Em busca de um caminho melhor
30 de agosto de 2012 § Deixe um comentário
Cheguei de férias em meio à onda de indignação que o voto do genuflexivo ministro Lewandowski inocentando os mensaleiros de estrela no peito fez rolar, mas não foi ela que travou-me a pena.
Não esperava preto nem branco dele ou do sr. Dias Tofolli, a dupla assumidamente “café com leite” do Supremo Tribunal Federal.
O marrom que se confirmou em seus votos está perfeitamente adequado aos dois.
Mas ainda que de segunda-feira até hoje, com pequenos senões, o progresso do julgamento do primeiro capítulo da “Ação Penal 470” tenha sido uma sucessão de vitórias para o Estado de Direito no Brasil, alguma coisa vinha me impedindo de fechar um texto com a convicção que a ocasião parecia pedir-me para saudá-las.
A tese do “crime eleitoral” – e não de corrupção – de autoria do grande ausente deste banco de réus – Lula em pessoa – foi derrotada por 10 x 0 (escrevo antes do voto do ministro Ayres Britto esperado para hoje à tarde). Nem Lewandowski e Dias Tófolli arriscaram abaixar-se o necessário para negar essa obviedade sob o risco de serem despidos e açoitados em público pela prometida réplica do implacável ministro Joaquim Barbosa.
E assim, sob pressão como deve ser, o STF em peso, constituído por uma maioria de ministros nomeados pelo PT, decidiu que a tese do “caixa 2 eleitoral” é que é uma farsa e ainda mandou o Nº 3 do PT e a corja de que ele se cercou para nos roubar passar uma temporadazinha na jaula.
Funcionou a pressão da imprensa; funcionou a independência dos poderes; funcionou a intocabilidade do mandato (até o 70º aniversário). Ao menos sob as luzes da ribalta produziu o efeito que dela se espera a majestade de que se deve cercar o cargo máximo do Judiciário brasileiro.
O teste da realidade consagrou mais uma vez, enfim, a sabedoria e a arte da engenharia institucional de James Madison.
“Ainda ha lei, neste país” – é o recado – “e desde que nos lembremos sempre de exigi-lo, a ela estão todos submetidos, ficando as prisões abertas para quem se dispuser a desafiar esse limite“.
Que mais é que eu estava querendo?
Só ontem à noite foi que a ficha caiu…
Não era só o longe que nos deixamos levar antes deste ensaio de regresso que não permitia que a desconfiança morresse no meu coração. Era o noticiário sobre o que se passava ao largo do STF que me punha o grilo a me perguntar ao pé do ouvido: “Estamos diante de uma nova aurora da democracia brasileira ou do seu último canto do cisne?”
Chegará, algum dia, às ruas, o sentido da “virada” anunciada pelo STF? Ainda está viva por aí a fibra que se requer para reafirmá-la? Ou é tarde demais?
O que nos diz o “efeito Lula” nas pesquisas para a prefeitura de São Paulo, empurrando o seu mais novo “poste” do zero para os 14% em uma semana de campanha na TV em plena safra de condenações do Mensalão?
Este país que ainda oscila entre o pastel em quem manda votar o “pai da pátria” autoritário e o salafrário abençoado pela igreja argentária do momento está mais próximo dessa visão simples e objetiva do lulopetismo que vê as instituições como ferramentas de uso particular das quais tem direito de se apropriar legitimamente aquele que obtém mais votos na eleição, ou dos sonhos de uma elite ilustrada que, desde os anos 30, tem feito das tripas coração para fazer este país saltar o fosso que separa os “fazendões” dos caudilhos sul-americanos da admiração de Lula das Nações politicamente civilizadas?
Para que lado aponta o resultado publicado ontem da 11º edição da pesquisa “Sonho dos Jovens” da Companhia de Talentos, que registra que, depois de breve namoro com a modernidade em 2010 e 2011, a Petrobras voltou a tomar o lugar do Google como o emprego com que mais sonha a juventude brasileira?
Ontem fui dormir pessimista.
A justificativa da estudante entrevistada – “A remuneração é boa mas não é só isso. Se passar no concurso, a vida está feita” – soava-me como a voz do Brasil rendendo-se à sua sina: “Aqui não ha escapatória; é casa grande ou senzala“.
Hoje acordei otimista.
Não se trata de um aleijão moral incurável. É só Darwin. A maioria joga o jogo pela regra que lhe dão. Procura o caminho mais curto para a segurança e o “sucesso”.
Lula tem provado suficientemente a eficácia do seu e convencido muita gente das virtudes da falta de virtude. O STF pode estar começando a nos oferecer uma alternativa melhor.
Marcado:Ação Penal 470, corrupção, corrupção no Brasil, corrupção política, estado de direito, James Madison, Joaquim Barbosa, Jose Antonio Dias Toffoli, julgamento do Mensalão, Lula, Mnesalão, PT, Ricardo Lewandowski, STF, Supremo Tribunal Federal
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