Um país solúvel em água

1 de fevereiro de 2022 § 13 Comentários

Houve jornais que se pretendem sérios que deram um jeito de tudo remeter ao presidente da Republica “que não se preocupa com nada que não seja sua família“, posto que “devastadoras mesmo são a negação das mudanças climáticas, da qual decorre a ausência de formulação de políticas públicas consistentes para tratar do problema e a falta de planejamento urbano para preparar as cidades para uma nova realidade ambiental“…

É um salto de nível 10 de dificuldade mas com acabamento 0, que nada será capaz de “remedeiar” (sic).

A solubilidade em água do Brasil é decorrência direta da absoluta ausência de democracia, o único remédio eficaz contra a corrupção que se conhece, cuja amplitude esse triste registro “jornalístico” não faz senão confirmar. Pois ha 521 anos quase completos neste 2022, depois do primeiro verão passado na então Ilha de Vera Cruz quando os recém chegados tiveram a oportunidade de aprender o que os índios já sabiam havia infindáveis milênios, qual seja, o que eram as chuvas tropicais que fizeram crescer por baixo de si a Mata Atlântica e porque não se devia construir nada, seja nas enormes várzeas dos nossos rios que não são enormes por mero acaso, seja nas encostas mais inclinadas desde sempre sujeitas ao aluvião.

Eu sempre me lembro de meu pai, apenas uma geração atras, dizendo que ele, na juventude, assim como São Paulo havia 400 anos, viam do alto as enchentes da Várzea do Carmo que tantos poetas e pintores inspiraram, as mesmas que levaram os índios a estabelecerem-se nos altos de Piratininga para comer o peixe fácil que as enchentes, de tão rápidas, deixavam presos nas poças, e isso pouco incômodo causava porque ninguém morava nelas.

Com a explosão populacional e a cimentagem e asfaltamento da mancha urbana que cresceu como um câncer desenfreado da metade do século 20 em diante é que essa evidência passou a ser menos evidente para os migrantes que chegavam depois de findo o verão. E então, tudo passou a entrar no círculo infernal comum a todos os países em que são os governos que mandam no povo e não o povo que manda nos governos.

Neles o “representantes do povo”, uma vez eleitos, não lhe devem mais nada pois põem-se fora do alcance dele e mesmo da lei. Não ha, portanto, educação que preste nem muito menos transporte público digno desse nome, o que faz do adensamento insano uma necessidade de sobrevivência e da miséria uma condição virtualmente inescapável. Uma das formas mais “manjadas” de escapar dela pulando para dentro da nau dos exploradores passa a ser, então, dar aos miseráveis “acesso grátis” àquilo que não lhes foi dado comprar com educação e um ambiente jurídico menos que predatório para os negócios que geram empregos. Organiza-se, então, a industria das invasões das áreas de risco contra a promessa de regularização dessa “propriedade” logo adiante, desde que a vítima eleja o canalha para a posição de baixar leis e tornar-se “imortal” para o Tesouro Nacional. Para garantir a “sustentabilidade” do seu negócio o canalha mancomuna-se, então, com alguma ONG que cuidará para que os abcessos urbanos assim criados sejam tratados sempre como um “problema social” que, portanto, não pode ser removido “por razões humanitárias”.

Com a sofisticação alcançada pelo Brasil em função da longevidade da prática impune desse tipo de crime, é comum ver, na gênese de algumas das ONGs mais festejadas, hoje fazendo parte dos “conselhos” não eleitos que reivindicam o direito de ditar a política ambiental do país à revelia dos sinais que lhes forem enviados pelas urnas, os titulares dessas máfias de invasão de mananciais ao lado de festejados heróis do ambientalismo. Tudo permanece, no entanto, embaixo do tapete, ventilado a boca pequeníssima, porque também a imprensa não escapa a esse aparelhamento acanalhador.

E assim, ano após ano, verão após verão, como todo mundo sabe e espera, o país, cada vez mais, dissolve-se em água e seu povo, cada vez mais, morre soterrado na lama, enquanto os soterradores são festejados como campeões do “ESG” (“Governança Social e Ambiental” da sigla em inglês) e as máfias das invasões de mananciais seguem cagando regras para nós outros.

Nada disso, como nada mais terá solução no Brasil enquanto não tivermos um sistema de eleições distritais puras que identifiquem claramente quem, no País Oficial, é representante de quem no País Real, e que esses representados tenham sobre esses representantes poder sumário de vida e morte (de mandato), aí incluídos os juízes encarregados de aplicar a lei referendada por eles contra os que forem apeados do poder.

A “terceira via” é o povo no poder. Fora disso, tudo que teremos é o de sempre: lama.

Um decreto muito importante

12 de novembro de 2020 § 13 Comentários

Por que o Rio ruiu

29 de setembro de 2020 § 73 Comentários

O Rio é o Brasil de amanhã?

Felizmente não…

Quando penso no Rio de Janeiro a imagem que vem-me à cabeça é sempre a de uma criança inocente violentamente abusada pelo pai. O tipo de coisa que deixa marcas que só muita, mas muita “análise” mesmo, pode levar a uma superação. 

Pela primeira e única vez na História uma colônia, virgenzinha ainda, sediou uma capital de império. Foi talvez a corte mais decadente da Europa, a de um dos últimos monarcas absolutistas, que desembarcou na futura Cidade Maravilhosa. 15 mil encostados de um homenzinho balofo, filho de uma louca, Maria I, que tornou-se rei depois que o primogênito d. Jose morreu e a mãe foi declarada incapaz, que fugiram correndo para cá com tudo quanto puderam carregar quando seu povo mais precisava deles na véspera da invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão. Foi essa “a malta” que, em 1808, desembarcou no cais do Valongo de um Rio que era ainda uma aldeia linda, chutando as pessoas para fora de suas casas, confiscando, violentando, corrompendo…

A corte de d. João VI roubou ao Brasil o século 19 das revoluções democráticas. Capital desde 1763, já se reformulara de porto de contato com o mundo de seu tempo em cobrador de impostos que ia bem quando o resto do Brasil ia mal … e vice-versa. Foi esse o alvo da Inconfidência Mineira, a derradeira despedida do Brasil da modernidade política.

A partir de 1808 passa a ser, ele próprio, a metrópole que explorava a colônia. Uma vez instalada aqui, saiu sua majestade vendendo títulos de nobreza a traficantes de escravos e funções do Estado a quem pagasse para explorá-las. Foi com a revolução americana que Tiradentes sonhou mas foi como a sede da corte, da corrupção, do funcionalismo e das estatais que o Rio de Janeiro acordou e evoluiu para a vida real. O balneário de todos os ladrões de sucesso de todos os governos do Brasil. A maior porcentagem de encostados com emprego e sem trabalho. A capital da jogatina de Bêjo Vargas. O paraíso dos aposentados aos cinquenta anos de idade. A pátria da “malandragem” onde trabalho sempre foi “coisa de otário”, “mané” é o ladrão que vai preso e “malandro” o que não se deixa pegar.

E tudo isso potencializado pela memória da escravidão dependurada dos morros.

De repente, juntando Witzel com Bolsonaro, saem os jornalões com uma semana de análises sobre porque o Rio ruiu. Mas quando Bolsonaro entra pela porta de uma redação a racionalidade sai pela janela…

A passagem da capital, com Juscelino, nunca foi a causa do desastre carioca. Foi só mais uma “co-morbidade”. O governo se foi mas a elite do funcionalismo ficou. Chagas Freitas, o único governador do MDB de sua época, apoiava os militares que o partido “combatia”. Brizola foi o primeiro a proibir a subida da polícia aos morros que o STF reedita agora sob o tonitruante silêncio dos jornalões. 

O crime organizado sempre elegeu representantes nos legislativos cariocas. Condecoram milicianos hoje como é praxe desde os tempos dos Reinados, do Império e da Republica. As milícias só inovaram por eleger os próprios milicianos. O governo federal as protege assim como os reis faziam os seus barões negreiros, o jogo do bicho bancava os governadores antes e depois de 1964 e o PT protegia as Farc e suas versões nacionais que só davam acesso aos cabos eleitorais do lulismo aos morros. O PSOL, herdeiro da esquerda da esquerda e fenômeno tipicamente carioca, é ostensivamente ligado ao crime “ideologizado”. Sua base-raiz são os presídios de segurança máxima…

Os artistas e os intelectuais “orgânicos” sempre foram um corolário do absolutismo. Nasceram com ele e fizeram-no crescer desde a primeira universidade lá na Bolonha de 1300. Só continuam onde estão, na era do avião, porque Brasília é intragável, menos para quem vive do contato físico com O Poder.

E agora? O que fazer?

A História, a “análise” das sociedades, e somente a História, poderá proporcionar uma remissão. E a do Rio é freudianamente clara. Ele terá de compreender, passo a passo, como foi que se transformou no que é para curar-se. Mas este é um luxo de sociedades ricas. 

A solução, portanto, é enriquecer. E muito!

Desanimou?

É mais fácil do que parece. A imprensa – e aí falo dos jornalões aos jornalinhos pretensamente mais aguerridos da internet – finge que não entende, mas é mentira. Qualquer sujeito um grau acima da debilidade mental, não precisa nem ter instrução formal, entende que a instituição do voto distrital puro com recall (vale dizer a expulsão sumária de todo ladrão ou mentiroso pego no pulo), mais referendo e iniciativa de fazer e recusar leis vindas de cima, de modo que o povo é quem passa a dizer o que deve ou não ser discutido e votado, entende o poder fulminante que esse sistema tem contra a corrupção. Onde quer que vigore ele acaba com praticamente 100% da roubalheira. E, num país de dimensões continentais como o Brasil, pode ser implantado nos 26 estados e nos 5570 municípios onde se dá a “ladroagem do cotidiano” bem conhecida de cada um de nós. 

Sobra a que se pratica daí para cima, e mesmo assim, sob um nível de fiscalização e poder de decisão dos roubados que torna os ladrões efetivamente tímidos. Com esse sistema aguenta-se até um Donald Trump praticamente sem dor, a não ser para os fanáticos por conversa mole sobre os temas caros à “patrulha ideológica” que custam quantias verdadeiramente risíveis para quem vive sob o tacão de funcionários indemissíveis e seus STF’s de comedores de lagostas com vinhos tetra-campeões por decreto.

A solução para o Rio de Janeiro ver aquelas favelas todas se transformarem em Alfamas e o Brasil sair do brejo passa por aí e não, obviamente, como sabe deus e a torcida do Corinthians, por aumentar o numero de candidatos negros e mulheres fabricados em cima da perna na base de injeções de contribuições do Fundo Partidário arrancadas a força de eleitores que nunca ouviram falar neles antes mas acabarão, na hora de votar, por te-los como únicas opções para mais uma tentativa frustrada de fugir ao cativeiro.

Caio Coppola está iludido

28 de agosto de 2020 § 29 Comentários


O Brasil acha que acaba com 
a corrupção com polícia. Agora mesmo Caio Copolla argumentava nessa linha com seu debatedor na CNN.

Ilusão de noiva!

A história prova que reforma política é o único remédio.

Deu o exemplo errado com Tiradentes como personagem. Pois ele foi o primeiro a entender que só implantando aqui a mesma revolução que acabara de ocorrer nos Estados Unidos acabaria a corrupção que o atormentava e explorava. Os “conjurados” de Minas mandaram até um emissário aos EUA para pedir ajuda a Thomas Jefferson, que infelizmente não os atendeu.


Corrupção é, antes de mais nada, ausência de democracia. A justiça e o governo brasileiros só passarão a jogar a favor do povo quando a manutenção dos seus mandatos depender A CADA MINUTO da reconfirmação dele.

E isso só se consegue com a conquista dos direitos de recall de juízes e representantes eleitos num ambiente de legitimação transparente regido pelo voto distrital puro.

O remédio que imprensa e elite te escondem

28 de julho de 2020 § 18 Comentários

Artigo para O Estado de S. Paulo de 28/6/2020

Existe alternativa para o “presidencialismo de coalizão”? É possível um “ideológico”, que não caia no toma lá, dá cá?

Não há resultado colhido que amacie a elite autoritária que insiste em “ensinar” em vez de humilde e democraticamente aprender com “esse povinho que deus pôs aqui”, e a tudo responde com mais Estado, fiscalização e polí­cia. De instituições que educam não se fala jamais. Porque não partidos verdadeiros, em vez destes de comprar e vender? E financiamento de campanhas como o povo quiser, e não esses, de meretrício? E representação? Quem representa quem naquele disco voador sobre o Planalto Central que caga “polí­ticas públicas” nas costas do Brasil?

Esta semana saiu balanço de meio de ano dos processos de recall e das questões para voto (ballot mesures) que cumpriram os requisitos para subir às cédulas da eleição de novembro nas 100 maiores cidades dos EUA. Desde 1º de janeiro o povo pôs em marcha 97 processos de recall visando 120 funcionários, de prefeitos para baixo. Quanto às questões para voto, 109 de alcance estadual já cumpriram os requisitos para qualificação.

Cada estado, cada cidade define quais funcionários quer nomeados ou eleitos. A orientação geral é que todos com funções de fiscalização do governo, como promotores públicos ou fiscais de contas, ou contato com o público em funções sensí­veis como as de xerife ou policial são diretamente eleitos e estão permanentemente sujeitos a recall. Qualquer cidadão pode iniciar um processo e se colher as assinaturas de uma porcentagem dos eleitores daquele cargo naquele distrito eleitoral (em geral entre 10 e 15%), convoca-se nova votação para a destituição e eleição do substituto.

Qualquer cidadão pode, também, propor uma lei ou desafiar para referendo uma do legislativo local colhendo assinaturas. Tudo conferido pelo secretário de estado, ela sobe à cédula da eleição mais próxima e quem tem ou não direito de votar cada questão é somente quem mora dentro do distrito eleitoral afetado, o que pode ser positivamente aferido no sistema de voto distrital puro que amarra cada representante eleito aos seus representados pelo endereço.

Entre as 109 “questões para voto” já qualificadas ha 65 legislatively referred, isto é, propostas dos legislativos locais afetando questões como impostos ou outras que em votações anteriores os eleitores definiram como de referendo obrigatório, 26 leis de iniciativa popular, 5 referendos convocados pelo povo e 7 bond issues.

Os bond issues são pedidos de autorização a eleitorados de distritos especí­ficos para emissão de divida para melhoramentos em escolas publicas (a serem pagos só pelo bairro servido por ela com um aumento temporário do IPTU), municipalidades (a compra de um carro de bombeiros ou o aumento dos salários de determinada categoria de funcionários, por exemplo), construção de estradas e pontes (a serem pagas com pedágios), etc. Tudo precisamente definido – custo do bem, valor do empréstimo, juros, prazo de pagamento – para um “Sim” ou um “Não” apenas dos eleitores beneficiados pela obra.

Na longa lista das ballot measures desta compilação ha temas como: poderes de nomeação de funcionários pelos juizes estaduais; reformulação geral da linguagem da constituição (Alabama) seguida de ratificação pelo eleitorado; regras de financiamento de campanha; normas de taxação do petróleo; autorização para oculistas fazerem pequenas cirurgias; aprovação de verba de US$ 5,5 bi (California) para pesquisa de células tronco; regras de imposto industrial; anulação de lei de iniciativa popular anterior proibindo “ações afirmativas” em que o Estado discrimina por raça, sexo, cor, etnicidade ou origem nacional quem ele vai ou não beneficiar; compra de áreas para reserva ambiental; legislação de caça e pesca; reformulação do sistema de redução de penas dando poderes aos parentes das ví­timas de opinar nesses julgamentos; regulação da função de motorista de aplicativo; alteração das normas para provedores de tratamento de diálise; reintrodução de lobos cinzentos em áreas selvagens; aumento do salário mí­nimo por hora; regulamentação do uso de maconha medicinal ou recreacional; mudança da bandeira estadual (Mississipi); mudança das regras de eleição de governadores…

A lista é infindável. Mas cada caso processado por esse sistema é mais um que sai do circuito das possibilidades de superfaturamento ou compra e venda de resultados, o que explica suficientemente porque o povo americano, que pratica esse sistema ha pouco mais de 100 anos, segue as leis que ele mesmo faz e tornou-se o mais rico do mundo. 

Porque, então, nossas imprensa e elite não estudam e divulgam esse método auto-aperfeiçoável tão óbvio de provimento de soluções? Pela mesma razão pela qual não tocam nas lagostas e vinhos tetracampeões da privilegiatura nem mesmo quando mais da metade do pais está reduzido a viver da esmola de um Estado falido cuja arrecadação a pandemia fez cair 30% só no mês passado. Uns porque estão deslumbrados pela luz do próprio umbigo, outros porque a doença deste paí­s é sistêmica e quase nada está ou quer estar livre de contaminação.

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