Bolsonarizamo-nos!

12 de maio de 2020 § 66 Comentários

Artigo para O Estado de S. Paulo de 12/5/2020

Tá feia a coisa! 

O Brasil Oficial bolsonarizou-se. Agora é golpe contra golpe suposto. Fato não vale mais nada…

Porque foi mesmo que essa coisa começou? Alguém se lembra? É capaz de precisar? Qual o inquérito que queriam parar? Qual a lei que foi violada? E essa urgência toda, desenfreada, sumária, é pela gravidade do crime? É para livrar o povo brasileiro de algum desastre iminente? Ou é só função da agenda biográfica do ministro Celso de Mello? Ele nós sabemos que tem pressa. Sua história acaba em novembro e sua eminência reverendíssima quer, declaradamente, um “fecho de ouro”. 

Alexandre de Moraes? 

Bolsonarizou-se. Teve um repente de emoção e deixou rolar queném presidente na cerca. Nem a lei, nem a razão. Fez lei do que sente. Ele com ele. Sozinho. 

O colegiado? 

Bolsominionizou-se. Respondeu como patota. Nenhum argumento. Nada sobre a constituição. Amiguismo só. Agora é guerra! Com ou sem Celso de Mello! Delenda Bolsonaro! Devassem-se as reuniões do ministério! O banheiro do presidente! Tem plano B e tem plano C, seja quem for que ele ponha no STF…

A imprensa? 

Vai de arrasto esse rabo do Brasil Oficial. A mais doente virou personagem de si mesma. As manchetes são cada vez mais auto-referentes. Onde já houve informação e demonstração hoje ha dois ou três caroços de raciocínio boiando em enxurradas de adjetivos. É um bolsominion pelo avesso igualzinho ao STF. Ou pior! Atira aos cães a própria instituição do jornalismo. Os ostras do bolsonarismo agradecem empenhados. Deixariam de existir se não tivessem essa imprensa que pede pedradas. 

É esse o dom divino do “Mito”. Tudo que ele toca bolsonariza-se ou bolsominioniza-se. Não é homem de ação, é homem de falação. Suas palavras partem do e são recebidas pelo cérebro reptiliano que ainda pulsa por baixo do nosso. Mal batem no ouvinte trancam-lhe o raciocínio e desatam tempestades de reflexos violentos. Não ha explicação científica. A conflagração sobrevem incontrolável, nevrálgica. 

Fez da pandemia um instrumento inegociável de confronto. O STF instalou-o no mais covarde dos “eu não disses”. Se estivesse querendo vender caro a quarentena, que é o que dá em sã consciência pra fazer num país onde a saude pública sempre esteve à beira do colapso, estava colhendo dados, desenhando parâmetros para balizar a saída para a quarentena inteligente. Em vez disso saiu por aí cuspindo e tragando perdigotos. “E daí”? Dez mil vidas e estamos na estaca zero. Meia quarentena pára a economia inteira mas o vírus continua a mil. É a festa da morte.

Para comprar ou para vender Bolsonaro só dá saída pelo que não é. Que golpe, que nada! Os milicos estão cevados na privilegiatura. Não querem mudar nada. Ele é louco mas não rasga dinheiro. Nem mostra seu exame de Covid. Paulo Guedes é o rótulo atras do qual esconde-se o sindicalista de fardado que sabota todas as reformas que foi eleito para fazer. Nem no meio da pandemia admite que toquem na privilegiatura. Prometeu um veto à punhalada que ele mesmo deu nas costas esburacadas do seu ministro quixote porque não está dando pra perder mais um “pilar” debaixo desse tiroteio. Mas é só se reequilibrar que crava de novo.

E o dólar voa e a ladroagem ruge…

Brasília?

Brasília não está plenamente convencida de que exista um povo brasileiro. Vive aterrorizada pela idéia de cair das beiradas daquele mundo plano e absolutamente estável para o inferno que criou aqui fora. Para esses negacionistas o Brasil Real é tabu. É rigorosíssimo o protocolo da corte. Lembrar Brasília, assim, sem aviso, de que existe um povo brasileiro e que ele está no fundo do abismo de tanto pagar os luxos das excelências é dar prova de “vergonhosa deselegância” e “má educação”. Esse negócio de congelar salários do funcionalismo por 18 meses nem que seja só por vergonha só pode ser fruto de alguma maquinação maquiavélica punível pelo STF. 227 anos depois da decapitação de Maria Antonieta, Brasilia e o jornalismo dos bolsominions pelo avesso acreditam piamente que reduzir privilégios da privilegiatura é “altamente impopular”. Um perigo! Põe o país “em risco de instabilidade institucional”.

A única doença do Brasil é o descolamento absoluto do País Oficial do País Real. Todo o resto são só sintomas. As deformações mais horripilantes são fruto da antiguidade do mal. Ha no Congresso Nacional e no serviço publico marajás de 4a ou 5a geração, às vezes mais. Desde o bisavô, desde o tataravô que essa gente não paga uma conta. Sua alienação tem a solides inabalável da autenticidade. Não tem cura. Não tem volta porque jamais chegou a “ir”. Nasceu assim.

A democracia representativa é uma hierarquia rígida. A inversa da que temos. A arrumação do Brasil começa pela ligação do “fio terra” do Pais Oficial no País Real que se dá pela instituição do voto distrital puro, o único que estabelece uma identificação concreta e verificável entre cada representante e os seus representados que devem ter poder de vida e morte sobre seus mandatos a qualquer momento. Esse tipo de voto educa. Uma vez instituído a limpeza começa e nunca mais pára. E tudo se vai arrumando. É só questão de tempo.

6 de maio de 2020 § 7 Comentários

Sim, ele tirou Mauricio Valeixo da direção Geral da Policia Federal e nomeou o “quase Ramagem”, Rolando A. de Souza, em desafio ao STF. Souza tirou Carlos Henrique de Oliveira, o diretor da PF-RJ de Moro/Valeixo, conforme a encomenda, mas promoveu-o a Diretor Executivo da PF nacional, cargo que Oliveira aceitou, e colocou na direção da PF-RJ Tassio Muzzi, com um currículo de ações anticorrupção e anti-crime organizado que a PF inteira reputa como irretocável.

Ou é só uma manobra para apagar o incêndio e a PF inteira aderiu à conspiração contra a independência da PF, ou todo esse rolo não tem só o sentido político que o STF gostaria de provar que tem e Bolsonaro, como sempre, fez esse barulho todo por nada (ou só para se ver livre de Sérgio Moro).

O tempo dirá…

Seja como for ficam retiradas até desenvolvimentos mais conclusivos tanto o tuíte quanto a nota ao artigo para O Estado de S. Paulo publicados ontem no Vespeiro.

Nem a antipolítica, nem a política antipovo

5 de maio de 2020 § 23 Comentários

 

Artigo para O Estado de S. Paulo de 5/5/2020

O que arrebenta o Brasil é este “se ele é a favor eu sou contra”. Os desmandos de um lado não apagam as iniquidades do outro. Ver ameaça à democracia bastante para justificar derrubar um governo no meio de uma pandemia na existência de uma central de maledicência, mas achar perfeitamente “republicano” que o favelão nacional sustente as lagostas e vinhos tetracampeões de uma casta que vive acima até das leis que escreve para outorgar-se privilégios obscenos num país miserável dispensa qualquer argumento adicional para entender porque a anti-politica instalou-se no poder.

As mentiras explícitas publicadas nas redes sociais são singelamente amadoras perto da mentira instilada diuturnamente pela omissão de publicidade ou pelo destaque e contextualização falseados que são os modos profissionais de fazer a mesma coisa. A humanidade, que convive com a mentira desde que existe, não precisa de uma elite de “intérpretes qualificados da realidade” para decidir em nome de todos quais as que devem ou não ter o direito de continuar sendo proferidas.

Censura definitivamente não! Ao Estado cabe julgar fatos e não intenções. Deixemos estas para os ouvintes e leitores ou a arbitrariedade estará solta nas ruas e nada mais poderá deter a espiral da violência.


Os doutores Alexandre de Moraes e Celso de Mello que afirmam de dedo em riste que “o presidente não pode servir-se do aparato do estado para satisfazer seus interesses particulares” são os mesmos que se servem do aparato do estado para impor ao favelão nacional que os sustente, e às suas famílias e apaniguados, em padrões de potentados orientais e impõem que uns paguem a pandemia com a extinção dos seus empregos e salários miseráveis enquanto outros fiquem incólumes sustentados pelos primeiros.

Nada do que Jair Bolsonaro fizer poderá anular a indecência clamorosa dessa situação.

Sim, os servidores da linha de frente da saude são os heróis desta pandemia. Mas, do front para cima e não só, o SUS sempre foi um dos maiores ralos da república usado e abusado como instrumento de empreguismo e chantagem eleitoral. A saude publica sempre viveu no limiar do colapso porque os hospitais e equipamentos que os governadores e prefeitos não têm, como tudo o mais no Brasil, foram transformados em aposentadorias precoces e contratações em dobro de funcionários indemissíveis para todo o sempre com direito a aumentos anuais automáticos que consomem tudo e mais um pouco do que os governos arrecadam com a carga de impostos economicamente necrosantes mais tóxica e pesada do planeta.

Nada disso anula, entretanto, a realidade que daí decorre, de que manter a quarentena na maior medida possível é o recurso que nos resta para evitar todas as funestas consequências desses desvios. Jair Bolsonaro faz questão de provar todos os dias o desagregador temerário e irresponsável que é mas o povo não desrespeita a quarentena só porque ele quer. São os pais e os filhos do povo que estão morrendo como moscas no pesadelo de terror adicional ao pesadelo de terror cotidiano que é viver no favelão nacional onde 60 mil pessoas são assassinadas por ano. O povo não faz quarentena essencialmente porque não pode. E o que ha de mais execrável no comportamento destrutivo de Jair Bolsonaro não é “causar” essa desgraça é, como todos os demais, tentar explorá-la eleitoralmente, embora na direção inversa dos que querem por a culpa de tudo – e como sempre – nas vítimas.

No que se refere à raiz mais profunda dessa desgraceira toda a diferença entre Bolsonaro e o STF, para além do refinamento e do grau de ilustração, é, portanto, que um tem 58 milhões de votos e os outros não têm nenhum, coisa que numa democracia representativa impõe uma diferença reverencial de tratamento, mas que encontrará fatalmente o seu limite se ele continuar a ser procurado com tanto empenho e com tanta truculência. “Brasil acima de tudo”! Mas a verdade cristalina é que nenhum dos dois, assim como os seus caronas nem um pouco desinteressados, quer mudar essencialmente o que está aí.

A palavra “constituição” não empresta o sentido que têm as constituições instituídas pela revolução democrática (que o Brasil nunca fez) a essa ferramenta nunca referendada senão por quem, desde 1988, a escreve e reescreve a gosto para espichar a privilegiatura que parasita o Brasil. Invocar sua intocabilidade como garantia do “estado democrático de direito” só por essa coincidência de nomes de batismo é uma mentira tão cínica quanto pregar reformas e trabalhar para que elas não sejam feitas.

O que pôs a anti-politica no poder foi a política anti-povo. Ter aquilo a que o Brasil já disse um maiúsculo NAO como única alternativa ao que esta aí é tolerar o intolerável. Os “pilares” resumem bem: nem a leniência com a corrupção (especialmente a institucionalizada que nos rouba com a lei) nem a permanência do Estado nas costas da nação. A única forma democrática de se abordar o drama brasileiro é assumir o “lado” do favelão nacional e avaliar cada passo pela distância em que ele porá o povo da condição de controlar efetivamente os políticos. O resto é jogo de interesses.

Nota do autor: Artigo escrito antes da nomeação provocativa do substituto de Ramagem que põe Bolsonaro mais longe do interesse do Brasil.

Moro, as borboletas, as cobras e as lagartixas

28 de abril de 2020 § 50 Comentários

A maldita família pediu e aquela gente que não pode sair na rua alegremente concedeu a este país amaldiçoado mais uma crise política em cima de uma pandemia. 

Anime-se, vamos lá! Desgraça pouca é bobagem…

É mais uma daquelas disputas em que nós somos só o prêmio. A novela da demissão de Sérgio Moro não iria tão longe quanto vai chegar se todos estivéssemos no mesmo barco e fôssemos pagar o mesmo preço pelo que vem por aí. Mas como a privilegiatura vai assistir a tudo de camarote sem a perda de um privilégio sequer – que dirá do sacrossanto emprego pago por alguém que não tem um – lá vai o povo brasileiro, varejado dos tiros da pandemia, de novo para o ralo do “processo político” pelas mãos das criaturas dos pântanos do Legislativo e do Judiciário.

O cálculo de custo/benefício não entra um minuto em consideração. Se entrasse não passávamos do primeiro capítulo pois não vai mudar exatamente nada como nunca mudou exatamente nada o giro completo na roda da ideologia que deu o Brasil entre o regime militar e hoje porque, como pano de fundo, temos sempre o mesmíssimo frankenstein institucional acrescentado de mais e mais membros e órgãos costurados fora de lugar que mantém o circo mambembe da politica macunaímica (esta dos heróis sem nenhum caráter) dando sessões: ao fim de tudo o chefão poderá eventualmente ter sido substituído mas aos mesmos de sempre caberá só ser pagos e aos mesmos de sempre caberá só pagar.

O Brasil é um país esquisito. Aqui não ha política, só ha luta pelo poder, porque “de como submeter o governo ao povo“, vulgo democracia, ninguém – dos plenários às academias, das redações aos “lives”, da extrema direita à extrema esquerda – quer nem ouvir falar. A anti-democracia real, institucionalizada e constitucionalizada, odiosa e anacrônica, simplesmente não toca a sensibilidade verde-e-amarela. Foro, salário, aposentadoria, acesso à saude, direitos e deveres … até a taxa de juros é diferente para os brasileiros de primeira e de segunda classe por força de lei! Tem voto que vale 70 vezes o do vizinho. É absolutamente impossível dizer quem representa quem no sistema eleitoral da “democracia representativa” macunaímica. Largado o voto na urna, “as instituições” draconianamente passam a “funcionar” … só para quem as desenha e redesenha a gosto. 

O Poder é absolutamente blindado contra o povo, mas ai de quem “falar contra a democracia” que não temos. Vem o mundo abaixo porque na “democracia de papo”, sim, nós exigimos uma pureza saxônica. Velhos hábitos! Desde os tempos da Inquisição frita, aqui, quem peca por pensamentos e por palavras. Quem peca por obras não paga nunca. O favelão que se arda, portanto, nessa fogueira de vaidades.

Mas vamos ao cadáver do dia…

Bolsonaro está voltando às origens. Na verdade nunca esteve do lado de cá. Nós é que fizemos dele o que não era por absoluta falta de alternativa em mais uma eleição em que o povo, como sempre a anos luz de distância da oferta eleitoral (im)posta à mesa, vinha em carne viva de um período de abuso extremo. Alegria de pobre. Bolsonaro não rouba fora da lei e, vá lá, só deixa roubar um pouquinho aos muito seus. Mas, até por força do hábito, sempre fez o que pôde para que continuemos eternamente a ser roubados com a lei. Foi a luta das reformas contra o privilégio que Paulo Guedes sempre perdeu para ele. 

Mesmo assim não tem perdão. Balançou pro nosso lado, o traíra! E depois, vindo da periferia da privilegiatura, nem fala a língua da corte. Tem a insegurança pesporrenta de quem se sabe muito acima do “seu devido lugar”. Sim, tem luta de classes dentro da privilegiatura! É a consciência da própria “burguesia” que o faz hiper-suscetível como rei… 

E Sérgio Moro? As instituições que enquanto “funcionarem” nos manterão atolados no brejo é o limite que também ele se impõe. Sai sem nada no bolso como não se vê no Brasil Oficial desde nunca, mas não trai a classe. Não se limitou a romper com o que discordava. Cuidou de telegrafar, passo a passo, nas entrelinhas, todo o roteiro técnico que o procurador Aras, em coisa de minutos, reescreveu no processo que vai jogar o Brasil Real de volta nas garras das criaturas do pântano. 

Continua por nascer, portanto, o herói da democracia brasileira. Ele, que conhece melhor que ninguém a classe de bandido com que estamos lidando, tratou essencialmente de construir o seu cacife eleitoral.

De resto é não desanimar. O fato de mais da metade do país ter feito uma aposta numa rota de fuga ao cativeiro e perdido não torna melhores os que agora exigem a volta do favelão ao tronco. Nem a mais irracional cegueira seletiva de quem, no desespero, insiste no mito é capaz de transformar em virtude, seja a roubalheira em si, sejam os capitães-do-mato dos ladrões de hospitais. Nada transformará em borboletas da democracia as cobras e lagartixas rasteiras que tomam a sua parte no ouro sujo de sangue do favelão nacional atiçando o Estado contra o povo ou montando e remontando chicanas jurídicas e legislativas gosmentas para garantir que não cesse nunca o maior e mais covarde assalto a uma população miserável de pés e mãos atadas jamais perpetrado na face da Terra. 

23 de abril de 2020 § 30 Comentários

O mentecapto ataca de novo!

Ele é o Midas pelo avesso. Tudo que ele toca fenece. Dentro ou fora, Moro já era. Só falta Paulo Guedes que também já tem os seus bons rombos no casco desde lá de trás.

Ele ainda vai conseguir fazer um impeachment no meio de uma pandemia custar barato.

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