Sérgio e os Zveiter

11 de julho de 2017 § 40 Comentários

As relações entre as famílias Zveiter e Marinho atravessam tres gerações. Luiza Zveiter, filha de Luiz Zveiter, irmão de Sérgio, o relator da denuncia contra Michel Temer na CCJ do Congresso, é apresentadora da GloboNews. O pai de Sérgio, avô de Luiza, Waldemar Zveiter, fundador do escritório de advocacia da família, tornou-se desembargador do TJ do Rio de Janeiro pelo “Quinto Constitucional”, uma velha gambiarra que reserva 20% desses postos a nomeações pelos governadores furando o concurso público exigido.

A familia saltou para esferas mais altas quando, em 1989, o escritório Zveiter defendeu Roberto Marinho no divórcio litigioso de sua primeira mulher, Ruth Albuquerque. Logo depois defendeu também a Rede Globo no processo contra a TV Aratu, da Bahia, quando transferiu dela para a TV Bahia, da família de Antonio Carlos Magalhães, os direitos de retransmissão da Globo para aquele estado. Ministro das Comuicações de Jose Sarney, ACM, como se sabe, deu uma sobrevida aos velhos “coronéis” da política nordestina que a “Nova Republica” que nascia depois de 21 anos de regime militar prometia jogar no esquecimento, presenteando-os com as concessões de rádio e televisão que acabaram por reeditá-los como “coronéis eletrônicos”.

Waldemar acabou sendo indicado ministro do STJ por Jose Sarney, proprietário da retransmissora da Globo no Maranhão, em 1989.

Até hoje o escritório dos Zveiter advoga para a Globo.

Como o pai, Luiz Zveiter também foi indicado desembargador pelo “Quinto” em 1995. Desde 1996 os dois irmãos vêm dividindo o comando do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, um “órgão disciplinar” da Confederação Brasileira de Futebol. Entre 1996 e 1998 e depois entre 2000 e 2005, Luiz presidiu o STJD. Forçado a sair em 2005, sucedeu-o seu filho Flávio. Entre 1998 e 2000 o comando coube a Sérgio que protagonizou o rumoroso “caso Sandro Hiroshi” no campeonato de 1999, que tirou o Botafogo do rebaixamento “no tapetão”, um caso tão escandaloso que acabou suspendendo por um ano o Campeonato Brasileiro de Futebol.

Luiz tambem foi presidente do TJRJ no bienio 2009-2010. Outro de seus feitos controversos foi a reconstrução do Palácio da Justiça do RJ pelo famigerado empreiteiro Fernando Cavendish, da Delta, aquele da “festa dos guardanapos” no Ritz de Paris, e a Carioca Engenharia, outra das que mais frequentam as delações da Lava Jato. Sob Sergio Cabral o escritório da familia conquistou oficialmente contratos de R$ 30,9 milhões com a Cedae enquanto Luiz Zveiter era presidente do TJRJ.

Sua “popularidade” nos meios jurídicos cariocas pode ser medida por um único feito. No meio do recesso de junho de 2009 da ALERJ, conseguiu aprovar a Lei dos Fatos Funcionais por meio da qual, a titulo de equiparar os magistrados do Rio de Janeiro aos proventos do Ministério Publico, instituiu uma boa parte dos 14 “benefícios adicionais” a que os magistrados daquele estado, os mais agraciados do país, “têm direito” hoje.

Em 2010 a PGR, hoje sob o dr. Janot e então sob Roberto Gurgel, questionou os supersalários do judiciário carioca apontando a inconstitucionalidade da Lei dos Fatos Funcionais. Em 2012 teve inicio o julgamento do caso no plenário do STF e o ministro Ayres Britto, o primeiro a se manifestar, votou pela inconstitucionalidade da lei. Na sequência, porem, o ministro Luis Fux, nomeado por Dilma em 2011, “pediu vistas do processo” que até hoje não retornou ao plenário.

Em 2014 Luiz Zveiter só pôde se candidatar novamente à presidência do TJRJ graças a liminar com que Luis Fux derrubou norma do Conselho Nacional de Justiça proibindo a reeleição para esse cargo. Como não foi bem sucedido nessa tentativa vai concorrer a nova reeleição em dezembro próximo e é o favorito para o cargo. (Coincidentemente, em abril deste ano, Marianna Fux, filha do ministro, também tornou-se desembargadora pelo “Quinto Constitucional” como é tradição na família Zveiter).

Sergio Zveiter é o membro da família que se voltou mais para a política. Foi presidente da seccional carioca da OAB aos 33 anos. Com ajuda do irmão, processado por aparecer nas suas campanhas enquanto era presidente do TJRJ, e com financiamentos da UTC (R$ 400 mil), da Carioca Engenharia (350 mil), da Andrade Gutierrez (294 mil) e mais “R$ 4 milhões de dinheiro da própria família” elegeu-se deputado federal pelo PSD em 2010, e reelegeu-se em 2014. Tudo entre licenças para servir governos. Passou pelo PDT e agora esta no PMDB. Ocupou quatro cargos de governo: secretario de Justiça de Anthony Garotinho, de Jutiça e Direitos do Cidadão de Rosinha Garotinho, de defesa do Consumidor novamente de Rosinha, de Trabalho e Renda de Sergio Cabral que esta preso, e secretario de Habitação e Cidadania do prefeito Eduardo Paes. Licenciou-se novamente em 2015 para assumir a secretaria de Eduardo Paes. Os processos mais rumorosos em que esteve envolvido antes dessa ultima função, aliás, referem-se a favorecimentos a grupos do setor imobiliário para construção em áreas proibidas, inclusive uma que veio a ser vizinha do campo de golfe construido para as Olimpiadas pelo ultimo governo a que serviu, a prefeitura de Eduardo Paes.

Tido tambem como amigo de Rodrigo Maia, Sergio Zveiter retornou à Camara, de licença de seu cargo na prefeitura do Rio, para votar a cassação de Dilma e voltou para seu cargo na prefeitura. Agora, convocado por Rodrigo Maia, volta à Camara para dar o primeiro passo para a cassação de Temer.

Domingo, depois de reunir-se pela manhã com Michel Temer, Rodrigo Maia foi almoçar (sem agenda) na casa de Paulo Tonet, vice-presidente de Relações Institucionais das Organizações Globo acompanhado dos deputados Benito Gama (PTB-BA), Heraclito Fortes (PSB-PI) e do minsitro Fernando Bezerra Coelho, das Minas e Energia. À noite recebeu parlamentares para uma pizza e disse a seus convidados que tinha estado com Temer pela manhã e dissera a ele que “achava dificil resistir às denuncias” ligadas ao seu encontro sem agenda com Joésley Batista no Jaburu e que “tinha almoçado com gente muito importante” que “fazia essa mesma avaliação”. Não informou quem era essa “gente muito importante”.

Na segunda, Luiz Zveiter leu seu relatório e, inusitadamente, adiantou seu voto sobre o processo contra Michel Temer na CCJ.

Porque “fulaniza” nossa Maria Antonieta

30 de junho de 2017 § 21 Comentários

Artigo para O Estado de S. Paulo de   30/6/2017

Temer não é mais problema. Demore quanto demorar para arder o herege – o Brasil junto – os especialistas em regimento do Congresso asseguram que não restará “janela” entre o processamento das diversas “fatias” da acusação que lhe foi imputada e o calendário eleitoral que permita a votação da reforma da Previdência. Ao dr. Janot, passam, portanto, a interessar somente os próximos passos. Por isso é ele mesmo quem subscreve a Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) contra a lei de terceirização que abriu a fila das reformas do trabalhismo de achaque.

Nada disso! Nem um passo atras!

Como a terceirização é aquele novo padrão de trabalho que fez a China virar o que é saindo do zero e pos o Brasil fora da economia moderna, a “justificação” dessa Adin vai com todas as marcas registradas da nossa “privilegiatura”. Nada a dizer sobre o mérito do sistema nem sobre quanto tem custado proibi-lo para umas tantas gerações de brasileiros da plebe. Tudo pende de um alegado “vício formal” de tramitação remontando a Lula em 2003 cinco anos apos o já atrasado começo do arrastar dessa materia em 1998 com FHC. Tudo devidamente esmiuçado num daqueles tijolos de, no mínimo, 800 páginas com que tudo se resolve no Judiciário brasileiro. Quem quiser que leia.

Já vamos para 19 anos de enrolação só nesse abre e fecha da mera porta de acesso à pista onde se dá a competição global. Não é atoa, portanto, que o país estrebucha.

Brasilia não. Brasilia vive fora do mundo, assim como vive fora do Brasil que vive dentro do mundo. Ignora-os olimpicamente. Pode fazer isso porque os salários da última gente “meritissima”, “excelente”, “egrégia”, “eminente” e “magnífica” que ainda reina sobre plebeus na face da Terra, assim como as suas aposentadorias de 100%, os aumentos de todos os anos e, sobretudo os “auxílios” de furar teto constitucional isentos de imposto de que eles se locupletam todo santo mes enquanto acusam o resto do mundo de desonestidade, não dependem de desempenho como os salários do Brasil que vive dentro do mundo. É por isso que Rodrigo Janot pode se dar a glória de ser a nossa Maria Antonieta e nos impor, um atras do outro, “excelentes negócios” como mais este do “fatiamento” do pacote JBS. Qualquer coisa a gente come bolos…

O que ha de mais triste neste país triste em que nos transformamos é a ululante obviedade de tudo … e a forma como, ainda assim, permanecemos bovinamente na fila do martelete na testa, repetindo os discursos indignados contra a lentidão com que ela anda a que os “fulanizadores” reduzem o que devia ser o debate nacional. A guerra do Brasil tem mesmo de ser “fulanizada” porque, olhada sem emoção, a questão conceitual, distributiva, institucional, de justiça sem aspas ou o que quiserem chamá-la envolvida é inargumentável. Tudo é de uma transparência absoluta: 5% da população, os 10 milhões de funcionários públicos, “comem” 46% do PIB (36% de carga + 10% de deficit por ano) que não viram rigorosamente nada que beneficie os 95% que a sustentam. Ha para eles direitos especiais, foros especiais e até juros especiais, e mesmo assim não basta porque até a distribuição de privilégios é perversa dentro do “sistema”. A tal ponto que as castas que já não cabem no país estão deixando de caber também umas dentro das outras. Somente os 980 mil aposentados da União, a cereja desse bolo, “comem” 57% da arrecadação bruta do ente que mais arrecada neste país (70% do total). Se a medicina avançar menos do que está previsto serão 30, 40, 50 anos mais que os marajás sem trabalho permanecerão pendurados nas nossas costas. Como não tem mais de quem tirar aqui fora e é preciso pagar ainda os marajás com (algum) trabalho e o mais que a gente sabe, os barnabés dos municípios, a camada mais baixa da “privilegiatura”, está passando de predador a presa nesta fase terminal em que o estado passou a se alimentar de si mesmo.

Depois de Porto Alegre, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, Curitiba é a última capital do Brasil “rico” que se ve no limiar da incapacidade de honrar sua folha de funcionários, estágio que só se atinge, na ordem de prioridades vigente, depois de mortos os empregos privados, os hospitais, as escolas, a segurança pública, esgotados todos os limites de endividamento até à oitava geração e devoradas até as reservas do FGTS sob a guarda do estado.

Sendo a proporção de 95% para 5% do eleitorado, medidas de austeridade têm passado com maiorias confortáveis nos legislativos que, com todos os defeitos e desvios, vivem de voto e representam o país, como iam passar também no Lesgislativo federal. Como no voto não leva, segue-se, então, o roteiro fascista, sempre igual a si mesmo: o sítio violento às casas de leis, as gritarias para impedir que se ouça os discursos reformistas, o desbaste dos ajustes pela chantagem das corporações mais poderosas, o circo dos “movimentos sociais” que, com os mesmos onibus, barracas, “manifestantes” e provocações, vai de cidade em cidade parando o trabalho pelo bloqueio do trânsito. E depois que fracassam todas as tentativas de enfiar povo nessas provas de “impopularidade” das medidas aventadas para atalhar a apropriação de tudo pelos donos do estado, recorre-se ao Judiciário, o poder acima de qualquer delação, para desfazer o que foi feito no voto, com gambiarras formalistas quando possivel, “fulanizando” o debate para blinda-lo contra a racionalidade sempre, promovendo armações ilimitadas e até coroando “reis” que, sozinhos, valem mais que o Legislativo e o resto do Poder Judiciário somados para se impor a qualquer custo.

Um país em desespero tem alimentado a “aposta” de que “eles” não serão tão loucos para destruir completamente o que pretendem herdar. Mas isso não é o que a História ensina nem para onde aponta esse desbragado mamar, não numa situação de estabilidade que será insustentável no futuro, mas numa realidade caótica que já não se sustenta no presente.

Ninguem se iluda! Este é o duelo final. Ou instituimos de vez a igualdade de direitos e deveres e acabamos com a “privilegiatura”, ou ela acaba de acabar conosco.

O seu destino por um fio

7 de junho de 2017 § 10 Comentários

Artigo para O Estado de S. Paulo de 7/6/2017

E cá estamos, o país a quem a corrupção e um jornalismo “corporate” sem osso cassaram a voz própria, reduzidos a assistir pela TV o nosso destino ser traçado à nossa revelia.

Conforme mil vezes prometido, do jeitinho que foi prescrito e está escrito, a cobra morde o rabo com a fuga dada aos 2ésleys. A ressaca da Queda do Muro, o caminho da ressurreição da esquerda latino-americana pela apropriação dos bancos públicos e fundos de pensão apontados a Lula e Jose Dirceu por Luiz Gushiken, a operacionalização do esquema com a gazua dos “campeões nacionais” da roubalheira, a desmoralização da política solapada por dinheiro bastante para comprar a metade do mundo, a infiltração do Judiciário ao longo de 13 anos de nomeações, tudo faz parte de um roteiro cuja propriedade intelectual tem sido reconhecida e reverenciada onde quer que sobrevivam ditaduras.

A longa marcha começa nos meados dos 90 pelo controle dos sindicatos de bancários. A “PT-Pol”, de “polícia”, como a chamavam as redações da época, passa a bisbilhotar as movimentações bancárias do país inteiro e a vazar seletivamente para os jornais os maus passos dos adversários. Uma cultura estava nascendo. É pouco a pouco que o jornalismo investigativo se vai entregando à guerra de dossiês.

A vida informatizada traz o esquema para a era do “grampo”. O “mensalão” é o último episódio onde se diferencia nuances. Flagrado o lulismo em delito de “corrupção sistemática dos fundamentos da república com vistas à imposição de um projeto hegemônico”, restava deslocar o foco do todo para as partes e ir daí para a indiferenciação.

É esse o ponto de não retorno: caixa 1, caixa 2, propina, tudo vai, insidiosamente, sendo feito “sinônimo” uma coisa da outra. E aí está a política presa inteira na arapuca, igualada ao pior de si mesmo.

Daí para a frente é poder contra poder. E velocidade passa a ser o que decide. Com todos os eleitos (com passagem obrigatoria, portanto, por algum “campeão nacional” de financiamento de campanhas) devidamente filmados e gravados basta, doravante, escolher o que publicar. Não é preciso provar mais nada. Não importa o que se disse e mesmo quem o disse em cada gravação. O contágio é por contato. Basta formar os pares. Diante dos avatares murmurando frases entre reticências sobre o cenário de fundo de rios de dinheiro correndo pelo chão, da cena mil vezes repetida do sujeito “ligado a” recebendo furtivamente uma mala, onde enfiar raciocínios com mais de tres palavras sobre quem tem recheado tantas malas ha tanto tempo e com tanto dinheiro, e para quê?

Mas o país insiste em se fazer essa pergunta. O Brasil inteiro sabe que tem alguma coisa no ar além das notas voando das vinhetas da televisão. Só que continua órfão de pai e mãe. Não tem quem fale por ele mas resiste como pode ao salto no escuro para o qual o empurram com tanta pressa. Nega-se às ruas para as quais o conclamam diariamente em prosa e verso. É nada menos que atroador o seu silêncio diante das circunstâncias.

Já o Brasil com voz – que não conduz, deixa-se conduzir – vai no arrasto de uma espiral de ódio. Quem não está na conspiração ou está bebendo vingança, ou está agarrado pelo silogismo moral em que a conspiração quer todo aquele que não “é”. Ninguém interroga os fatos; tudo é sempre empurrado para o “se”, o “quando”, ou o “de que jeito” se conseguirá torna-los consumados como se fosse certo que o sol da democracia renascerá sempre amanhã.

Não é. Ha dois brasis caminhando para um confronto e só um deles sobreviverá. Ou o da “privilegiatura”, reduzindo o da meritocracia à escravidão, ou o da meritocracia reduzindo o da “privilegiatura” à igualdade. Os dois juntos não cabem mais na conta. Ha também dois Judiciários funcionando em paralelo. Um que, tropeçando pelo cipoal legislativo e processual, investiga, colhe provas, processa e condena a partir de Curitiba numa velocidade que comporta credibilidade e tem no horizonte o respeito aos limites do contrato social. E o outro. Ha, por fim, dois legislativos e dois executivos. Em ambos ha quem, tendo jogado o jogo da politica como ele é, olha agora inequivocamente para o Brasil e procura saídas. E ha os que, na sua fé cega no lado escuro do bicho homem, só olham para a Venezuela … ou para Miami. O problema é que todos têm pelo menos um pé enfiado na “privilegiatura” e nenhum faz força para desatola-lo.

Vai ser preciso repensar isso. E rápido. Morta a ultima esperança o país, na melhor hipótese, está paralisado de novo até outubro de 2018. Nem vale a pena especular sobre o depois. A carga de novas misérias já contratadas nesta beira do caos de que partimos é muito maior que a que podemos suportar sem nos despedaçarmos. E o Legislativo já tem tido de engolir cala-bocas demais para acreditar que poderá sobreviver a isso com embarques e desembarques espertos ou pedindo ao povo que aplauda o seu apelo por mais sacrifícios.

Já o juíz venezuelizante é o milico de 64 modelo 2017, só que sem a reserva moral. Cava a entrada no jogo by-passando a regra porque é imoral. E este é vitalício. Não tem compromisso nenhum com o instituto do voto nem com a ideia de representação.

É essa a escolha que há. E metade dela já foi feita sem que fossemos consultados…

Este é, porém, um daqueles raros momentos da História em que a matemática e a necessidade fazem tudo convergir para um ponto com tanta força que até os milagres se tornam possíveis. O único programa econômico que pode fazer o Brasil reviver é também o único programa político que pode redimir a política. Os dois consistem no enfrentamento da “privilegiatura”, o ralo de todos os ralos da economia e o ponto de origem e de destino de toda essa corrupção.

Reforma da previdência “deles”, igualdade, referendo, “recall”. Se propuser à nação um compromisso sério para mudar definitivamente o sentido dos vetores essenciais de força que atuam sobre o “sistema” o Legislativo irá de vilão a herói em um átimo e faltarão ruas para as multidões dispostas a entrar nessa briga com ele.

Se não…

Tão perto, tão longe

31 de maio de 2017 § 11 Comentários

Artigo para O Estado de S. Paulo de 31/5/2017

O Brasil do trabalho foi pego mais uma vez no fogo cruzado das facções em disputa pelo Brasil dos impostos e dos subsídios.

Quem é Michel Temer e o que é a política num país com as regras do nosso o Brasil inteiro sempre soube antes e depois do destino te-lo feito presidente. Assim como sabe agora que não tem nada a ver com combate à corrupção a sua queda na esparrela do Jaburu na véspera da votação das reformas que pela primeira vez na história tocariam nos “direitos adquiridos” daquele milhãozinho de marajás que custam mais que os 32 milhões de brasileiros aposentados somados, extinguiriam o imposto sindical e desmontariam a indústria do “trabalhismo de achaque”.

Só mesmo o mais alienado entre os habitantes de Brasilia onde ninguém precisa fazer força para pagar contas e a profissão de todo mundo é disputar o poder para afirmar sem corar que foi “um bom negócio para o Brasil” forçar a saida de Temer um ano antes do prazo contra a reimersão do país no caos e a indulgência plenária dos banqueiros de todos os banqueiros do assalto do lulismo bolivarianista às instituições democráticas onde quer que elas estivessem ao alcance do dinheiro dos 2ésleys ao Sul do equador. Sobretudo depois do golpe de despedida na Bolsa e no dólar para faturar em cima dos estertores do país apunhalado mantido em segredo até depois de consumada a fuga para Nova York.

Passadas duas semanas, porém, está claro que nem se os 50 cegos mais cegos da velha guarda da MPB cantassem em coro a sua cegueira o país real aceitaria engolir essa truta. Se ainda subsiste a esperança de que possa haver uma aurora depois dessa hora mais escura dos nossos 517 anos de vida ela está nessa eloquente ausência de povo nas “ruas” falsificadas sucessivamente armadas para impedir os avanços ou comemorar os retrocessos nas tentativas de revogar o passado.

O Brasil já sabe, decididamente, o que não quer. Falta-lhe apenas algo a que possa expressamente aderir para conduzir-se para o futuro.

Quem oferecer primeiro leva.

Dirão os pessimistas que um processo que desaguará, cedo ou tarde, numa eleição indireta não poderá ter seu rumo alterado por uma proposta que venha para moralizar de fato o “sistema”. Mas não é nisso que acredita o Brasil do passado. Apesar do horário gratuito, apesar do “patrulhamento” pelo barulho e pelo silêncio, apesar do aparelhamento das escolas, apesar dos artistas e dos intelectuais “orgânicos”, apesar da aspereza do próprio tema das reformas propostas, ha uma maioria no Congresso que está disposta a jogar a favor do Brasil do futuro. E foi porque era certa a sua vitória na votação das reformas que o Brasil do passado encontrou um meio tão mal acabado de revoga-las à força.

O tiro saiu pela culatra. O Lula do poder pelo poder ainda que sobre uma massa falida conflagrada e submetida pela violência como se vê em todas as ditaduras que ele aplaude, já estava devidamente reservado no seu canto, quando muito atiçando o desastre que possa vir a redimi-lo. Agora a ausência de qualquer escrupulo em empurrar uma economia em colapso para além do ponto de não retorno e a olimpica desconsideração dos promotores que pairam acima da nossa “podridão” para com a situação extrema de mais de 30 milhões de desempregados e subempregados confirmou que ir apertando o espaço de convivência entre tres poderes independentes e harmônicos, o sema que separa a civilização da barbárie, a cada degrau que descemos nessa guerra de dossies e de “grampos” sem nenhum cheiro de frescor, é outro caminho sem volta que nada tem a ver com os anseios e necessidades do Brasil do futuro.

Esse impasse só se decidirá com o hasteamento pela parcela do Congresso que não está podre de uma bandeira que o país real possa seguir, ainda que seja como resposta oportunista a um imperativo de sobrevivência, sempre o parteiro dos grandes movimentos da História.

O Brasil precisa saber, seja como for, o que tem o direito de desejar com base na experiência internacional. Iniciar essa receita por um compromisso formal de adesão a uma revisão da Constituição estritamente balizada pelo principio da igualdade perante a lei é o formato adequado para o momento. Isso limparia o futuro do Brasil de tudo quanto se enfiou nela para criar privilégios e tornar impossiveis o progresso e a esperança de justiça. Ir para uma constituinte sem compromete-la previamente com uma pauta clara seria outra temeridade.

Quanto à parte propositiva, entregar o poder ao povo tem sido a solução comum a todo o mundo que funciona. A alternativa real para os odebrechts e os ésleys da vida, também eles criaturas do estado, são as eleições distritais puras que dispensam as quantidades de dinheiro que se requer para colher votos em extensões continentais e, assim como a sua antitese, o financiamento de eleições pelo estado que fecha tudo numa panelinha de cozinhar corrupção, encaminha o pais obrigatoriamente para a essência da democracia que é a primazia da política municipal, cabendo aos estados só o que não pode ser resolvido por um único município e à união apenas o que não pode ser resolvido nem pelos estados, nem pelos municípios.

O compromisso de armar o povo do poder de submeter a referendo as leis aprovadas pelos reresentantes quando achar necessário, começando pelo âmbito municipal, além de reafirmar que não ha saída fora da democracia representativa, seria a garantia de que a solução oferecida não é só um desvio revogável do nosso padrão defeituoso. E o “recall” ou retomada dos mandatos dos representantes eleitos a qualquer momento armaria a mão do eleitor para exigir, sem ter de recorrer a intermediários, os limites que estabelecer para o comportamento do seu representante.

As meias solas em consideração pelo Congresso não mobilizam ninguém. E a continuação dos apunhalamentos entre “podres” e “santos” nos sangrará a todos até à última gota. Se houvesse uma alternativa séria de compromisso com o futuro este país cansado de guerra certamente a agarraria.

Ligar o circuit breaker – 2

21 de maio de 2017 § 24 Comentários

Deixem-me ser mais claro: a realidade do que está acontecendo não é a que aparece na imprensa. Desde que a mudança de velocidade na produção de fatos mudou e a crise reduziu, na direção contrária, as condições das redações de apurá-los por meios próprios, elas vêm, cada vez mais, sendo usadas pelas partes em luta pelo poder para disparar, umas contra as outras, os seus dossies. 99% do que se publica hoje sobre a luta política em curso no Brasil não é material apurado por jornalistas, são dossies feitos por terceiros que os detonam através de órgãos com reputações mais respeitáveis que as suas.

Quem, no meio jornalístico, ainda entra nesse jogo depois de tudo que já passamos ou está sendo otário ou está de má fé.

Eu aposto meus 50 anos de jornalismo militante que todos os políticos brasileiros de hoje estão filmados e gravados em telefonemas, encontros com “traíras” e flagrantes de relação com “operadores” por sua vez filmados entregando ou recebendo malas de dinheiro. A diferença é que só uns poucos estão publicados enquanto a maior parte continua inédita por todas as razões menos porque não existam.

Essa generalização do recurso a financiadores de campanhas “revelada” nas delações não decorre de qualquer fraqueza genética especial do brasileiro, é só a consequência obrigatória do fato de insistirmos em manter um sistema político e eleitoral que começa pelos filtros corruptores do imposto sindical e do fundo partidário que dispensa os representantes de jogar a favor dos representados, e condiciona a progressão na carreira a eleições periódicas por colégios eleitorais de extensão continental, operação que custa uma quantidade de dinheiro de que só as mega empresas com fontes de faturamento alheias à lógica econômica podem dispor.

Quem ainda está em campo na política brasileira, portanto, é porque se elegeu com dinheiro de ésleys e odebrechts. E como essa gente é o que é, todos os candidatos que eles bancam — e as exceções já morreram por falta de verba de campanha — estão gravados e filmados pedindo e recebendo esse dinheiro. Permanecerão inéditos desde que não atrapalhem o “sistema”.

Todo brasileiro sabe disso e os brasileiros que melhor sabem disso, fora os políticos, são os jornalistas. Fazer cara de vestal escandalizada a cada vez que isto de que eles estão carecas de saber que é a regra e não a exceção, vem à tona, quando não é por motivo pior, é fazer o papel de otário que deles esperam os agentes do crime organizado que iniciam esses linchamentos.

A resposta a esse desafio é desconfiar de tudo e de todos sempre. Não “abraçar” denuncia nenhuma, venha de quem vier, venha contra quem vier, mas sim tratar de desconfiar e investiga-las todas para dar a conhecer, acima de qualquer duvida, que sentido ela faz no contexto maior da guerra de quadrilhas pelo poder.

É urgente dar uma freada de arrumação. Nenhum passo a mais nessa beira de abismo até que todas as forças que nos empurraram até ela estejam clarissimamente identificadas e mapeadas nas suas intenções e comprometimentos. Continuar de olhos fechados agindo como eles determinarem que ajam os órgãos de imprensa é nada menos que suicídio.

 

Onde estou?

Você está navegando em publicações marcadas com Fora Temer em VESPEIRO.

%d blogueiros gostam disto: