Nana, nenê, que a cuca vem pegar…
28 de fevereiro de 2014 § 14 Comentários
Viram os três jornalões de hoje?
Dentro da profissão todo mundo sabe, mas fora pouca gente se dá conta. E esta é a principal razão porque é assim que acontece: seja quando se trata de má fé, seja quando é apenas incompetência, seja quando é um misto das duas coisas, uma cobertura jornalística é sempre muito mais criticável pelo que deixa de fazer do que pelo que faz.
A razão disso ser assim é elementar. Um fato é um fato e é muito difícil sonegá-lo ou relatá-lo diretamente pelo que não foi, assim em cima da pinta, sem dar flagrante de mentira, coisa que nem o mais desonesto dos jornalistas pode se dar o luxo de fazer sob pena de perder a oportunidade de seguir mentindo com o alcance de que o arma a tribuna de onde mente, que é o que as faz tão cobiçadas pelos agentes mal disfarçados da luta pelo poder que se esgueiram por todas as redações do mundo.
O jornalista, quando mente, mente pelo silêncio nas ocasiões em que fazer alarde é obrigatório ou pelo alarde quando o silêncio é que é adequado. Mente omitindo a nuance que altera o sentido do fato ou sugerindo que a que não tem esse significado significa mais do que parece. O jornalista que mente mente pelas tabelas, e é isso que torna difícil denunciá-lo diretamente.
Mas voltemos aos jornalões de hoje.
Nem O Estado, nem a Folha nem O Globo de hoje puxaram os acontecimentos de ontem em suas primeiras páginas pelo que eles tiveram de mais jornalístico. Trata-se de um marco histórico, de um golpe contra o regime republicano, de um turning point que assim será registrado para a posteridade.
Mas mesmo tudo isso tendo sido não apenas sinalizado como textualmente declarado pela autoridade máxima do Poder Judiciário da República – que acabara de ser derrubada por um golpe – e por mais quatro juízes da Suprema Corte, o que torna o fato um fato mesmo que a intepretação deles venha a se comprovar errada, nenhum deles incluiu em suas manchetes ou mesmo nas suas chamadas de primeira página a advertência à Nação feita pelo ministro Joaquim Barbosa de que a desmontagem da condenação dos mensaleiros do PT “é o primeiro passo” de um processo maior e que, daqui por diante, “esta maioria de circunstância tem todo o tempo a seu favor para continuar nessa sua sanha reformadora”.
Reformadora de quê?
Reformadora do regime que o patrocinador dessa “maioria de circunstância”, a saber, a Presidência da República, já tinha tentado golpear antes, na conspiração que foi temporariamente detida pelo julgamento anulado ontem “no tapetão”, que tem o objetivo explícito de por no lugar do que temos outro regime que o eleitor não elegeu.
Se essa modalidade de golpe fosse uma novidade, ainda seria admissível que alguém não se apercebesse de que se trata de um golpe. Mas se a democracia moderna começou, ha 400 anos, com o enquadramento do Poder Executivo pelo Poder Judiciário, todas as ditaduras do presente, especialmente estas à nossa volta que o PT visita semanalmente, subsidia com o dinheiro dos nossos impostos e aponta como “a sua utopia” – da argentina às bolivarianas – começaram pelo Poder Executivo trapaceando para dar um golpe no Poder Judiciário, depois de ter anulado o Poder Legislativo pelo uso maciço e sistemático da arma da corrupção, exatamente o que aconteceu na primeira fase do golpe em curso no Brasil que a Procuradoria Geral da Republica flagrou e descreveu em minúcias e que as sentenças anuladas ontem tratavam de reverter.
A ditadura trapaceada do Brasil começou, portanto, ontem e foi para isso que o ministro Joaquim alertou a Nação com o máximo de palavras que podiam ser usadas por alguém na sua posição. O que ele disse é que, constituída a tal “maioria de circunstância” na última instituição que ainda resistia ao golpe, o caminho está livre para que o pais seja empurrado mansamente sem mais nenhuma resistência ao longo do percurso que ainda nos separa daquilo em que o PT não se cansa de dizer que quer nos transformar.
E, no entanto, o que “noticiaram” os jornalões de hoje? A “irritação” ou, no máximo, a “tristeza” do ministro, mas não o seu alarme. Tudo não passou de birras e incomodações entre juízes irritadiços envolvidos num jogo pessoal de poder. O país, a Nação, a República não foram afetados.
As manchetes afirmam laconicamente aquilo que já se sabia que necessariamente aconteceria desde o momento, ha mais de seis meses, em que a Presidência da República exigiu, como condição para sua nomeação, que os dois ministros infiltrados para a missão de que se desincumbiram ontem – mais o compadre de dona Marisa Letícia, o ex-advogado de José Dirceu e aquelas duas piedosas senhoras que, junto com dona Dilma, vão entrar para a História como a prova do mito que é a alegação de que colocar mulheres em altos cargos da República resulta intrínseca e automaticamente numa melhoria da qualidade da democracia – declarassem publicamente o seu compromisso de votar como votaram.
Para os nossos jornalões tudo não passou de uma “revisão de sentença”, de uma “mudança de critério”.
Desde ontem, aliás, enquanto o golpe se desenrolava ao vivo, as televisões ouviam, a cada intervalo, os “especialistas” do costume, sempre aos pares, um para bater no cravo, outro para rebater na ferradura, para “analisar” a “argumentação” de cada parte, como se tudo aquilo fosse sério; como se tudo aquilo fosse mesmo uma tertúlia técnica girando em torno de altos preceitos do Direito.
Que nome pode-se dar a tal armação, posto tudo que já se sabia sobre o golpe em andamento com data marcada e roteiro previamente compromissado, senão o de uma grossa mentira destinada a sugerir à patuléia que segue tudo normal e nada ameaça a democracia brasileira?
Não seria informar mais honestamente entremear essas tais argumentações com os vídeos destes mesmos senhores se comprometendo com o voto que estavam “argumentando” antes mesmo de se tornarem membros daquele colegiado? Antes mesmo de serem cogitados para isso, aliás, pois eles praticamente se candidataram ao cargo anunciando-se dispostos ao jogo de cartas marcadas para o qual os golpistas estavam procurando atores…
Não seria informar mais honestamente entremear os argumentos deles para negar os fatos com a leitura das minuciosas provas apresentadas pelo ex-Pocurador Geral da República na fase honesta deste julgamento a respeito de cada um dos crimes em discussão?
Ou ilustrar os acontecimentos com a sequência de fatos idênticos que conduziu os argentinos, os bolivianos, os venezuelanos et caterva às ditaduras que os empurraram para a beira da guerra civil em que hoje se balançam? Ou esse paralelo não é um fato?
Nada!
Apenas “especialistas” carregados de títulos, endossando “a seriedade” de uma encenação que todo mundo sabe que é uma farsa.
Hoje, tudo já passou. O distinto telespectador e o considerado leitor podem baixar a guarda que voltamos ao que é realmente importante. Os dados do “crescimento surpreendente” da economia que “surpreendentemente” são divulgados pelo governo acusado no mesmo dia da consecução do golpe; as falcatruas cometidas ha 31 anos pelo “outro lado” ha 11 anos fora do poder “surpreendentemente” reveladas pelo governo acusado no mesmo dia das primeiras condenações e, é claro, o carnaval…
É por essas e outras que venho já ha uns bons anos, afirmando que estamos diante da “tempestade perfeita”. Porque a imprensa, que é sempre a última linha de defesa nas democracias, aqui entre nós está precisando se decidir se quer ser parte da solução ou parte do problema.
Marcado:falso jornalismo, golpe, golpe do mensalão, golpe no STF, Joaquim Barbosa Barbosa, Jornalismo, jornalismo desonesto, jornalismo honesto, pizza do mensalão, poder judiciário, Presidência da República, regime republicano, Republica
Muito bem observado. Quantos, entre nós, pobres brasileiros, terão o privilégio de ler esta sua análise e denúncia oportuna que nos oferece do alto de seus longos anos de vivência nas entranhas mais profundas da política e do jornalísmo? Onde foram parar o brio, a ética, a moral, a Oposição, a Imprensa, a Justiça, a Democracia, em fim das bases do nosso antigo Sistema Democrático? Será que só nos resta beber até cair entoando o “me dá um dinheiro aí”! Ou seja, entrar para a Situação?
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O tempo limpará o pó.
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Tristemente, dolorosamente, assino com você.
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Como escrevi no Facebook, há dois dias, quando ainda tinha Ânimo para facécias:
“Numa coisa CONCORDO TOTAL: NÃO HOUVE FORMAÇÃO DE QUADRILHA. E comprovo: (1) eles não usavam aquele conjuntinho listado modelito Irmãos Metralha; (2) não tinham hora nem dia certo para se reunir, ficava no ‘vamos até lá que quero te dar uma coisinha’; (3) não tinham relógio de ponto ou livro de presença, nem ata de reunião; (4) ninguém conseguir provar que ‘eles’ se conheciam; (5) nunca ninguém viu um deles com uma arma, de tiro ou branca, na mão. O ÚNICO LUGAR CERTO ONDE ALGUNS SE REUNIAM PARA UM BATE-PAPO AMIGO era o “cafezinho” do Palácio do Planalto. E ORRA, GENTE! Não se pode mais nem tomar um cafezinho? Vocês são muito intransigentes, tão é de má-vontade! Olha que quando saírem (muito em breve) da cadeia, antes do Natal, eles vão dar uma PUXA festa e não nos convidam, hein!”
Agora não tenho mais força nem alegria para brincar. Como disse Galvão Bueno em dia mais feliz, “ACABOU, ACABOU”
E, infelizmente, acho que quando o tempo limpar o pó, já serei cinzas.
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PS- coitadinho desse doce bebê, e de todos que vieram e ainda estão vindo. Não sabem o que os aguarda.
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Na mosca, Fernão. Obrigado e abraço.
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Fernão.Valeu, é o carnaval dos 6 do STF. Menos mal a VEJA, a começar pela capa, não deixou de fazer o que a decência obriga. As duas madames, os 2 petistas anteriores e os dois fora da curva, e como vc bem observou causaram o “turning point” de algo que indicava sério diante das provas. Esses seis Ministros são circunstanciais e assim entrarão para a história gostem ou não. Stendal ( Henri Beyle) em Memórias de Napoleão observa da mentira quando ” produzida por meio de formas de linguagem vagas e genéricas dificies de ser refutadas em poucas palavras, E, a ela, associando–se, como ao caso, a hipocrisia ” defeito de conduta” (idem), tá explicado porque ao STF foram enviados os dois novos Ministros sobre os quais sabia-se antecipadamente do apreço pelos petralhas e os votos como gratidão ao partido que os indicou.
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cooptaram o congresso,cooptaram o stf,invadiram a petrobras os correios furnas os portos o BB ,A CAIXA. ESTÃO PREPARANDO UM GOLPE DE ESTADO. todo mundo esta vendo.Quando isto acontecer,vai haver guerra civil,mortes ,caus social etc etc.AÍ as FFAA entram e resolvem .PERGUNTO POR QUE NÃO RESOLVER AGORA ?.,SAI MAIS BARATO
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Mil desculpas é ESDRÚXULO!!! Distração de quem não está acostumado a digitar.
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Martins, pra mim não há ninguém com dignidade suficiente em pensar na PÁTRIA. Pensam é na conquista do poder e, como temos vivido e assistido, uma vez obtido não sabem o que fazer com ele, exceto as benefícios próprios e ou ideológicos como ao caso do PT. Vc quer algo mais exdrúxulo quando as leis penais?, quanto mais crimes mais generosas elas se tornam aos bandidos. O que fazer?
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Fernão, permita completar sua análise. E quanto as acusações do Secretário geral de não sei o que, Tuma Junior, aos petistas em especial aos Lula e ao Ministro Gilberto Carvalho. Nadinha de comentários na imprensa, leia-se Estadão e Folha. O livro é um perfeito libelo. As acusações nele contidas, em pais sério, seriam objeto de investigação. O ex-mula do Zé Dirceu, Gilberto Carvalho, indicou de abrir processo contra o autor e até agora nada. Provavelnte todos tem medo de alguma prova, afinal o autor não é nenhum bobo em acusar sem provar.
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O que me deixa mais intrigado é que graças ao parecer do Ministro Celso de Mello com relação aos embargos, estes ladrões tiveram a chance de ser absolvidos da acusação de formação de quadrilha. Creio que o Sr. Ministro não imaginava, ou não conhecia, com quem estava lidando dentro do STF. Perde a oportunidade de ajudar o Brasil a se tornar melhor, e depois fica com aquela cara de indignado, e que não tem nada com isso! A culpa é de Vossa Excelência, Celso de M…!
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e bota m… nessa m…
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Em suma, com a contratação de dois, o Tori e o Barroso, novos Ministros do STF, os não mais quadrilheiros tão ó corruptos do PT já estão com a maioria de 6 ministros. Tá contente Celso? Depois escreva um livro.
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Pois foi. O ministro Celso saiu da história para entrar na vida.
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