A maior vitória de Osama Bin Laden
15 de fevereiro de 2022 § Deixe um comentário

No meio da crise mundial do jornalismo uma modalidade escapa do sufoco orçamentário geral e destaca-se, eventualmente, pela qualidade: a das séries-documentários que exploram fatos mais ou menos recentes em profundidade, já com alguma perspectiva histórica.
Um desses é Turning Point: 11/9 e a Guerra contra o Terror da Netflix, lançado no ano passado.
Muito bem montado, ele tem cinco capítulos começando com uns Estados Unidos perplexos, das pessoas comuns nas ruas a Bush Filho e sua entorurage, descobrindo que estavam sendo atacados. E segue com o relato, passo a passo, de como um presidente sem dimensão histórica assistido por maus conselheiros se vai enredando na armadilha, até as guerras do Afeganistão, do Iraque e de novo do Afeganistão.

No fim das contas o que se relata é a vitória de Bin Laden, mesmo morto, pelas interpostas pessoas de Dick Cheney, o motor “ideológico” da derrota moral dos Estados Unidos pela aceitação oficial da tortura que, pela primeira vez, fez “O” estado democrático de direito descer oficialmente do pedestal que o diferenciava, mesmo na guerra, de tudo que a humanidade tinha produzido antes (os “anti” sempre o negaram mas sabiam que era mentira), e Donald Rumsfeld, o impulsionador “escatológio” da encalacrada militar do país, movido por impulsos bem menos republicanos, pondo a perder, ao enfiá-lo na aventura do Iraque, o trabalho até então muito bem feito no Afeganistão que acabou por “justificar” o discurso de Bin Laden para um Oriente Médio hesitante e condenar os Estados Unidos ao vexame que se veio completar somente agora, no primeiro ato do governo Biden.

No meio do caminho, com a operação Stellar Wind, de espionagem de tudo e de todos em escala de “metadados” para evitar novos ataques, o destino promoveu o casamento nefasto entre o pior do capitalismo, latente na genética da internet nascente, e o pior da espionagem, da guerra suja e das técnicas de guerra psicológica adversa apuradas pela National Security Agency (NSA), em sua gigantesca central de Maryland, que resultou no capitalismo de espionagem (surveillance capitalism). Este que transformou a rede mundial na grande armadilha que é hoje e que só pode prosperar com a morte da democracia, ao armar os mega-empresários que decolaram montados nas serpentes dos ovos assim plantados para monopólios de um poder de corrupção sem precedentes na história da humanidade.
Vão se ensaiando, aos poucos, os primeiros movimentos de resistência contra o poder devastador desse monstro, e já ha alguns trabalhos (Privacidade Hackeada, também da Netflix e outros) desse novo modelo de jornalismo cinematográfico arranhando a superfície dos bastidores desse casamento. Mas ainda está por ser feito o trabalho em profundidade que, ao penetrar finalmente nessa alcova, porá a nu esse filho do demônio e iniciará o caminho de volta desse mergulho da humanidade no mais perigoso desvio da causa da civilização que ela jamais enfrentou.

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