“As armas são a civilização”
23 de março de 2014 § 12 Comentários
Quando Samuel Colt inventou o revolver de seis tiros, em 1836, o “slogan” para vendê-lo era o seguinte:
“Deus fez os homens diferentes; Sam Colt tornou-os iguais” (“God made men different; Sam Colt made them equal”).
O mundo tinha sido, até então, daqueles que tinham braço e destreza suficientes para manejar a espada melhor que os outros, e essa frase sempre me fez pensar…
Hoje recebi de Carlos Leôncio de Magalhães o artigo que (re)traduzo abaixo. Nunca tinha visto essa questão tão bem argumentada.
Veja o que você acha.
“As armas são a civilização”
.
Major L. Caudill, Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA
“As pessoas só têm duas maneiras de lidar umas com as outras: pela razão ou pela força. Se você quer que eu faça algo para você, você terá, ou de me convencer via argumentos, ou de me obrigar a me submeter à sua vontade pela força. Todas as interações humanas caem em uma dessas duas categorias, sem exceções. Razão ou força, só isso.
Em uma sociedade realmente moral e civilizada, as pessoas interagem somente pela persuasão. A força não tem lugar como método válido de interação social; mas a única coisa que pode remover a força da equação é uma arma de fogo, por mais paradoxal que isso possa parecer.
Quando eu porto uma arma, você não pode lidar comigo pela força. Você precisa usar a razão para tentar me persuadir, porque eu tenho meios de anular suas ameaças ou o uso da força.
A arma de fogo é o único instrumento que coloca em pé de igualdade uma mulher de 50 Kg e um assaltante de 100 Kg; um aposentado de 75 anos e um marginal de 19, um indivíduo sozinho contra um carro cheio de bêbados armados de bastões de baseball. A arma de fogo tira a disparidade de força, de tamanho ou de número de cena numa situação em que haja atacantes potenciais e uma pessoa se defendendo.
Há muitas pessoas que consideram a arma de fogo como a causa do desequilíbrio de forças. Acreditam que seríamos mais civilizados se todas as armas de fogo fossem removidas da sociedade, até porque isso tornaria o trabalho de um assaltante (armado) mais fácil e haveria menos risco de alguém sair ferido. Mas esse raciocínio, obviamente, só seria verdadeiro se o assaltante souber de antemão que suas vítimas estarão desarmadas, seja por opção, seja em virtude de leis. Essa causa de desequilíbrio deixa de existir se as vítimas potenciais também estiverem armadas.
Quem advoga o banimento das armas de fogo está optando automaticamente pela lei do mais jovem, pela lei do mais forte, pela lei do bando, e isso é o exato oposto de uma sociedade civilizada. Um marginal, mesmo armado, só consegue ser bem sucedido em uma sociedade onde o Estado lhe garantiu o monopólio da força.
Há também o argumento de que as armas de fogo tornam letais confrontos que poderiam terminar apenas em ferimentos mais leves. Esse argumento é falacioso sob diversos aspectos. Sem o envolvimento de armas os confrontos são sempre vencidos pelos mais fortes impondo ferimentos aos mais fracos sérios o bastante para subjuga-los. Quem imagina que punhos, bastões, porretes ou pedras não bastam para matar está assistindo muita TV onde as pessoas são violentamente espancadas e sofrem no máximo um pequeno corte no lábio. O argumento de que as armas aumentam a letalidade de um ataque só é verdadeiro a favor do mais fraco quando ele se defende, e não do atacante mais forte. Se os dois estão armados então, a luta apenas fica nivelada.
A arma de fogo é o único instrumento que é tão mortífero nas mãos de um octogenário quanto nas de um halterofilista. Elas simplesmente não serviriam para equilibrar uma parada como essa se não fossem mortais e não pudessem ser acionadas por qualquer um, forte ou fraco.
Quando eu porto uma arma não é porque estou procurando encrenca, é exatamente por que quero ser deixado em paz. A arma na minha cintura significa que eu não posso ser forçado a nada, somente persuadido. Eu não porto uma arma porque tenho medo mas sim porque ela me permite não ter medo. Ela não está lá para intimidar os que querem interagir comigo pela razão, mas para desencorajar os que pretendem fazê-lo pela força. A arma remove a força da equação … e é por isso que portar uma arma é um ato civilizado.
Portanto, a sociedade mais civilizada é aquela onde todos os cidadãos podem estar igualmente armados e só podem ser persuadidos, nunca forçados“.
Para acrescentar a dimensão política evolvida nessa questão, junto à discussão do que disse o major Caudill a frase célebre de Benjamin Franklin:
“Quando todas as armas forem propriedade do governo, este decidirá de quem são todas as outras propriedades“.
A verdade sobre a relação armas x crime violento
30 de julho de 2012 § 4 Comentários
Ela nos permite buscar consolo e achar jornalismo onde quer que ele ainda seja praticado.
Com o massacre do Colorado, coube ao Guardian, na velha Inglaterra, provar que ele ainda existe e serve para alguma coisa. Em vez de bramir com a manada, os jornalistas do Guardian foram aos fatos e os apresentaram de maneira sintética e inteligente, levantando um quadro factual da momentosa questão posse de armas por cidadãos honestos x criminalidade violenta em todo o mundo com base nos dados da pesquisa anual do UNODC (Departamento de Drogas e Criminalidade das Nações Unidas).
Montaram a tabela que sintetizo abaixo e provaram aos incrédulos leitores que infográficos interativos também podem ser inteligentes e eloquentes.
Vale uma visita a este link para conferir.
Para quem tem dificuldades com a língua, remontei a tabela alinhando os países pela ordem dos mais para os menos armados. Na terceira coluna, consta o numero de armas para cada 100 habitantes. Na quarta, a colocação dos 18 com mais mortes por arma de fogo por 100 mil habitantes. Na ultima coluna, o numero de mortos por arma de fogo por cada 100 mil habitantes. Destaquei com cores diferentes aqueles nas faixas entre 10 e 20 (azul), entre 20 e 30 (verde), com mais de 30 (vermelho) e com mais de 60 (roxo) mortes por arma de fogo por 100 mil habitantes. Traços ( — ) indicam a inexistência de dados confiáveis sobre o ponto em questão.
Confira:
01 | EUA |
88.8 |
2.97 |
|
02 | Yemen |
54.8 |
2.00 |
|
03 | Suiça |
45.7 |
0.77 |
|
04 | Finlândia |
45.3 |
0.45 |
|
05 | Sérvia |
37.8 |
0.46 |
|
06 | Chipre |
36.4 |
0.46 |
|
07 | Arábia Saudita |
35.0 |
—- |
|
08 | Iraque |
34.2 |
—— |
|
09 | Uruguai |
31.8 |
2.80 |
|
10 | Suécia |
31.6 |
0.41 |
|
11 | Noruega |
31.3 |
0.05 |
|
12 | França |
30.3 |
0.06 |
|
13 | Canada |
30.8 |
0.51 |
|
14 | Áustria |
30.4 |
0.22 |
|
15 | Islândia |
30.3 |
0.00 |
|
15 | Alemanha |
30.3 |
0.19 |
|
17 | Oman |
25.4 |
—— |
|
18 | Bahrain |
24.8 |
0.00 |
|
18 | Kuwait |
24.8 |
—– |
|
20 | Macedônia |
24.1 |
1.21 |
|
21 | Montenegro |
23.1 |
—– |
|
22 | N. Zelândia |
22.6 |
0.16 |
|
23 | Grécia |
22.5 |
0.26 |
|
24 | Emirados |
22.1 |
—- |
|
25 | Ir. do Norte |
21.9 |
0.28 |
|
26 | Panamá |
21.7 |
14º |
16.18 |
26 | Croácia |
21.7 |
0.39 |
|
28 | Líbano |
21.0 |
0.76 |
|
29 | G. Equator. |
19.9 |
—- |
|
30 | Kosovo |
19.5 |
—- |
|
31 | Qatar |
19.2 |
0.14 |
|
32 | Latvia |
19.0 |
0.22 |
|
33 | Peru |
18.8 |
2.63 |
|
34 | Bósnia |
17.3 |
0.48 |
|
34 | Angola |
17.3 |
—- |
|
35 | Bélgica |
17.2 |
0.68 |
|
37 | Paraguai |
17.0 |
7.35 |
|
38 | Checoslov. |
16.3 |
0.19 |
|
39 | Tailândia |
15.6 |
—- |
|
40 | Líbia |
15.5 |
—- |
|
41 | Luxemburgo |
15.3 |
0.62 |
|
42 | México |
15.0 |
18º |
9.97 |
42 | Austrália |
15.0 |
0.14 |
|
44 | Mauritius |
14.7 |
0.1 |
|
45 | Guyana |
14.6 |
17º |
11.46 |
47 | Eslovênia |
13.5 |
0.1 |
|
48 | Suriname |
13.4 |
—- |
|
49 | Guatemala |
13.1 |
5º |
34.81 |
50 | África do Sul |
12.7 |
12º |
17.03 |
51 | Namíbia |
12.6 |
—- |
|
52 | Armênia |
12.5 |
0.29 |
|
52 | Turquia |
12.5 |
0.77 |
|
54 | Dinamarca |
12.0 |
0.27 |
|
55 | Malta |
11.9 |
0.00 |
|
55 | Itália |
11.9 |
0.71 |
|
57 | Paquistão |
11.6 |
—- |
|
58 | Jordânia |
11.5 |
0.49 |
|
59 | Venezuela |
10.7 |
4º |
38.97 |
59 | Chile |
10.7 |
2.16 |
|
61 | Espanha |
10.4 |
0.2 |
|
62 | Argentina |
10.2 |
3.02 |
|
68 | Belize |
10.0 |
9º |
21.82 |
74 | Jamaica |
—- |
3º |
39.40 |
75 | Brasil |
8.0 |
11º |
18.10 |
88 | Honduras |
6.2 |
1º |
68.43 |
91 | Colômbia |
5.9 |
8º |
27.09 |
92 | El Salvador |
5.8 |
2º |
39.90 |
98 | Bahamas |
5.3 |
15º |
15.37 |
99 | Rep. Domin. |
5.1 |
13º |
16.30 |
129 | Trinidad |
1.6 |
7º |
27.30 |
142 | Equador |
1.3 |
16º |
12.73 |
— | St. Kitts |
—- |
6º |
32.44 |
— | Porto Rico |
—- |
10º |
18.30 |
- Dos 25 países mais armados do mundo 22 têm de 0 a menos de 1 assassinato por arma de fogo por cada 100 mil habitantes.
- Os outros 3, incluindo os Estados Unidos, campeão disparado em armamentos com 88.8 armas por cada 100 habitantes, quase uma por pessoa, estão abaixo de 2.97 assassinados por arma de fogo por 100 mil habitantes.
- Entre os 62 países mais armados 54 têm menos de 3.02 assassinatos por 100 mil habitantes por arma de fogo.
- 49 tem menos de 2.
- 32 tem menos de 1 assassinato por arma de fogo por 100 mil pessoas.
- Só 6 países entre os 62 mais armados estão fora desse padrão.
- O primeiro é o Panamá, o 26º mais armado e o 14º onde mais se mata com arma de fogo (16.18 crimes por 100 mil habitantes).
- Depois vem o México, o 42º mais armado e o 18º onde mais se mata (9.97 x 100 mil).
- A seguir a Guiana, o 45º mais armado e o 17º em mortes por arma de fogo (11.46 x 100 mil).
- Só dois países entre os 62 mais armados estão entre os campeões em assassinatos: Guatemala, com 34,81 mortes por 100 mil habitantes (o 5º país mais violento do mundo) e Venezuela, com 38,97 mortes por 100 mil (o 4º).
- Todos os outros países onde mais se mata estão entre os menos armados.
- O Brasil é o 75º em armas por cidadão e o 11º em assassinatos por arma de fogo.
- Honduras, com 68.43 assassinados a tiros por 100 mil habitantes é o 88º menos armado do mundo.
- Só cinco países estão acima de 30 assassinados por 100 mil habitantes. Todos estão abaixo dos 49 países mais armados do mundo. El Salvador, dos menos armados do mundo, é um dos que mais matam a tiros.
A grande diferença, não ha duvida nenhuma, esta na educação. Ela é o único remédio que cura diversas doenças ao mesmo tempo, especialmente a enorme quantidade delas que, como esta, se adquire e se agrava como função de se perseverar infinitamente no errado.
Ou seja, o que mais mata mesmo é ignorância e burrice.
Os números acima indicam sem sombra de dúvida que, ao contrário do que nos quer fazer crer a Rede Globo e todo o séquito de cavalgaduras com que as redações insistem em se permitir coabitar nestes tempos em que já deveriam estar mais sensíveis às razões que afastam as pessoas normais dos jornais, existe uma clara relação de causa e efeito entre o sucesso das campanhas de desarmamento e o aumento da criminalidade violenta.
Mas não pela razão que gostariam de apontar alguns dos defensores da posse de armas por cidadãos honestos. Não creio que os países mais armados tenham menos crimes em função da “dissuasão armada” ou de um suposto efeito Billy the Kid (“eu saco mais rápido quando ameaçado“). Pouca gente compra armas para isso e menos ainda tenta usa-las com esse propósito.
Basta olhar a lista dos países para se convencer disso.
O que acontece é que nesses países ninguém perde tempo e energia perseguindo gente honesta e inventando desculpas para deixar os culpados à solta enquanto nos países onde o desarmamento é levado a sério ocorre exatamente o contrário. Os criminosos ficam “na boa” e os honestos, presos atrás dos seus muros, além dos criminosos ainda têm de aturar a cachorrada que a Globo e cia. atiçam pra cima deles.
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