Suprimindo o chão de sob os pés do povo
28 de outubro de 2020 § 11 Comentários
O que está por trás da sequência de notícias sobre a escalada da inflação que destaquei no Lendo jornais de hoje é o quadro que o FMI pintou semanas atras mas que, com exceção da Folha de São Paulo que escolheu o último feriadão de três dias para noticiá-lo, o resto da imprensa nem se dignou registrar.
Examinando a sua base global de dados o FMI dava contexto àquela parcela do “maior assalto de todos os tempos” que, sendo praticado com o recurso à lei, foge do alcance das polícias e lava-jatos e, portanto, tem de ser proativamente pautada para ser exposta, o tipo de ação impensável na imprensa abduzida pelo “Sistema”, embora seja esse o “dreno-master” que determina a miséria a que está reduzido o favelão nacional que se extende, cada vez com menos exceções, à volta de Brasilia.
Resumidamente dizia o seguinte o relatório do FMI:
- De 2008, ano da crise financeira global, até 2019, a despesa conjunta da União, dos estados e dos municípios do Brasil avançou de 29,5% para 41% do PIB, sem contar os encargos com juros da divida. É o maior crescimento do custo de um Estado em todo o mundo no período. As despesas com funcionalismo ativo, que ultrapassaram 13% do PIB, só são menores que as da Arábia Saudita.
- A escalada se deveu em grande medida aos “benefícios sociais” nos quais a metodologia do FMI agrupa, além das aposentadorias e pensões, também as ações de assistência social. Esses gastos subiram de 9,8% para 18,4% do PIB.
É nessa conta, portanto, que estão os famigerados “direitos adquiridos” pelos brasileiros “especiais” numa proporção de pelo menos R$ 36 por cada R$ 1 gasto com plebeus e equipara os gastos do Brasil com aposentadorias aos dos países mais ricos e com populações mais longevas do mundo. Aos nossos 18,4% comparam-se os 12,8% da Turquia, 11,1% da Russia, 7% da Colombia, 6,2% da Africa do Sul, 4,9% do Chile, 4,3% do Mexico, 2,1% do Peru. Cabe não esquecer que quase todo o “ajuste” das estatais esbagaçadas no “maior assalto de todos os tempos” foi feito na base de “programas de incentivo à antecipação de aposentadorias” nos seus vastos cabides de emprego, qual seja, pela transferência desses marajás das folhas de pagamentos dos ricos acionistas das estatais para as sustentadas pelo favelão nacional. Privatizações para extinguir tetas mesmo, que é bom, foram todas detidas pelos verdadeiros “donos” desse patrimônio…
A mecânica da metástese aferida pelo FMI é conhecida. Tudo, nas tais “instituições nacionais que funcionam” está armado para o crescimento automático, por mero decurso de prazo, da fatia dos brasileiros “especiais” no orçamento publico, ao qual corresponde a redução mais que proporcional da fatia dos plebeus. Os aumentos anuais obrigatórios do funcionalismo, segundo cálculo do governo por ocasião do congelamento do deste ano, custam perto de R$ 130 bilhões hoje, considerados só os federais e estaduais.
Já na conta das “oportunidades excepcionais” acabam por cair os grandes saltos sem volta do assistencialismo que compra votos e “likes” como os de 2008 e o de 2020. O “teto de gastos” foi um artificio para tornar visível e pôr um limite definido a essa modalidade de assalto “à lei armada” ao favelão para encher bolsos e comprar votos. Mas “ocasiões excepcionais” permitem substitui-lo por “orçamentos de guerra”, ressalvado que, cessada a “guerra”, volta a prevalecer a lei máxima da privilegiatura, a saber, “Nunca, jamais, qualquer passo atras”…
Em 2008 a crise financeira internacional ensejou que o PT desse o seu grande passo à frente na expansão fiscal botando pra dentro do Estado milhões de companheiros contribuintes do partido, consolidando “campeões nacionais” de financiamento de eleições e expandindo inúmeras bolsas clientelísticas além da “Família”. A pandemia fez o mesmo para Bolsonaro. Não foi tão letal, ainda, quanto poderia ter sido porque Paulo Guedes conseguiu excluir da festa o funcionalismo ou pelo menos o funcionalismo paisano por um ano. Mas Rodrigo Maia, espicaçando o machismo fácil do falastrão do Planalto, encarregou-se de passar a sentença de morte do equilíbrio das contas do Brasil pelas próximas gerações ao empurrar a ajuda de R$ 200 do ministro da Economia para os R$ 500 que ele sabia que, para não perder a marca, Bolsonaro não deixaria por menos de R$ 600.
Nos cálculos de Ana Paula Vescovi, ex-secretária do Tesouro, a pandemia nua e crua teria derrubado o PIB em 11,9% em 2020, se ficássemos em linha com os países menos impactados. Mas os R$ 600 por mês distribuídos a 67 milhões de famílias (64% da população economicamente ativa), e o mais que foi despendido como ajuda aos estados, injetaram de volta 9% do PIB. No país do sonho de uma noite de verão de sêo Jair houve uma “expansão” de 3,9% na massa de salários em vez da redução de 6% que a brecada seca da pandemia de fato custou … mas que só dura até dezembro.
Estando o favelão na miséria a que foi reduzido, R$ 600 reais são bastantes para disparar uma inflação nos itens básicos de alimentação e insumos para construção de barracos … e também para limpar os cofres de um país exaurido para esta e para várias outras das próximas gerações que herdarão os R$ 4,5 tri de dívidas a que tudo isso nos empurrou por enquanto.
Obviamente não existe meio de recolocar o Brasil na competição mundial sem a certeza de ser esmagado senão percorrendo de volta o caminho dos 41% para os 29,5% do PIB e mais um bom tanto a menos de gasto com a privilegiatura.
Ponto…
Antigamente, dada a impossibilidade de fazer o Estado recuar por bem de seus avanços sobre a Nação, deixava-se o passivo diluir em desvalorização face ao dólar e em inflação. Mas como a unanimidade da imprensa brasileira, nesses tempos em que comida é dólar, acredita que nosso maior problema é “eleger”, com ou sem votos, mais “representantes de minorias” como membros eternos da privilegiatura e atiçar os monocratas do STF a calar na marra quem denunciar a Constituição que criou e sustenta esse método de suprimir o chão de debaixo dos pés do povo, o mais provável é que o favelão nacional tenha mesmo de parar de comer.
“ Antigamente, dada a impossibilidade de fazer o Estado recuar por bem de seus avanços sobre a Nação, deixava-se o passivo diluir em desvalorização face ao dólar e em inflação. Mas como a unanimidade da imprensa brasileira, nesses tempos em que comida é dólar, acredita que nosso maior problema é “eleger”, com ou sem votos, mais “representantes de minorias” como membros eternos da privilegiatura e atiçar os monocratas do STF a calar na marra quem denunciar a Constituição que criou e sustenta esse método de suprimir o chão de debaixo dos pés do povo, o mais provável é que o favelão nacional tenha mesmo de parar de comer.”
A perfeicao eh o nome disso aqui!!
Abs
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Corretíssimo, Fernão…
Esse porno-paiseco está abarrotado de DEMÔNIOS dos três poderes, estatais e ala militar( ou “milikitos”) que cotidianamente estupram financeiramente e moralmente a nação. Impiedosamente, insaciavelmente.
Impressionante também cinismo, a molecagem e a macacalidade ( by Roberto Campos).
Só Deus ou a 4a.Frota Americana para exorcizar esses DEMÔNIOS .
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É Fernão, como você escreveu, e assina com seu nome: ” das próximas gerações que herdarão os R$4,5 trilhões de dívidas a que tudo isto nos empurrou por enquanto”.
Esse é o resultado perfeito do que é a sádica “privilegiatura” que você tem apontado os vícios de sugar o sangue do favelão nacional desde a chegada de Cabral ao Brasil em 1500.
Quantas autoridades tem se calado, ao longo de nossa história, nos Três Poderes de nossa quase falida República surrealista, sindicalista e catimbeira?
Essa sinecura é de dar nó em pingo d´água, como agorinha a tal comissão que na Câmara Federal quer dissolver a lei que pune os casos de corrupção por servidores públicos, eleitos, ou de carreira.
Tudo isso que está por aí ocorrendo. contra as instituições de Estado brasileiras e muitas outras , para mim é o enfeixamento para um golpe de Estado, caso os resultados das futuras eleições não agradem e favoreçam a privilegiatura.. Depois vão empurrar goela abaixo do”favelão nacional” – excelente termo seu – a punição de continuar arcando com os gastos da privilegiatura hereditária.
Há se o Supremo se comportasse como Supremo, a favor da Nação brasileira e colocasse toda a bandidagem na vida pública em muitas “Barcas do Inferno”, somente com bilhete de ida!
Desse lodo vai brotar algum lírio? A covid-19 é um mal que veio desnudar os crimes dos privilegiados contra os brasileirinhos, que infelizmente parecem gostar de cabrestos e cochos. Perdoem-me se eu estiver errado.
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Caro Fernão,
Primeiramente, parabéns pelo artigo sensacional (incluindo as charges)!
Apenas 3 comentários:
1 – sua ponderação no post anterior lembra que só o VDP sozinho já resolve “metade dos problemas”. Concordo em gênero, número e grau! Mas acho que para se implantar o VDP só uma mobilização nacional (povo na rua) que, por sua vez, deve ser só tem como ser fomentada a partir de um movimento civil (que foi a conclusão do meu comentário). Pode acontecer um “acidente” de percurso e o VDP vir a ser aprovado “meio sem querer”? Sim, mas é só contar com a sorte…
2 – Apesar de sua ponderação, seu artigo, de certa forma, corrobora o que escrevi! Principalmente o último parágrafo (destacado inclusive pelo cadu43 acima) mostra a armadilha na qual nos encontramos. Sim, porque por um lado temos uma insustentabilidade financeira do Estado, por outro todos os direitos adquiridos fortemente “amarrados” juridicamente na Cidadã (e o “supreminho” garantista vai… garantir!). O próprio VDP seria, caso – Oxalá! – seja aprovado, teria seria constitucionalidade questionada (o “supreminho” garantista de minorias teria que… validar! E validar a “morte” desse sistema…). Enfim, desculpe, mas vou falar, nada como esperar Godot…
3 – Segundo seu artigo, 18,4% do PIB atualmente é gasto com benefícios sociais. Quais são eles?
Aposentadoria INSS
Aposentadoria rural
BCP
Seguro desemprego
Auxílio maternidade
Auxílio doença
Auxílio reclusão
Bolsa família
Abono Salarial
Seguro defeso
Bolsa atleta
Prouni
E deve ter mais coisas (considerando transferências específicas de municípios e estados).
Gastos com saúde e educação (exceto salários) devem entrar ai também.
Pois bem, podemos buscar a composição exata destes gastos, mas com certeza algo como 60 a 65% disso é gasto com INSS (aposentadoria do setor privado + rural + BCP).
Enfim, quais destes gastos você sugere cortar e como convencer a imprensa, o povo e, por fim, o “supreminho”, que estes não são direitos adquiridos e devem ser modificados ou alterados ou cortados?
E como resolver o custo do Estado brasileiro se não se “mexer” nesses 18,4% do PIB (no mínimo, TAMBÉM nesses 18,4%)?
(e o resto é folha salarial de servidor público – incluindo militares – e aposentadorias do setor público. Ou seja, também são direitos adquiridos, meu chapa! A menos que o “supreminho” deixe de ser “garantista”).
Abs
LSB
PS: ainda sobre o comentário no post anterior, claro que sei que existe corrupção, porém não separamos o joio do trigo; e caso o fizéssemos, veríamos que os valores são muito menores do que o imaginário coletivo é levado a crer a partir dos números “vomitados” (desculpem o termo, mas não achei metáfora melhor) todo santo dia e como, então, de certa forma, isso é uma grande cortina de fumaça ou distração coletiva para os problemas estruturais mais importantes.
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Prezado LSB:
Quero ser apenas pontual: “sua ponderação no post anterior lembra que só o VDP sozinho já resolve “metade dos problemas”. Concordo em gênero, número e grau! MAS … ”
Esse mal não é só seu. É de uma vasta maioria “neste país”. Por que o “MAS”????? Por que não concordou, pura e simplesmente, e colocou um PONTO FINAL?
Não me responda, por favor, que foi apenas pra criar uma discussão em trono do assunto!
Abração!
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Prezado A.
Porque US$ 50 milhões resolvem todos os meus problemas.
Abs
LSB
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Bom pro sr. (ou não) que seus problemas sejam resolvidos só com dinheiro!
Abração!
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Caro A.
Nem são realmente. Mas quero quer que você tenha entendido a “espiritualidade” da resposta e tenha feito seu comentário só como uma, digamos, “provocação barata”.
Eu poderia, por exemplo, ter escrito: Porque uma coluna diária no Estadão resolveria meus dilemas.
Usei no comentário o dinheiro só porque é mais fácil ao interlocutor perceber a dificuldade de se obter alguma coisa (afinal, qualquer um que estipulasse como meta angariar US$ 50 milhões teria muitas dificuldades e o mais provável é que não conseguisse).
Abs
LSB
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Prezado LSB:
Sem deboche, eu sou meio bipolar. Às vezes consigo ler nas entrelinhas, às vezes “não capto a mensagem”. Foi o que aconteceu aqui: lhe entendi ao pé da letra. Mas jamais lhe farei uma, digamos, “provocação barata”.
Abração!
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Caro A., sem problemas!! Até a minha “provocação barata” foi, de certa forma, uma “provocação barata”!
No mais, não se avexe, não! E nem culpe a desatenção que chamou de “meia bipolaridade”.
Tentei ser “espirituoso” e, abusando da sutileza, talvez não tenho sido muito “feliz” (ou, mais claramente, não me fiz entender).
Abs
LSB
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Barato é o que dava o LSD, agora vai ser esse tremendo povão sendo alimentado com a produção de alimentos do MST a maior cooperativa de alimentos a base de vento ensacado.
Barato vai ser o fígado, o rim, o coração, o sangue, e outras peçitas do organismo humano que essa massa de Corintiano e Flamengões vão ter que doar por uns trocados pra pagar a dívida dos netos. Vade reto seu tenaz.
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