O que pode acabar junto com a USP

22 de setembro de 2014 § 4 Comentários

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Matéria da Folha de S. Paulo de hoje oferece um quadro suscinto da doença terminal que vai matar a USP, até ha pouco tempo a única universidade brasileira a fazer parte do ranking das 100 melhores do mundo do Times Higher Education, o mais respeitado do setor.

Partindo da tendência inversa revertida a partir de 2010, a instituição tinha vindo de 55 mil para 54 mil funcionários administrativos de 2009 para o ano seguinte e de 45 para 46 mil professores. O que se segue de 2010 até 2013, porém, é a multiplicação em metástese do numero e do valor dos salários dos funcionários de par com a devastação do numero e do valor dos salários dos professores.

Entre 2009 e 2013 a USP contratou 2400 novos funcionários administrativos e apenas 396 novos professores. Por cima disso, aumentou em 75% os salários dos funcionários e em apenas 43% o dos professores (contra uma inflação no período de 27%).

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Com isto a USP passou a gastar, no ano de 2013, 5% a mais que a dotação que recebe por ano do governo apenas com a folha de pagamento, valor que este ano vai subir a 35% a mais do que recebe, que é uma parcela do ICMS paulista.

O bonus para todos os funcionários a cada vez que a universidade subisse nos rankings internacionais que tinha sido introduzido pelo governo Serra a título de componente meritocrático numa realidade em que o merecimento não entra de forma nenhuma nos critérios de remuneração, também foi desvirtuado em uma espécie de “direito adquirido”. Em 2013 todos os funcionários da USP receberam bonus de 2 mil reais a esse título apesar da universidade ter caído no ranking acima referido.

Sexo explícito, enfim.

Saindo de uma greve de quatro meses de duração contra o plano de demissões voluntárias proposto pelo governo paulista para tentar conter a multiplicação por 7xs do buraco de 2013 prevista para este ano, os funcionários da universidade abrem a nova etapa de “negociações” exigindo aumentos no vale-refeição e no auxílio alimentação, o que é só o prenuncio de novas greves que virão antes da implosão final.

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A USP tem 87,8 mil alunos, 17,6 mil funcionários e 6 mil professores, o que representa proporções semelhantes de professores e funcionários por aluno às da PUC do Chile, por exemplo, tida pelo ranking do Times como a melhor universidade sul-americana. Só que no Chile 68% do total de salários pagos vai para os professores e 32% para os funcionários enquanto na USP 62% vai para os funcionários e 38% fica para os professores.

Na universidade chilena, só 42% dos gastos vão para salários. Na brasileira, 105% do orçamento total é para salários. Tudo o mais, da manutenção de prédios às pesquisas, fica sem um tostão.

Tudo isso deixando sem dizer que a destruição da qualidade da educação que ali se ministrava precedeu a destruição financeira da instituição, e que a perversão do espírito universitário sintetizado no dístico “Com a ciência vencerás” do escudo da USP, pautado pela liberdade de pesquisa e pela busca da verdade científica, na entronização gramsciana de uma “verdade única” imposta a todos — professores, funcionários e alunos — pela coerção moral e, muitas vezes, até pela força física precedeu a ambos.

É mais um retrato sintético do que está acontecendo com tudo o mais neste país que sustenta uma casta cheia de direitos especiais com o sacrifício do seu presente e do seu futuro, sem esquecer que o que acontecer com a USP – que já foi o melhor equipamento de produção de “infraestrutura humana” de qualidade do país – mais cedo do que tarde acontecerá com todo o Brasil.

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§ 4 Respostas para O que pode acabar junto com a USP

  • honorio sergio disse:

    Estava na folha de São Paulo, uma notícia sobre desempenho dos juízes do supremo, a reportagem citava um processo em que o Ministro Fux está analisando o pedido de uma verba de R$7000,00 em seus salários, a pedido dos juízes do Brasil, como ajuda de custo para estudos dos filhos. Por essas e outras é que estamos cada vez afundando mais nesse poço sem fim!

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  • Eduardo disse:

    Analisando isto fora de sistemas de linearidade temos que verificar segundo a teoria dos fractais que estamos diante do que se denomina
    CAOS. Não que o Caos seja um mal, em alguns sistemas o mesmo pode até representar o apogeu da vida, como nos sistemas biológicos, e que talvez nada mais é do que a projeção em um plano do que represente um simples deslocamento de um ponto no conjunto de pontos que formam a mediana. Segundo argumentos malufistas talvez isto se deva ao fato de professores serem mal casados, o que não se aplica verdadeiramente uma vez que verificamos a existência de alguns docentes que são solteiros, ou mesmo os que não possuem nenhuma preferencia sexual, homo ou hetero-sexuais. Aplicando a razoabilidade de Ockam com a afamada Lâmina de Ockam talvez tenhamos que concluir que tudo isto trata-se na verdade de inépcia de gestores administrativos que lastimavelmente exercem suas funções de maneira equivocada.
    O que em nome da deusa Maat devemos fazer é profundamente lamentarmos esta caótica situação, uma vez que isto na verdade é uma lesão na espinha dorsal de nossa juventude brasileira, a carência de EDUCAÇÃO.

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  • Eduardo disse:

    “CAOS É BOM… VIVA O CAOS”
    MOACIR FERNANDES DE GODOY
    Professor Livre Docente de Cardiologia da Faculdade de
    Medicina de São José do Rio Peto (Famerp) e
    Coordenador do Núcleo Transdisciplinar para Estudo do
    Caos e da Complexidade (NUTECC)

    Existem palavras na língua portuguesa que muitas vezes confundem quanto ao seu significado e correta aplicação. Uma delas é a palavra “sofisticado”. Parece senso comum que é muito bom ser sofisticado, ter um gosto sofisticado, usar roupas sofisticadas, ir a um restaurante sofisticado, ler livros sofisticados, e por ai vai. porém uma rápida olhadela no Aurélio ou no Houaiss deita rapidamente por terra essa opinião. Em ambos encontra-se que denominando algo sofisticado, podemos estar considerando aquilo como falsificado, contrafeito, adulterado, que não é natural, artificial, afetado, falsamente refinado ou intelectual, enganado com sofismas, que foi alterado fraudulentamente, postiço… Outra palavra que merece atenção, mas que vai em direção oposta é “caos”! Temos verdadeira ojeriza ao caos que, atendendo ao vernáculo, nos remete a situações de confusão, desordem, desorganização, mistura de coisas em total desequilíbrio, desarrumação, balbúrdia…
    Minha intenção neste texto é a de mostrar ao prezado leitor que assim como se generalizou o conceito de que o que é sofisticado é bom, assim também deve ser considerado em relação ao caos uma vez que o caos, na verdade, é organizador e gerador de ordem. Como já disse o Nobel de Literatura José Saramago em um de seus livros,”o caos é uma ordem por decifrar”.
    Sistemas são conjuntos de várias partes que visam um fim comum. Um relógio é um sistema, um automóvel é um sistema, um hospital é um sistema, um time de futebol é um sistema, temos os sistemas de transporte, os sistemas de ensino, os sistemas de crédito e nós seres humanos, obviamente somos sistemas, sistemas biológicos, convivendo neste sistema maior que é o mundo. As partes de um sistema interagem entre si, sistemas interagem com outros sistemas, conjuntos de sistemas interagem com outros sistemas, numa espiral crescente que se retorce ao longo do tempo e, apesar de aparente desordem, tudo se comporta de forma harmônica e funcional.
    Uma característica marcante é que a grande maioria dos sistemas naturais tem comportamento não linear. Se atentarmos para as coisas naturais que nos cercam, veremos facilmente que a Natureza não faz retas. Praticamente tudo que tem formas geométricas convencionais, conhecida como geometria euclidiana, como quadrados, triângulos, retângulos, círculos, etc, é fruto da construção pelo homem,. As coisas naturais têm o que o genial matemático Benoit Mandelbrot chamou de geometria fractal, ou geometria quebrada. As dimensões não são inteiras, como a linha que tem dimensão um, ou o plano que tem dimensão dois, ou o volume com suas três dimensões. No mundo natural é possível a ocorrência, por exemplo, de uma dimensão como 2,4 (dois inteiros e quatro décimos). O próprio corpo humano tem um valor entre dois e três já que é mais do que uma linha e, portanto , com dimensão maior que um; é mais do que um plano e assim sendo , com dimensão maior do que dois, mas não chega a ser um cilindro, ou uma esfera (nem mesmo os mais gordinhos), quando teria a dimensão três. Quando se examina a estrutura dos órgãos sadios, quando se analisa a distribuição dos vasos sanguíneos pelo corpo ou a distribuição dos brônquios dentro dos pulmões, quando se atenta à anatomia do cérebro ou dos intestinos, se constata facilmente que a geometria da saúde é uma geometria fractal, e portanto não linear.
    Do ponto de vista funcional, nas condições de não linearidade, apesar de existirem as causas de cada acontecimento, a previsibilidade para ocorrência destes acontecimentos é muito baixa, justamente porque existem muitas variáveis envolvidas e também porque pequenos acontecimentos em um determinado momento podem levar a enormes consequências em um momento mais adiante, que é o que se convencionou chamar de efeito borboleta. Uma gota de vacina não recebida na infância, pode levar à aquisição de uma grave doença tempos depois. Uma pequena bactéria introduzida acidentalmente poderá causar uma grave infecção generalizada. Na vida social, um minuto de atraso para conseguir pegar um ônibus ou avião pode significar a perda de uma grande oportunidade ou até mesmo evitar uma morte caso ocorra um acidente com aquele meio de transporte.
    Esse conjunto de elementos formado por sistemas que se modificam ao longo do tempo complexos, com comportamento não linear e com sensível dependência de condições iniciais caracteriza os Sistemas Caóticos. O organismo humano é um lindo sistema caótico e tenho observado em minhas pesquisas médicas, e os trabalhos científicos realizados em várias partes do mundo também confirmam que, quando o comportamento do organismo humano se torna linear, por exemplo, com batimentos cardíacos extremamente regulares, caminhada lenta e com distância iguais entre os passos, dosagens laboratoriais sem as variações características ao longo do dia, ondas cerebrais repetitivas, entre outras perdas da variabilidade normal, então estamos frente a situações de doença ou envelhecimento. É preciso que haja variabilidade, dentro de certos limites, para que o organismo esteja funcionando bem, ou seja, é preciso que haja caos para que haja saúde.
    A própria criatividade e a intuição desenvolvida, somente ganham espaço em meio a estados caóticos. É fato conhecido que boa parte das grandes descobertas científicas ocorreram seguindo caminhos não lineares de busca do conhecimento como comentado por mim e meu grande amigo o psiquiatra Wilson Daher em nosso livro denominado “Intuição, Evidência e Caos – os sinuosos caminhos do fato científico”.
    Enfim caros leitores, se a partir de agora considerarem o caos como um componente importante para a integridade de sua saúde, e bem estar de um modo geral, saibam que estarão em sintonia com um dos conhecimentos científicos mais avançados da atualidade, a Teoria do Caos.
    Caos é bom; Caos é vida; Viva o Caos !

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  • Esse é um dos motivos pelos quais não se fazem mais líderes de qualidade como antigamente. Quantos grandes lideres saíram da USP.

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