E se eles não fossem só caras-de-pau?
12 de dezembro de 2013 § 4 Comentários
Volta e meia me assoma esse pânico!
Pense bem…
Vetado aquele inacreditável “arranjo” com aquele “hotel” de R$ 20 mil por mês, José Dirceu estaria pronto a aceitar um outro “emprego”, agora de R$ 508,50 ao mês, correspondentes a 75% de um salário mínimo mais vale-transporte e alimentação, oferecido pela Cooperativa Sonho de Liberdade, formada por presidiários do Distrito Federal.
A cooperativa protocolou a oferta no Supremo Tribunal Federal na quinta-feira passada, com convite extensivo a José Genoíno e Delúbio Soares. Dirceu seria “administrador da produção de artefatos de concreto”, Genoíno poderia “costurar bolas de couro” a R$ 5 a unidade e Delúbio seria “assistente de marcenaria”.
De 20 mil para R$ 508,50 por mês desce-se um degrau considerável, não ha o que discutir. Mas como tanto José Dirceu quanto Genoíno e Delúbio nunca trabalharam na vida fora das especialidades requeridas pela política profissional no padrão brasileiro, isto é de somenos importância. Nunca nenhum dos três viveu dos salários nominais que ganharam a qualquer altura de suas vidas e a fonte que os alimentou até aqui não ha de ter secado de repente.
E depois, o objetivo disso tudo é preencher as exigências para fazer jus ao regime semiaberto de prisão e não aumentar o patrimônio dos três prisioneiros.
Seria até simpático, portanto, sobretudo tendo em vista que estamos entrando em um ano eleitoral (se é que se pode chamar qualquer ano de um ano não eleitoral no Brasil de hoje), que eles aceitassem humilde e democraticamente o mesmo padrão de serviço e tratamento que recebem os seus colegas de presídio.
Muito mais, pelo menos, que a antipaticíssima atitude mantida até aqui de esfregar privilégios na cara dos demais prisioneiros da Papuda, criando uma ostensiva forma de exclusão dentro da exclusão que não cai nada bem para quem pede votos na rua clamando por “justiça para os excluídos”.
Ainda que se tratasse de demagogia, seria a boa demagogia, daquelas impossíveis de se criticar.
Enfim, ha finalmente uma solução à vista para um episódio em que, quanto mais penso, mais assustador me parece.
Um empresário que contrata um prisioneiro para que ele possa fazer jus ao regime semiaberto assume formalmente um compromisso com o juiz encarregado do caso de co-tutelar o prisioneiro que lhe será entregue em confiança durante o dia, para que ele não fuja às regras estabelecidas para esses casos.
É por isso que tais propostas de emprego precisam ser formalmente submetidas à Vara de Execuções Penais que avaliará a confiabilidade do candidato ao cumprimento de tal missão.
Se isto não é do conhecimento do grande público certamente é do conhecimento de todo e qualquer advogado, especialmente dos criminalistas como os que defendem estes condenados. E, no entanto, o sr. José Dirceu teve o desplante de enviar ao Supremo Tribunal Federal da Nação um minucioso dossiê informando que o primeiro “empregador” que se candidatou a abriga-lo e que, como não podia deixar de ser, o tribunal vetou, é um “laranja” residente nos subúrbios de Ciudad del Panama, que aparece como “proprietário de mais de 1000 empresas” naquele paraíso fiscal, notório em todo o planeta pelas facilidades que oferece para lavar dinheiro do crime organizado.
O primeiro impulso do incrédulo observador aqui de fora seria imaginar que José Dirceu e companhia estão tão acostumados à impunidade e aos privilégios que ele nem se deu conta desse pormenor.
Mas protocolar oficialmente um dossiê como este na mais alta corte da Nação no momento em que o país inteiro está com os olhos voltados para eles não cabe nesse tipo de raciocínio nem em se tratando de figuras ha tanto tempo cevadas na impunidade. Afinal, é para isso que servem os advogados que atendem esses senhores que estão, supostamente, entre os profissionais mais bem pagos do país. Mesmo considerando-se que é de dinheiro fácil que se trata, este que vêm recebendo, não é de se admitir esse nível de desleixo.
Não ha, portanto, como desculpar algo como isto ou como compreender esse episódio fora da pior entre as hipóteses possíveis.
Pois a verdade é que episódios do gênero acontecem todos os dias nas mais altas esferas do partido que nos governa, tendo a última delas envolvido ninguém menos que o Ministro da Justiça em pessoa num flagrante – ou pior, numa confissão – de falsificação de prova e de crime de falsidade ideológica no caso da “tradução” de declarações de um executivo da Siemens para dentro da qual sua excelência e/ou seus funcionários contrabandearam nomes e acusações que nunca estiveram nos originais.
A esta altura, portanto, o que assusta mais não é a desfaçatez nem a ausência de limites morais ou legais capazes de deter os agentes do partido do governo nessas enrascadas policialescas em que se têm metido mas a espantosa incompetência que eles demonstram não só nessas manhas e artimanhas em que é de se supor que se deveriam ter especializado nos tempos de clandestinidade, mas em tudo o mais quanto fazem, especialmente com a economia nacional.
Pois o que tudo isso nos sugere é que a probabilidade mais alta é a de que não sejam deliberados os passos que têm metido o partido nessas enrascadas mas, o que é muito pior, também os que o estão levando a limar temerariamente a herança bendita que resgatou a duríssimas penas a credibilidade do país como player respeitável neste jogo econômico global que não perdoa o menor erro. Tudo não passa mesmo de uma sucessão de trapalhadas de quem, se tem alguma ideia do que deseja fazer, não tem nenhuma sobre como fazer, exatamente porque nunca teve qualquer experiência anterior senão a de desconstruir o que outros construíram.
O que será o amanhã
24 de setembro de 2013 § 3 Comentários
Cada vez mais abertamente o PT comporta-se como se não houvesse amanhã.
Nenhuma instituição, nenhum equipamento de defesa da sociedade, nenhum segmento da máquina pública, nenhum dos pilares da construção do Brasil da próxima geração é sagrado o bastante para merecer qualquer contemplação diante do objetivo de perenizar-se no poder e esmagar qualquer esboço de oposição, o único que se pode identificar neste governo a partir do exame da coerência das suas ações.
O Congresso Nacional foi a primeira vítima, corroída pelo gás venenoso da corrupção institucionalizada instilado pelos métodos que o Ministério Público descreveu em minúcias na peça acusatória da Ação Penal 470, a do Mensalão.
Desde a revelação da tramoia à Nação procedeu-se à desmontagem do Ministério Público e do Poder Judiciário pela substituição cirúrgica, peça por peça, da maioria sadia dos seus agentes por outros notoriamente infeccionados até que chegássemos ao acachapante suicídio ritual do Supremo Tribunal Federal, entregue o último ato de profanação ao próprio papa daquela igreja para que se abandonasse qualquer esperança de salvação.
Para reverter a condenação de meia dúzia de salafrários passou-se jurisprudência que garantirá a impunidade de todo e qualquer salafrário que chegar às barras da Justiça brasileira daqui para sempre.
O esboço de reação da parcela da população que não se vendeu e saiu às ruas em junho animada pela condenação dos mensaleiros foi assassinado ao cabo de três meses a fio de intimidação pela violência física a cargo de hordas de profissionais que em tudo faziam lembrar as que Hitler e Mussolini usaram, quase 100 anos atrás, para a mesma finalidade.
Ministérios ha 40, todos podres. E quanto mais se comprovam podres, mais o governo os confirma nas mãos dos seus indefectíveis “donos”. Ha focos de corrupção – mais uma vez flagrados, documentados e impunes – dentro do Palácio do Planalto, nas salas vizinhas às da Presidência da República.
O aparelho do Estado está partidarizado de cabo a rabo e quem tem tido qualquer experiência, por menor que seja, de como tem agido e reagido o funcionalismo “público” pelo país afora não precisará de grande esforço de imaginação para antever como ele reagirá se, por algum tipo de acidente imprevisto, um governo que não seja do PT vier a ser posto pelos eleitores na posição de tentar discipliná-lo e dar-lhe ordens.
O sistema de defesa da moeda nacional foi desmontado à vista de todos com expedientes grosseiros de falsificação das contas públicas que provocaram a debandada dos investimentos internacionais no momento em que uma economia inteira posta a serviço de tapeações eleitoreiras ameaça parar em função do sucateamento da infraestrutura de transportes e de energia.
Para que a mentira que o capital internacional denuncia tomando distância de ofertas cada vez mais obscenas de remuneração (e por isso mesmo tanto mais insustentáveis e inverossímeis) não chegue às massas subornadas pela ilusão consumista sustentada à custa de um aprofundamento para além de temerário do abismo do endividamento público, rebaixam-se cada dia mais as exigências para parceiros cada vez mais evidentemente desqualificados aos quais, mesmo assim, vão sendo entregues a montagem e a gestão futura dos equipamentos dos quais dependerão as condições de competir da economia nacional e o emprego das próximas gerações de brasileiros.
Nem as mais sagradas joias da coroa do estatismo – a Petrobras e as empresas de geração e transmissão de eletricidade, os dois combustíveis básicos da máquina nacional de produção – foram poupadas. Andam na corda bamba, com contas em frangalhos, às vésperas da desclassificação pelas agências internacionais de risco.
O sistema de defesa e promoção da qualidade da educação pelo mérito esboçado no governo anterior foi destruído e substituído por um sistema de cotas que, a um só tempo, fomentam a corrupção dos candidatos, de quem agora tudo que se exige é uma mentira na cara-de-pau, e o ódio racial.
O aparato legal de proteção à qualidade da medicina praticada no país foi detonado em seus dois pilares de sustentação para permitir a entrada em cena de um pequeno exército de cabos eleitorais e proselitistas da mais antiga ditadura do planeta à qual este governo jura fidelidade cega: o que controla a qualidade das escolas de medicina (os exames do MEC) e o que fiscaliza a atuação dos médicos depois de formados (pelos CRMs) foram ambos desmontados e desautorizados com um só decreto presidencial.
As agências setoriais de proteção ao consumidor e fomento à concorrência foram aparelhadas para fazer vistas grossas ao processo vertiginoso de concentração da produção e da renda patrocinado com dinheiro subsidiado de bancos públicos, uma óbvia ante sala da estatização geral da economia com o uso de testas-de-ferro disfarçados de agentes privados.
Os sistemas de proteção ambiental, de fiscalização das contas publicas e de coleta de impostos foram transformados em instrumentos de perseguição seletiva e intimidação econômica a resistentes ao novo dictat.
A política externa foi arrancada das mãos do Itamaraty, o último dos centros de excelência a resistir na Esplanada dos Ministérios, e concentrada nas mãos do Executivo. No front da inserção comercial do país tudo que estava esboçado foi destruído. O Brasil está cada vez mais isolado. Tudo é pretexto para nos afastarmos do mundo democrático onde estão concentradas as turbinas das trocas internacionais sem as quais nenhuma economia pode pleitear um lugar ao sol fora da periferia do mundo. Assim como nenhuma agressão é suficiente – e elas têm sido inúmeras e pesadas com as últimas recebidas da Argentina e da Bolívia – para nos fazer desgrudar dos párias da comunidade internacional.
Off the records, corre uma ação frenética de cooptação de governos criminosos e semi-criminosos misturando doses maciças de corrupção envolvendo famigeradas empreiteiras acima de qualquer suspeita de honestidade, o ex-presidente da Republica que se declara seu “agente de vendas” e “obras” no exterior financiadas pelo inefável BNDES, o núcleo duro do projeto de poder nacional e internacional petista, sobre cujo destino final ninguém poderá ter qualquer notícia segura ou confiável.
Usam-se, nessa frente, para comprar aliados e votos favoráveis aos projetos do PT em fóruns internacionais, os mesmos métodos que se usou no Congresso para comprar votos e aliados para seus projetos de poder nacionais.
No mais, tudo gira em torno do expediente de socializar a corrupção. Das populações miseráveis dependentes da Bolsa Família aos grandes empresários que ganham isenções seletivas de impostos e outras benesses; da UNE à Fiesp; da OAB ao Avaaz, ferramenta multinacional de ativismo e “democracia direta” via internet, tudo está solidamente comprado e dominado, à espera do momento oportuno para o bote final.
Os fatos não dão margem a dúvidas. Só duvida ainda quem está decidido a duvidar. O PT se comporta como se não houvesse amanhã porque não ha amanhã no seu horizonte de alternância no poder.
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