“Conduzir”, e não “ser conduzido”

13 de novembro de 2014 § 35 Comentários

a6

Martha pulou do navio. Madame alimenta ambições que vão além do que ela acha que vai durar o PT de Dilma.

Ontem Gilberto Carvalho era quem tinha ido nadar, jogando pedras pra tras: “ela não ouve ninguém; não atende os meus movimentos sociais” e tal e coisa…

O PMDB das trevas ainda está quieto porque Michael Temer, com aquela “cara de mordomo de flme de terror”, como dizia ACM, é o próximo da fila. Mas no fogo cruzado da Polícia Federal, da polícia financeira (SEC) e do Department of Justice americanos , da Price Waterhouse, do governo da Holanda e dos delatores premiados da máfia da Petrobras não deve sobrar muita coisa dele.

Já o PMDB de sempre, com a sua imortal vocação de alarme de furacão, ha tempos que vaga pelo terreiro dando-se ares de rebeldia enquanto procura localizar onde, afinal, se vai instalar a sombra onde ele ha de amarrar seu burro.

Ontem saiu a conta do desemprego na industria pelo sexto mes consecutivo. É uma desolação. O país está parado; os telefones não tocam. São Paulo está em frangalhos. Minas está sêca. O Rio Grande ficou pequeno. O São Francisco secou. Passada a eleição ficamos sabendo que a culpa não é do Alkmin. O Rio também está à beira da sede. E, novembro a meio, não chove. Ninguém colhe nada; ninguém planta nada. O agronegócio que vinha salvando a pátria debaixo de chutes vai, finalmente, minguar junto com a produção de energia como sempre sonhou o PT venezuelista.

a8

O mar vai virar sertão e o sertão vai virar mar!

Não tem produção e não tem preço. É a ressaca das commodities. O Brasil fica mais caro e o mundo fica mais barato. O petróleo baixou dos US$ 90 e continua caindo. O diesel e a energia sobem na contramão. Lá se vão os royalties dos estados. Lá se vai a “salvação da educação”.

Contas públicas? Você sabe: uma vez dentro do Estado, neste brasilzão dos miseráveis, ninguém te tira mais de lá. Ali “afasta-se” ou “aposenta-se” mas não se corta nunca. Nem ladrão flagrado perde a teta. A “companheirada” se refestelou por cima da gordura que já tinha e mais uma fatia do que era nosso tornou-se deles até que a morte nos separe. Aliás, nem ela porque ficam as pensões. “Acertar as contas”, agora, só pelos esquemas do dr. Mantega. Só que chamar deficit oficialmente de superavit como dona Dilma está pedindo que a deixem fazer sem ir pra cadeia, se serve pra enganar eleitor morto de fome durante dois ou tres meses de campanha, não põe comida no prato deles pelos próximos quatro anos.

O trem tá tão ruim que o nosso herói sem nenhum caráter já começou a treinar nó em pingo d’água. Na reta final, fez o “inimaginável” para reeleger o PT e evitar o que poderia vir a ser a explosão final da superlotação dos presídios brasileiros. Virou o estômago de metade do país mas aprumou “o poste“. Ato contínuo tratou de nomear candidatos ao ministério da Fazenda. Não que acredite que alguém pode consertar o inconsertável. Mas é que se não emplacarem, como é provável que não emplaquem posto que dona Dilma não convive por mais de duas reuniões com quem é capaz de dizer mais que “sim senhora”, melhora a desculpa dele para se declarar “na oposição” à sua própria obra.

a9

É só questão de tempo até que ele desponte como “o principal opositor de Dilma Roussef” para resgatar sua recandidatura dos escombros de 16 anos de PT. Se bobear, quando 2018 chegar a Dilma já terá virado uma cria do Fernando Henrique que o Lula combateu desde criancinha…

Agora, os 48,12% que abram o olho.

Eu penso o que eu quiser, do jeito que eu quiser, e tenho direito de afirmar isso”. Foi bonito pra geração que sabe o peso que já teve um “quiéquiéisso companheiro” ver o país perder o medo do PT. Aquela bilis toda do Lula afinal serviu pra alguma coisa de útil. A internet rompeu o cerco da mídia, a classe artística antecipou a rebelião contra os “intelectuais orgânicos” e o resto veio no arrasto. Quer dizer, “antecipou” pela esquerda, ou melhor, pela esquerda honesta, com aqueles 20 ou 30 anos de atraso regulamentares em relação às cabeças ideologicamente despoluidas.

Tá bom, vá lá: antes tarde do que nunca. É preciso mesmo mais coragem para reconhecer um erro que para confirmar um acerto, especialmente pra quem misturou, um dia, política com paixão. Mas de qualquer jeito esse amadurecimento reacende até as esperanças de que esse grito de libertação venha, um dia, a descer às nossas escolas. Devolver as nossas escolas ao império da dúvida, irmã da tolerância e mãe do conhecimento, será o marco da entrada do Brasil no Terceiro Milênio. Mas temo que isso só venha a acontecer depois da desgraça consumada porque lá é que está o núcleo duro da doença. Ao fim da tempestade eles serão escorraçados depois de se terem recusado a sair digna e espontaneamente.

a12

Até lá teremos de suar quatro anos apenas para não andar para trás também do ponto de vista institucional, em meio à borrasca da violenta volta atrás em termos materiais que é esta que está começando a tomar embalo.

A eleição apertada esfria as possibilidades imediatas mas o desastre econômico que vem vindo reacenderá os ânimos do PT golpista. Vai virar sexo explícito. Questão de sobrevivência. Todas as armas – as permitidas e as proibidas, as lícitas e as ilícitas, as palatáveis e as infames – vão ser usadas mais que nunca para manter o PT a salvo da exposição ao sol que seca os fungos da mentira e do parasitismo.

Quem terá de correr pra amarrar o que lhe caiu no colo na refrega eleitoral será a oposição.

Mas para isso é preciso, antes de mais nada, entender uma coisa: enquanto for pra partir pra luta confirmando todo e qualquer lance do adversário o país seguirá optando por quem der mais, ainda que tanto a ponta comprada quanto a ponta vendida estejam carecas de saber que o Brasil não desentorta com salário sem trabalho, com direitos sem deveres, com estatais de roubar, com um Estado balofo, sem o império da lei. Quem está vivo sabe como o privilégio corrói e onde vão parar os estroinas. É o tipo de conhecimento que não requer prática nem tampouco habilidade.

Só o que está faltando é esse conhecimento, que é de todos nós, ser franca e abertamente verbalizado.

Aécio Neves quase alcançou o eleitorado que corria à sua frente. Mas o Brasil não desentorta sem alguém que corra na frente, sem alguém que empunhe a bandeira, sem alguém que diga tudo, sem alguém que se faça seguir.

a3

Um país sem pauta

6 de maio de 2014 § 5 Comentários

a6

A medida em que a campanha se vai instalando fica mais clara a crise de oferta que afeta o nosso mercado eleitoral: nenhuma candidatura cresce mais que a descrença do brasileiro na política.

Em março de 2013, auge da popularidade de Dilma, 53% dos eleitores declaravam preferência por algum partido. Passados 14 meses só 30% registra simpatia por qualquer agremiação – 17% ainda pelo PT, refletindo, provavelmente, o numero exato dos seus “dependentes diretos” o que não inclui nem a multidão toda dos “embolsados”. Cabe aí pouco mais que a militância, o funcionalismo público e o batalhão dos cúmplices e dos co-saqueadores organizados.

66% dos brasileiros faz questão de declarar que tem horror a todos os 30 e tantos partidos existentes e 20% do total do eleitorado diz que vai anular seu voto ou votar em branco para presidente.

a12

Quer dizer, congelou-se aquele “Não nos representa” de um ano atrás. Mesmo varrido das ruas pelos black blocs amestrados que as ocuparam com essa missão explícita – não me venham com aquela de “estética da violência” que aparece e some segundo as conveniências! – mesmo varrido das ruas, dizia, esse clamor negativo nem foi apagado da cabeça dos eleitores nem, o que é muito mais dolorido, gerou qualquer discurso novo que se candidatasse a preencher esse vazio.

Ao contrário, quando têm uma oportunidade de se dirigir ao eleitorado a preocupação mais visível dos dois “candidatos de oposição” é a de não atacar de frente nenhum dos “expedientes” a que o governo que colhe toda essa rejeição tudo reduz: comprar cumplicidades de um lado, comprar votos do outro.

Seguimos todos reféns desse assistencialismo bandido que está matando a moral e a democracia nacionais. Sempre foi esse o perigo desse tipo de veneno, aliás. Teta dada só se recolhe com revoluções. No rumo em que vai a coisa a “Carta aos Brasileiros” versão 2014 corre o risco de ser um compromisso formal de cada uma das candidaturas de oposição com a eternização da destilação desse vitríolo…

a12

Mas a coisa toda é menos simples do que parece.

Uma campanha eleitoral é sempre um exercício didático; um debate entre diferentes projeções de futuro. Ou, melhor dizendo, o último ato de um debate entre diferentes projeções de futuro que, a menos de seis meses da decisão, já deveriam estar suficientemente decompostas e mastigadas para serem facilmente entendidas pelo público.

É para isso que existem os outros três poderes da Republica – Legislativo, Judiciário e Imprensa – encarregados, além de fiscalizar o Executivo e impor a lei, de debater alternativas ao longo dos percursos entre eleições.

Ocorre que, como sabemos, o Legislativo é um poder virtualmente anulado entre nós.

a12

O Judiciário cumpriu a sua parte ao montar a primeira – e competentíssima! – crônica das minúcias da conspiração petista para anular o Legislativo mediante uma vasta operação de corrupção como primeiro passo de um plano para eliminar a divisão dos poderes, fundamento básico da Republica, com o objetivo final de impor um regime que não tem a alternância dos partidos no poder em seu horizonte como todos com os quais o PT ostensivamente se alia no plano internacional, e mandar para a prisão os golpista contra os quais teve condições de reunir provas.

Confirmando a própria tese afirmada no julgamento do Mensalão, o Judiciário foi, no entanto, o alvo seguinte da conspiração, acabando por ser emasculado no correr do processo sucessório dos juízes do Supremo Tribunal Federal usado explicitamente para submeter a instituição às ordens do Executivo.

a12À imprensa caberia a tarefa de decompor em seus pormenores os outros elementos menos imediatamente visíveis da conspiração petista de modo a ajudar a população a enxergá-los, obrigar os políticos a discuti-los e, pela iluminação de tais focos de atenção, contribuir para fazer esse debate descer do nível conceitual que já tinha sido esgotado no julgamento do Mensalão, para as suas outras frentes mais diretamente ligadas ao dia a dia dos cidadãos.

Mas ao se deixar pautar quase que exclusivamente pelas ações do governo e das facções em luta pelo poder dentro e em volta dele entregando-se sem resistir ao papel de plataforma de arremesso dos dossiês a que uns ou os outros “dão-lhe acesso” para alvejarem-se mutuamente, a imprensa abandonou, seja a função propositiva para a qual está legitimada como agente institucional do sistema republicano, seja a função inquisitiva que é da essência da sua natureza. Abandonou-se de forma tão completa ao fascínio do denuncismo fácil que deixou de lado todo o resto.

a12A tal ponto que tornou-se usual, por exemplo, que as mais altas figuras deste governo não só abandonassem por completo a pratica do briefing sistemático para a imprensa obrigatório em todas as democracias do mundo sem que ela se queixasse como, mais que isso, passassem a dirigir-se ao grande público exclusivamente pelos canais unidirecionais das redes obrigatórias de radio e TV ou pela sua própria “imprensa particular”, convocando patéticas reuniões fechadas com os “blogueiros do tio Franklin” para fazer comunicados à Nação.

A campanha eleitoral tem girado apenas em torno dos expedientes e do discurso do PT, portanto, porque para além do tiroteio de dossiês e das matérias de opinião da grande imprensa eles são os únicos que estão “postos” na forma de reportagens e relatos pormenorizados feitos em geral por competentes agências de publicidade.

Por aí começa-se a entender o vazio de propostas concretas e pontuais que possam diferenciar mais nitidamente os candidatos entre si nesta campanha.

a12A verdade, dados os filtros negativos que bloqueiam os acessos às instituições “de dentro” do sistema, é que só da imprensa é que pode emanar uma pauta positiva para a Nação.

Mas também ela não se tem mostrado à altura do desafio.

O país sabe vagamente que todo o poder foi sendo centralizado na presidência mas não tem clara a tradução concreta desse processo pela falta de uma crônica detalhada e recorrente dos expedientes que o governo usou para ir concentrando todo o dinheiro dos impostos nas mãos da União.

O país não sabe claramente que buracos isso deixou nos estados e nos municípios, em que contas, e que falta isto está fazendo nos serviços que afetam diretamente a vida das pessoas tais como os de saúde, segurança e educação públicas.

a12Quais as medidas provisórias e outras tortuosidades e gambiarras operadas para este fim que deveriam ser revertidas para fazer a divisão do dinheiro dos impostos voltar para o ponto de onde partiu? Quanto isso melhoraria a verba disponível para esses serviços nos locais onde eles são efetivamente prestados?

Até que tamanho e por quais expedientes inchou-se o aparelho de Estado e se o ocupou com a “companheirada” com o objetivo de criar o que o historiador Marco Antonio Villa chama hoje, em artigo para O Globo, do “primeiro escudo” mediante o qual o PT garante que, independentemente de quem ganhe a eleição, são os petistas que moverão as engrenagens do governo se, quando e para que lado quiserem? Quais foram os passos desse processo? Como reverte-lo sem antes ter esse trajeto mapeado o suficiente para transformar os passos necessários à sua reversão num compromisso de campanha e legitimá-los pelo voto?

a12Como foi montado o aparato das ONGs chapas-brancas? Promovida a multiplicação em metástese dos sindicatos sem associados? Montada a rede dos “blogueiros do tio Franklin”? Como montar uma proposta de reversão desse processo sem conhecer-lhes os componentes e os custos; sem apontar que carências reais poderiam ser atendidas com esse dinheiro? Sem ter isso pisado e repisado para a opinião pública a esta distância de uma eleição decisiva?

De que instrumentos dispõe o resto do mundo para garantir que o sistema representativo de fato represente quem elege os representantes? Como eles conseguem, lá fora, destravar o processo de reformas e ganhar agilidade para reagir a um mundo em vertiginosa mudança? Como funciona o voto distrital com recall que põe nas mãos de quem precisa delas a iniciativa das reformas e arma a mão do eleitor para fazer-se respeitado sob pena de fuzilamento sumário do mandatado traído, ferramenta que vem saneando até níveis suportáveis de salubridade os sistemas políticos de país atrás de país?

a12Como foi que passamos por tudo que sucedeu o junho de 2013 sem discutir exaustivamente questões como esta e chegamos a mais uma eleição encurralados pela ignorância de tudo que não seja apenas e tão somente o que interessa a quem não nos interessa que sigamos conhecendo e pensando?

Não. Não concordo com os fatalistas que também nunca tinham pensado nessas questões mas dirão, como se as conhecessem de velho, que “está tudo dominado” e a imprensa inteira está vendida. Conheço bem demais os jornalistas para saber que nem todos são como os “blogueiros de tio Franklin”, os “revisteiros de madame Joesley” ou os “iracundos porém venais” velhos de três regimes.

Eu falo dos jornalistas melhores que seus patrões e da imprensa ainda digna do nome, mesmo que em luta contra a “disrrupção”. Eu falo da imprensa que, como o Brasil, quer mas não sabe fazer. Eu falo do “custo Brasil”, da falta de escola e do isolamento da língua.

a12Não ha lideranças que se diferenciem na imprensa pela mesma razão que não ha lideranças que se diferenciem fora da imprensa, a não ser pelo lado negativo, que não requer polimento nem esforço continuado, só oportunidade e ausência de escrúpulos.

Este governo está caindo de podre a tal ponto que ninguém poderá roubar-lhe a glória de se ter autodestruido. Mas, com todos os senões apontados é, ainda, à imprensa que vamos ficar devendo a derrota que se esboça desse PT que exala um cheiro que nada mais consegue disfarçar e ninguém mais consegue respirar porque foi ela o instrumento usado para furar esse abcesso.

Mas é a ela também que ficaremos devendo o pacote fechado que virá no lugar dele pois qualquer coisa continua cabendo neste país sem pauta que ela não tem contribuído para pautar.

a12

 

Não ha ética, senhores. O que pode haver é polícia…

6 de fevereiro de 2013 § 1 comentário

un

Como sempre, faltou algo no artigo de ontem. A síntese final.

O mais simples é sempre o mais difícil, o menos lembrado…

Onde acabam sempre os artigos dos que choram as nossas desgraças? Qual o mais repetido dos “é precisos” com que eles são sempre encerrados?

Ética na política…

É preciso ética na política!“.

un1

Não ha ética de geração espontânea, senhores. Não se espere uma súbita onda de atos de contrição instigados por belos discursos…

O que pode haver é polícia.

O homem só se conforma em trilhar o caminho do esforço e do mérito quando todas as outras alternativas lhe são vedadas. Você trabalha porque se não trabalhar não come. A “eles” é dado comer sem trabalhar.

Comerão sem trabalhar enquanto isso lhes for dado.

un1

Porque o povo não reage?

5 de fevereiro de 2013 § 6 Comentários

bar8

Porque não é só a oposição que não tem rumo.

A crise de liderança é um processo que começa com o enviezamento do olhar dos que se atribuem a função de sincronizar o debate dos problemas nacionais, seja na academia, seja na imprensa.

Não ha uma pauta.

Nos limitamos à denuncia eventual de violações que são sistemáticas. A apontar desvios de rumo quando o problema é que não ha rumo. Ao chororô retórico em cima do resultado necessário das deformações fundamentais da nossa construção institucional em vez de indicar que deformações são essas e como endireitá-las.

bar3

Haverá sempre o que discutir e inventar no que ainda está por vir. Mas o essencial está posto. As modernas tecnologias de construção estão aí para quem quiser usar. E, no entanto, a nossa democracia continua sendo um barraco pendurado numa área de risco que nós nos recusamos a evacuar.

Choramos, um por um, os desastres que a ausência dos pilares fundamentais dessa estrutura obrigatoriamente engendram como se eles fossem excepcionais, imprevisíveis e evitáveis. Mas não tratamos de fincá-los, finalmente, num chão firme.

Somos as sirenes dos governos cariocas nas serras que todos sabem que vão desabar. Não temos foco. Tratamos as consequências como se fossem causas. A nossa desordem essencial como se fosse a deformação de uma ordem … que nunca existiu. Exigimos mais leis mas nunca o enforcement das essenciais.

bar7

Falamos mais do nosso horizonte de expectativas que da realidade. Do país que gostaríamos de ter como se já o tivéssemos ou como se o tivéssemos tido algum dia.

Nunca tivemos. Está tudo por fazer.

Por isso a juventude, que chegou agora e só vê o que existe, não reconhece o país que descrevemos e o povo menos ainda.

A globalização piorou o quadro.

Com a virtual anulação das limitações de espaço e tempo, reassegurados das nossas crenças pelo congraçamento com nossos semelhantes ao redor do globo, embarcamos, como as minorias árabes, numa “primavera dos alfabetizados” julgando-nos mais numerosos do que somos, importando prioridades alheias, mergulhando de corpo inteiro na discussão do acessório sem nunca termos resolvido o básico.

mk22

O básico, senhores, eis a questão!

Não basta denunciá-las. Criticar-lhes a imoralidade. Exigir que sejam suprimidas. Ao básico temos de fazer regredir todas as deformações cuja manifestação se torna obrigatória pela ausência dele na nossa ordem institucional:

  • todos são iguais perante a lei e não haverá foros nem prisões especiais;
  • nenhum poder e nenhum dinheiro que não seja fruto do mérito;
  • as principais funções do Estado devem ser garantir a segurança pública e reduzir a desigualdade de oportunidades oferecendo educação de qualidade a todos os cidadãos;
  • à gravidade do crime deve corresponder, infalivelmente, o castigo;
  • a primeira e inegociável função da prisão é proteger a sociedade e não apressar a ressocialização do bandido.

bar1

Faça o teste. Pegue o jornal de amanhã e veja se algum dos problemas de que ele trata não estaria, senão resolvido, muito bem encaminhado se contássemos como certa qualquer uma destas cinco premissas básicas. E note como qualquer delas, se firmemente plantada, acaba por engendrar as outras…

É preciso focar. Alinhar o discurso. Mirar um alvo de cada vez. Dar a quem não gosta do que temos algo em que se agarrar que seja redutível a uma frase.

Ou não desatolamos nunca.bar10

As ditaduras “laranjizadas” e a matemática da democracia

11 de maio de 2012 § Deixe um comentário

Artigo de Thomas Friedman para o New York Times traduzido pelo Diário do Comércio na terça-feira passada sugeriu-me pensamentos interessantes.

Dizia ele:

Viajando pelo mundo árabe pós ‘Primavera’ tenho ficado impressionado como poucos líderes surgiram daquela erupção vulcânica política (…)

(…) meu próprio país – para não mencionar a Europa – tem um problema parecido. Há um vácuo de liderança global.

(…)

Cada um desses países que estão despertando precisa fazer a transição de Sadam para Jefferson, sem ficar preso em Khomeini.

(…)

Uma ditadura não é coisa que se deseje mas pelo menos as ditaduras do Leste da Ásia, como as da Coréia do Sul e de Taiwan, usaram a sua autoridade de cima para baixo para erguer economias dinâmicas direcionadas à exportação e para educar todo o seu povo – homens e mulheres.

No processo, eles criaram uma gigantesca classe média cujos novos líderes fizeram o parto da transição do regime autoritário para a democracia.

As ditaduras árabes não fizeram isso. Elas usaram sua autoridade para enriquecer uma pequena classe e para distrair as massas com ‘objetos brilhantes’ – chamados Israel, Irã e nasserismo para citar apenas alguns“.

Bateu na veia!

As ditaduras latino-americanas fizeram a mesmíssima coisa. E as brasileiras não foram muito diferentes, variando os “objetos brilhantes” de uso local para o “império”, os “ianques” e a “zelite”, papo furado que sempre cola em quem está com a barriga vazia independentemente do fato de que cada ditadura foi quem fabricou a “zelite” seguinte pelos métodos que, pela enésima vez, a CPMI do Cachoeira investiga neste momento.

Por aqui ainda se acredita que democracia é poder votar nos titulares do Poder Executivo, ainda que seja só nos caras que aceitam as condições que os ditadores ditam para admiti-los nos seus partidos/máfias,  único canal por meio do qual um cidadão está autorizado a pedir votos ao povo.

Mas a “votação” que realmente interessa é a que é negociada a portas fechadas e da qual participa sempre o mesmo grupinho que escolhe quem pode e quem não pode oferecer-se ao voto do povo que, assim, fica limitado a escolher entre os previamente escolhidos.

Os “laranjas” se sucedem mas os verdadeiros ditadores, que são os donos dos partidos, não mudam nunca.

Nós temos vivido, portanto, sob ditaduras “laranjizadas”.

E com quase 60 anos de “janela”, posso testemunhar que a principal diferença entre elas é que na dos milicos só se admitia dois partidos/máfias e se tornava inelegível quem era pego roubando e quem desafiava o regime e, nas seguintes, o numero de partidos/máfias a agitar “objetos brilhantes” para disputar o seu voto é livre, permanecendo inelegíveis apenas os cidadãos que se recusam a aderir às máfias e insistem em permanecer honestos.

Mesmo assim, em todas essas ditaduras, especialmente na dos milicos e nesta última agora, sempre que o mundo empurrou a favor a classe média se expandiu.

Ficou faltando a revolução na educação mesmo não havendo por aqui os obstáculos religiosos que os árabes enfrentam para sonhar com a possibilidade de uma educação moderna. Aqui recusa-se educação ao povo por soberana deliberação laica mesmo.

Mas, que não haja engano!

A educação não ensina democracia. Isso não se aprende na escola. Educação ensina coisa muito mais sólida: ensina a ganhar a vida sem precisar de esmola.

O resto é consequência.

O império da lei, que é ao que se resume em última instância a democracia, só interessa a quem tem algo a perder. Falo do aspecto material mesmo.

A democracia moderna materializou-se nos Estados Unidos porque aquele foi o único país do mundo onde, desde a fundação, todo mundo era proprietário. Enquanto o Brasil era fatiado em 13 capitanias hereditárias distribuídas entre os amigos do rei, cada indivíduo que emigrava para lá, desde os 1600 e nada, recebia, pelo sistema de headcount de incentivo à imigração, 50 acres de terra.

Hoje, 28 “barões do BNDES”, pesando 2,8 trilhões de reais ou 2/3 do PIB, sentam-se ao redor da sucessora hereditária do nosso “rei” naquele “Conselho Nacional de Gestão”. Velhos hábitos são duros de matar…

Acontece que a lei surge, natural e historicamente, pela necessidade de se proteger a propriedade. Para tirar as sociedades humanas daquela vida infernal que o brasileiro conhece bem onde ninguém pode dormir em paz porque vale tudo para tomar do outro o que ele conseguiu para si fazendo força, da comida caçada em diante.

Logo, em sociedades miseráveis, onde os poucos que têm algo de seu em geral não o conquistaram por esforço próprio e a multidão não tem nada, não ha santo que faça colar a idéia de se viver sob o império da lei. Violar as leis é que passa a ser o “ato cidadão”, simplesmente porque não é justo proteger esse tipo de propriedade.

Mas se, como nas ditaduras asiáticas mencionadas, conseguir-se que todos passem a ter alguma coisa e, por cima disso, aparelha-los com a educação com que conseguir ir tendo cada vez mais pelo seu próprio esforço, aí sim, cria-se aquela “gigantesca classe média” de que fala Friedman, com verdadeiras características e interesses de classe.

Quando se atinge o ponto de haver mais gente que tem alguma coisa conquistada por seus próprios meios e aparelhada para conquistar mais sem precisar de esmolas, do que gente que não tem nada, o resto acontece sozinho.

Onde estou?

Você está navegando em publicações marcadas com liderança em VESPEIRO.