Ensaio para um inferno
21 de junho de 2014 § 2 Comentários
Em São Paulo, a mega metrópole de 10 milhões de habitantes cujo Plano Diretor está sendo desenhado com o objetivo precípuo de consolidar as cinco últimas invasões do MTST, o ensaio do Brasil para o Inferno prossegue livre, leve e solto. Quinta-feira, dia de jogão da Copa no Itaquerão, aquela meia duzia de sempre manteve a cidade bloqueada por quase cinco horas ininterruptas, promovendo depredações selvagens a gosto, sem que ninguém os perturbasse.
O séquito de reporteres e cinegrafistas acompanhando a turba era quase tão numerosa quanto ela de modo que a multidão pacífica pode observar em detalhe durante toda a metade de um dia, de dentro de suas casas, o que é que vem vindo por aí. Quem insiste em trabalhar, em ir e vir pelas ruas para buscar a vida, então, esses são os alvos prioritários.
Não passarão!
E se estiverem carregando bandeiras verdes e amarelas, então, pau neles! Só as vermelhas ou as negras são admitidas. Só a violência — com ou sem “causa” — tem salvo-conduto.
Passadas quase cinco horas de livre exercício de selvageria a PM se deu o incômodo de apagar incêndios, juntar cacos e ir desbloquear esta ou aquela avenida barricada. Houve duas ou tres prisões e, mesmo com tão poucas, foram apreendidos socos-ingleses, facas e o resto dos instrumentos do costume. O tipo de “equipamento” atesta a boa formação moral dos seus portadores.
O comandante da PM de São Paulo, não obstante, explicou aos contribuintes que “assinou um termo de compromisso com ‘as líderanças’ dos ‘manifestantes’ comprometendo-se a não incomodá-los” nem mesmo com uma supervisão direta.
E porque não, afinal? Não são eles os mesmos que a presidente da Republica convoca volta e meia para sentar-se à mesa do poder em rodas de conversas amenas depois de badernas até maiores que as desse dia? Não são eles os mesmos a quem o mais recente decreto de sua excelência determina que seja entregue a co-governança da Nação passando por cima dos poderes Legislativo e Judiciário?
No meio deles esgueiram-se os mascarados de sempre, à procura de um cadaver. Não vai demorar que o produzam. Será o primeiro de muitos porque, como o mundo nos prova todos os dias e a quinta-feira passada confirmou mais uma vez, a civilização não é muito mais que a presença da polícia e nós já alcançamos o estágio em que os comandantes da polícia é que dão a ordem para que ela se faça ausente, seguindo, por sua vez, as ordens dos comandantes dos comandantes da polícia.
Isso acaba mal! Acaba muito mal!
Não custa repetir aquilo que a humanidade já sabe desde a Bíblia: a coisa mais fácil do mundo é abrir as portas do Inferno; e a mais difícil, é cercar todos os diabos fugidos, tocá-los de novo lá pra baixo e trancá-la outra vez.
Será que teremos mesmo de ser os próximos a reconfirmar o que desde sempre se sabe? A sociedade brasileira terá mesmo perdido a energia que se requer para impedir que seja ela a próxima a se auto-imolar?
Vamos de mal a pior…Se é que ainda há espaço para descermos mais, como sociedade “organizada”.
Foi-se o tempo, também, em que os comandantes de tropas eram mais que meros agentes da socialdemagogia, assentados comodamente por detrás de uma escrivaninha.
Todos querem fazer política e todos temem, em momentos de necessidade e obrigação funcionais, serem vistos como autoridades. Todos preferem lavar as mãos e deixar que o circo pegue fogo ou que o incêndio se apague por si mesmo.
Esta é a nossa triste, escabrosa e preocupante realidade.
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http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=05/05/2014&jornal=1&pagina=36&totalArquivos=148
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