernão destacou (que está, de certa forma, muito “sutil” no texto).

    De qualquer forma, não pretendia fazer qualquer reparo ou complementar meu texto. Não, pelo menos, até ver o comentário que o MAM postou acima. Daí resolvi voltar ao assunto.

    Bom, o autor é artigo em questão é Luiz Sérgio Henriques, um dos divulgadores de Gramsci no Brasil e “sócio fundador” do “esquerdismo” universitário brasileiro.
    Enfim, como havia dito, culto, preparado, inteligente e… ativista político (para ser o mais “bondoso” possível).,

    Quanto ao texto, bem, é proselitismo progressista puro!
    Articulado? Sim. Mas…

    1 – assume diversos IMPLÍCITOS que são “progressistas”, ou mais “grosseiramente”, de “esquerda”;

    2 – Assume “teses”, no mínimo, muito discutíveis e controversas.

    Exemplos:

    – Quem disse que está havendo “abrasileiramento dos EUA” ou “americanização do Brasil”?

    No nosso caso, antes fosse verdade… Isso é “conversa fiada” para ele vender o peixe “progressista gramsciano” dele;

    – ” (…) ambos se tornaram casos de manual dos procedimentos em curso de ‘morte das democracias’ “;

    Quem disse que a democracia está morrendo aqui ou lá? Só os progressistas dizem isso porque não gostaram das escolhas do povo.
    E tudo que Bolsonaro ou Trump faz para esse povo é fascista (embora, na verdade, os nazistas atuais são os mesmos de sempre que, novamente alegando um “judaísmo estrutural” secular que domina todos os setores econômicos – principalmente os grandes negócios e as finanças – e oprime os pobres arianos mantendo-os na miséria e sem oportunidades econômicas, criam espaço só para arianos, espaços sem judeus, cotas para arianos, etc… como um certa loja de departamentos anunciou semana passada… tudo para salvar o ariano oprimido e sem oportunidades econômicas dos judeus opressores históricos…)

    – “(…) com a corrosão das suas normas escritas e não escritas, das suas regras e dos seus valores.”

    Quem disse que existe tal corrosão? Qual a prova disso?
    O autor cita algumas “características” nos governos Trump e Bolsonaro para demonstrar essa perda de valores, mas é só interpretação esquerdista (vou reproduzir e analisar abaixo).
    Enfim, bullshit para “azeitar” a narrativa progressista.

    – “Há coleção de ineditismos na conduta de Trump (…). No plano externo, que jamais imaginaria o afastamento entre EUA e seus aliados tradicionais, os países do Ocidente democrático, além da admiração de Trump por dirigentes autoritários, incluído o agora arquirrival Xi Jinping? Quem suporia, há alguns anos, a aliança tácita com Vladimir Putin em chave anti europeia (…). O lema “American First” que sintetiza a retirada das instâncias multilaterais (…)”

    Ineditismos?
    EUA e Europa sempre tiveram suas rusgas e ponto. Trump não se fez inimigo da Europa.
    Admiração do Xi Jinping? Alguma frase solta pescada para “provar” a tese. Trump se elegeu falando mal da China (certo ou errado) e nada indica que seja contra a democracia.
    Retirada das instâncias multilaterais?
    Bom, os EUA foram bastantes isolados até o início do século XX e, portanto, isso não seria ineditismo.
    No mais, por que não pode se retirar das instâncias multilaterais? Por que isso não seria democrático? Pelo contrário, isso até é bastante democrático ao não submeter seu povo a controles externos não democráticos. Enfim, entidades multilaterais estão longe de serem “democráticas” (exceto para os “globalistas” que entendem que burocracia é sinônimo de democracia).

    – “(…) a bradar contra a diversidade social, os avanços culturais e as oposições políticas, entendidos todos eles como diferentes expressões de um ‘inimigo interno’ (…). A deslegitimação dos adversários, que está no coração do conservadorismo ‘revolucionário’, é uma traição aos princípios liberal-democráticos e implica, em perspectiva, a substituição da persuasão por meios autocráticos de mando – por uma ditadura, em suma”.

    Interpretação/distorção/mentira progressista/esquerdista.

    Ninguém está contra a diversidade social ou avanços culturais. Mas muitos, lá e cá, estão contra as políticas nazistas que estão sendo preconizadas e aplicadas em universidades, escolas, empresas (e agora na loja da amiga da Dilma).

    Inimigos internos?
    Quem há mais de século fica pregando contra inimigos internos (que seriam os burgueses, os patrões, os empresários, os religiosos e as religiões, os homens, os brancos, os heterossexuais, a família tradicional, etc.) e JUSTIFICANDO e PREGANDO a VIOLÊNCIA contra tais inimigos sempre foi a “esquerda”.

    A deslegitimação de tudo que não fosse a própria “religião” é “cacoete” (ou picaretagem) histórico dos progressistas/esquerdistas. Toda a lógica econômica é totalmente descartada por ser “ideologia” burguesa. E todo “burguês”, rico, homem, branco, etc. não tem direito de opinar sobre certos assuntos (lugar de fala) pois estaria “contaminado ideologicamente” ou seria “estruturalmente deturpado/enviesado”.

    A substituição da persuasão por meios autocráticos!?
    São os progressistas que, nazisticamente, estão tentando usar toda a força do Estado para prender e calar toda crítica e todo crítico acusando de “assassinar” a democracia.

    Enfim, o artigo todo é um panfletinho de grêmio estudantil da ultra esquerda (mas bem escrito, obviamente – ou melhor, bem “enganador”). Assim, reafirmo toda a crítica que havia feito ao autor no comentário anterior.

    No mais, como o Fernão falou, o ponto mais importante da questão Brasil x EUA, o autor não passou nem perto: a descentralização político, jurídico e administrativa associada ao voto distrital puro com recall, iniciativa e referendo.

    Abs a todos
    LSB

    Curtir

    • LSB disse:

      E isso sem contar que qualquer expressão grosseira ou mal educada do Trump, ou do Bolsonaro, logo já é classificada como agressão, violência e REAL ameaça à democracia.

      No entanto, nada se fala nem se comenta sobre o “direito”, “legítimo” e “exclusivo”, de usar a violência que a esquerda acredita possuir e que, em suas mãos, teria somente o efeito de “aprimorar” a democracia (e nem se esconde tal “pretensão”; pelo contrário, a esquerda está sempre declamando possuir o direito à violência e apontando os inimigos a serem alvos de sua violência “aperfeiçoadora”).
      Nesse caso, não há risco para a democracia… só “aperfeiçoamentos”, “aprimoramentos” e “aprofundamento” da democracia.

      (como os protestos violentos do Black Lives Matter. Estavam protestando porque o policial não foi preso? Não, pois ele foi…
      Estavam protestando porque o policial não foi nem será julgado? Não, pois ele será…
      Estavam protestando porque o julgamento foi fraudulento? Não, porque nem houve o julgamento ainda…
      Por que, então, estavam protestando? Justiçamento! Óbvio!
      O policial agora terá um julgamento justo? Qual juiz ou quais jurados teriam ou terão a coragem de inocentar ou aceitar alguma tese atenuante? Se aceitarem ou inocentarem o país pega fogo – e eles serão, muito provavelmente, perseguidos… serão imparciais? Ou melhor, conseguirão ser imparciais?
      Enfim, o que o BLM – progressismo “raiz” – está conseguindo? Acabar com o princípio do julgamento justo e fazer voltar o linchamento público!)

      Afinal, quem põe a democracia em risco?

      Abs a todos
      LSB

      Curtido por 1 pessoa

  • Herbert Sílvio Augusto Pinho Halbsgut disse:

    No ideário da construção da democracia americana uma máxima latina define o sentimento que eles demonstram através do voto: PLURIBUS UNUN. Uma forte compreensão vivida do que é coletividade.
    Penso que o exercício da cidadania americana está profundamente impregnada por este conceito na maioria da população e isto começa já em casa e, depois, continua pelas mãos dos professores e pais em escolas onde o próprio povo participa do controle das escolhas da comunidade. Nesse sentido o voto distrital reforça esse sentimento e une os desiguais naquilo que é de interesse comum a todos, respeitando as diferenças e liberdades individuais. Confere?
    Fernão, este seu texto nos estimula a experimentar também desse melado! A necessidade nos obriga!

    Curtir

  • Marcos M. N. disse:

    Concordo e até divulgo a sua tese sobre a mudanças que o Brasil precisa implementar para transitar da privilegiatura à democracia, para mim é a mais adequada, a única que inverteria o mal fadado destino desse país. No entanto, quanto à ONU, OMS, tenho mais que a certeza que servem ao terrível plano de dominação global, acelerada pelo vírus chinês,. Não passam de instrumentos do capital monopolista, assim como a China, Partido Democratas, PT, PSDB. Nessa guerra, onde os donos do mundo, do sistema financeiro, inclusive da narrativa midiática, querem brincar de Deus, estou do lado de Trump e dos nacionalistas, isso se eles não estiverem participando do teatro das tesouras para dar legitimidade ao sistema atua, já falido, e condições para que um novo seja implantado sem maiores resistências. No Brasil, não precisa muito para figuras que possam de estadistas, cultos, sirvam a essa Elite Mundial, desde muito tempo, para sabotar qualquer tentativa de salvaguardar a sua Soberania. Homens cínicos e canalhas, independente do discurso, sem consciência moral e traidores, se vendem para satisfazer sua soberba, boçalidade, perversão. São de duas espécies os homens públicos do país e suas gradações: os latifundiários de cargos públicos encabeçados pelos oligarcas, corporativistas e, depois do partido do Foro de S. Paulo, também pelos falangistas, e os crocodilos de fosso que anteparam e bajulam os primeiros. formados por profissionais de todas as áreas e suas entidades que quase nada mais representam senão negócios transversais do saque contínuo de recursos públicos realizados pelo primeiro.

    Curtir

  • rubirodrigues disse:

    Brasil e Estados Unidos são, presentemente, os focos das baterias socialistas de uma Pós-Modernidade moribunda. Em dimensão filosófica de profundidade há outra explicação sobre o destino que hoje nos une. Para quem tiver fôlego para um mergulho metafísico ofereço https://segundasfilosoficas.org/sem-categoria/o-fim-de-uma-era-um-desafio-a-academia/ .Vamos ganhar essa guerra apesar das nossas limitações. Podemos, eventualmente, apressar o processo.

    Curtir

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

O que é isso?

Você está lendo no momento Onde resiste a democracia americana no VESPEIRO.

Meta