História condensada do século 20 na Europa

5 de agosto de 2022 § 2 Comentários

Onde, além do ótimo resumo e da excelente solução gráfica, enxerga-se claramente o “efeito pêndulo”, que é outra das “quase leis” da História…

O lugar vago a que Putin se candidata

26 de janeiro de 2022 § 11 Comentários

Não é de hoje a decepção dos fugidos do totalitarismo com a constatação da negação, pelo Ocidente que seus reformadores admiravam, dos fundamentos da sua própria cultura humanística.

Desde a Queda do Muro, já lá vão 33 anos, eles vêm constatando, com a reiterada surpresa de quem viveu acordado o pesadelo com que os outros estão apenas sonhando, que as trajetórias desses dois lados do mundo andam invertidas, com cada lado caminhando para o lugar que o outro ocupava.

Agora o movimento de “roque”, como no xadrez, está completo. Na visão do ex-chefe da polícia política soviética e presidente eterno da Russia, Vladimir Putin, “neste momento em que o mundo atravessa uma fase de disrrupção estrutural, a importância de um conservadorismo baseado na razão é cada vez mais urgentemente necessário, precisamente porque os riscos e perigos vêm se multiplicando tanto quanto a fragilidade de tudo à nossa volta”(…) 

“Todo poder, se quiser ser grande, tem de apoiar-se num conjunto de ideias que apontem para o futuro. E quando essa ideia se perde, o poder deixa de ser grande ou simplesmente se desintegra. Isso aconteceu com Roma e com a Espanha do século 17. Aconteceu também com a União Soviética quando a idéia do comunismo que a sustentava se perdeu. Ela era falsa, mas estava lá. Isso aconteceu com as potências europeias que ficaram cansadas e abandonaram suas ideias em favor de um pan-europeísmo que ainda os empurrou para frente por um tempo mas também se está esfarelando”.

Vladimir Putin candidata-se ao lugar vago.

Ele acredita que se for capaz de delinear uma ideologia conservadora consistente a Russia pode transformar-se num modelo e num polo de atração não só para os países da antiga União Soviética que têm eleito governos conservadores, como a Hungria e a Polônia, mas até para as forças conservadoras da Europa e dos próprios Estados Unidos.

O liberalismo progressista (que é como a esquerda americana chama a si mesmo) apoia proibições na sua estrutura ideológica. Não está aberto às instituições e políticas que não se alinhem com os seus instintos. Cada vez mais restringe o espaço de manobra dessas correntes, estejam onde estiverem, dos direitos dos pais ao conceito de soberania. É abertamente hostil até mesmo a princípios fundamentais do liberalismo tais como a liberdade de expressão. Tem se voltado até mesmo contra a vontade expressa dos eleitores em eleições e referendos”.

Ironicamente o mundo está prestes a entrar, portanto, numa nova Guerra Fria com papéis invertidos com o Ocidente carregando a bandeira do liberal-progressismo-comunista e a Russia a do conservadorismo.

O Clube de Discussões Valdai é um thinktank criado pelo próprio Putin em 2004, que patrocina anualmente o Forum Econômico Internacional de S. Petersburgo em Vladivostok. 

Seguem, abaixo, extratos do seu discurso na edição de outubro de 2021:

(…) a crise que estamos enfrentando é conceitual e até, mais que isso, civilizatória. Uma crise dos princípios que regem a própria existência humana na Terra (…) vivemos num estado de permanente inconstância, de imprevisibilidade, uma infindável transição (…) enfrentamos mudanças sistemáticas vindas de todas as direções – da cada vez mais complicada condição geofísica do planeta até às mais paradoxais interpretações do que é ser humano e quais as razões de nossa existência”…

“As mudanças climáticas e a degradação ambiental são tão obvias que mesmo as pessoas mais desatentas não podem mais ignorá-las. Alguma coisa tem de ser feita (…) e qualquer desavença geopolítica, científica ou técnica perde o sentido num quadro em que os vencedores não terão água para beber ou ar para respirar (…) nós temos de rever as prioridades de todos os estados”.

(…) o modelo atual de capitalismo não oferece solução para o crescimento da desigualdade (…) em toda a parte, mesmo nos países mais ricos a distribuição desigual da renda está exacerbando as diferenças (…) os países mais atrasados sentem essa diferença agudamente e estão perdendo a esperança de se aproximar dos mais adiantados. E a desesperança engendra as agressões e empurra as pessoas para os extremos” (…) 

“O fato de sociedades inteiras e gente jovem em diversos países ter reagido agressivamente às medidas de combate ao coronavirus mostrou que a pandemia foi só um pretexto: as causas dessa irritabilidade toda são muito mais profundas, e por isso a pandemia transformou-se em mais um fator de divisão em vez de levar à união”.

Mas a pandemia também mostrou claramente que a ordem internacional ainda gira em torno dos estados nacionais (…) as super plataformas digitais não conseguiram usurpar a politica e as funções do Estado (…) pesadas multas começam a ser-lhes impostas e as medidas anti-monopólio estão no forno (…) somente estados soberanos podem responder efetivamente aos desafios do tempo e às demandas dos cidadãos (…) quando as crises verdadeiras se desencadeiam só um valor universal fica de pé, a vida humana. E cada Estado decide, com base em suas habilidades, suas condições, sua cultura e suas tradições, qual a melhor maneira de protege-la”.

O Estado e a sociedade nunca deve responder com radicalismo ou com a destruição de sistemas tradicionais às mudanças de qualidade na tecnologia ou no meio ambiente. É muito mais fácil destruir do que criar. Nós, aqui na Russia, sabemos amargamente disso. Os exemplos da nossa historia nos autorizam a afirmar que as revoluções não são um meio para resolver crises; elas só as agravam. Nenhuma revolução vale o dano que produz nas capacidades humanas”.

Os advogados do auto-proclamado ‘progresso social’ acreditam que estão empurrando a humanidade para um nível de conscientização novo e melhor. Não ha nada de novo nisso. A Russia já esteve lá. Depois da revolução de 1917 os bolchevistas também diziam que iam mudar todos os comportamentos e costumes, a própria noção de moralidade e os fundamentos de uma sociedade saudável. A destruição de valores solidamente estabelecidos e das relações entre as pessoas até o limite da completa destruição da família, o encorajamento para que as pessoas denunciassem seus entes queridos, tudo isso foi saudado como progresso e amplamente festejado mundo afora” (…) 

Olhando o que está acontecendo no Ocidente fico embasbacado de ver de volta as práticas que eu espero que nós tenhamos abandonado para sempre num passado distante. A luta pela igualdade e contra a discriminação transformou-se numa forma agressiva de dogmatismo que beira o absurdo (…) Manifestar-se contra o racismo é uma causa nobre e necessária mas essa nova ‘cultura de cancelamento’ transformou-se numa discriminação reversa que não é mais que racismo pelo avesso. A ênfase obsessiva na raça está dividindo cada vez mais as pessoas (…) o contrário do sonho de Martin Luther King”

O debate em torno dos direitos do homem e da mulher, então, transformou-se numa perfeita fantasmagoria (…) e crianças pequenas, sendo ensinadas à revelia de seus pais, que meninos podem se transformar em meninas e vice-versa sem problema nenhum (…) Com o mundo de disrrupção em disrrupção a importância de um conservadorismo racional é fundamental (…) confiar em tradições testadas pelo tempo, um alinhamento preciso das prioridades, relacionar as necessidades com as possibilidades, estabelecer metas prudentes e, principalmente, rejeitar o extremismo como método (…) Para nós, russos, estes não são postulados especulativos mas lições da nossa trágica história. O custo de experiências sociais doentiamente concebidas é impossível de ser pago. Essas ações não destroem apenas bens materiais mas principalmente os fundamentos espirituais da existência humana, deixando atras de si um naufrágio moral onde nada pode ser reconstruído por muito, muito tempo”.

É claro que ninguém tem receitas prontas. Mas eu me arrisco a dizer que nosso país tem uma vantagem (…) nossa sociedade desenvolveu uma imunidade de rebanho ao extremismo que pavimenta o caminho para a reconstrução depois do cataclismo socioeconômico (…) O nosso é um conservadorismo otimista, que é o que mais importa. Nós acreditamos que o desenvolvimento estável e continuado é possível. Tudo depende estritamente dos nossos próprios esforços”.

Obrigado por sua paciência”.

Para a íntegra do discurso, vá a https://www.memri.org/reports/russias-new-conservative-ideology-counter-liberalism

Invadir e coçar é só começar

11 de março de 2014 § 6 Comentários

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No essencial a humanidade é uma coisa só e reage do mesmo jeito aos mesmos impulsos, seja qual for o tamanho ou a localização da fatia dela que se queira analisar.

Vejam o caso desse titerezinho da Ucrânia. Enfrentado, deixou para traz a “dacha” obscena e, disfarçado e por rotas de fuga previamente mapeadas, recurso de todo e qualquer criminoso desde sempre, correu com o rabo entre as pernas disposto a desaparecer para sempre nas trevas, tomando o cuidado de levar o quanto pode do que roubou do povo da Ucrânia, ladrão que é, e que deve ter sido bastante posto que a profissional que anda com ele, uns 30 anos mais jovem, achou que ainda tinha a ganhar continuando ao lado do velhote.

Amparado por uma autoridade constituída com um poderoso exército nas mãos e disposta a garantir-lhe a impunidade com tanques, aviões e fuzis kalashnikov, ei-lo de volta à luz do sol “agrandado“, arreganhando os dentes para o povo da Ucrânia que o escorraçou e para o mundo que lhe “deu mole.

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Ontem escrevi sobre esse mesmo tema e fui mal compreendido por uma leitora. Mostrava como o crime reflui imediatamente, assim que o Estado lhe opõe resistência, e como faz mal para a nossa segurança e a de nossos filhos e mães ficar tergiversando a esse respeito como se houvesse qualquer dúvida razoável de que tirar criminosos das ruas e mantê-los fora delas é o caminho mais concreto para se reduzir a criminalidade assim como manter o direito de suas vítimas potenciais de se defender de arma na mão reduz a arrogância e a “coragem” desse tipo de covarde.

Viktor Yanukovitch acaba de provar as duas coisas, a primeira com a ajuda de Vladimir Putin e a segunda pelo fato de, graças a ele, poder contar agora com tanques e soldados armados e suas vítimas potenciais não.

Os criminosos dos morros do Rio de Janeiro também já o tinham provado praticamente tomando a cidade quando a autoridade constituída de então, o pai do “socialismo moreno” Leonel Brizola, tirou a polícia dos morros e entregou-os ao crime organizado, e refluindo imediatamente assim que o Estado, 30 anos depois, resolveu finalmente exercer o papel para o qual foi criado e estabelecido.

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A presença e a força do crime organizado, aliás, é inversamente proporcional à quantidade de democracia de que desfruta uma sociedade. Pois democracia não é muito mais que uma série simples de arranjos para por o destino das autoridades constituídas nas mãos do povo de modo a obrigá-las a jogar a favor dele ou perder o cargo e ir se haver com os joaquins barbosas da vida lá na Papuda.

Totalitarismo é precisamente o avesso disso. O extremo oposto. É pôr o destino do povo nas mãos das autoridades que se impuserem pela força de modo a deixá-lo inteiramente dependente delas e obrigado a obedecê-las cegamente ou ir parar num campo de concentração, num manicômio ou simplesmente perder a vida.

Vladimir Putin foi o chefe da polícia secreta encarregada desses fuzilamentos e condenações no mais longevo e violento dos regimes totalitários que a Terra já viu, que é aquele que prevaleceu na Rússia Soviética entre 1917 e 1989 e nas dezenas de países à sua volta que ela invadiu e submeteu pelas armas. O mesmo regime que esse pessoal que nos governa hoje também tentou impor pelas armas ao Brasil.

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Vladimir Putin sempre foi, portanto, um criminoso.

Para piorar as coisas, basta fazer as contas para entender que não existe um único russo vivo hoje que tenha experimentado em casa qualquer coisa que se assemelhe a um Estado de Direito. De lá (1989) para cá, só mudou o discurso, que se tornou mais honesto. O povo já está tão acostumado a viver nas mãos de criminosos que a coisa funciona mais ou menos como nos morros cariocas: os trogloditas de hoje assumem-se tranquilamente como o que são e trabalham aberta e explicitamente, tanto para eliminar fisicamente quem se lhes opõe, quanto para cobrir de ouro quem lhes lambe as botas.

E eles são muitos!

Os equivalentes da antiga “nomenklatura” dos tempos da Rússia totalitária – os funcionários do partido que tinham de desfrutar seus privilégios escondidinhos e só no território nacional – constituem-se hoje na ponta mais exibida e cafajeste do “jet set” internacional e desfila a sua impunidade nos antigos resorts que compunham a crônica do glamour do século 20 que a “comunistas” só era dado cobiçar de longe,  com seus séquitos de prostitutas escandalosas e suas orgias de incineração ostensiva de dinheiro fácil.

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As modernas versões brasileiras desse tipo ancestral são duas: na ponta de baixo, os traficantes dos morros com seus barracos “de luxo” e suas jacuzzis lá no topo, os correntões e os fuzis de ouro e o séquito de “popozudas“; na ponta de cima, os barões do BNDES com seus carrões, seus jatões, seus iatões e suas peruas carregadas de bolsas que custam o preço de casas, disputando esses mesmos resorts com seus concorrentes russos.

Todos dependem igualmente da impunidade garantida pela autoridade constituída sem a qual o crime organizado não sobrevive nem dez minutos.

No Brasil, onde todo mundo já sentiu, aqui e ali, um cheirinho de democracia nos nossos momentos de transição entre extremos que, graças a deus, nunca conseguiram se impor totalmente, a coisa toda pega mais leve porque ainda existe a polícia lidando com a ponta de baixo e o STF tentando lidar com a ponta de cima.

Na Rússia não tem ninguém fazendo força contra. Todo mundo só faz o que o Putin quer.

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Os putins da vida, para resumir, encolhem ou “se agrandam” em arrogância e truculência em função do que faz ou deixa de fazer a “policia do mundo” que são os Estados Unidos e a OTAN.

De modo que é fácil entender o que está acontecendo.

O sinal nas fronteiras a que eles limitavam a sua truculência mudou de vermelho para amarelo quando Barak Obama e a OTAN “arregaram” diante do Irã e sua bomba atômica. Em troca de uma vaga promessa de adiar a explosão eles deram carta branca aos aiatolás para continuar financiando o terrorismo em pelo menos três países do mundo – o Líbano, Israel e o Iraque.

Não bastou. O sinal passou a amarelo piscante quando Barak Obama e a OTAN “arregaram” novamente diante de Bashar Al Assad, o genocida, dando-lhe carta branca para continuar massacrando a população da Síria desde que não seja por envenenamento com gás.

E finalmente ficou verde quando, logo depois dos seus sócios europeus, Barak Obama também anunciou que vai reduzir os gastos militares americanos a níveis anteriores aos da 2a Guerra Mundial, o que quer dizer que quem quiser “se agrandar” que “se agrande” porque não haverá consequências.

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Foi o que fez Valdimir Putin se sentir seguro o suficiente para anunciar que a Rússia (depois da China) vai multiplicar como nunca os seus que passarão a 730 bilhões de dólares até 2020 quando ele espera ter concluído o seu programa de construção de mais de 100 bases aéreas e navais em diversos lugares do mundo, incluindo, entre outros, a Venezuela, Cuba, o Vietnã, a Nicarágua, Seychelles, Singapura e outros. Isso tudo partindo de uma única base fora do país hoje, localizada em Tartus, na Síria de Bashar Al Assad e agora, provavelmente logo, uma também na Criméia ucraniana e talvez mais que isso. E é claro que um empresário do crime como ele não ha de investir 730 bilhões em armas para não usa-las jamais.

E aí, sabe como é: invadir e coçar, é só começar…

Os bandidos do mundo, enfim, sentados em tronos ou não, agem exatamente do mesmo modo que os bandidos dos morros cariocas ou das ruas de São Paulo e do resto do Brasil: “se agrandam” na sua covardia assassina quando o Estado e a polícia omitem-se ou tornam-se seus aliados; fogem com o rabo entre as pernas quando o Estado e a polícia cumprem o seu papel e os enfrentam.

O resto é conversa, em geral de gente mal intencionada, que não tem o menor respaldo nos fatos.

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O jogo dos contrários

29 de novembro de 2013 § 3 Comentários

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Uma coisa que nunca deixa de me incomodar, por mais banalizada e onipresente que esteja a expressão hoje em dia, é esse negócio de “políticas públicas”.

Que política haveria de não ser pública, especialmente em se tratando de governos?

Enfim, é um desses vícios de linguagem que nascem em tribos bem identificadas e acabam por se transformar numa espécie de distintivo delas. No caso, trata-se da militância do PT. A expressão “políticas públicas”, sobretudo quando dita entre “cicios”, identifica um militante do PT com mais precisão que a estrela vermelha pespegada ao peito.

Mas aí comecei a dar-me conta de que uma grande parte das políticas do PT de fato não são políticas voltadas para o bem público, são políticas de aparelhamento de instrumentos e de próprios do Estado para colocá-los a serviço do projeto de poder do partido, quase sempre em detrimento do interesse público.

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Ocorreu-me, então, que a expressão pode ter tido origem em figuras admiradas por seus imitadores de hoje que enxergavam com toda a clareza a distinção entre essas duas formas de operar que os mais ingênuos não vêm – as políticas “nossas” (para anabolizar o partido) e as “políticas públicas” (pata atrair eleitores e o mais) – e que a tropa simplesmente a repete agora possivelmente sem ter muita consciência do seu sentido original.

A hipótese se encaixa perfeitamente numa tradição de que as atuais gerações estão distantes mas que marcou indelevelmente a minha.

Hoje eles já são pacificamente tidos como “heróis da democracia” neste país que honra Antonio Granmsci. Mas nos anos 60, 70 e 80 quando ainda se afirmavam clara e orgulhosamente como “ditaduras do proletariado” e fuzilavam sumariamente quem discordasse delas esse pessoal já tinha consciência de que o peso desses crimes acabaria por se voltar contra eles.

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Assim é que, embora na ação fossem explícitos e inequívocos na afirmação da sua obsessão pelo controle “total” dos pensamentos, palavras e obras alheias (daí o “totalitário”) assim como da sua absoluta intolerância para com qualquer forma de dissidência, por tênue e pacífica que fosse, eles passaram a se especializar num meticuloso trabalho de subversão conceitual e linguística que George Orwell, no seu clássico “1984”, imortalizou como a “novilíngua”.

Conscientes de que democracia já era, desde pelo menos o fim da 2a Guerra Mundial, um valor universalmente aceito e adotado como o objetivo a ser conquistado pela maior parte da humanidade, mesmo a parcela dela que não sabia então e continua não sabendo até hoje exatamente como defini-la nem, muito menos, como estruturá-la institucionalmente falando, esses inimigos jurados da democracia passaram a trabalhar para se apropriar das expressões que historicamente a definiam.

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Tudo, então, passou a ser designado como o contrário do que era. Enquanto as verdadeiras democracias, que eles qualificavam naquela altura de “burguesas” e tentavam matar a tiros e explosões, chamavam-se, anodinamente, “Estados Unidos da América”, “Japão” ou “Canadá”, as mais sanguinárias ditaduras, às vezes instaladas em países cercados por muralhas, controlados por elites que não apeavam nunca do poder, em que qualquer expressão de dissidência resultava no fuzilamento sumário com um tiro na nuca aplicado em um porão, a perseguição e o confinamento de toda a descendência do condenado e até o apagamento de todos os traços de sua passagem pela Terra inclusive em fotografias, eram todas batizadas de “Republicas Populares Democráticas”.

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Havia a da Alemanha (Oriental), cercada de muros com ninhos de metralhadoras apontadas não para a porta de entrada, que vivia às moscas, mas para a de saída, que era disputada mesmo à custa de sangue, havia a do Campuchea (Cambodja), onde um terço da população foi exterminada, havia as “Repúblicas Socialistas Soviéticas“, “unidas” por implacáveis exércitos de ocupação estrangeiros que enfrentavam passeatas com tanques de guerra, e por aí a coisa ia com milhões de pessoas assassinadas e de prisioneiros submetidos à fome e ao trabalho escravo em intermináveis “arquipélagos” de campos de concentração.

Não eram repúblicas, não eram populares e não eram democráticas. Fuzilavam todo e qualquer homem, mulher ou criança que agisse como se estivesse em uma, sempre sob os aplausos entusiasmados dos “guerrilheiros” que lutavam explicitamente, com armas e com bombas, para por o Brasil sob esse mesmo tipo de regime. Mas faziam questão absoluta de ser chamados assim…

Para os nativos do Terceiro Milênio tudo isso parece distante como a Idade Média. Mas aconteceu, foi “ontem” e eu estava lá, como tanta gente que mora hoje em nossos palácios…

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Esse negócio de “políticas públicas” não passa de um restolho temporão desse culto à subversão semântica e conceitual que tão bem caracterizou aqueles anos.

A distribuição maciça de benesses e pequenas esmolas eleitorais; a oferta de homens vestidos de branco mas sem diploma quando faltam médicos; as desonerações pontuais em setores da produção com repercussão rápida nos sonhos de consumo das classes mais resistentes ao partido; o controle do preço de insumos básicos para melhorar estatísticas ou a distribuição de mão em mão de “remédios” que viciam a título de cura da miséria são, todos eles, expedientes que, segundo o jargão do militante, constituem as tais “políticas públicas” do PT. Mas o que se pretende obter com elas, evidentemente, não é reforçar o regime representativo, nem melhorar a saúde pública, nem aumentar a competitividade da indústria nacional, nem acabar definitivamente com a miséria.

Segue com tudo o velho jogo dos contrários…

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