Um vídeo perturbador
18 de outubro de 2021 § 16 Comentários
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O maior inimigo da democracia
26 de março de 2021 § 16 Comentários
“Carrefour compra Big e se torna o 2º do varejo na AL” foi a manchete do Valor de quinta-feira, 25. A transação foi de R$ 7,5 bi e o grupo resultante passa a ter 24% de todo o varejo alimentar do país (em 2019 tinha 16%). Hoje a receita bruta do Carrefour no Brasil é de R$ 74,9 bilhões. Somada à do Big chegará a R$ 100 bilhões (o concorrente, Pão de Açúcar faturou R$ 55,7 bi em 2020).
Há mais de 40 anos transações como esta acontecem todos os dias pelo mundo afora. É quase meio século de recorde sobre recorde de fusões e aquisições de empresas.
Quem ganha com esse processo?
As ações do Carrefour saltaram 12,77% ontem. As dos concorrentes baixaram 4%. Uma parcela dos 3 milhões de brasileiros que investem em bolsa, 1,5% da população, pode ter lucrado. A gestora Advent, de private equity (dinheiro de milionários), multiplicou por quatro o investimento que fez em 2018 quando assumiu o controle do Walmart Brasil, rebatizado Big, por R$ 1,6 bilhão. Levou R$ 6,23 bi na transação. Algum grande escritório de advocacia mordeu um pedaçinho desse bolo para ajeitar o negócio…
O resto do país – todos os fabricantes e compradores de comida, de produtos de limpeza, de insumos para a casa e todos os outros bens essenciais que todos os que continuamos vivos somos obrigados a consumir todos os dias e são vendidos nos supermercados – perde mais uma alternativa de comprador e/ou de fornecedor. São 876 lojas que antes pertenciam ao concorrente que passam a pertencer, agora, ao mesmo dono.
Do Oiapoque ao Chuí o pequeno e o médio agricultores, o pequeno e o médio industriais pagarão integralmente o tanto que o preço for rebaixado para o penúltimo intermediário, agora com 876 compradores de menos para disputar o seu lote. Seu frango, seu porco, sua alface, sua caixa de frutas sairão a preço ainda mais vil. Os trabalhadores de baixa renda, como são os de supermercados, perdem mais uma alternativa de empregador. Mas na banca do novo mega supermercado, quando esses mesmos produtores e trabalhadores se apresentarem com o seu chapéu de consumidores, os preços estarão, como eternamente têm estado, mais altos a cada dia. E todos eles estarão muito mais próximos dos dentes dos “carrefoures” da terra que, mais cedo ou mais tarde, acabarão por engolir suas propriedades.
Os funcionários do Cade, que têm o poder de aprovar ou não esse negócio, têm o seu voto valorizado. E o “poder de convencimento” desse novo monstro de R$ 100 bilhões de faturamento junto ao regulador legislativo que poderá, um dia, vir a mudar a regra do jogo para algo mais favorável ao consumidor, aumenta violentamente. A mídia, cuja função é transmitir a pressão da maioria sobre esse regulador e vive de propaganda, terá um anunciante a menos e se tornará mais dependente do que sobrou.
Cada vez menos gente é dona de cada vez mais coisas. A humanidade caminha em velocidade de desastre de volta ao ponto de partida em que o rei, que faz a lei, é o dono de tudo, mas delega uma parte do que é seu à sua corte que se encarrega de manter o populacho com o nariz um milímetro acima da linha d’água e, portanto, facinho de ser mantido sob controle. É um panorama que só mudou de nome com as chamadas “revoluções socialistas”, que agora rebatizam-se outra vez como “capitalismos de estado”. São o de sempre: “reis” vitalícios e suas cortes proprietários de todos os meios de produção e povos inteiros reduzidos a súditos cujo direito à sobrevivência física ou econômica esses reis e seus partidos e religiões “únicas” controlam absolutamente.
“Socialismo” é sinônimo de monopólio, o antípoda da democracia. Os monopólios dos bens de produção só se sustentam com o monopólio do poder e do discurso políticos. “O proletariado”, que cada vez mais é tudo que não é a corte que ele é obrigado a sustentar, é reduzido à obediência na miséria na base da censura e da porrada. Contra a vida, nada mais. Tudo isso está fresco no horizonte. Tudo isto esteve e está acontecendo. O socialismo, proverbialmente, transformou-se exatamente no que acusava o capitalismo de ser.
Morto “o sonho”, só resta como discurso gênero, raça, meio ambiente. O que o ser humano é e não consegue deixar inteiramente de ser de estalo é o que dá pra “cobrar” das democracias. E é preciso gritar ininterruptamente sobre isso porque não ha nada a prometer ou sequer a sugerir sobre o principal: como impedir que continue essa desenfreada deglutição dos muitos pelos poucos.
O único momento na história da humanidade em que essa lógica perversa foi interrompida foi na segunda etapa da terceira tentativa da democracia de caminhar sobre a Terra que mais uma vez ameaça chegar ao fim, quando Theodore Roosevelt, na virada do século 19 para o 20, interrompeu um processo exatamente semelhante a este que se repete hoje e redirecionou a democracia americana para um decidido viés antitruste.
Pulverizar o poder – o econômico e o político JUNTOS – eis a questão.
O resultado foi o surgimento da sociedade mais livre, mais rica e menos desigual que a espécie humana jamais constituiu, com reflexos explosivos no desenvolvimento de todas as ciências com força suficiente para projetar toda a espécie humana para níveis de liberdade, afluência e conhecimento jamais sonhados.
Confrontado com a concorrência desses “capitalismos de estado” proporcionada pela informatização da vida, o Ocidente democrático, em pânico, aceitou a luta nos termos deles – disputar com monopólios criando os próprios monopólios – e suspendeu as proteções antitruste, ponto mais alto da cultura democrática, começando pelas que regulavam e garantiam a diversidade de opinião na industria da informação, para que não houvesse resistência contra esse retrocesso reacionário, na sequência de acontecimentos que descrevi, passo a passo, no artigo “A ameaça da imprensa corporate” de 2005, reproduzido no Vespeiro ( https://vespeiro.com/2009/08/04/a-democracia-vai-sobreviver/).
Monopólios na economia levam ao monopólio do poder político. Cada vez mais tudo o mais vira carne para moer na defesa de privilégios que só se sustentam com sangue. É esse o inimigo.
8 de novembro de 2019 § 15 Comentários
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