Dilma em seu labirinto

5 de junho de 2013 § 2 Comentários

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Algo parece ter começado a mudar lá no Planalto Central. Esperemos que se confirme. Pois onde presidente pode tudo empreendedor não pode nada e agora, mais que nunca, é dos lá de fora, gente pouco afeita a obedecer ordens, que dependemos.

Até aqui, dona Dilma tem feito e acontecido. E esse, essencialmente, é o problema.

Como tem “a certeza na frente e a História na mão”, dorme todas as noites convencida de que “esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Estando os seus pressupostos por definição corretos, a não ser para quem por mera antipatia ou falta de patriotismo “torce contra”, não ha porque tratar de alterar o conjunto das causas.

Assim sua excelência acorda todos os dias para retomar a sua tourada contra a rebeldia dos fatos que insistem em não se enquadrar às suas teorias, de modo a colocá-los no seu devido lugar.

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Vem daí essa sua marcação homem a homem com a coluna de mercúrio do termômetro, a “matemática criativa” que ela impõe à sua corte de “simsenhoras” e esse seu olímpico descaso para com o saneamento das condições insalubres e o reforço do sistema imunológico do organismo que suas certezas puseram com febre.

Ingrata tarefa! É tapar um buraco e mais dois se abrem…

Acrescente-se a isso a pressa imposta pela aproximação da eleição e o resultado não poderia ser outro senão a trajetória cada vez mais errática em que ela nos tem mantido.

E se tem uma coisa de que investidor tem horror é de trajetórias erráticas.

Nos últimos dias alguma coisa parece ter finalmente abalado as certezas de dona Dilma. Uma pesquisa eleitoral mais que só o pibinho de 0,6%, eu arriscaria dizer.

Pois é, dona Dilma é louca mas não rasga dinheiro…

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Seja como for, o dr. Tombini, do Banco Central, que andava numa mudês humilhada desde agosto de 2011 quando a patrôa houve por bem decretar que os juros deveriam baixar na velocidade das suas conveniências, não porque fosse essa a rota tecnicamente recomendável mas porque ela nutre um especial desprezo por pilotos brevetados, foi autorizado a retomar o manche.

De cara ele tirou do alarme de estol dois dos três instrumentos que vinham mantendo a economia brasileira em vôo de brigadeiro desde que Fernando Henrique Cardoso a resgatou do mergulho em parafuso para o qual a tinham empurrado os hoje sócios majoritários da “governabilidade” petista.

Os juros voltaram a ser usados com o claro objetivo de reduzir a inflação e o câmbio voltou a flutuar.

per7

Ainda mais importante que o fato, porém, foi a mudança no discurso com que ele foi anunciado.

O dr. Tombini fez questão de afirmar em público exatamente o contrário do que vinha afirmando dona Dilma, e de esclarecer que agia assim “para recuperar a credibilidade da economia brasileira”. Como, mais que nunca antes na história deste país, manda quem pode e obedece quem tem juízo, conclui-se que passou a prevalecer dentro do governo a consciência de que a crise é sobretudo de confiança. E isso faz toda a diferença.

É que agora que o estoque de anabolizante do consumo acabou e é de investimento privado que teremos de viver, dona Dilma terá de aprender a parar de mandar para tentar começar a seduzir e convencer. E esse negócio de dizer que piloto não precisa de brevê e que seguir as leis da aerodinâmica é uma mera questão de preferência não convence ninguém em pleno domínio de suas faculdades mentais a subir no nosso avião.

Melhor devolver a pilotagem ao piloto.

Só que já se sabe. Confiança perde-se em dois palitos. Já para ganhar…

per13

Primeiro será preciso conseguir que dona Dilma resista aos seus hormônios mesmo depois que a inflação der a primeira abaixadinha e siga permitindo que só quem tem brevê pilote o avião.

Depois porque o terceiro elemento, que é voltar a gerar superavits primários nas contas públicas, é coisa que está fora do alcance do Banco Central.

Com a industria sufocada pela festa dos salários sem a contrapartida da produtividade, a educação em petição de miséria e o comércio internacional jogado às traças por um Itamarati que só fez comprar votos do lunpen internacional para tomar de assalto os organismos multinacionais do século 20, não se pode contar muito com exportações para equilibrar as contas. O Brasil está comercialmente confinado ao finado Mercosul.

O investimento estrangeiro é, portanto, imprescindível.

Li por aí esses dias que o governo simplesmente “decidiu fazer do investimento o motor da expansão econômica” e que basta, para conseguí-lo, que ele “vença o seu preconceito contra o lucro e melhore as condições de rentabilidade dos projetos de infraestrutura” que quer vender ao capital estrangeiro.

per10

Não é tão fácil assim.

Ha muito tempo que aversão ao lucro é um preconceito superado por nove entre dez petistas, sendo o corte maior que 100% entre aqueles que detêm cargos públicos.

A verdade é que o governo melhorou sucessivamente as “condições de rentabilidade” desses projetos até muito além do que seria razoável num mundo de juros negativos.

Além de financiamentos pra lá de generosos, ofereceu até garantias contra eventuais prejuízos, o que é absolutamente inédito.

As vantagens oferecidas já são de tal monta que é impossível afirmar com segurança se o objetivo principal é reduzir o deficit competitivo por falta de infraestrutura ou fazer o dinheiro entrar de qualquer jeito para apresentar contas melhores antes da eleição legando ao país outra fatura impagável para o futuro.

per15

Mas nem assim, ou talvez por isso mesmo, algum aventureiro se convenceu a lançar mão dessas concessões porque, como ficou demonstrado acima, a questão é de credibilidade e não de rentabilidade.

Dona Dilma, na sua estranha perversão, tanto mais ama a Argentina quanto mais ela nos chuta o estômago, mas o resto do mundo trata com mais respeito o dinheiro que sua para ganhar.

Mas ainda que venham os portos, as estradas e os aeroportos, o que de saída implica proibir-se de fazer caridade com dinheiro alheio como aconteceu com as elétricas, voltar a ter superavit fiscal vai custar, em ano de eleição, cortar regalias da companheirada, fechar as burras do BNDES aos financiadores cativos de campanhas, parar com as isenções fiscais que não possam ser vistas como democráticas e sistêmicas, manter a vazão das “bolsas” diversas pelo menos na medida em que estão hoje e deixar pra lá as mágicas do gênero dessas sem as quais o termômetro da inflação estaria marcando os 8% ao ano que de fato há.

Ah, e manter o aperto dos juros sobre uma população que foi convencida a se endividar até à raiz dos cabelos e o dolar flutuando numa conjuntura de apreciação internacional da moeda americana até que o mundo volte a acreditar que é o Banco Central quem manda e que é no respeito à realidade que vale para o resto planeta que voltamos a apostar.per6

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§ 2 Respostas para Dilma em seu labirinto

  • Luiz Barros disse:

    Dilma com razão leva a principal culpa, merecidamente, pois quis e aceitou o cargo de presidente… mas a burrice é tanta que não pode ser atribuida a uma louca só: é uma burraiada das boas de grande que anda na gestão do país.

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  • Varlice disse:

    Dilma como boa sagitariana tem certeza de que entende de tudo.

    1.
    FARRA GERAL
    No tumulto do Bolsa-Família, a Caixa descobriu que 692 mil famílias têm dois cadastros e recebem dois auxílios (talvez seja por isso que, como disseram à TV, haja quem compre jeans de R$ 300 para a filha e pingue mensalmente algum na poupança).
    Custo do pagamento ilegal? R$ 100 milhões por mês.
    (Carlos Brickmann via Ricardo Setti)

    2.
    Bolsas variadas cá, cupones del Seguro Social lá, Y No Hago Mas Na’…

    3.
    Lançado oficialmente no dia de hoje o Sonegômetro.
    Quando lançarão o Corruptômetro?

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