Que fazer?

11 de março de 2015 § 14 Comentários

dil6Artigo para O Estado de S.Paulo de 11/3/20

O que ha de surrealista nesta crise é a ordem dos fatores. Não são os fatos que configuram a crise e pautam o discurso do governo, é o discurso do governo que pauta a crise e torna os fatos cada vez mais adversos.

De par com a roubalheira tanto mais negada quanto mais exposta, esta crise não é muito mais que a insana persistência na negação da crise, agravada pela última tentativa de dona Dilma de provar-nos que os loucos somos nós, que o que sentimos no bolso não passa de uma invenção “da mídia” e que quem vai mal não é o Brasil onde o petróleo custa o dobro, é o mundo onde o petróleo custa a metade. Assim como a Petrobras é “vítima” do assalto a que se vem submetendo languidamente ha 12 anos, o PT é “vítima” da incúria chinesa, americana e alemã para tocar uma economia com eficiência e responsabilidade.

É totalmente relevante assinalar que a par de abrir-nos os olhos para os perigosos enganos a que nos empurram os nossos cinco sentidos, dona Dilma decretou que matar mulheres – e só mulheres – passa a ser “crime hediondo”, apenas porque sua augusta excelência acordou com essa boa idéia na cabeça!

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O constante atropelamento da Lei, da aritimética e das instituições pelos “atos de vontade” do governante de plantão num mundo onde o dinheiro é um só e não admite mais esse tipo de desaforo é o que nos está matando.

Seria o momento da oposição provar que é diferente. Mas não será saudando o dono da Transpetro como “estadista da República” por reagir ao cerco da polícia atirando no dr. Levy que vai conseguir isso. Faria melhor se denunciasse a “camarotização” pacificamente assimilada dessa Brasilia que segue com suas obscenas enxúndias e adiposidades incólumes enquanto exige do Brasil da 2a Classe que entregue os músculos e até os ossos. Mas nem pelo exercício didático alguém fez a conta para mostrar quanto do superavit pretendido pelo dr.Levy poderia ser conseguido limpando o país de pelo menos 29 dos 39 “ministérios” que nem a presidente é capaz de enumerar de cór, com seus respectivos “ecossistemas” de parasitas. As provas de que a dos que pagam e a dos que são pagos com impostos são as duas únicas “classes sociais” em conflito insanável no país dos “exércitos do Stédile” poderiam ganhar a exposição que precisam ter, mas ninguém põe o dedo nessa ferida, primeiro porque, em lado nenhum existem “contribuintes” em Brasilia e, segundo – e esta é a verdade que dói – porque quase todos aqui fora têm algum pai, mãe, irmão ou filho na categoria dos “contribuídos”.

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Truque velho como a peste bubônica esse de gastar um pouco de quirera pra catar frango pro almoço, mas a gente não aprende.

E no entanto, se tem uma coisa que todo mundo sabe com certeza é que adianta tanto para a salvação da economia nacional o dr. Levy amputar músculos para preservar gordura mórbida ou fazer o ajuste burro via inflação para entregar um país que caiba nas calças por mais 15 minutos quanto o Judiciário prender mais meia dúzia de zés dirceus por meia hora e de marcos valérios por meia vida para evitar os próximos “petrolões”.

O mesmo raciocínio vale para o impeachment, ainda que não fosse no quadro de economia e instituições em frangalhos que tornam essa empreitada temerária hoje. Ele faria tanto pelo exorcismo da corrupção no Brasil quanto fez o do ex-presidente banido que está hoje atolado no “petrolão”.

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Sim, democracia não é o poder de eleger, é muito mais o de deseleger. É em torno de quem tem o poder de demitir que estruturam-se as cadeias de lealdades como mostram tanto o dia a dia que todos vivemos no trabalho quanto o receituário internacional da moderna medicina institucional. Mas somente se esse poder for institucionalizado, orgânico e previsível.

Se o desastre petista ainda não atingiu a todos, é certo que, com ou sem Dilma, ninguém escapará. Impedir o PT de presidi-lo inteiro, portanto, só pioraria as coisas. Este país tão cheio de filtros distorsivos da realidade precisa de literalidade e privar o PT de colher todos os direitos autorais a que faz jus seria contribuir para que não “pegue” a vacina que pode por-nos para sempre à salvo da volta ao “califado bolivarizado” modelo século 18 com que sonha o lulopetismo emessetista.

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O importante é garantir que disso resulte que, para tudo quanto é decisivo, daqui por diante, a ultima palavra, na brasileira, seja sempre do eleitor como já é em toda a democracia que pode ser grafada sem aspas. Para tanto, dois instrumentos são imprescindíveis: o “voto distrital com recall”, em uso pelo mundo afora desde 1846, e o “voto de retenção de juízes de direito”, em uso na norte-americana e em outras democracias de ponta desde 1934. Com o primeiro, divide-se o eleitorado em distritos delimitados e só se permite que cada candidato se ofereça a um, o que amarra cada representante a um grupo identificavel de representados. Dentro de cada distrito, todo eleitor tem o direito de iniciar uma petição para derrubar seu representante a qualquer momento e por qualquer motivo. Se conseguir um numero suficiente de assinaturas, convoca-se uma votação só naquele distrito e derruba-se o faltoso sem ter de perturbar a paz social ou o resto do país. Com o segundo faz-se coisa parecida no universo do Judiciário. Os juízes seguem sendo “intocáveis”, salvo por suas excelências os eleitores. A cada eleição aparecerá nas cédulas de cada distrito eleitoral também o nome dos juízes daquela jurisdição com a pergunta: “Deve o meritíssimo ter a sua incolumidade confirmada por mais 4 anos”? “Sim” ou “Não”.

Lembrar a toda hora aos participantes do jogo político quem manda em quem num governo “do povo, para o povo e pelo povo“, e demitir sumariamente quem esquecê-lo inverte o sentido das lealdades e faz o mundo dos políticos e do funcionalismo passar a funcionar exatamente como o aqui de fora, pela mesma boa razão: ou trabalha-se a favor “da empresa”, ou rua.

Para conseguí-lo, basta afirmar o que queremos com a mesma firmeza com que ja começamos a afirmar o que não queremos.

COMO FUNCIONA A SELEÇÃO DE JUíZES NOS EUA

TUDO SOBRE O VOTO DISTRITAL COM RECALL

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Dilma em seu labirinto

5 de junho de 2013 § 2 Comentários

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Algo parece ter começado a mudar lá no Planalto Central. Esperemos que se confirme. Pois onde presidente pode tudo empreendedor não pode nada e agora, mais que nunca, é dos lá de fora, gente pouco afeita a obedecer ordens, que dependemos.

Até aqui, dona Dilma tem feito e acontecido. E esse, essencialmente, é o problema.

Como tem “a certeza na frente e a História na mão”, dorme todas as noites convencida de que “esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Estando os seus pressupostos por definição corretos, a não ser para quem por mera antipatia ou falta de patriotismo “torce contra”, não ha porque tratar de alterar o conjunto das causas.

Assim sua excelência acorda todos os dias para retomar a sua tourada contra a rebeldia dos fatos que insistem em não se enquadrar às suas teorias, de modo a colocá-los no seu devido lugar.

per11

Vem daí essa sua marcação homem a homem com a coluna de mercúrio do termômetro, a “matemática criativa” que ela impõe à sua corte de “simsenhoras” e esse seu olímpico descaso para com o saneamento das condições insalubres e o reforço do sistema imunológico do organismo que suas certezas puseram com febre.

Ingrata tarefa! É tapar um buraco e mais dois se abrem…

Acrescente-se a isso a pressa imposta pela aproximação da eleição e o resultado não poderia ser outro senão a trajetória cada vez mais errática em que ela nos tem mantido.

E se tem uma coisa de que investidor tem horror é de trajetórias erráticas.

Nos últimos dias alguma coisa parece ter finalmente abalado as certezas de dona Dilma. Uma pesquisa eleitoral mais que só o pibinho de 0,6%, eu arriscaria dizer.

Pois é, dona Dilma é louca mas não rasga dinheiro…

per4

Seja como for, o dr. Tombini, do Banco Central, que andava numa mudês humilhada desde agosto de 2011 quando a patrôa houve por bem decretar que os juros deveriam baixar na velocidade das suas conveniências, não porque fosse essa a rota tecnicamente recomendável mas porque ela nutre um especial desprezo por pilotos brevetados, foi autorizado a retomar o manche.

De cara ele tirou do alarme de estol dois dos três instrumentos que vinham mantendo a economia brasileira em vôo de brigadeiro desde que Fernando Henrique Cardoso a resgatou do mergulho em parafuso para o qual a tinham empurrado os hoje sócios majoritários da “governabilidade” petista.

Os juros voltaram a ser usados com o claro objetivo de reduzir a inflação e o câmbio voltou a flutuar.

per7

Ainda mais importante que o fato, porém, foi a mudança no discurso com que ele foi anunciado.

O dr. Tombini fez questão de afirmar em público exatamente o contrário do que vinha afirmando dona Dilma, e de esclarecer que agia assim “para recuperar a credibilidade da economia brasileira”. Como, mais que nunca antes na história deste país, manda quem pode e obedece quem tem juízo, conclui-se que passou a prevalecer dentro do governo a consciência de que a crise é sobretudo de confiança. E isso faz toda a diferença.

É que agora que o estoque de anabolizante do consumo acabou e é de investimento privado que teremos de viver, dona Dilma terá de aprender a parar de mandar para tentar começar a seduzir e convencer. E esse negócio de dizer que piloto não precisa de brevê e que seguir as leis da aerodinâmica é uma mera questão de preferência não convence ninguém em pleno domínio de suas faculdades mentais a subir no nosso avião.

Melhor devolver a pilotagem ao piloto.

Só que já se sabe. Confiança perde-se em dois palitos. Já para ganhar…

per13

Primeiro será preciso conseguir que dona Dilma resista aos seus hormônios mesmo depois que a inflação der a primeira abaixadinha e siga permitindo que só quem tem brevê pilote o avião.

Depois porque o terceiro elemento, que é voltar a gerar superavits primários nas contas públicas, é coisa que está fora do alcance do Banco Central.

Com a industria sufocada pela festa dos salários sem a contrapartida da produtividade, a educação em petição de miséria e o comércio internacional jogado às traças por um Itamarati que só fez comprar votos do lunpen internacional para tomar de assalto os organismos multinacionais do século 20, não se pode contar muito com exportações para equilibrar as contas. O Brasil está comercialmente confinado ao finado Mercosul.

O investimento estrangeiro é, portanto, imprescindível.

Li por aí esses dias que o governo simplesmente “decidiu fazer do investimento o motor da expansão econômica” e que basta, para conseguí-lo, que ele “vença o seu preconceito contra o lucro e melhore as condições de rentabilidade dos projetos de infraestrutura” que quer vender ao capital estrangeiro.

per10

Não é tão fácil assim.

Ha muito tempo que aversão ao lucro é um preconceito superado por nove entre dez petistas, sendo o corte maior que 100% entre aqueles que detêm cargos públicos.

A verdade é que o governo melhorou sucessivamente as “condições de rentabilidade” desses projetos até muito além do que seria razoável num mundo de juros negativos.

Além de financiamentos pra lá de generosos, ofereceu até garantias contra eventuais prejuízos, o que é absolutamente inédito.

As vantagens oferecidas já são de tal monta que é impossível afirmar com segurança se o objetivo principal é reduzir o deficit competitivo por falta de infraestrutura ou fazer o dinheiro entrar de qualquer jeito para apresentar contas melhores antes da eleição legando ao país outra fatura impagável para o futuro.

per15

Mas nem assim, ou talvez por isso mesmo, algum aventureiro se convenceu a lançar mão dessas concessões porque, como ficou demonstrado acima, a questão é de credibilidade e não de rentabilidade.

Dona Dilma, na sua estranha perversão, tanto mais ama a Argentina quanto mais ela nos chuta o estômago, mas o resto do mundo trata com mais respeito o dinheiro que sua para ganhar.

Mas ainda que venham os portos, as estradas e os aeroportos, o que de saída implica proibir-se de fazer caridade com dinheiro alheio como aconteceu com as elétricas, voltar a ter superavit fiscal vai custar, em ano de eleição, cortar regalias da companheirada, fechar as burras do BNDES aos financiadores cativos de campanhas, parar com as isenções fiscais que não possam ser vistas como democráticas e sistêmicas, manter a vazão das “bolsas” diversas pelo menos na medida em que estão hoje e deixar pra lá as mágicas do gênero dessas sem as quais o termômetro da inflação estaria marcando os 8% ao ano que de fato há.

Ah, e manter o aperto dos juros sobre uma população que foi convencida a se endividar até à raiz dos cabelos e o dolar flutuando numa conjuntura de apreciação internacional da moeda americana até que o mundo volte a acreditar que é o Banco Central quem manda e que é no respeito à realidade que vale para o resto planeta que voltamos a apostar.per6

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