Acorda, otário!
30 de junho de 2020 § 30 Comentários
Artigo para O Estado de S. Paulo de 30/6/2020
Periodicamente a nossa “democracia” de araque sai do blefe e baixa as cartas na mesa para repor as coisas nos seus devidos lugares.
A semana que passou foi dessas. Flavio Bolsonaro ganhou habeas corpus e um dos “foros privilegiados” retroativos a que “tem direito”, daqueles com garantia de jamais “transitar” o que quer que seja “em julgado”. O rachador e as rachadinhas foram mantidos como reféns até a entrega de tudo que foi negociado em troca do resfriamento do ódio ao “gabinete do ódio”. Veio como adiantamento a nomeação de um festejado ministro da educação “técnico” e “propenso ao diálogo”, isto é, a respeitar as fronteiras dos territórios ideologicamente ocupados, ainda que sobre seu currículo pairem dúvidas e estejam sob investigação na sua gestão no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação escândalos do calibre da compra de dezenas de milhares de notebooks para escolas de poucas centenas de alunos e o mais do padrão de “serviço público” que não abala o nosso “estado democrático de direito”.De tudo, como sempre, sobrou para o favelão nacional, da parte da privilegiatura nomeada, os tribunais que agem sem provocação, os inquéritos secretos, a censura, as prisões por crime de opinião e a lei de segurança nacional; e da parte da privilegiatura eleita, possivelmente o fim da presunção de inocência e da liberdade na rede. Passaremos a andar com a “tornozeleira” da “rastreabilidade” de todas as mensagens que trocarmos até que as “excelências” que nos roubam com a lei certifiquem-se de que “sua honra” não foi conspurcada por nenhuma delas.
E para que fique bem claro qual o lugar de cada um na terra de macunaíma a egrégia corte sem nenhum caráter aproveitou a irrefreada excitação dos jornais e TVs com a caçada aos “inimigos da democracia” para desdentar de uma vez por todas a Lei de Responsabilidade Fiscal que nos protege ao proibir definitivamente a redução de jornada e de salário do funcionalismo mesmo quando se configurar a incapacidade aritmética dos governos estaduais de continuar a pagá-los, na mesma semana em que o Senado aprovou por unanimidade a redução de até 70% dos salários do setor privado. Traduzido em miúdos quer dizer que sempre que bater na arrecadação a miséria que custa a privilegiatura com suas lagostas e vinhos tetracampeões, a providência será duplicar a velocidade do distanciamento entre o mundo deles e o nosso pois, à marcha-à-ré legalizada para uns virá somar-se a continuação da aceleração para adiante obrigatória dos outros.
Nada disso demoveu a imprensa nacional de seguir passando adiante do jeitinho que a recebe dos interessados aquela surradíssima lógica sem ponto de partida definido que a privilegiatura pode dar-se o luxo de continuar “vendendo” porque não é dado ao “comprador” recusá-la, agora sob pena de incorrer em “ato antidemocrático” punível pela “lei de segurança nacional” como nos velhos tempos. Nada a ver com os “anos de chumbo”, dirão os “especialistas” amestrados da privilegiatura, pois sendo “democracia” o que a constituição escrita por eles e para eles diz que é, pagar o salário impagável com o sangue do favelão nacional justifica-se pela proteção à “autonomia” das “instituições do estado democrático de direito”, assim como por o país inteiro sob censura é bom para poupa-lo de enganar-se a si mesmo com fake news. E prenda-se e arrebente-se quem disser o contrário…
A consequência inevitável é que no jogo que assim se estabelece as “vitórias” não são fruto do suor investido no trabalho mas da conquista do privilégio de estar dispensado de suar. Não há como escapar ao inferno de penar no favelão nacional “sujeito à lei” de que a privilegiatura está isenta senão aderindo de corpo e alma ao “Sistema”, o que instala, desde a base mais chã do tecido social, uma irresistível força corruptora.
É tudo a mesma mentira. Ha democracia quando há representação e quando os representados mandam nos representantes. O Brasil não é uma democracia nem muito menos representativa. O País Oficial flutua solto no ar. Não emana do País Real. Não tem com ele senão a relação predatória que os parasitas estabelecem com os organismos parasitados. A constituição que o instala e as leis que o regem nunca foram referendadas pela única fonte de legitimação do poder, são impostas “debaixo de vara”. Os “partidos políticos” que as escrevem e reescrevem a gosto, mantidos por impostos, dispensam correligionários que os apoiem e sustentem. As “eleições” que os reafirmam não consagram candidatos do povo, chancelam as escolhas dos próprios “escolhidos”. Os mandatos não pertencem a quem os concede tornam-se propriedade intransferível de quem os recebe. Os “fiscais” do poder são nomeados (e desnomeados) pelos próprios “fiscalizados”…
Esquerda? Direita? Acorda, otário! Voto distrital puro para que fique absolutamente claro quem, no País Oficial, representa quem no País Real. Recall para que não haja dúvida sobre qual deles manda. Referendo e iniciativa para que nós façamos a lei que queremos seguir.
O resto é tapeação. O resto é essa “democracia” à Alexandre, “Il Duce”, à qual só falta o óleo de rícino.
Negras verdades
7 de janeiro de 2015 § 5 Comentários
Carlos Moore é militante histórico do Movimento Negro.
Nascido em Cuba, converte-se ao comunismo aos 18 anos e é exilado pelo regime de Batista nos Estados Unidos. Volta a Cuba entusiasmado depois que Fidel Castro, vitorioso, adere ao comunismo, mas assiste abismado ao esmagamento do Movimento Negro cubano com a prisão e fuzilamento de seus líderes civis e religiosos.
Consegue fugir e exilar-se no Brasil onde vive ha 15 anos dando palestras sobre a sua linha de abordagem do Movimento Negro.
Convidado, em meados de novembro passado, a dar uma palestra na UFRJ, foi alvo de agressões e objeto de incitação ao linchamento por parte de “professores” pagos com dinheiro público ligados ao PSTU que compunham a mesa do seminário.
Até a marca de 6:50 min. Moore descreve a agressão sofrida na UFRJ. Daí por diante diz o que sabe sobre as relações entre o socialismo real, o Movimento Negro e as religiões
Não conheço o movimento que assina a entrevista, resumida nesta edição quase exclusivamente às declarações de Moore, em que ele expressa o seu alarme com relação à doença política que está contaminando o Brasil cujo foco propagador, como fica implícito nos acontecimentos relatados, são as escolas e universidades públicas, além, é claro, das redações da imprensa brasileira onde fatos como este, que fazem parte quase que do cotidiano das escolas de todo o país hoje, raramente chegam sequer a ser registrados, o que explica porque até os grandes vestibulares para as universidades públicas nacionais, como o da Fuvest, já não se vexem de adotar como tema de redação, valendo a maior nota para o ingresso nas escolas sustentadas pelos contribuintes, provas em que é aferida, não a capacidade de pensar e escrever em português, mas sim se o candidato professa ou não a ideologia “correta“.
Com que sonhar para 2015
25 de dezembro de 2014 § 20 Comentários
Artigo para o Estado de S. Paulo de 25/12/2014
Getúlio Vargas veio para combater a corrupção, impôs o fascismo como instrumento do desenvolvimento e encarregou o Estado, com o Trabalho e o Capital a reboque, de promovê-lo. Naufragou na corrupção. Os militares vieram para combater a corrupção e prevenir a ditadura comunista, impuseram o autoritarismo tecnocrático como instrumento de desenvolvimento e encarregaram o Estado, com o Capital a reboque, de promovê-lo. Naufragaram na corrupção. O PT veio para plantar “a ética na política”, impôs o patrimonialismo assistencialista como instrumento de desenvolvimento e sujeitou o Capital, o Trabalho e o Estado ao partido para promovê-lo. Naufragou na corrupção.
Receitas e discursos antípodas, resultados idênticos.
Por mais que lhe mintam na cara o brasileiro não aprende qual é o valor do discurso dos políticos. Na Era PT o divórcio entre os fatos e sua descrição em português tornou-se absoluto mas o que há de preocupante nisso não é os governantes mentirem pela gorja, o que é no mínimo um clássico, mas sim os ouvintes terem perdido a condição de identificar tais mentiras como o que são mesmo quando elas colidem estrondosamente com a verdade bem diante dos seus olhos.
“Prenda-se a Venina; liberte-se a Graça!” exatamente diante da prova do crime é só o epílogo da última temporada deste invariável “seriado”.
Tais enormidades fazem parte da nossa memória atávica. Duzentos anos de gente sendo incinerada viva em fogo lento em praça pública ao fim de meses de tortura excruciante produziram o efeito de banir do horizonte da nossa consciência a prova empírica como ferramenta válida de estruturação do pensamento até 12 anos depois da independência do Brasil, quando o instituto da Inquisição foi finalmente extinto nos reinos de Portugal, Espanha e Itália (1834).
Por cima dessa trava derramou-se outro meio século de sobrevivência da escravidão, o que refinou o processo de “seleção natural” onde só permanecia “encarnado” neste mundo quem se mostrasse apto a, com absoluta convicção, afirmar que “era negro o branco que seus olhos viam” se assim o desejasse (o feitor ou) o representante do papa, conforme constava do juramento que antecedia a ordenação dos jesuítas que, por quase 400 anos, tiveram o privilégio do monopólio da educação dos brasileiros.
Isso explica porque, enquanto a ponta da civilização palpava a “harmonia dos mundos” e inventava a ciência e a democracia modernas nós tratávamos de salvar nossos corpos fingindo, sob pena de suplício e morte horripilantes, que tudo que nos interessava era salvar nossas almas.
De lá aos nossos dias, entretanto, a coisa piorou pois se não havia quem não soubesse, naqueles tempos, que tudo não passava de uma palhaçada sinistra necessária para salvar a pele, hoje há um bom contingente de brasileiros trabalhados desde a mais tenra infância nos torniquetes morais da subversão conceitual gramsciana que domina nossas escolas e ainda faz reinações em nossos palcos e em nossas redações que segue engolindo mentiras sinceramente convencido de se tratarem de verdades.
São cada vez mais raros esses inocentes posto que a maioria dos que juram hoje que “é vermelho o marrom que seus olhos vêm” fazem-no apenas para salvar seu emprego vitalício desacompanhado de trabalho, sua aposentadoria precoce não antecedida de contribuições, sua indenização por prejuízos físicos e morais não necessariamente sofridos, a valorização da sua “arte” sem concurso de talento, a sua imunidade ao castigo apesar da monstruosidade dos seus crimes. Mas ainda os há, como acabam de nos lembrar os irrefreados frêmitos de júbilo “humanitário” registrados na super-reação dos jornalistas, escritores e poetas que comemoraram como uma estupenda vitória da liberdade a readmissão no círculo de relacionamentos oficiais do “Grande Satã” da mais longeva das ditaduras que ainda aniquila e promete continuar aniquilando jornalistas, escritores e poetas.
É esse mesmo tipo de compulsão suicida da capacidade de intelecção que reaparece quando, 26 anos depois, com o país atolado até às ventas no brejo dos tribunais surge, mesmo fora da carcomida corporação dos “prestadores de justiça” que lucram com ela, quem ainda afirme embevecido que a Carta de 88, que trata de regular a tudo e a todos em todos os níveis do viver na sua sufocante minuciosidade, marca não a petrificação do Brasil arcaico mas “a refundação do Brasil democrático” ao consagrar, agora como fundamento da Nação, o “a cada um o seu direito e o seu tribunal especiais” segundo o grau da sua fidelidade ao rei.
É ele que se manifesta também quando, 260 escândalos depois, vê-se que ainda ha quem aposte que uma seção de exorcismo a cada década, movida a discursos “pela ética na política” e a delações premiadas, ainda que “dê zebra” e custe uma rápida visita à cadeia, que seja, aos donos de foros especiais, será remédio bastante para nos resgatar de uma vez para sempre dos efeitos obrigatórios que as nossas ancestrais deformações institucionais vêm produzindo década após década, governo após governo, século após século.
É ele que reaparece quando mais uma vez, como desde sempre, sugere-se que “comigo vai ser diferente”; que o que falta é “vergonha na cara” ou “amor aos pobres”; que é a “qualidade dos homens” e não a das instituições que produz o milagre.
Não é. Nunca foi.
A força da corrupção é inversamente proporcional à quantidade de democracia investida numa ordem institucional, definida democracia como igualdade perante a lei, separação entre Estado e Capital, mérito sobreposto à cooptação, proporcionalidade da representação (“um homem, um voto”) e o grau de sujeição do representante ao representado, ou seja, o grau de instabilidade dos mandatos e dos cargos públicos que deveriam ser todos permanentemente sujeitos a recall. É isso que faz as coisas funcionarem da Califórnia para Leste até os “Tigres Asiáticos”, da Noruega para Sul até a Nova Zelândia, passando por tudo que está no meio, independentemente de culturas ou religiões pregressas.
O resto, ou é tapeação, ou é terrorismo.
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A “esquerda honesta” e o “PT que sobrou”
10 de abril de 2014 § 14 Comentários
Ela anda “por baixo” e com a consciência ultra-pesada pela contribuição que deu para a outra chegar ao poder, mas ela existe e será tão essencial quanto todas as outras forças democráticas do país para a estruturação da resistência contra o que vem vindo por aí.
Falo da “esquerda honesta” – os quadros oriundos da antiga esquerda católica e os segmentos da esquerda universitária e da intelectualidade – que, no passado, deram a chancela de qualidade e o aval moral sem os quais o PT jamais teria chegado onde chegou, e que começou a desertar quando, uma vez no poder, o “PT que sobrou” revelou-se como o que é.
Hoje só divide esse grupo a quantidade de coragem moral de cada um em admitir o seu erro, declará-lo e posicionar-se claramente contra o monstro que ajudou a criar ou omitir-se para não ter de dar o braço a torcer. Ninguém mais tem qualquer dúvida razoável quanto à natureza do “PT que sobrou” e sobre para onde ele está levando o Brasil.
Já esse “PT que sobrou” é o que mistura a nata que boia por cima do lodo do peleguismo sindical com os restos da “esquerda armada” que atuou contra a ditadura militar – formando o “nucleo duro” de poder do partido – aos quadros do funcionalismo publico e do staff das estatais que “são de esquerda”, digamos assim, por dever de ofício.
O sindicalismo pelêgo é bandalho e antidemocrático na alma; por formação; essencialmente.
Seus quadros carregam a marca do pecado original. Quem está lá, está lá porque “é” . São os Faustos da periferia que venderam consciente e deliberadamente a alma à versão getulista do mesmo veneno que condenou a Itália fascista ao desastre e a Argentina peronista ao mergulho sem fim na decadência em que ela se afunda ininterruptamente ha quase um século:
“Crie um sindicato, não importa se algum trabalhador realmente o tem como seu representante, que o Estado passará a te sustentar. Mas não de graça, naturalmente…”
São eles os mercenários do Sistema de poder que o peleguismo sustenta; os paus-pra-toda-obra que já deram provas do seu valor nas inúmeras “eleições sindicais” disputadas na fraude e na bala porque passaram; os dispostos a tudo para permanecer agarrados à teta abocanhada.
Já a “esquerda armada” nasceu dentro de uma elite da classe média que embarcou no canto de sereia da “moral revolucionária” leninista que fez o mundo mergulhar na onda terrorista dos anos 60, 70 e 80 do ultimo século do milênio passado, quando era “chic” ser radical e “bonito” matar, principalmente inocentes, por uma “causa”.
Misturam-se em suas fileiras os idealistas autênticos que hesitaram sempre em cruzar a linha do crime de sangue e os psicopatas que aproveitaram essa rara “janela de oportunidade” para libertar essa sua segunda natureza e que resistem até hoje em atravessá-la de volta para os aborrecidos campos da paz, gente para quem sempre foi mais importante o inebriante sentimento de onipotência proporcionado pelo ato de matar que o “sentido político” das mortes que infligiram em nome da “causa”. Tão mais importante que nunca hesitaram em assassinar os próprios companheiros que, por razões de “consciência burguesa” hesitaram diante do homicídio ameaçando acabar com a festa dos bebedores de sangue.
Percorra-se a lista dos crimes da “esquerda armada” e saltarão dela, imediatamente, os nomes que se repetem em todas as ações mais bárbaras. Não é mera coincidência…
Depois do Foro de São Paulo a “esquerda revolucionária” trocou oficialmente o fuzil pelos bilhões como arma de conquista do poder. Mas conservou os mesmos objetivos: “matar” adversarios, matar instituições, matar liberdades.
As nuances nas hostes dos “acima da lei” migraram intactas para a nova realidade. Estão, todas as de sempre, representadas dentro do governo petista onde há um ou outro gato pingado que ainda hesita em assassinar as liberdades democráticas mais fundamentais e os que as desprezam e apedrejam diariamente; ainda há quem mantenha algum limite no expediente de “roubar pela causa” e quem já não enxergue mais nenhuma fronteira entre ele e a volúpia de se locupletar, seja porque se corromperam pelo dinheiro mesmo, seja porque se corromperam pela onipotência que o dinheiro proporciona seja, ainda, porque viciaram-se no ato mesmo de tomar o que não é seu e sorver a agonia da vítima assim “justiçada”.
De qualquer maneira, uma coisa é certa. A remissão não começará senão quando o Brasil aqui de fora redefinir seus critérios e recolocar a fronteira no lugar de onde ela nunca deveria ter saido: na linha que separa esquerda e direita democráticas de esquerda e direita antidemocráticas.
O psicanalista psicopata
16 de outubro de 2013 § 2 Comentários
Li ontem o 11º capítulo do 2º volume do “Getúlio”, de Lira Neto, história que conheço por vivos relatos na primeira pessoa já que é parte constitutiva da saga de minha própria família.
Tudo, nessa experiência, dos fatos propriamente ditos que vão da louca tentativa de golpe comunista em 1935 – a chamada “Intentona” – à oficialização e ao violento recrudescimento da ditadura de Getúlio Vargas para a qual ela serviu de pretexto, até o modo como eles são reconstituídos por Lira Neto, que também não consegue ocultar suas próprias baldas, passou-me a impressão de déja vu; reforçou a penosa sensação de desperdício que sempre é, nesta solidão dos ilustrados num país que não lê, revisitar a História do Brasil.
São tantas as semelhanças entre os erros que se repetem em 1930 (o surgimento de Getúlio Vargas), 1935 (a “Intentona Comunista”), 1937 (início do período negro da ditadura Vargas), 1964 (o contragolpe que abortou a “republica sindicalista” janguista), 1968 (a “luta armada” respondida pelo AI-5 e a repressão dos anos 70), 1992 (Collor), 2003 (o início da “Era PT”), tanto da parte da esquerda “revolucionária” internacionalista quanto dos idealistas da democracia liberal em seu desespero comum contra a iniquidade social e a corrupção de que nunca conseguimos nos livrar, que dá pena vê-los outra vez à beira de serem reeditados, ainda que como farsa.
As duas pontas autênticas dessas elites se alternam regularmente, de geração em geração, do protagonismo nas tentativas de mudar o rumo deste país ao pau-de-arara e ao exílio, traídas sempre, uma vez instalado um dos lados no poder, pelo núcleo duro da corrupção que espera sentado a poeira baixar para se alinhar ora a um lado ora ao outro até fazê-lo cair de podre, tenha o ultimo episódio sido iniciado pela ação de uns ou pela reação dos outros às iniciativas de um dos dois.
Eles nunca conseguem muito mais que alçar da periferia para o centro, nos momentos de desespero, o “tertius” que parece limpo porque ainda não teve a oportunidade de se sujar e encarnará a próxima safra de violências políticas, institucionais e morais porque o país terá de passar. Isto quando escapamos das colheitas também de violências físicas…
A “revolução”- seja a feita com a intenção de empurrar, seja a feita para resistir aos empurrões – não faz mais que manter em suspenso o processo histórico ao qual se terá de retornar fatalmente mais adiante. E retornar do ponto de partida, o que redunda em atraso num mundo em que atrasar-se é erro cada vez mais impiedosamente punido.
Não ha como aprender democracia senão praticando-a ininterruptamente por tempo suficiente para experimentar alhos e bugalhos e constatar – física e palpavelmente – que não ha senão gente neste nosso vale de lágrimas, sendo a ausência de santos e de diferenças essenciais entre os não santos – e portanto a alternância em si mesmo – a única resposta razoável ao desafio do poder. E como a acumulação de tais experiências normalmente toma mais tempo do que o que vive um homem, a História é a chave da charada. Só depois de assegurar o domínio dela é que se pode caminhar para adiante.
A História é a psicanálise das sociedades. Assim como um indivíduo só pode assumir o controle do seu destino e escolher caminhos novos depois de entender como e porque veio a ser aquilo em que se transformou, assim as sociedades.
Muito mais que as tecnologias do futuro, é na reconstituição fidedigna do passado que está o valor mais importante da educação. E ninguém sabia melhor disso que Antonio Granmsci, o grande guru da esquerda brasileira.
A tática, desde sempre desonesta, foi inventada quando ainda havia um alegado objetivo moral a justificar o emprego dela. Hoje não há. Foi apropriada por cleptocracias cujo único objetivo é empanturrar-se de poder, sem distinguir as duas formas que ele assume: a da prepotência e a do dinheiro.
A esta altura, aparelhar as escolas e os demais meios de difusão da cultura para falsificar deliberadamente a História como tem feito sistematicamente o PT antes e depois de chegar ao poder, é igualar-se ao analista psicopata que se aproveita da fragilidade e da desorientação do seu cliente para induzi-lo ao suicídio.
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