VESPEIRO

A Polícia Federal identificou fortes indícios de que Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, extrapolava as fraudes previdenciárias para atuar como lobista em setores sensíveis do governo federal, como o Ministério da Saúde e a Anvisa, utilizando repasses milionários para aliados e possivelmente direcionando recursos a figuras políticas influentes.

Assim como Marcos Valério no escândalo do mensalão, que recebia recursos de estatais como Banco do Brasil e Correios por meio de suas agências de publicidade, simulava empréstimos no Banco Rural e distribuía dinheiro físico para comprar apoio de parlamentares ao governo, ou Alberto Youssef no petrolão da Lava Jato, que criava contratos fictícios de consultoria e importação para lavar propinas de contratos da Petrobras, Eletrobras, obras do PAC e fundos de pensão, o Careca do INSS começa a se revelar um novo operador financeiro da era PT.

No caso atual, tudo converge para a suspeita de que Antunes se consolidou como um “caixa geral” de esquemas de corrupção, usando empresas de fachada para intermediar pagamentos a parlamentares e aliados, com pontas soltas que as investigações ainda precisam conectar de forma definitiva, revela o portal de Claudio Dantas.

Na justificativa para mandados de busca e apreensão contra Roberta Luchsinger na nova fase da Operação Sem Desconto, a PF destacou sua atuação estratégica no Ministério da Saúde e na Anvisa, mesmo recebendo pagamentos diretamente do Careca.

Ela defendeu explicitamente os interesses de dois clientes principais: a World Cannabis, empresa pertencente ao próprio Antunes, e a Duosystem, especializada em telemedicina — um tema de grande relevância para a Secretaria de Informação e Saúde Digital, comandada por Ana Estela Haddad, esposa do ministro Fernando Haddad.

Para ilustrar a proximidade com o alto escalão, há registros de cinco visitas conjuntas de Camilo e Luchsinger a Swedenberger Barbosa, que ocupava o cargo de secretário-executivo da ministra Nísia Trindade até março de 2025.

Além disso, Roberta realizou reuniões fora da agenda oficial com Alexandre Padilha, na época secretário de Relações Institucionais, sugerindo tentativas de influência direta em políticas públicas. ​ Os investigadores apontam que boa parte dos milhões transferidos a Luchsinger teria como destino final seu amigo próximo, Fábio Luís Lula da Silva (Lulinha), filho do presidente Lula.

Um ex-funcionário de Camilo chegou a declarar que Lulinha teria recebido R$ 25 milhões no total, além de uma mesada fixa de R$ 300 mil.

As apurações confirmam esses valores exatos como pagamento por suposta “consultoria”, explicitamente referidos como destinados ao “filho do rapaz”.

Em paralelo, o Careca firmou associação com Danielle Fonteles, uma publicitária ligada ao PT que atuava como operadora em Portugal, responsável por “esquentar” o dinheiro desviado dos aposentados em investimentos imobiliários – ela teria embolsado cerca de R$ 5 milhões para isso.

Não parou por aí: Paulo Boudens, ex-chefe de gabinete e homem de confiança do senador Davi Alcolumbre, recebeu R$ 3 milhões de uma das empresas controladas pelo lobista.

Já o senador Weverton Rocha (PDT-MA), aliado próximo do presidente do Senado, foi alvo recente da PF por suspeita de atuar como sócio oculto nos negócios de Camilo.

Uma agenda apreendida pela Polícia Federal na primeira fase da Operação Sem Desconto, realizada em abril de 2025, traz anotações citando explicitamente “Fábio (filho Lula)”, referindo-se a Fábio Luís Lula da Silva, filho do presidente Lula, ao lado de detalhes sobre credenciais para camarote 309 em show em Brasília e flat no condomínio Brisas do Lago.

A lobista Roberta Luchsinger, amiga próxima de Lulinha e principal elo com Antônio Carlos Camilo Antunes (Careca do INSS), trocou mensagens preocupadas logo após as buscas: “Acharam envelope com nome do nosso amigo”, contendo ingressos, e orientou destruir telefones.

A PF aponta “atuação societária” entre eles desde final de 2024, com contrato de consultoria sem respaldo, R$ 1,5 milhão pagos em cinco parcelas de R$ 300 mil pelo Careca, e discussões para “esquentar” dinheiro de fraudes em aposentados do INSS.​

Decisão do STF autorizou nova fase da operção citando Lulinha três vezes. Lula afirmou que “ninguém ficará livre”, incluindo filhos ou ministros.

Pelo menos cinco investigados da nova fase da Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal na última quinta-feira, tiveram a convocação à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do INSS negada pela base governista, além de Lulinha e Frei Chico, filho e irmão de Lula, respectivamente, que não fizeram parte das buscas da semana passada, mas também foram blindados.

Segundo levantamento do portal Metrópoles, estes são os nomes protegidos por Lula e seus aliados:

Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente da República, ficou de fora do levantamento porque não figurou na operação da PF, assim como Frei Chico, vice-presidente de sindicato investigado por fraudes na Previdência, mas ambos já tiveram pedidos de convocação protocolados negados pela CPMI do INSS.

– Senador Weverton Rocha (PDT-MA), “sócio oculto” do esquema e integrante do “núcleo político que viabilizaria as atividades” do Careca do INSS. Segundo a coluna de Tacio Lorran, o parlamentar “pega carona” no avião particular de Erick Marinho, segundo suplente do senador Efraim Filho (União Brasil-PB), que tem procuração do Careca do INSS para representá-lo como advogado no âmbito da Operação Sem Desconto – na última operação, a PF descobriu que o lobista adquiriu cotas da aeronave. Weverton foi alvo de mandado de busca e apreensão e chegou ter um pedido de prisão pela PF rejeitados pelo STF e a PGR.

– Gustavo Marques Gaspar, ex-assessor parlamentar e braço-direito de Weverton e do político. Preso pela PF. Recebeu R$ 100 mil do Careca do INSS e outros R$ 40 mil de Rubens Oliveira Costa, o homem da mala do lobista, que tem ainda autorização para movimentar e sacar valores das contas de uma de suas empresas. Há revelações dina de que o Careca do INSS mandou vender carro de Marques Gaspar.

– Adroaldo Portal (PDT), ex-secretário-executivo do Ministério da Previdência e ex-secretário do Regime Geral de Previdência Social, exonerado do posto de Número 2 da pasta pouco depois de ser preso pela PF. Foi chefe de gabinete do senador Weverton Rocha. Além de identificar movimentações suspeitas em contas bancárias, a polícia encontrou uma planilha de pagamentos do Careca do INSS que apontam R$ 50 mil para “Adro”, possivelmente Adroaldo. O portal Metrópoles revelou que lobista também bancou camarote para Adroaldo Portal, em novembro de 2023, para assistir ao show, em Brasília, da banda Red Hot Chili Peppers. O ex-número 2 da Previdência também teve encontro com o Careca do INSS fora da agenda oficial, com participação de Gustavo Gaspar. Quando tralhava no gabinete do Senador Weverton, recebeu o Careca do INSS no Congresso Nacional.

– Danielle Miranda Fonteles, ex-publicitária de campanhas do PT e sócia do Careca do INSS em Portugal, representando o lobista em um negócio de cannabis. Está de tornozeleira eletrônica. Segundo a revista Veja, com base em dados do Coaf, ela recebeu R$ 5 milhões do Careca do INSS e, mesmo assim, conseguiu ser blindada por parlamentares do PT.

– Roberta Luchsinger, amiga do Lulinha e de sua mulher, que também teve negócios com o Careca do INSS. Segundo a PF, ela recebeu R$ 1,5 milhão em parcelas de R$ 300 mil do lobista, que chegou a dizer que o dinheiro era para “o filho do rapaz”, possivelmente se referindo ao filho do presidente – que já havia sido acusado por um ex-assessor do Careca do INSS de receber mesada do lobista nessa exata quantia. Herdeira de um banqueiro suíço, Roberta Luchsinger fez lobby no Ministério da Saúde junto ao Careca do INSS – estiveram lá no mesmo dia, representando a mesma empresa. Alvo de busca e apreensão, também vai ser monitorada por tornozeleira eletrônica, proibida de sair do país.

Oito meses após o escândalo revelado pela Operação Sem Desconto, a Advocacia-Geral da União moveu ações judiciais contra oito organizações acusadas de descontos irregulares em aposentadorias do INSS, incluindo a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), associada historicamente ao PT.

Segundo as investigações da PF e CGU, a Contag captou R$ 2 bilhões, o que representa quase metade do total desviado entre 2019 e 2024.

A entidade só foi processada agora, apesar de alertas prévios ignorados pela gestão de Jorge Messias, o Bessias, indicado por Lula ao STF.

As ações atingem também SindaPB, Unidos (Instituto de Longevidade Mongeral Aegon) e Sintapi-CUT, entre outros.

No total, a AGU soma 37 processos, buscando bloquear R$ 6,6 bilhões para ressarcir vítimas, com base em acordos no STF e na Lei Anticorrupção.