Defenda-se! É amanhã ou nunca!

12 de março de 2016 § 35 Comentários

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Artigo para O Estado de S. Paulo de 12/3/2016

Poucas coisas podem ser mais traumáticas e perigosas que o impeachment de um presidente da Republica no meio de uma grande crise econômica. Este governo que se propõe o papel de valhacouto de foragidos é uma. Fez as coisas de tal maneira que continuar com ele é morte certa. Diante dessa perspectiva a incerteza, ainda que tão ampla que dá vertigem, é o melhor dos mundos.

A cada minuto que passa aumenta a pena retroativa a trabalhos forçados a que o lulismo condenou cada brasileiro. Ja regredimos pelo menos 10 anos e o relógio continua correndo para trás cada vez mais aceleradamente. A catástrofe que atingiu o nosso fragilíssimo ecossistema institucional é de proporções ambientais. Nada nele escapou a estes 13 anos de derrame de lama e só ao longo das próximas décadas se poderá medir todos os efeitos do desastre. Desde já é certo, como comprova a decisão de anteontem do STF de, em plena tempestade, não apenas libertar condenados mas “perdoar” todo o Mensalão que o decano de seus ministros descreveu como “um ataque doloso e sistemático de uma quadrilha organizada com o propósito de destruir os fundamentos da democracia, da Republica e do estado de direito“, que será tão dificil reconstituir a democracia no Brasil depois do PT quanto as condições do Rio Doce de voltar a sustentar a vida depois da Samarco.

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O mundo viu isso cem vezes no último século do milênio passado. A especialidade desse “esquerdismo” corrosivo morto em toda a parte menos aqui de que o bandalho-sindicalismo brasileiro se apropriou sempre foi transformar em verdadeiros os seus diagnósticos mais falsos. Fomenta o ódio de classes até torná-las irreconciliáveis como dizia que eram “seus interesses” quando reinava a paz; insufla o racismo e a intolerância com a diferença até transformá-los em sangue para provar que “estavam apenas ocultos“; incendeia o campo para destruir a agricultura e comprovar que ha “ociosidade da terra“; semeia insidiosamente os privilégios que falseiam a livre competição para imputar ao mercado e às “contradições do capitalismo” a vitória do desmerecimento. Corrompe sistematicamente as instituições democráticas para denunciar a “democracia burguesa” como “intrinsecamente corrupta“; instila na imprensa ondas especulativas carregadas de vitríolo contra tudo e contra todos para, chegada a sua vez, poder posar de vítima; atiça tribunais uns contra os outros para exacerbar ânimos e forçar erros de modo a “provar” que não ha justiça isenta.

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As gerações se sucedem rápido neste país sem memória, mas não é verdade que tem sido sempre assim. O Brasil está irreconhecivel! Tudo que tocam esses Midas pelo avesso entra em decomposição. Mas seu objetivo sempre foi claro e confesso. Tem sido uma longa jornada mas não houve um unico desvio. São de 1990 tanto o Foro de São Paulo, criado para reorganizar a esquerda latino-americana batida pela execrada prosperidade promovida pelos governos “neoliberais” do continente, quanto a eleição do aparelhamento dos fundos de pensão das estatais, o maior volume de dinheiro entesourado existente no país como Luis Gushiken, da esquerda ilustrada trotskista fez ver à esquerda tosca do bandalho-sindicalismo, como um instrumento para a tomada do poder.

Não ha registro das minúcias do parto da decisão por essa troca de armamento mas a idéia de que com dinheiro toma-se mais facilmente o poder que com balas é, claramente, o acrescentamento que o bandalho-sindicalismo que sempre usou esse recurso para instalar-se e manter-se em suas sinecuras, embalado pela ascensão fulminante do capitalismo-de-estado chinês, aportou ao receituário de Gramsci para atirar-se a voos mais altos e trazer as coisas até onde vieram.

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Corre em paralelo, na mesma época, o investimento no controle dos sindicatos do setor financeiro com os quais institui-se a “PT-Pol” (de “polícia”, hoje substituida pela Receita Federal com seus supercomputadores liberados para agir à revelia do Judiciário), entidade bem conhecida das redações que desde aquela época começam, por meio dela, a “ter acesso” aos pormenores da vida dos inimigos do partido nos momentos em que tais expedientes se faziam mais uteis.

Estavam postos os ingredientes essenciais do presente desastre.

Em meados dos anos 90, já com farta colheita de prefeituras, estoura o primeiro escândalo do PT no poder denunciado pelo “quadro” histórico Paulo de Tarso Venceslau, em tudo, menos pelas proporções, idêntico aos de hoje: um esquema de cooptação de empresários venais que pagavam impostos municipais “a mais”, contratavam a consultoria CPEM de Roberto Teixeira compadre de Lula e dono do apartamento onde ele mora até hoje, que “descobria o erro” e abria os cofres das prefeituras para “devolver a diferença” ao empresário amigo com posterior “rachuncho” excluídos do qual ficavam as vítimas de sempre: o povo, especialmente a parcela mais dependente da assistência do estado, esta que quanto mais empobrecida pela corrupção mais exposta ao “pai dos pobres” fica.

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Dois anos tentando em vão denunciar a falcatrua a Lula, e o ingênuo Paulo de Tarso convence-se da verdade, vai ao Jornal da Tarde e denuncia a roubalheira. “Estarrecidos” os petistas montam uma comissão de investigação chefiada por Jose Eduardo Cardoso que, verde ainda, leva-a longe o bastante para que todos os narizes se voltem para Lula, de onde emanava o mau cheiro.

E então … golpe! Paulo de Tarso é que é expulso do partido enquanto José Eduardo cai no ostracismo até que Dilma o arranque de lá.

Desde então tem sido só mais do mesmo. Só que muuuito mais do mesmo. O Congresso Nacional foi dissolvido em dinheiro. Não ha mais uma Justiça Brasileira; ha uma “Justiça de Curitiba” e a outra. A economia está em estado de coma e jamais será reanimada à força, nem de muque, nem de novas tapeações. É preciso reabrir a possibilidade da democracia, da vitória do direito, da reconciliação nacional.

Defenda-se! Defenda seus filhos! Defenda o Brasil!

Não haverá outra chance. É amanhã ou nunca!

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A “Conexão Portuguesa” e o homem que “desvirginou” o PT

11 de dezembro de 2012 § 3 Comentários

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Vale a pena refrescar a memória dos mais jovens a respeito das ameaças veladas de Marcos Valério no depoimento ao Ministério Público reconfirmado hoje por O Estado de S. Paulo.

Ao mencionar Paulo Okamoto, protagonista da primeira história a sujar o PT de lama, Ronan Maria Pinto, o “Rei do Lixo“, que estava no olho do furacão que desaguou no assassinato de Celso Daniel e a “Conexão Portuguesa” do Mensalão, ele resume a história da “queda” do PT da posição de vestal solitária da ética na política brasileira para a de campeão incontestável das “malfeitorias” do nosso riquíssimo repertório nesse tema, sinalizando que pode vir a desenterrar cadáveres muito incômodos.

Em todos esses episódios, o centro da corrupção estava colado na pessoa de Lula.

A “Conexão Portuguesa” do Mensalão, que punha Lula, Marcos Valério, José Dirceu e banqueiros portugueses na mesma sala em pelo menos duas reuniões oficialmente confirmadas pelas agendas da Casa Civil e da Presidência da República foi o estopim de todo o escândalo e foi revelada por Roberto Jefferson em pessoa.

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Os detalhes, saborosíssimos, foram minuciosamente reconstituídos aqui no Vespeiro em junho de 2010 no contexto de um segundo desdobramento das relações perigosas entre José Dirceu, o Banco Espírito Santo e a Portugal Telecom, antiga dona da Vivo, que foi o lançamento do jornal Brasil Econômico, onde trabalha a mulher do ex-ministro, parte de um plano que visava horizontes muito mais amplos que os pretendidos pelo Mensalão.

A história dessa quarta conspiração começa neste link.

A do homem que “desvirginou” o PT e o que isso tem a ver com Dilma Rousseff e com o atual ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, eu relembro logo a seguir. A da “Conexão Portuguesa” do Mensalão é a que eu reproduzo abaixo com o mesmo título com que foi publicada ha dois anos e meio neste blog. A de Ronan Maria Pinto/Celso Daniel fico devendo para outro dia.

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Velhas amizades

O Banco Espírito Santo (BES), de Portugal, foi acusado pelo deputado Roberto Jefferson de ser o pivô de uma fracassada operação para resolver parte das dívidas de campanha do PT e do PTB. Este ultimo partido era, na época, o “dono” do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), dirigido por Lídio Duarte, indicado pelo próprio Jefferson. O plano era transferir para o BES US$ 600 milhões de reservas técnicas do IRB aplicados em outros bancos europeus, contra o pagamento de uma “comissão” de R$ 50 milhões com os quais o PT saldaria dívidas de campanha com o PTB. Segundo Jefferson, a operação tinha sido combinada entre Dirceu e o diretor do BES no Brasil, Ricardo Espírito Santo, em encontros articulados, no Brasil e em Portugal, por Marcos Valério.

Jefferson foi mais longe: disse que até o presidente Lula tinha recebido  Ricardo Espírito Santo e Miguel Horta e Costa (na foto abaixo da de Valério), na época presidente da Portugal Telecom, em Palácio, levados a ele por Marcos Valério em pessoa.

Foi, naturalmente, desmentido por todos os acusados.

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Acontece que o “Mensalão” estava no início e o governo Lula ainda não tinha o know-how que tem hoje. Checadas as agendas nos sites oficiais da Presidência e da Casa Civil, tudo se confirmou. Lula tinha recebido Horta e Costa, Espírito Santo,  Valério e Dirceu em duas ocasiões: 21 de janeiro de 2003 e 19 de outubro de 2004.

Instaurou-se o pânico entre os executivos do banco, apavorados com a perspectiva de se verem transformados no elo de ligação que faltava entre Lula em pessoa e o “Mensalão”.

Nos dias que se seguiram, notas oficiais coordenadas foram disparadas pelo Palácio do Planalto, pela Casa Civil e pelo Banco Espírito Santo onde todos admitiam o que era impossível negar, mas alegando que o que tinha sido tratado no encontro foram apenas os investimentos da Portugal Telecom no Brasil.

O banco e a Portugal Telecom continuavam negando, entretanto, os outros encontros mais recentes nos quais, segundo Jefferson, teria sido articulada a operação envolvendo o IRB. Novamente as agendas oficiais, desta vez a da Casa Civil, provaram que ele estava dizendo a verdade, e todos tiveram que reformular suas histórias.

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Sim, tinha havido uma reunião na Casa Civil com a presença de Ricardo Espírito Santo, Jose Dirceu, Marcos Valério e Emerson Palmieiri, tesoureiro do PTB, em 11 de janeiro de 2005. Treze dias depois, Valério, Palmieri e Dirceu seguiram para Lisboa onde, segundo Jefferson, iriam fechar o negócio envolvendo o IRB.

Desmentido pelas agendas oficiais, Ricardo Espírito Santo viu-se em maus lençóis. Convidado a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito não conseguia esconder sua irritação: “Não precisamos de intermediários … investimos mais de 7 bilhões de euros no Brasil … O encontro com o ministro Dirceu foi uma reunião de apresentação … De onde conheço Valério? Sei lá como conheci Valério! Foi em contatos sociais…”

A notícia, obviamente, teve intensa repercussão em Portugal de onde veio nova e contundente menção ao nome do presidente Lula relacionado às relações perigosas entre Valério, Dirceu, o BES e a Portugal Telecom.

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A mesma agenda publicada no site da Casa Civil registrava outra viagem anterior de Dirceu e Valério a Lisboa, a 7 de junho de 2004, em que participaram de um jantar com o presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa. Apertado, Valério emitiu nota confirmando esse encontro e acrescentando que, na mesma viagem tinha visitado o então ministro de Obras e Comunicações do governo Antonio Guterres, do Partido Socialista, Antonio Mexia, que lhe tinha sido apresentado por Horta e Costa. E, o que é pior, três semanas antes da revelação entrar no foco dos investigadores brasileiros,  o ministro Mexia, numa entrevista ao jornal Expresso, de Lisboa, afirmara, desastradamente, que tinha recebido Valério “na qualidade de consultor do presidente do Brasil”.

Seguiu-se nova bateria de desmentidos e novo realinhamento do discurso de todos os envolvidos. Valério, confirmado pelo ministro português, passou a dizer que suas tratativas em Portugal visavam manter em sua agencia a conta publicitária da Telemig cuja compra estaria sendo negociada pela Portugal Telecom. E disse mais: que Palmieri, o tesoureiro do PTB, seria apenas “um amigo pessoal” que só o acompanhou naquela viagem porque “andava estressado” e precisava espairecer (porque tinha dado um flagrante de traição e se separara da mulher).

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Investigações subseqüentes indicam  que os dois movimentos aconteceram ao mesmo tempo. Valério estava mesmo intermediando a negociação entre a Portugal Telecom e a Telemig, exibindo como credencial o seu acesso privilegiado à Casa Civil. Os contatos que fez em Portugal o colocaram na posição ideal para intermediar, mais adiante, a solução imaginada para as dividas de campanha do PT com o PTB através do “esquema IRB”.

Valério, aliás,  já tinha prestado serviços anteriores à Portugal Telecom, influenciando, com ajuda de Dirceu, a decisão da Anatel de manter a divisão de tarifas nas ligações entre telefones fixos e celulares. Pelas regras de 1998, de cada real gasto nas ligações entre aparelhos celulares e fixos, os primeiros ficavam com a maior parte. Sendo a Vivo a única das grandes teles a só operar com celulares, ela é quem mais ganha com essa decisão.

No julgamento em que José Dirceu teve seu mandato cassado, só duas testemunhas de defesa concordaram em depor a seu favor: o presidente do Banco Espírito Santo no Brasil, Ricardo Espírito Santo, e o escritor Fernando Morais.

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O homem que “desvirginou” o PT

Esta eu faço questão de lembrar não apenas para a geração que confia na Wikipédia que, no verbete “Paulo de Tarso Venceslau” não faz a mais leve menção ao episódio que o tornou um homem tristemente célebre, como também para fazer justiça à presidente Dilma.

Foi ele quem, nos idos de 1993, “desvirginou” o PT ao denunciar ao jornal da tarde, de São Pauloo esquema de desvio de dinheiro das prefeituras ocupadas pelo partido que, até então, era tido como um solitário “paladino da ética”  no cenário desolado da política brasileira.

Paulo de Tarso Venceslau, ex-guerilheiro e fundador do PT, era secretário de Finanças da prefeitura de São José dos Campos e descobriu a falcatrua, que envolvia todas as prefeituras ocupadas pelo PT e era centralizada nas mãos de Roberto Teixeira, o “compadre” de Lula e proprietário do apartamento em que o ex-presidente mora ate hoje, e do seu fiel escudeiro Paulo Okamoto, então Tesoureiro do PT, o mesmo que Valério diz tê-lo ameaçado mais recentemente de morte.

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Durante quase dois anos Paulo de Tarso Venceslau correu atras de Lula para contar-lhe o que tinha descoberto mas ele dava sempre um jeito de evita-lo. Finalmente, convencido da conivência dele com os “malfeitores“, foi ao jornal da tarde e denunciou o que estava acontecendo.

Foi uma bomba! Era a primeira vez que o partido que vivia com o dedo na cara de todo mundo foi pego em flagrante de vasta “malfeitoria“.

Cabe lembrar, a propósito, que o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, integrou a comissão especial criada pela Executiva Nacional do PT para investigar o caso. Àquela altura um bom numero dos militantes e dos fãs do partido realmente acreditava que ele não era o que desde então provou ser.

Ao lado do então deputado, jurista e ex-jornalista Hélio Bicudo, que deixou o PT após o escândalo do Mensalão, em 2005, Cardozo concluiu em seu relatório que tanto o compadre de Lula, Roberto Teixeira (na foto abaixo) como o irmão deste atuaram dolosamente para desviar o dinheiro das prefeituras controladas pelo partido através da empresa CPEM com a qual “prestavam assessoria” às prefeituras petistas, e que este “Atuou com evidente abuso da confiança de que desfrutava no partido em face da notória relação de amizade que mantém com o presidente de honra do PT”.

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Essa menção ao fato de que Lula em pessoa tinha credenciado seu compadre a insinuar-se às administrações do partido para montar um esquema de corrupção que, desde então, tornou-se recorrente em todos os escândalos em que o partido se envolveu foi, àquela altura, de uma ousadia quase impensável.

Lula, como sempre, negou que soubesse de qualquer coisa e acabou sendo inocentado na sindicância, acuada sob intensa pressão da tropa de choque do segmento mais profissional da militância petista.

Paulo de Tarso Venceslau foi expulso do partido sob a acusação de que “ao se dirigir à imprensa, empregou adjetivos que desqualificaram Lula e outros dirigentes petistas” e esse resultado definiu para sempre o modo de agir em face de flagrantes e denuncias que o partido mantém até hoje.

Mas Lula nunca mais perdoaria Cardozo por ter tomado seu santo nome em vão.

Quando Tarso Genro deixou a pasta da Justiça para concorrer ao governo do Rio Grande do Sul, com Lula ainda na presidência, ele próprio indicou Cardozo como seu sucessor. Dilma Rousseff, então na casa Civil, apoiou a indicação mas Lula manteve-se inflexível: era contra. E Nelson Jobim acabou ocupando a pasta.

Ao se tornar presidente, Dilma convocou Cardozo e o impôs a Lula, razão pela qual ele é considerado o primeiro e único dos ministros de sua livre escolha no ministério com o qual iniciou seu governo, naqueles longínquos tempos antes de aposentar a vassoura da tal da faxina…

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