A escolha de Dilma

2 de maio de 2013 § 5 Comentários

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Entre uma e outra declaração de amor e protestos de elevada estima e consideração por si mesma no seu discurso à Nação deste Primeiro de Maio, dona Dilma voltou a bater na tecla da educação.

Disse que está mandando finalmente ao Congresso a sua tantas vezes anunciada proposta de obrigar o investimento de todo o dinheiro dos royalties do pré-sal em educação porque educação é tudo aquilo que a gente sabe como condição para o desenvolvimento, e coisa e tal…

É claro que é só um gesto simbólico posto que, gostando como tem gostado ultimamente da baixa politicagem, dona Dilma sabe melhor que ninguém qual é a chance real dos seus sócios no alegre condomínio da governabilidade abrirem mão da parte que lhes cabe desse latifúndio que cada um tem defendido rosnando e arreganhando dentuças ameaçadoras para qualquer um que dela se aproxime.

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Ainda assim é digna de nota essa insistência no tema por parte desta filha de professores universitários emigrados da Europa (ainda que do Leste).

Posto ao lado do outro grande esforço pela educação de sua autoria – o Programa Ciência sem Fronteiras que pretendia mandar 75 mil brasileiros para estudar em universidades estrangeiras e que se vai arrastando por aí no padrão PT de gestão – esse projeto dos royalties nos permite espiar para dentro daquele que talvez seja o último grande dilema de consciência vivido por dona Dilma.

Ja comentei antes que não é pouca coisa para quem se alinhou a vida inteira com todos quantos vêm na cultura ocidental a obra de Satã em pessoa, propor algo com sabor tão herético quanto pagar para mandar brasileiros estudar no próprio “Inferno“.

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Mas ha uma explicação plausível.

Se tudo se apoiava na idéia de dar aos proletários a propriedade dos meios de produção e hoje os meios de produção são exclusivamente intelectuais, como negar o poder revolucionário da educação?

É impossível. Mas conhecendo como conhece o anel de ferro ideológico e corporativo em que estão encerrados os professores do Estado, componente essencial da armação granmsciana que, ao lado do expediente contra-revolucionário de distribuir coisas em vez de distribuir educação, ajudou a levar e ajuda a manter o PT no poder, dona Dilma tem todas as informações de que precisa para saber que não pode alimentar ilusões quanto à expectativa de fazê-los retornar à função de ensinar da qual foram afastados depois de tanta luta apenas cobrindo-os de dinheiro.

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O problema da educação pública brasileira, aliás, nunca foi de falta de dinheiro como provam todas as pesquisas internacionais comparando o nosso investimento por aluno com o do resto do mundo.

Se os empregados do Estado, viciados nas blandícias da estabilidade no emprego e da impunidade ampla, geral e irrestrita, não conseguem fazer uma estrada, um porto, um aeroporto, nem mesmo um hospital público decente se apropriando de mais de 1/3 de tudo que os brasileiros produzem ano após ano, porque seria diferente com a educação que é coisa muito mais complicada que tudo isso junto?

Dilma está certa. O único remédio é o que usam as universidades do “Império”: liberdade de pensamento e exigência de desempenho como condição para o professor e para o aluno.

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Mas como aplicá-lo aqui? Como renegar a desclassificação do esforço como justificação da diferença e passar a afirmar o primado da responsabilidade individual e a competição como parteira da qualidade depois de toda uma vida dedicada ao contrário, sobretudo a partir do posto mais alto de um esquema de poder que se baseia em substituir tudo isso pela esmola institucionalizada?

Impossível. Só resta, portanto, mandar brasileiros aprender la fora, onde o objetivo da escola pública continua sendo ensinar.

Com o país escorregando inexoravelmente para a periferia de uma economia global hipercompetitiva apesar dos seus ingentes esforços para fazer desaparecer na marra as consequências inevitáveis da nossa miséria educacional; balançando entre as delícias do Poder e a consciência de que o seu apoia-se na ignorância e na remediação da ignorância, dona Dilma fez a sua escolha mas sofre recaídas.

Sua consciência parece não ter morrido ainda mas a proposta quimérica envolvendo os royalties indica que ela passa muito mal.

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§ 5 Respostas para A escolha de Dilma

  • Luiz Barros disse:

    Dilma é uma mulher frágil e triste, que sublima sua solidão de forma bruta, andando aos supetões e falando com arrancadas e paradas, ancorando-se no pendor autoritário para que sua fraqueza pessoal e primarismo de raciocínio não se evidenciem ao povo, que até mesmo em alguns lugares, ora veja, já ensaiou vaiá-la. Seria mais feliz com uma boa terapia do que com uma reeleição que a tornará ainda mais refém de seus muy amigos aliados. Dúvidas todos têm, mas quando o sentir, o pensar e o agir são cativos da homérica disputa entre deus e o diabo, nem Diadorim aquentou-se, teve de arranjar um Rosa para que pudesse confessar seus pecados ao mundo.

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  • Cecilia Thompson disse:

    Mas acredito que há esperança… uma boa UTI, e se recupera tudo. Aliás, posso estar enganada – mas ela é nossa única (por enqto) esperança contra Lula.. Viu a foto dela abraçandoo Aecinho? O tar de Lulalá deve ter enfartado… *** vendo um curt maravilhoso no Canal Brasil (à tarde, é o que escapa…) sobre Mestre Rosa.      CECILIA THOMPSON                        jornalista/tradutora*                        Rua Bagé, 230, apt. 151 B                        SÃO PAULO -04012-140                        Telefone (5511) 5572-1371                        E-mail: cecithompson@uol.con.br                                    * tradutora do inglês, francês, italiano, espanhol e alemão

     

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  • Varlice disse:

    Nem só de corporativismo e de ideologia vive o professorado estatal.
    A dura lição está sendo aprendida na marra por toda a sociedade brasileira e sem que os professores tenham ainda a consciência do mal que estão a fazer aos que deles dependem.
    Mais do que a ausência de conhecimento no trato da matéria lecionada – e ela existe, sim –, falta amor e doação no ato de lecionar.
    Pode soar como um chavão barato, mas lecionar é sacerdócio e poucos da corporação ouviram realmente seu chamado.
    As professorinhas formadas no antigo ‘Normal’ – sem curso superior nem pós – que enlevavam, cativavam, incentivavam e inspiravam seus pequenos alunos levaram consigo para o túmulo o segredo não tão secreto de uma boa e produtiva aula.
    Qualquer profissão para ‘dar certo’ depende de vários fatores, mas um é essencial para seu sucesso: o amor pelo que se faz.
    John Keating e Mark Thackeray que o digam.

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