Tocqueville e a doença do Brasil
14 de março de 2022 § 3 Comentários

“Às vezes chega uma hora, na vida de um povo, em que os costumes antigos estão mudados, os valores estão destruídos, as certezas estão abaladas, as velhas memórias estão apagadas. São momentos em que as luzes se vão abaixando e os direitos políticos sendo restringidos. Momentos em que nada mais parece garantido.
A ideia de pátria não aparece mais para as pessoas senão sob uma luz fraca e duvidosa. Elas não a identificam mais nem na terra, que passa a parecer-lhes um espaço inanimado, nem nos costumes dos seus antepassados, que passam a ver como um instrumento de opressão, nem na religião de que passam a duvidar, nem nas leis que não são feitas por elas, nem nos legisladores de que desconfiam e desprezam.

As pessoas não vêm mais a pátria em lugar algum, enfim, e afundam-se num egoísmo cada vez mais estreito e escuro. Mergulham nos preconceitos e não reconhecem mais o valor da razão. Não têm mais nem aquele patriotismo instintivo próprio das monarquias, nem o patriotismo racionalizado das repúblicas. Ficam encalacrados a meio caminho, atolados na confusão e na miséria.
O que fazer quando se chega a esse ponto?
Voltar atrás.
Mas os povos não têm o poder de reviver os sentimentos da sua juventude. Ninguém consegue trazer de volta a pureza dos primeiros anos da vida. Por mais que a gente lamente, é impossível fazê-los renascer.
Não há o que fazer senão seguir adiante, esforçando-se para associar os interesses individuais aos interesses do país aos olhos do povo, porque quando o amor desinteressado pela pátria se vai ele não volta mais”.

Trecho lido e sublinhado esta noite em De la Démocratie en Amérique de Alexis de Tocqueville
O único doente é vc.
MAM
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Temos nos esforçado para organizar a história humana segundo a evolução do discernimento humano e constatamos que essa evolução do discernimento coincide com as grandes fases da história catalogadas pela historiografia. Esse fato confirma a tese de Parmênides segundo a qual “ser e pensar se correspondem”, Ou seja, o padrão civilizatório reflete o modo de pensar predominante, isto é, realiza as potencialidades da lógica predominante. A confusão pós-moderna resulta da aplicação hegemônica da lógica dialética na contemplação do mundo. Ocorre que a dialética é a lógica da história e por isso apenas enxerga os conflitos dos homens com suas circunstâncias. Dado que ela se esgota nessa crítica, é incapaz de construir estabilidade que permita viver sem sobressaltos. Como o ponto de fuga da história é a entropia é incapaz de esperança e o espírito resulta azedo. A civilização não está doente Fernão, a Pós-Modernidade se esgota porque uma lógica superior, da totalidade, se insinua nos desvão das mentes. Estamos em novo renascimento.
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ET: Não há volta para o passado, há renascimento em novo patamar de discernimento e de complexidade.
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