E agora?

24 de novembro de 2014 § 20 Comentários

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Uma mesa, dezenas de cadeiras e tres microfones que tinham sido arrumados pelos assessores da Presidência da Republica no Salão Leste do segundo andar do Palácio do Planalto esperavam o fechamento dos mercados, sexta-feira passada, para receber a solenidade em que a presidente Dilma Rousseff anunciaria a confirmação dos nomes dos novos ministros, Joaquim Levy, da Fazenda, Nelson Barbosa, do Planejamento, e Alexandre Tombini na presidência do Banco Central.

O ato representaria o enterro definitivo daquilo que a “presidenta” costumava apresentar orgulhosamente ao mundo como a “nova matriz macroeconômica” a balizar a economia brasileira, apoiada na expansão fiscal, na redução dos juros e no câmbio artificialmente desvalorizado que reelegeu dona Dilma mas matou a indústria nacional e pôs o país inteiro na beira de um abismo.

Depois de quedas sem fim, a Bolsa de Valores festejou cedo demais o que seria a nova equipe redentora com a maior alta desde agosto de 2011. Sem nenhuma explicação o tempo foi passando, no entanto, e a tal cerimônia nunca aconteceu.

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Desde então, o país vive de especulações e boatos:

Dilma não teria gostado do vazamento das nomeações para a imprensa”. “Dilma só quer anunciar os ministros depois que eles já tiverem esboçado um programa fiscal de curto prazo”. “Dilma não quer fazer o anuncio antes de ter garantidas pelo Congresso as mudanças na Lei de Diretrizes Orçamentárias”. “É o núcleo duro do PT que está rebelado com a idéia de, pela primeira vez em 12 anos, ver alguém de fora do partido assumir o comando da economia”…

A única hipótese que não foi aventada pela imprensa especializada é de que tenha sido do lado dos supostos nomeados que veio esse adiamento. E, no entanto, isso não seria de surpreender.

O chefe do atual suposto ministro, Luis Trabuco, convidado e “nomeado” ministro da Fazenda por Lula em pessoa no dia seguinte à eleição, declinou da honraria.a3

Joaquim Levy tem fama – testada e confirmada no âmbito da União, chefiando o Tesouro no governo Lula e, mais tarde, arrumando as finanças do Estado do Rio – de ter menos jogo de cintura que Trabuco para com estrepolias de políticos falastrões. É um técnico rigoroso que não tergiversa com buracos nas contas sob seu controle. De repente, qual boi na porta do açougue, ve-se escalado para salvador da pátria num governo que, entra dia, sai dia, repete os sinais de que não tem tanta urgência assim em ver a pátria salva e, ainda por cima, num governo chefiado por aquela mesma Dilma Rousseff que, desde os tempos dele auxiliar de Palocci, já não ia muito com a cara dele nem ele com a dela.

A situação com que ele terá de lidar, entretanto, é catastrófica.

O déficit em transações externas anunciado hoje é o pior desde 1947: US$ 8,1 bilhões só em outubro. US$ 70 bilhões no ano, por enquanto.

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Aqui dentro não está melhor. Dona Dilma está obrigada por lei a entregar um superavit primário este ano de R$ 116 bilhões mas no relatório do 5º bimestre do ano enviado ao Congresso pediu que fosse descontado desse número nada menos que 90% do valor estipulado na lei: os R$ 105,9 bilhões que gastou nas obras do PAC e mais todas as desonerações tributárias concedidas ao longo do ano. Com isso não haveria limite nenhum para os gastos do governo que ficaria com um cheque em branco para fazer o que bem entendesse.

O Congresso sinalizou que talvez pense no assunto se o governo aceitar colocar no seu projeto um limite para esse desconto no mesmo valor que consta do relatório do 5º bimestre, o que implicaria que ela ainda continuaria obrigada a entregar um superavit de R$ 10,1 bilhões. Mas dona Dilma não garante que consiga entregar nem isso e não quer ficar exposta ao processo por crime de responsabilidade a que já está exposta se os limites não forem mudados.a3

De fato, também os números que constam desse relatório bimestral são todos “tipo Mantega”. O governo reduziu a previsão de recita da Previdência em R$ 500 milhões, levando o total para R$ 346,3 bilhões no ano. Mas de janeiro a setembro só conseguiu R$ 237,4 bi. Precisaria fazer R$ 108,9 bi nos três meses que faltam, o que daria uma média mensal de R$ 36,3 bi. Nos sete primeiros meses do ano, entretanto, a média de arrecadação foi de R$ 26,4 bi. Como sempre, do lado das despesas a equipe Mantega fez o contrário. Aumentou a previsão em míseros R$ 8,1 bi, depois de demitir o secretário da Previdência, Leonardo Rolim, que exigia menos maquiagem, mas o rombo esperado só nessa conta é, conforme previa o ex-secretário, de em torno de R$ 50 bi.

Quanto às receitas (infladas) e despesas (esvaziadas) “esperadas” pela União, dá-se o mesmo no tal relatório, bem como no que se refere ao crescimento da economia (inflado) e à inflação (esvaziada). A soma dos aumentos e reduções sem pé na realidade sobe a outros R$ 70 bilhões.

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Não obstante, com o “petrolão” bombando e a desclassificação do “rating” de “investimento” nacional logo além da curva, o discurso de madame continua vago, quando não triunfalista. Até agora a única medida concreta voltada para o controle da inflação foi a que Alexandre Tombini comandou na primeira reunião do Copom, tres dias após o resultado da eleição, aumentando os juros que Dilma prometera baixar, medida que foi recebida no arraial presidencial quase como um ato de insubordinação.

No campo das medidas para o acerto do que sai com o que entra no cofre do governo, até agora nada. Por mais que garimpem os repórteres de economia de todo o Brasil, tudo que encontram para listar é um vago ajuste na política de pagamento de abonos salariais pelo Estado, algum grau de dificuldade adicional no pagamento do seguro desemprego e um ajuste fino no regime de pagamentos de contribuições para o recebimento de pensões por morte que depende de aprovação de lei pelo Congresso. Trata-se da correção de distorções que estão mapeadas e vêm sendo adiadas ha anos pelo governo que, se tudo der certo, “podem resultar numa economia de 0,7% do PIB nos próximos quatro anos”…a3

Sonhe a “presidenta”, em segredo, com mais que isso ou não é mesmo dificílimo conseguí-lo porque no Estado brasileiro a regra é que “quem corocô, corocô”, ninguém tira mais, e o fato é que literalmente o PT inteiro e mais todos os associados do Superclube da Governabilidade “corocaram”, e “corocaram” fundo “ni nóis” como diz o outro. Não tem jeito de fechar esse rombo senão com a receita de sempre. De volta ao passado: adeus investimentos, adeus consumo, que venha a inflação, que venha o desemprego, que venham os impostos.

De tudo isso decorre, seja como for, que se Joaquim Levy for confirmado no cargo que foi instado a ocupar como regra tres só com essas migalhas na lista de redução de despesas, ele estará negando a sua biografia. Já se tomar posse com uma lista de remédios condizente com o tamanho que já ficou a doença será Dilma Vana Rousseff, aquela moça de “coração valente” acostumada a defender seus pontos de vista de metralhadora em punho, quem estará negando a sua. Os dois, enfim, combinam tanto quanto água e azeite.

Nos bastidores onde já está sendo jogado esse jogo, entretanto, os sinais, por enquanto, são de que há um PT pé no chão, que é esse que empurra o Bradesco pra dentro do governo, e outro que viaja na maionese e quer ir pras cabeças até a coisa estourar e o Brasil cair de vez “pro lado de lá”.

Entre esses dois Dilma balança…

Haja centralismo democrático – ou Ministério Público – pra por ordem nessa bagunça!

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§ 20 Respostas para E agora?

  • capenellaspf disse:

    e se os eleitores de Dona Dilma, que, obviamente, não lêem esta ou qualquer outra coluna, soubessem que ela entrega sua economia, a do PT, a banqueiros que eles tanto DETESTAM?

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    • Se ainda fossem banqueiros? e não funcionários de bancos por mais importante os apelidos- cargos, títulos.

      Banqueiro sabe de seus limites e não se metem em roubadas.No caso do Levy coitado. Embora competente e sério aguentar aquele bando de petistas querendo fazer demagogia com dinheiro que não existe. Haja saco!

      A propósito de desgraças os EUA obrigaram a abrir sindicância sobre as bandalheiras na Petrobrás que foi OBRIGADA informar ao mercado brasileiro, o que já era sabido.

      Risco de proibirem as negociações das ADRs (ações na bolsa americana) mais um caminho pro caos da empresa, tudo graças aos PETISTAS macomunados com as empreiteiras.

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  • Fernão,
    E agora? Que a vaca foi pro brejo foi, e ninguém em sã consciência sabe como fazer pra tiriar de lá.

    Arruma de um lado desarruma de outro, o que está ruim fica pior. O Mantega atritou com o Levy quando no tesouro por causa do salário mínimo maluco que o Lula inventou e foi criticado pelo quase futuro Ministro da Fazenda, na época considerado ortodoxo -ele é oriundo com PhD por Chicago-, o que para o Mantega contrariava nossa política social, leia-se populista.

    São tantos os problemas bem indicados alguns por vc, mas não nos esquecemos de que sem investimentos fica tudo igual e piora a arrecadação como vem ocorrendo e em outubro.

    Investir traduzido por confiança não vem da noite para o dia e nem por mágica. Não nos esqueçamos que a economia norte americana que melhora a olhos vistos inclusive na produção de petróleo ( idem com o xisto) a partir do fim do QE e o aumento dos juros por lá, investimentos no Brasil serão limitados, sem considerar os riscos nas notas das agências de avaliação de riscos que já rebaixaram a Petrobrás e como esperado as empreiteiras das bandalheiras.

    A bola da vez será a nossa economia!, e todos estão de olho na malandragem do momento em alterar a LDO a obtenção de superavit. Seria o mesmo que mudar o sinal de um resultado negativo.

    O fato é que ninguém sabe e quem souber tem um caminho: Puta recessão, daquelas brabas que faz até sapo pular pra árvore com medo da água.

    Em doses homeopáticas duvido. Gastar menos o PT deixa?, e os seus eleitores do nordeste?

    E a todas as desgraças a pior é a Dilma que manda, desmanda e dá no que deu.

    O safado do Lula, pai da criança, tá sumido. Não é bobo e espera baixar a poeira pra reaparecer tipo salvador do naufrágio não da pátria mas do PT onde já estão se matando e espero que pratiquem a autofagia coletiva.

    Daí o Brasil tem alguma chance de melhora nos próximos 5/6 anos. Pode anotar minha profecia.

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  • Augusto Sousa disse:

    Difícil, realmente, prever o que vem pela frente.
    Mais difícil ainda torcer, que é o que nos cabe fazer.
    De crise ninguém morre. Sofre-se muito, mas o país, como um todo, pode sair fortalecido, com instituições mais sólidas e sérias, até independentes. Talvez um sonho almejado há muito. Questões, consideradas intocáveis revistas, como monopólios estatais, excesso de Estado na economia entre outras.
    Porém os detentores do poder atual, mestres em falar uma coisa e fazer, por trás, outras, ou ao menos incentivar caminhos divergentes de uma democracia plena tão procurada, usando a propaganda partidária bem ao estilo “Goebbels”, ainda poderiam sair fortalecidos, como os salvadores da Pátria e imputando o caos aos ” inimigos” de sempre, conforme rezam as cartilhas tão ao gosto de intelectuais, jornalistas e artistas que se auto elogiam como progressistas.

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  • Augusto,
    Permita mas difícil eu não diria diante das ocorrências, dos fatos e que não são amostragens.

    Difícil será até que ponto estaremos suportando como um todo. Sem desconsiderar do chamado fortalecimento após os “dilúvios” ,será saber o que sobrará no sentido da imensa dependência que temos de fatores exógenos notadamente na economia.

    Em momentos de dificuldades volta-se a velha máxima ” quando falta pão todos brigam e ninguém tem razão”

    Não estou pregando o caos, mas desta vez não teremos salvadores, porque, repito, não depende só de nós.

    Ou a sociedade se mobiliza passando a exigir pelo menos decência ou não sei o que pode acontecer. Sim, temo muito a política presente.

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  • Continuando…

    Na economia desesperadamente pode-se recorer ao “defautt”, ( Sarney), grosso modo , mudança unilateral realizada nas condições de dívidas, etc etc.

    Na política sabemos como começa mas não sabemos como acaba.

    É aí que mora o perigo.

    Curiosamente aos que leram sobre o IDH nas regiões metropolitanas do país, os piores indicadores dos índices encontram-se nas regiões onde o petismo mais privilegiou e mais
    foi votado, leia-se norte e nordeste.

    Será castigo?

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  • Dr.Eduardo Gonsales de Ávila disse:

    Nós pagamos a conta. Preparem os bolsos. O Leão vem ai!

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  • Dr.Eduardo Gonsales de Ávila disse:

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  • Dr.Eduardo Gonsales de Ávila disse:

    Agora ao Brasil só resta REBOLAR.

    https://www.youtube.com?v=jkFOSZ00Pn4

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  • Dr.Eduardo Gonsales de Ávila disse:

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  • Dr.Eduardo Gonsales de Ávila disse:

    DANÇANDO

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  • Dr.Eduardo Gonsales de Ávila disse:

    DANÇAREMOS

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  • E agora Eduardo?

    Hoje é a votação da mudança do índice da LDO porque o petismo corrompeu nossas contas públicas.

    Vai passar? e mostrará que nada é serio no país quando o interesse partidário-por culpa de suas ações- está acima dos interesses pelo meno morais do país.

    É mais uma piada e ainda esperam que sejamos levados a sério.

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    • Respondo a mim mesmo observando do pulo do gato.

      Atrás de toda a movimentação à mudança na LDO,tem algo mais grave ou seja:

      Anistiar a Presidente Dilma do crime cometido, patrocinando remanejamento de verbas entre os ministérios acima do que seria permitido se o governo tivesse cumprido o superavit estabelecido pela lei.

      Aí o bicho pega !

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    • Dr.Eduardo Gonsales de Ávila disse:

      É A DILMA VAI FAZER MALABARISMOS

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  • therezaw disse:

    Bom, parece que parte do artigo está respondida, porque o tal Joaquim Levy vai mesmo pegar o touro a unha. Espero que pegue e domine a v…, com o perdão do termo. Só respondi hoje devido a um abcesso na boca. Pode? Pode. Apesar de meus cuidados e dos dentes estarem bons, alguma bactéria fdap achou algum buraquinho e entrou. E de repente começou a doer. Já fui à dentista, já estou nos antibióticos e ainda falta fazer a curetagem, que não foi feita porque infecções brecam anestesia. Graças a Deus existem dentistas. Mas está tudo indo bem, muito trabalho, Arturo melhor com a cpap e vamos tocando. Vou ler o outro Vespeiro e responder. Bom dia T

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  • Eduardo,
    Acredite se quiser e está no artigo do Delfim.

    ……esta é, assim, duplamente “extraída”: transfere renda de monopólio aos portuários, de um PIB menor apropriado pelos outros.

    O fato surpreendente é que um deputado cuja base é Ribeirão Preto, mas que teve alguns “votinhos” em Santos, em lugar de defender a eficiência do porto para exportar mais açúcar a um preço melhor (atividade da qual vive a maioria dos seus constituintes), cale-se ou vote a favor de tais “conquistas” na vã esperança de aumentar sua votação futura em Santos e na certeza de que seus eleitores de Ribeirão Preto serão incapazes de introjetar a “traição”.

    Será que esse deputado, pra não dizer idiota, não sabe que a exportação com mais agilidade nos portos reduz custos e ao caso na região dele que produz açucar!!!

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  • Dr.Eduardo Gonsales de Ávila disse:

    Cobucci
    Para se combater o Mal tem que se conhecer o Demônio: PONEROLOGIA
    http://www.bibliotecapleyades.net/sociopolitica/sociopol_ponerologia.htm#contents

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