Pensando o 2o turno
30 de novembro de 2020 § 68 Comentários
Uma bancada brilhante de analistas reuniu Aldo Rebelo, Christian Lohbauer e Cláudio Couto sob a coordenação de Marcelo d’Angelo domingo na BandNews.
“O Brasil mostrou, nesta eleição, que é um país capaz de corrigir seus próprios erros”. Do confronto entre os equívocos da direita e os equívocos da esquerda de 2018 que empurrou o resultado para fora da política, voltou-se para o centro com a derrota de todos os extremos, e para a reafirmação da certeza de que não há salvação fora da política.
É perfeito! Mas faltou encarar finalmente a evidência, velha como a tragédia brasileira, de que dentro DESSA POLÍTICA nossa também não há salvação.
A coragem para dar esse salto para fora do nosso sistema deformado e confronta-lo com os fundamentos básicos da democracia é o que está faltando, não direi aos eruditos do nosso mar de siglas que interpretam as interações esotéricas entre elas que também têm o seu lugar no debate nacional, mas ao menos à elite deles como esta que deu voos mais altos no encontro de domingo à noite na BandNews.
Os equívocos de 2018, tanto quanto o de 2002, foram erros conscientes de sua condição de erro, cometidos no desespero depois de anos de resistência, que o eleitorado finalmente se arriscou a cometer depois de esgotar todas as alternativas oferecidas pelo Sistema estreito por onde se esgueira. (Felizmente os erros pela direita levam menos tempo para serem corrigidos).
O que é preciso, agora, é construir um sistema onde as correções possam acontecer mais rápido e com maior frequência. E para isso é preciso escancarar as portas de entrada e tirar a pauta e a agenda da política das mãos dos políticos e entregá-las ao povo.
Só o povo tem legitimidade para dizer o quê e quando é preciso que os políticos processem. Isso se faz com direito às leis de iniciativa popular e a referendo das dos legislativos. A políticos que representem parcelas identificáveis da população e do eleitorado nacional deve caber negociar em que doses, em que velocidade e com que nuances deve ser executado o que o povo lhe determinar que precisa ser feito.
Só isso será capaz de restabelecer na boa direção a cadeia das lealdades, redirecionar dos grupos em disputa pelo poder para o País Real os projetos nacionais e, no limite, “despetrificar” o país e liberta-lo do compromisso com os “erros” acertados pela privilegiatura.
Ninguém do establishment quer pôr esse bode na sala por razões óbvias mas ele está prestes a entrar triunfalmente nela. O que esta eleição também mostrou de forma irrefutável é que não há mais nenhuma bandeira crível no baralho da velha política e nenhum partido vai ganhar o Brasil vendendo sexo, drogas e revolución…
Chegou a vez do “Poder para o povo” não só porque nenhuma outra moeda na história da humanidade tem tanto poder de compra, faltando apenas quem queira vendê-la com a credibilidade de quem pretende realmente entregá-la ao povo, o único agente do Sistema que ainda não tem nenhum, mas porque, ainda por cima, este é o único remédio fulminante conhecido para a corrupção, a doença que se nós não controlarmos JÁ, acaba com o Brasil.
É isso que está por trás não mais da ideia, mas da história vivida do voto distrital com recall, primeiro elo da cadeia desse círculo virtuoso. Quem resumir primeiro essa receita para o eleitorado corre imenso risco de se tornar o próximo dono do Brasil.
Postas as conclusões deles misturadas com as minhas, prossigo com uma “tradução livre” do que mais foi dito lá:
Bolsonaro – um cara que ele mesmo não “é” nada, apenas um sindicalista de fardados – está naquela clássica situação do sujeito com um santo numa orelha e um diabo na outra, sussurrando sem parar:
“Se você continuar a gastança não termina o mandato”.
“Se você não continuar a gastança não termina o mandato”.
O resultado é o imobilismo.
E é desse abismo que pende o destino do Brasil, um país exausto, paciente de altíssimo risco para sobreviver a qualquer tipo de morbidade adicional que venha a acomete-lo.
2018 foi o confronto de dois equívocos: o equívoco da direita versus o equívoco da esquerda.
Quem vai liderar a reformulação da política para 2022? O melhor da velha política já foi. Está na porta de saída. E a nova ainda não chegou.
Pela esquerda o que surgiu foram dois lobos em pele de cordeiro: o Boulos da eleição não era o Boulos real, da antipolítica e das ocupações; a Manoela da eleição não era a Manoela real, da militância identitária das redes sociais.
O PSOL teve só 2 milhões de votos, elegeu 5 prefeitos e 88 vereadores no país inteiro. É uma criança momentaneamente encantando crianças. É a antipolítica pela esquerda. Não tem consistência programática nem quadros.
Já a esquerda tradicional, PT, PC do B, foram os grandes derrotados da eleição.
Pelo centro, as fraturas são visíveis. Há o João Doria do discurso de apoio a si mesmo na vitória de Bruno Covas e há o discurso sem João Doria de Bruno Covas e a performance do PSDB nas urnas, com destaque para Eduardo Leite no RGS. Nada está garantido sobre com quem ficará a força da social-democracia em 2022.
Pela direita o DEM, esse animal estranho com pretensões programáticas no SE mas com outra cara no NE, que cresceu muito na eleição, talvez seja um eterno condenado a atuar somente no Congresso onde não assume jamais um perfil sectário, o que o torna o grande fator de equilíbrio nos bastidores das decisões mais importantes do país.
A “bolha urbanóide” e a ignorância de tudo que está fora dela, no Grande Brasil, é a explicação para o ambientalismo delirante que persiste por aí.
***
Ao contrário dos Estados Unidos, o Brasil escreve sua história pelo que não deu certo; só cultua o que deu errado.
Se os “2 minutos finais” fossem meus…
3 de outubro de 2014 § 14 Comentários
Esta eu escrevi antes do debate da Globo, assim que vi os pronunciamentos de encerramento das campanhas do primeiro turno dos candidatos. Mas como acho que este continua sendo o recado pros eleitores, estou mudando ele de lugar.
Brasileiros,
O passo que vocês vão dar domingo é decisivo.
Pense bem antes de apertar aquele botão.
Esse retrato cor-de-rosa do Brasil que os marqueteiros da Dilma pintaram na campanha é falso. Os numeros em que ele está baseado são falsos.
A festa acabou mas o PT continua batendo bumbo pra fazer você dançar. Você sabe bem disso. Você está sentindo isso no seu bolso; na compra do mês e na prestação que não cabem mais no salário.
Os numeros que a Dilma te mostra valem tanto quanto os juramentos solenes de acabar com a corrupção e a impunidade do partido que, quando chega a hora de agir, só age para desmoralizar a Justiça e tirar da cadeia, um por um, todos os condenados por corrupção. Nenhum dos que foram presos continua preso. Nenhum dos que estavam no poder perdeu o poder.
No plano internacional tem sido a mesma coisa.
O PT vive falando em direitos humanos mas só age na ONU para impedir que os maiores criminosos do mundo sejam detidos. Promete democracia mas só se relaciona com ditadores. Com aquele tipo de gente que aceita convite pra entrar mas não aceita ordem pra sair.
Tudo isso não é só coincidência.
O PT pede o seu voto mas já cassou por antecipação o que você vai dar domingo para o seu futuro deputado no Congresso com o decreto que a Dilma assinou ha cinco meses que põe no lugar dele, para fazer as leis do Brasil, os “movimentos sociais” nos quais ele manda mas que você não elegeu.
É por cima de tudo isso que o PT te pede mais 4 anos, além dos 12 que já se foram, e olhando pra outros 8 logo alí adiante.
Olhe pra Cuba, olhe pra Venezuela, olhe pra Bolívia, olhe pra Argentina; olhe pros ditadores todos que o PT não se cansa de festejar e pros países que ele aponta como modelos para o Brasil.
É isso mesmo que você quer?
Domingo vai começar a nascer o Brasil onde seus filhos vão viver.
Por isso, pense bem antes de apertar aquele botão.
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