Correspondência “paulística”
22 de maio de 2014 § 2 Comentários
Mencionei no último artigo a “formação sociologicamente diferenciada de São Paulo” em relação ao resto do Brasil.
Na correspondência que reproduzo abaixo trato desse mesmo assunto e indico algumas leituras fundamentais para todos quantos, como a minha missivista, lutam contra o mar de mentiras em que se debate o Brasil.
Além de termos trabalhado lado a lado no início de minha carreira jornalística, Cecília me ajudou em estudos comparativos da formação das instituições dos Estados Unidos/Inglaterra x Brasil/Portugal mais recentemente, o que explica algumas das menções que se lerá abaixo.
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17 de maio de 2014
Fernão querido – como vai tudo por aí?
Digo pessoalmente – porque recebo sempre o Vespeiro e compartilho o seu desespero para com a Pátria Amada, Deus a Salve Salve.
Recebi o post abaixo do meu amigo e contemporâneo Sebastião Neto, que compartilha a nossa formação, as nossas preferências e desesperanças.
Acho que o interessará.
Quanto a Shostacovitch, meu sogro, maestro Edoardo de Guarnieri, regeu o ciclo completo das suas sinfonias no final dos anos 50, início dos 60 – você teria adorado, tenho certeza.
Beijo afetuoso,
Cecilia
15 de maio de 2014
Cecília,
sabedor de seu interesse pelas nuances de origens e significações da Língua Portuguesa, achei que você pudesse gostar desta matéria que aborda uma variante do falar que era utilizado pelos seus ancestrais paulistas no século XVIII.
Veja, abaixo, o link para a Folha de São Paulo, onde encontrei a matéria.”
Raro dicionário da “Língua Geral Paulista” é descoberto
Um beijo,
Sebastião
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18 de maio de 2014
Cecil, querida,
Vamos empurrando como dá!
Sigo com o que tenho que são os miolos, os dois dedos de digitar e a rede pública, fazendo o que sempre fiz.
Tudo vale a pena se a alma não é pequena, não era isso?
Permaneço, pois, fiel ao mesmo paradoxo do bom jornalismo que eu lhe martelava naqueles tempos de “colegas de carteira” no Estadão: “As unicas lutas que valem a pena ser lutadas são as que não se pode vencer…”
Interessantíssima essa notícia, ainda que um tanto melancólica também, dada a diluição que se vê hoje. (Acabo de comprar, alias, graças a sua provocação, um outro Vocabulário Português-Nheengatu à venda na Livravia Cultura online).
O Nheengatu é dos fenomenos que ainda serão melhor estudados quando formos um país civilizado (sim, Cecil, no final nós venceremos, restando saber apenas a que distância esse final está!).
O Demétrio Magnoli, que frequentemente é brilhante mas é italiano, diz o contrário hoje na Folha. Mas dessa historia ele non capicci un cazzo…
São Paulo foi uma espécie de Inglaterra na sua relação com o Brasil “continental“.
Ficou isolada durante 300 anos ao longo dos quais só se conhece dois registros escritos por visitantes “civilizados“, e isolada principalmente da fonte mãe da corrupção que era a Europa absolutista (a que mais tarde continou como a Europa totalitária e segue hoje como a Europa bandida que vai nascendo pelas mãos do celerado Putin, ex-KGB).
São Paulo, ao contrário do Brasil da praia, ficou fora disso, destilando e apurando uma cultura própria.
Nada como a “insularidade” fertilizada por uma semente forte!
Entre os portugas que Martim Afonso largou aqui (em 1532) havia gente que, la nos 500, ja tinha estado na China e em tudo mais que ha entre ela e Portugal.
Logo depois morreu d. João III (1557) e subiu ao trono Sebastião (ainda menino) que viria a desaparecer em África (em 1578).
E Portugal entrou numa espécie de processo argentino multiplicado: 300 anos de decadência dos quais São Paulo se manteve não só distante mas, mais importante que isso, ignorante, fazendo valer ainda o “ganhar nobreza pelos feitos d’armas” gerações além, numa espécie de quixotismo inconsciente que explica os bandeirantes geográficos e os bandeirantes economico/empreendedores cuja história começou muuuito antes e com muuuito mais peso e importância do que Caio Prado e seus sucessores gostariam, conforme o nosso Cafu (Jorge Caldeira) vem desvendando com tanto brilho e fascínio.
Você o tem lido? Vale a pena! (Fundamentais estas três matérias a esse respeito: 1, 2, 3).
Tudo isso está esquecido? Está…
Mas continua no DNA de SP que continua atraindo DNA’s semelhantes, da gente que acredita que é capaz de fazer por si se lhe tirarem os renan calheiros do cangote, e determinando o que inconscientemente ainda somos e a nossa relação com o resto do Brasil.
Tão claro tudo isso no panorama político partidário de hoje…
Empurra essa desesperança pra la, Cecil! Transforma-a em (paciente) indignação e em (persistente) missão. Somos só os primeiros “protestantes” vagando pela noite do Brasil com uma vela na mão e batendo de porta em porta para indicar ao povo o caminho da libertação.
Nós vamos vencer no final, não importa a distância. O que nos cabe cuidar agora é de sermos nós os que estarão no lado decente de se estar nos livros de história que nossos netos lerão.
Saudades, menina!
bj,
Fernão
É “cazzo” e não catso. Mas deu pra entender Segundo o Filósofo Zé Simão, “escrevemos errado mas todo mundo se entende”
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valeu, marito.
vai mal o meu italianico.
ta corrigido
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