“Conduzir”, e não “ser conduzido”
13 de novembro de 2014 § 35 Comentários
Martha pulou do navio. Madame alimenta ambições que vão além do que ela acha que vai durar o PT de Dilma.
Ontem Gilberto Carvalho era quem tinha ido nadar, jogando pedras pra tras: “ela não ouve ninguém; não atende os meus movimentos sociais” e tal e coisa…
O PMDB das trevas ainda está quieto porque Michael Temer, com aquela “cara de mordomo de flme de terror”, como dizia ACM, é o próximo da fila. Mas no fogo cruzado da Polícia Federal, da polícia financeira (SEC) e do Department of Justice americanos , da Price Waterhouse, do governo da Holanda e dos delatores premiados da máfia da Petrobras não deve sobrar muita coisa dele.
Já o PMDB de sempre, com a sua imortal vocação de alarme de furacão, ha tempos que vaga pelo terreiro dando-se ares de rebeldia enquanto procura localizar onde, afinal, se vai instalar a sombra onde ele ha de amarrar seu burro.
Ontem saiu a conta do desemprego na industria pelo sexto mes consecutivo. É uma desolação. O país está parado; os telefones não tocam. São Paulo está em frangalhos. Minas está sêca. O Rio Grande ficou pequeno. O São Francisco secou. Passada a eleição ficamos sabendo que a culpa não é do Alkmin. O Rio também está à beira da sede. E, novembro a meio, não chove. Ninguém colhe nada; ninguém planta nada. O agronegócio que vinha salvando a pátria debaixo de chutes vai, finalmente, minguar junto com a produção de energia como sempre sonhou o PT venezuelista.
O mar vai virar sertão e o sertão vai virar mar!
Não tem produção e não tem preço. É a ressaca das commodities. O Brasil fica mais caro e o mundo fica mais barato. O petróleo baixou dos US$ 90 e continua caindo. O diesel e a energia sobem na contramão. Lá se vão os royalties dos estados. Lá se vai a “salvação da educação”.
Contas públicas? Você sabe: uma vez dentro do Estado, neste brasilzão dos miseráveis, ninguém te tira mais de lá. Ali “afasta-se” ou “aposenta-se” mas não se corta nunca. Nem ladrão flagrado perde a teta. A “companheirada” se refestelou por cima da gordura que já tinha e mais uma fatia do que era nosso tornou-se deles até que a morte nos separe. Aliás, nem ela porque ficam as pensões. “Acertar as contas”, agora, só pelos esquemas do dr. Mantega. Só que chamar deficit oficialmente de superavit como dona Dilma está pedindo que a deixem fazer sem ir pra cadeia, se serve pra enganar eleitor morto de fome durante dois ou tres meses de campanha, não põe comida no prato deles pelos próximos quatro anos.
O trem tá tão ruim que o nosso herói sem nenhum caráter já começou a treinar nó em pingo d’água. Na reta final, fez o “inimaginável” para reeleger o PT e evitar o que poderia vir a ser a explosão final da superlotação dos presídios brasileiros. Virou o estômago de metade do país mas aprumou “o poste“. Ato contínuo tratou de nomear candidatos ao ministério da Fazenda. Não que acredite que alguém pode consertar o inconsertável. Mas é que se não emplacarem, como é provável que não emplaquem posto que dona Dilma não convive por mais de duas reuniões com quem é capaz de dizer mais que “sim senhora”, melhora a desculpa dele para se declarar “na oposição” à sua própria obra.
É só questão de tempo até que ele desponte como “o principal opositor de Dilma Roussef” para resgatar sua recandidatura dos escombros de 16 anos de PT. Se bobear, quando 2018 chegar a Dilma já terá virado uma cria do Fernando Henrique que o Lula combateu desde criancinha…
Agora, os 48,12% que abram o olho.
“Eu penso o que eu quiser, do jeito que eu quiser, e tenho direito de afirmar isso”. Foi bonito pra geração que sabe o peso que já teve um “quiéquiéisso companheiro” ver o país perder o medo do PT. Aquela bilis toda do Lula afinal serviu pra alguma coisa de útil. A internet rompeu o cerco da mídia, a classe artística antecipou a rebelião contra os “intelectuais orgânicos” e o resto veio no arrasto. Quer dizer, “antecipou” pela esquerda, ou melhor, pela esquerda honesta, com aqueles 20 ou 30 anos de atraso regulamentares em relação às cabeças ideologicamente despoluidas.
Tá bom, vá lá: antes tarde do que nunca. É preciso mesmo mais coragem para reconhecer um erro que para confirmar um acerto, especialmente pra quem misturou, um dia, política com paixão. Mas de qualquer jeito esse amadurecimento reacende até as esperanças de que esse grito de libertação venha, um dia, a descer às nossas escolas. Devolver as nossas escolas ao império da dúvida, irmã da tolerância e mãe do conhecimento, será o marco da entrada do Brasil no Terceiro Milênio. Mas temo que isso só venha a acontecer depois da desgraça consumada porque lá é que está o núcleo duro da doença. Ao fim da tempestade eles serão escorraçados depois de se terem recusado a sair digna e espontaneamente.
Até lá teremos de suar quatro anos apenas para não andar para trás também do ponto de vista institucional, em meio à borrasca da violenta volta atrás em termos materiais que é esta que está começando a tomar embalo.
A eleição apertada esfria as possibilidades imediatas mas o desastre econômico que vem vindo reacenderá os ânimos do PT golpista. Vai virar sexo explícito. Questão de sobrevivência. Todas as armas – as permitidas e as proibidas, as lícitas e as ilícitas, as palatáveis e as infames – vão ser usadas mais que nunca para manter o PT a salvo da exposição ao sol que seca os fungos da mentira e do parasitismo.
Quem terá de correr pra amarrar o que lhe caiu no colo na refrega eleitoral será a oposição.
Mas para isso é preciso, antes de mais nada, entender uma coisa: enquanto for pra partir pra luta confirmando todo e qualquer lance do adversário o país seguirá optando por quem der mais, ainda que tanto a ponta comprada quanto a ponta vendida estejam carecas de saber que o Brasil não desentorta com salário sem trabalho, com direitos sem deveres, com estatais de roubar, com um Estado balofo, sem o império da lei. Quem está vivo sabe como o privilégio corrói e onde vão parar os estroinas. É o tipo de conhecimento que não requer prática nem tampouco habilidade.
Só o que está faltando é esse conhecimento, que é de todos nós, ser franca e abertamente verbalizado.
Aécio Neves quase alcançou o eleitorado que corria à sua frente. Mas o Brasil não desentorta sem alguém que corra na frente, sem alguém que empunhe a bandeira, sem alguém que diga tudo, sem alguém que se faça seguir.
O teste da “democracia da Dilma”
18 de junho de 2014 § 1 comentário
O “movimento social” Guilherme Boulos “participando”
A “democratização dos meios de comunicação” que o PT advoga inscreve-se no mesmo espírito e nos mesmos métodos de execução dessa “democratização da democracia” que, apesar do seu jornal esforçar-se por ignorá-lo, está em pleno vigor no país desde que dona Dilma baixou o Decreto nº 8243, de 26 de maio passado, e permanecerá assim até que o nosso vigilante Congresso Nacional encontre uma brecha entre a Copa do Mundo e as eleições neste “ano sabático” que o PT escolheu para baixá-lo, para produzir e aprovar um Decreto Legislativo que revogue o da presidente.
As perspectivas para essa eventualidade não são nada animadoras.
A “sociedade civil” pessoal e intransferível de Guilherme Boulos (Itaquerão ao fundo)
A primeira medição de forças entre os representantes da sociedade civil paulistana eleitos por aquele método “careta” que o PT quer revogar, e a “sociedade civil” que atende aos chamamentos do Secretário Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e priva da intimidade da chefe dele resultou, segundo todos os prognósticos, em que fosse devidamente remetido à lata de lixo o Plano Diretor elaborado pela Câmara Municipal de São Paulo para definir os princípios e limites que nortearão tudo que acontecerá no futuro da maior metrópole do país.
Ele foi substituído por outro, “democraticamente” redigido pelo próprio, para colocar dentro da legalidade as cinco invasões de propriedades alheias comandadas pelo senhor Guilherme Boulos, aquele do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto que veio para invadir “Sua Casa, Sua Vida” e transformar as cidades brasileiras naquela mesma ilha de segurança e tranquilidade que tem sido o campo, pelo Brasil afora, desde o advento do MST, o seu precursor rural.
O “movimento social” Altino dos Prazeres (Metroviários de São Paulo)
Tudo certo, aliás, pois está escrito nesse decreto que em propriedade invadida por “movimento social” – e o senhor Guilherme Boulos é um “movimento social” – nem o Supremo Tribunal Federal põe mais a mão, ainda que fosse o Supremo Tribunal Federal de antes da deserção de Joaquim Barbosa.
Somente nesse primeiro ensaio, portanto, revoga-se, junto com a Lei dos Mananciais – porque o mais importante dos que abastecem São Paulo está no caminho de uma das cinco invasões do “movimento” Guilherme Boulos – e o Direito de Propriedade, também o instrumento que faz as vezes da Constituição para nortear toda legislação que diz respeito aos espaços urbanos que 90% ou mais dos brasileiros habita hoje.
O exato momento da “elaboração participativa” do novo Plano Diretor de São Paulo
O Direito de Ir e Vir foi de troco nessa embrulhada já que o “movimento” Altino dos Prazeres, dos Metroviários, tem sido o ator coadjuvante da chantagem de Boulos sobre São Paulo.
Quanto ao “Guilherme Boulos” do setor de comunicações, ele se chama Franklin Martins, homem que, no passado, baixava sentenças de morte à revelia de condenados a serem sequestrados e/ou “justiçados” na rua, e o “MTST” dele que, conquanto ainda não marche por aí atravancando avenidas com hordas vestidas de vermelho e agitando bandeiras vermelhas para transformar num inferno a vida de quem tem de ir e vir para ganhar o pão de cada dia nas metrópoles brasileiras, é horda também e vareja ha tempos os caminhos da internet atacando “democraticamente” sites inimigos para tira-los do ar e promovendo “sequestros” e “linchamentos morais” de indivíduos que pensam diferente deles.
O “Poder Legislativo democrático” em sessão plenária
Como ainda está por ser consumada a execução do Plano Diretor de São Paulo em favor da receita “democrática” do “movimento social” Guilherme Boulos, e por ser enfrentada a eventual resposta do Congresso Nacional ao desafio do Decreto nº 8243, dona Dilma e seu fiel Gilberto, a quem o tal decreto atribui as prerrogativas todas dos nossos representantes eleitos, esse “movimento social” em particular foi chamado, entre uma invasão e outra, para uma conversa privada com os dois em Palácio, onde recebeu ordens de maneirar suas estripulias – especialmente na invasão do terreno vizinho ao Itaquerão que recebeu a abertura da Copa do Mundo – pelo menos até que os olhos da imprensa internacional, que tio Franklin ainda não controla, se desviem destes Tristes Trópicos.
Então sim, tudo poderá voltar ao “normal”, com a cidade batendo recordes sucessivos de engarrafamentos combinados com greves selvagens do metro e ataques a ônibus, todos “democraticamente” promovidos sob a devida proteção policial.
Quer dizer, isto se o PT permanecer no poder. Se ele perder a eleição então…
No cliché, a “imprensa democrática“
Acorda, jornalista!
11 de junho de 2014 § 16 Comentários
Artigo publicado na Folha de S. Paulo de 11 de junho de 2014
Um golpe contra a democracia está em curso desde o último dia 26 de maio e a circunstância que o torna mais ameaçador do que nunca antes na história deste país é a atitude de avestruz que a imprensa tem mantido, deixando de alertar a população para a gravidade dessa agressão.
O decreto nº 8.243, assinado por Dilma Rousseff, que cria um “Sistema Nacional de Participação Social”, começa por decidir por todos nós que “sociedade civil” deixa de ser o conjunto dos brasileiros e seus representantes eleitos por voto secreto, segundo padrão universalmente consagrado de aferição da legitimidade desse processo, e passa a ser um grupo indefinido de “movimentos sociais” que ninguém elegeu e que cabe ao secretário-geral da Presidência, e a ninguém mais, convocar para examinar ou propor qualquer lei, política ou instituição existente ou que vier a ser criada daqui por diante em todas as instâncias e entes de governo, diretas e indiretas, o que afeta também os governos estaduais e municipais hoje na oposição.
Apesar da violência desse enunciado, a maioria dos jornais e televisões do país nem sequer registrou o fato. E mesmo os que entraram no assunto depois vêm diluindo o tema no noticiário como se não houvesse nada com que seus leitores devessem se preocupar. Prossegue a sucessão de manchetes em torno do golpe de 1964, mas para o de 2014 o destaque é próximo de zero. Nenhum critério jornalístico justifica isso.
Esse decreto é, na verdade, um excerto do Terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), que o PT já tentou impor antes ao país também por decreto – nas vésperas do Natal de 2009, no apagar das luzes do governo Lula –, mas que, graças à forte reação da imprensa e consequente mobilização da opinião pública, foi obrigado a abortar.
O PNDH-3 contém 521 propostas que, além da revogação da Lei de Anistia, que passou “no tapa” depois que a imprensa comprou a ideia do governo de que a prioridade nacional é voltar 50 anos para trás e não correr 50 anos para a frente, institui “comissões de direitos humanos” nos Legislativos para fazer uma triagem prévia das matérias que eles poderão ou não processar; impõe a censura à imprensa; obriga a um processo de “reeducação” todos os professores do país; veda ao Judiciário dar sentenças de reintegração de posse de propriedades “rurais ou urbanas” invadidas, prerrogativa que se torna exclusiva dos “movimentos sociais”; desmonta as polícias estaduais para criar uma central única de comando de todas as polícias do país, e vai por aí afora.
Ciente de que tal amontoado de brutalidades jamais será aprovado pelo Legislativo, o PT está tratando de fazer com esse Poder o mesmo que fez com o Judiciário. Os juízes não dão as sentenças que queremos? Substituam-se os juízes por juízes “amigos”. Um Legislativo eleito pelo conjunto dos brasileiros jamais transformará essas 521 propostas em lei? Substituam-se os legisladores por “movimentos sociais” amestrados sob a tutela da Presidência da República…
O argumento de que esse é o jeito de forçar o Congresso a reformas não é honesto. Para forçar reformas que o povo deseje, existem instrumentos consagrados tais como o do voto distrital com recall, que arma as mãos de todos os eleitores para demitir na hora os representantes que resistirem ou agirem contra a sua vontade. Este tipo de participação, sim, opera milagres estritamente dentro dos limites da democracia. Substituir os representantes eleitos por “representantes” que ninguém elegeu tem outro nome: chama-se golpe.
Depois da rendição do Judiciário com a renúncia de Joaquim Barbosa, só sobra a imprensa. E os feriados da Copa farão com que só haja pouco mais de meia dúzia de sessões legislativas completas em junho e julho somados. Depois é véspera de eleição. É bom, portanto, que ela desperte já dessa letargia, pois não haverá segunda chance: está escrito no PNDH-3 que a imprensa é a próxima instituição nacional a ser desmontada.
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