Bye, bye, Paraguai

2 de dezembro de 2013 § 3 Comentários

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Outro dia foi a China que anunciou que está saindo de onde o PT quer entrar.

Na semana passada, quem diria, quem passou por nós na contramão e dando adeus às Venezuelas e às Cubas dos sonhos do PT, foi o Paraguai que, na quinta-feira 28, acabou com a imunidade parlamentar dos seus senadores – ou melhor, com aquela parcela dela que é abusiva e antidemocrática – depois de duas semanas de rebelião aberta contra a decisão anterior, do dia 14, quando 23 dos colegas do senador punido votaram a favor da sua permanência impune no Senado.

Victor Bogado, do Partido Colorado, tinha a babá de seus filhos ganhando dois salários – um pela Câmara dos Deputados e outro pela Itaipu Binacional – e foi um dos primeiros a ter seus podres publicados no novo site da internet criado pelo presidente Horácio Cartes, do seu próprio partido, para prestar contas sobre gastos públicos e dar transparência ao que se passa dentro do governo.

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Pouco depois da votação espúria, um dos parlamentares que votou pela impunidade do senador alegando a imunidade parlamentar entrou numa pizzaria para jantar.

Foi o estopim. Ele foi expulso sob vaias e palavrões e, por pouco, não foi agredido pelo público.

Daí por diante foi como uma epidemia. Restaurantes, bares, comércios, shoppings centers e até estádios de futebol e hospitais (estes abrindo exceções só para emergências) começaram a por cartazes na porta anunciando que “não atendemos ratos neste estabelecimento”. A única exceção foi uma funerária que pôs anúncios nos jornais dizendo que receberia qualquer um dos traidores “com todo o prazer”.

O povo montou uma vigília na frente do Congresso e um site foi abeto na internet com fotos dos 23 traíras e acompanhamento diário dos seus passos.

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Em duas semanas nova votação foi convocada, a imunidade do senador caiu e ele foi cassado.

Nesse meio tempo Genoíno ia para casa e José Dirceu passava a ganhar R$ 20 mil por mês para conspirar contra a democracia brasileira do jeito a que já está acostumado, enquanto todos os partidos de algum peso fechavam as portas para a admissão de Joaquim Barbosa como seu candidato em 2014.

O Paraguai esteve 35 anos sob a ditadura de Alfredo Stroessner, 14 anos a mais que os nossos ditos “de chumbo”. Nunca experimentou nada que lembrasse remotamente uma democracia digna desse nome.

E no entanto, taí respirando novos ares graças às novas condições de circulação da informação e articulação da resistência civil.

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E o Brasil?

Algo de muito semelhante ocorreu aqui no mês de junho deste ano. Mesmo com todo o marasmo em que vive a nossa política, bastou que alguém agitasse uma bandeira – no caso o STF com as condenações do Mensalão – e o povo se levantou com força suficiente para por o “Sistema” em pânico.

Mas nenhuma força organizada deu sequência ao movimento o que ensejou que os profissionais do golpe armassem a sequência de quebras-quebras que tirou a gente séria das ruas.

Se tivesse havido uma única voz disposta a puxar a fila, ela seguiria andando. Mas você pode virar e revirar os nossos 32 “partidos de esquerda”, inclusive os “de oposição” e seus milhares de candidatos; ver e rever o horário eleitoral e não encontrará rigorosamente nada que escape daquela tapeação vergonhosa que conhecemos, ofensiva à nossa inteligência de tão rasa e explícita.

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Pior, você pode revirar todos os jornais, ouvir todas as rádios, ver todos os programas jornalísticos da TV, e nada que não sejam esses próprios candidatos e o que uns estão dizendo sobre os outros lhe será apresentado. Haverá até quem afirme gostar e quem afirme não gostar deste ou daquele entre eles. Mas sugestão nova, propostas ou reportagens sobre modos diferentes de gerir a coisa pública; informações sobre como os outros que dão certo estão fazendo isso, zero!

Mesmo os acontecimentos do Paraguai tiveram uma cobertura menor que um reles desastre de trem em Nova York.

Não há exemplo histórico de processos como o brasileiro que tenham sido revertidos senão por dois tipos de expedientes: uma iniciativa forte do Poder Judiciário ou a articulação de propostas novas e campanhas para levá-las a efeito protagonizadas pela imprensa. Ou então essas duas coisas junto.

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O voto distrital com recall foi um dos instrumentos que foi criado assim e tem currículo mais brilhante no rol das revoluções pacíficas da humanidade. Tem mudado mundos e fundos nos últimos dois séculos e está aí esperando quem a tome para mudar o Brasil.

Mas, até agora, a única figura institucionalmente forte que vi pregar esse remédio no Brasil foi – adivinhe! – o ministro Joaquim Barbosa aquele que, pela primeira vez em nossa história, pôs essa bandidagem da porta da prisão para dentro, ainda que tenha sido impedido de trancá-la.

Aécio Neves, esse alegre candidato “de oposição” em busca de um discurso, é um dos que se adotasse este, correria o sério risco de, pela primeira vez na vida, dizer alguma coisa que valesse a pena ser ouvida.

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