Porque não haverá rebelião da “base” nem que a vaca tussa

19 de agosto de 2011 § 1 comentário

Bastou um encontro a portas fechadas com Lula e as algemas da Polícia Federal se tornaram uma ameaça mais preocupante para o futuro da democracia brasileira que os telefonemas grampeados dos algemados que a TV exibia naquele mesmo momento pedindo “capricho na fachada” das arapucas com que assaltam os miseráveis deste país.

Mil desculpas, excelências! Vamos nos encontrar uma vez por mês, daqui por diante, e todos os partidos aliados estão convidados. Não haverá mais abusos…

Na sequência uma reunião solene para afagar os 80 deputados e 20 senadores do partido do vice-presidente da Republica, seguida da liberação de R$ 1 bilhão em emendas parlamentares que, de qualquer modo, já estão na coluna de gastos desde 2009, e mais a re-confirmação da promessa de que será ao PMDB que o PT entregará a presidência da Câmara em 2013, se um dia 2013 chegar.

Na despedida, a presidente até aquiesceu que tem sido “sectarista” a cobertura dos escândalos pela imprensa…

E só isso já bastou para alguns jornalistas considerarem que, de uma vez por todas, Dilma “aderiu ao pragmatismo lulista”.

Pode ser…

Mas eu ainda resisto a me entregar a essa ansiedade de ver o país voltar à sua “normalidade” anormal. E invoco como prova da precipitação de tal conclusão o fato de que enquanto Dilma fazia todo esse rapapé o chefão da Agricultura, posto lá por Michel Temer em pessoa, despencava para a lixeira.

Mais um. E bitelão!

Dilma, é claro, esta vendo que o mar não está pra peixe – falo do mundo e não da nossa particular lagoa de piranhas – e sabe que vai precisar de votos para aprovar medidas que ajudem a poupar o país do contagio pelo segundo mergulho da crise financeira mundial.

É bom dar um tempo para tomar fôlego, portanto.

Mas antes de chegar a conclusões definitivas é preciso por na balança também o pragmatismo inflexível dos nossos xiitas do adesismo. Se ha alguma coisa de absolutamente sólido e estavel neste país é a firme aderência desse tipo especial de ser humano que consegue passar pelo rigoroso filtro da nossa política para dentro do “sistema” a todo e qualquer governo que se elege.

Alguém comentava ontem na televisão o “comedimento” de Michel Temer durante todo esse tiroteio, atribuindo tudo isso a uma suposta característica pessoal dele de autocontrole.

De fato. Michel Temer é um profissional que sabe fazer cálculos. Senão não estava bilionário como está.

É claro para ele como é claro para qualquer pessoa razoavelmente lucida que, a menos que o mundo afunde de vez, enquanto a China continuar faminta por commodities o Brasil seguirá se aguentando pra lá de bem, mesmo com toda a roubalheira; mesmo com toda a gastança; mesmo com toda a incompetência gerencial de que se tem dado provas por aí.

E como isso de eleições “It’s the economy, your stupid“, enquanto a economia não estiver descendo pelo ralo o poder continuará nas mãos do PT.

E aí (a História é minha testemunha) enquanto o PT tiver o governo os xiitas do adesismo continuarão aliados ao PT, mesmo porque nunca fizeram e nem sabem fazer outra coisa senão “estar aliados a governos”. Não governando, que isso dá muito trabalho, mas “estando aliados a governos”, que é uma delícia, sobretudo depois do “liberou geral” do Lula.

Se antes a corrupção requeria um empresário privado na outra ponta, dividindo o que fosse roubado, os partidos “da base” de hoje não precisam mais dessa bobagem. Criam eles próprios as empresas com quem os ministérios com que são contemplados vão fazer negócios. Não é preciso dividir com ninguém.

Agora eles mesmos cobram os escanteios e correm pra área pra cabecear pro gol.

E perder uma mina dessas!? Nem pen – sar!

Veja-se o PR. Lá da “lixeira” da Dilma o presidente Alfredo Nascimento anunciou a “decisão do partido de se retirar da coalizão”. Se não tivesse calado a boca daí por diante para livrar a cara, sua próxima frase teria de ser a clássica “Fomos traídos!”, já que não deu zebra: todo mundo se fez de bobo e continuou exatamente onde estava. Alguns balbuciaram que oposição, oposição mesmo, é exagero, mas que doravante passariam a “votar segundo sua consciência”. Mas isso é só uma confissão, para os anais, de que até então vinham votando exclusivamente com o bolso. Folclore…

PMDB et caterva não querem governar. E fazer oposição, ou é para quem quer ser o próximo governo, ou é coisa pra herói que realmente só pensa no interesse publico.

Não tem ninguém assim na “coalizão”.

De modo que a Dilma não precisa violentar a sua natureza porque não haverá rebelião nem que a vaca tussa.

Ta certo: é preciso andar com cuidado, esperar o horizonte desanuviar um pouco, trabalhar pela blindagem da economia contra a crise.

A Dilma esta sozinha nisso. O Lula pressiona porque ele é o mais bandalho entre os bandalhos e está se lambuzando que só ele, pra cima e pra baixo nos jatões da Odebrecht. Mas a Dilma é que é a presidente, e presidente ainda tem muita força no Brasil.

Se a imprensa não recuar, como é do seu dever; se der a ela, de fora, o apoio que lhe é negado de dentro, ela terá a cobertura que precisa para, a tempo e a hora, retomar a “faxina” sem poder ser desafiada de frente porque isso queimaria mais o desafiante do que ela.

Ate no Brasil ainda pega mal “fechar” com os assaltantes contra os assaltados em cima do flagrante. Mesmo pro Lula. E depois, limpar um pouco da miséria moral que assola o país é condição essencial para acabar com a outra.


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§ Uma Resposta para Porque não haverá rebelião da “base” nem que a vaca tussa

  • Varlice disse:

    Louvável a sua resistência em se entregar a ver a tal normalidade anormal – que, by the way, continua aí, vivinha da silva.
    Porém, quando ouço a presidente dizer que a faxina a ser feita é na miséria – e não na corrupção que assola todos os níveis do país – tremo em perceber a miopia moral da cúpula deste governo e constato que sem essa vontade política nada irá para frente..
    A miséria deste país, senhora presidente, está diretamente vinculada, atada, amarrada e amordaçada à corrupção.
    Seja inteligente: extirpe a segunda e a primeira inexistirá.

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