Crônica de uma sociedade doente
17 de janeiro de 2022 § 17 Comentários

A boa notícia é que multiplicam-se os sinais de que a ômicron é mesmo a instalação final da imunidade de rebanho na população mundial. A má é que, se isso se confirmar, a destruição do que resta da economia nacional passará a ser o único fator decisivo de sucesso da próxima eleição.
Ha sempre uma esperança para a torcida pelo cemitério. Mas ela ja não faz tanta diferença neste nosso país doente. Bolsonaro não seria Bolsonaro se deixasse seus inimigos chegarem até a eleição só com as “denúncias” de Renan Calheiros, Omar Aziz e Randolfe Rodrigues, as acusações de “amor à ditadura” contra os presos e os censurados por quem os mantem censurados e presos e a “proposta” do lulopetismo de, com Guido Mantega de volta ao timão, dar um definitivo “revogaço” no futuro do Brasil, restabelecer o mensalão daqueles “sindicatos” concebidos no útero do Estado como esses “partidos políticos” de 6,7 bilhões de reais seus irmãos, e ancorar o país para todo o sempre no modelo getulista/peronista dos primórdios do século 20 ao lado da Argentina, ou descer de vez até Cuba, Venezuela e as outras “democracias excessivas” que “o político mais honesto do mundo” nos aponta como exemplos do que quer para o Brasil.

Não! Bolsonaro faz questão de municiar seus inimigos com a sua esclarecida posição “antivac” no país cujo povo, para desespero de tantos, é o que mais acredita em vacinas no mundo, e não acata nem sugestões, nem ordens imbecis, venham elas recheadas só de estupidez ou de estupidez e mais a má fé que põe esse cheiro de podre no ar e, lamentavelmente, não se deixa “genocidar” nem mesmo para “salvar a democracia”.
De marcha-a-ré exatamente desde a promulgação da constituição da privilegiatura, pela privilegiatura e para a privilegiatura, o povo brasileiro está careca de saber que tanto a inflação quanto a “demia” são PAN, que o “descalabro fiscal” é o de sempre e que a privilegiatura não para de morder porque os presidentes sindicalistas de fardados e de paisanos nos servem de bandeja para eles, abrindo cada temporada de “conquistas salariais” contemplando as castas de maior poder de chantagem, seja sobre o país (do banditismo) oficial (as polícias e ministérios públicos), seja sobre o país real (os auditores da Receita Federal), e não uma fabricação sibilina do coitado do Paulo Guedes.

Já aprendeu de velho que o risco maior que corre essa “vanguarda” que faz parte do “1% mais rico” do cada vez mais miserável Brasil, ao decretar as suas greves covardes contra o favelão nacional inerte “abrindo mão de cargos comissionados” sem abrir mão de salários ou de privilégios, é aparecer um desembargador de R$ 500 mil por mês, no país do “teto” de R$ 39 mil, disposto a mandar aplicar a lei contra eles. Ou que os comedores de lagostas que, neste verão cheio de presságios, mantêm um plantão pró-ladrão no STF para certificar-se de que nenhum dos que livrou das garras da lei voltará a cair nelas ou terá cassado o “direito adquirido” de assaltar o Brasil, baixe alguma inédita “decisão monocrática” a favor do favelão nacional.
É por isso, resumindo as manchetes dos últimos dias da semana passada das redações do macartismo caboclo invertido, hoje empenhadas mais que tudo em “iscar” Alexandre de Moraes contra colegas “antidemocráticos”, que o Brasil é cada vez mais o país onde ninguém (menos 4,69%) confia em ninguém, o mercado já sacou que o país real, a quem nenhum candidato dirige a palavra, está fora da eleição e do radar, tanto faz quem ganhe, e que exatamente por isso o nome desses juros que comem empregos e fabricam misérias é “salve-se quem puder” dos que não puderam emigrar.

E se alguém ainda tinha dúvidas sobre até onde essa gente está disposta a ir, aí estão os governadores “partidários da ciência”, de cima dos seus recordes de arrecadação de 2021, o pior momento da longa história das misérias do favelão nacional, pinçando a medula que comanda todos os nervos da economia para aumentar mais um tanto os impostos ate sobre a inflação que fabricam e incide sobre os combustíveis.
Não! Dilma Roussef foi um ponto fora da curva. A “Primavera da Classe Média Meritocrática Brasileira” determinada pelo rompimento da censura pela magra camada ilustrada da população com acesso a uma internet cuja primeira infância transcorreu no breve hiato em que ela esteve livre da politicalha. O canto do cisne da meritocracia brasileira que agora enfrenta a fúria do revide reacionário de uma privilegiatura disposta a, do alto do “teto” que virou “laje” dos salários e aposentadorias públicas, dar a essa “gentinha” uma lição definitiva sobre de onde é mesmo que “emana todo poder”.

A doença do Brasil é a independência do pais (do banditismo) oficial do pais real. O resto é consequência. O divórcio é hoje completo e absoluto. No Brasil Real nem a polícia entra mais, por ordem expressa do monocrata Fachin. Que dirá candidato, emprego digno ou “política pública”. A estatização do financiamento das campanhas fechou definitivamente a porta a qualquer sangue novo. Só o que troca gens no ambiente doentio do imbreeding da politica nacional é o que tem passaporte partidário de podridão. A única “salvação”, pra quem tem estômago, é virar “concurseiro” e saltar para a nau dos exploradores…
Mas como esse probleminha é bobagem, nada a corrigir ou mesmo comentar a respeito: vamos de identidade de gênero e passaporte de vacina que é isso que garante o “estado democrático de direito”.
Atravancado como é o Sistema pela geléia grudenta desse corporativismo mole que jamais se posta de frente para nada, tudo “acochambra” lateralmente nas adiposidades flácidas das “narrativas” e das “falhas processuais” que a infinitude do “transcurso em julgado” garantem, o que nos restará em outubro, na remotíssima hipótese de termos muita sorte, é eleger o candidato que faça o Brasil voltar a ser apenas constitucionalmente desonesto, antidemocrático e ingovernável como fazem dele as “instituições” selecionadas pelos monocratas para continuar “funcionando”, mas ainda mantenha viva uma chance de safar-nos dessa gosma em 2026 e além.
Em resumo, tudo pode piorar para todo o sempre. Mas melhorar, com certeza, é que não vai.
Sem a mídia racismo é estéril
16 de janeiro de 2022 § 43 Comentários

Antonio Risério em pessoa, dispensando desculpas na FSP, explica mais conclusivamente que artigo desculpando Antonio Risério no Estado de hoje, que o racismo, essa doença da espécie humana que paira muito acima das raças todas acometidas dela, só ganha mesmo a força total da sua letalidade quando devolvido ao grande público depois de processado e modificado pela doença crônica bem mais amplamente disseminada que acomete a mídia ocidental.

A imprensa e os fatos: nada a ver
11 de janeiro de 2022 § 9 Comentários

Esta entrevista, publicada no “Estadão” de hoje, é um verdadeiro tratado sobre o custo para o favelão nacional do rompimento entre a imprensa nacional e seus “especialistas amestrados” e os fatos.
Carlos Leôncio de Magalhães
30 de dezembro de 2021 § 22 Comentários

Na semana do natal morreu-me mais um. E este foi o maior de todos. Todo amigo é “o maior de todos” em alguma coisa e a grande merda de envelhecer é ver os nossos morrer.
Mas o Leôncio foi um desses “maiores de todos” não só pela amizade. Homem do mato, como tantos dos meus maiores amigos, Leôncio era um espécime raro da classe em extinção dos ouvintes da natureza. Falava a língua dos bichos em todas as suas nuances e sutilezas com um sotaque absolutamente perfeito. Não era alguém “de fora”. Usava, para entender o mato, o mesmo sentido que os nascidos no mato mais usam para viver e sobreviver nele. E sabia o suficiente sobre a realidade da galáxia vegetal das florestas de chuva para ouvir-lhes as perguntas de preferência a impor-lhes as suas respostas.
Temendo por elas, na incompreensão assanhada que grassa sobre o tema da sua relação com os urbanóides, Leôncio aprendeu que era bicho, antes de ser gente, e que sem o respeito à hierarquia que essa precedência impõe rompe-se para sempre o nexo entre o bicho homem e o ambiente que fez dele o que é.
A Fundação Florestal, o canto menos poluído que restou do aparato de gestão ambiental brasileiro institucionalizado, despediu-se dele colocando-o no mesmo patamar de Thomas Lovejoy e E. O. Wilson, os “tres grandes naturalistas mortos na semana que passou”.

Conservacionista como só os caçadores sabem ser, honrou o nome de seu pai, caçador, conservacionista, ouvinte e tradutor das nossas matas do calibre dos grandes pioneiros. Um Theodore Roosevelt destes tristes trópicos, grande o bastante para segurar até hoje, no Barreiro Rico, Anhembi, a última floresta viva das margens do Tietê, feito mais valoroso, talvez, neste país mal amado, que implantar os parques todos que TR pode eternizar na democracia americana.
José Carlos Reis de Magalhães foi quem, escondido da arrogância dos poibidores de tudo do Brasil, arrastou Werner Boker, numa ultra aparelhada barraca-laboratório, para suas expedições ao Peixoto de Azevedo nos meados dos anos 70 do século 20, o segundo a chegar depois dos irmãos Vilas Boas, às majestosas florestas de transição entre o cerrado e a Amazônia molhada, hoje desaparecidas, onde ainda perambulavam os Krenha-kêrores/Panará, ditos os “índios gigantes”.
Foi assim que tornou-se o pai do único estudo científico do comportamento em seu habitat dos tinamídeos, os donos da verdadeira Voz do Brasil que quase nenhum brasileiro conhece, produzido nesta nossa pátria da anti-ciência.
Leôncio, uma das últimas testemunhas vivas desse Brasil que vai indo embora, estava lá aprendendo com eles…
Na quarta-feira, 23, como fazia a toda hora, mandou-me sem mais palavra, a foto que abre este artigo. Tres dias depois, instou o seu médico a mergulha-lo de vez para a morte que o vinha cercando fazia tempo, com todo o “sport” e naturalidade de quem sabia que chegara a hora de reciclar-se.

Ha revoluções e revoluções…
25 de dezembro de 2021 § 19 Comentários

“Mas nós, ao deixarmos para trás o estado social de nossos antecessores, ao jogar por terra as instituições deles, as ideias, os costumes e a moral, o que foi que nós pusemos no lugar? O prestigio do poder real se esvaneceu sem que fosse substituído pela majestade da lei; hoje o povo despreza as autoridades mas as teme, e esse medo arranca dele muito mais do que antes lhe arrancavam o respeito e o amor. Eu vejo que destruímos as pessoas que lutavam individualmente contra a tirania, e o que ficou foi o governo que herdou sozinho todas as prerrogativas que antes pertenciam às famílias, às corporações e aos homens: à força às vezes opressiva mas frequentemente conservadora de um pequeno numero de cidadãos, sucedeu a fraqueza de todos eles”.
Alexis de Tocqueville, na introdução de La Democratie en Amerique, ao descrever a diferença entre a revolução francesa e a americana.

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