A caça e a crise da brasilidade

10 de março de 2017 § 5 Comentários

Artigo para Pesca & Companhia de fevereiro de 2017

Está legalizada a caça esportiva do javali no Brasil!

A atividade que fez do bicho “Homo” um “sapiens” e que amarra uns aos outros todos os seres vivos tinha, supostamente, sido radicalmente amputada da cultura nacional da qual fizera parte desde o primeiro dia do mundo até então ha 34 anos. Agora volta à legalidade mas pela porta da remediação. Não é, ainda, a reconciliação de um Brasil Oficial humilde com o razoável e com o eterno depois das lições tão duramente aprendidas nestas tres décadas e meia de fúria da devastação ambiental sem concorrência. Continuam vedados aos espécimes da fauna brasileira os benefícios do único artifício capaz de fazer perdiz valer mais que soja, peixes de rios íntegros mais que o quilo de sua carne e biomas renderem mais diversificados como deus os fez que reduzidos a escombros pela incuria humana. Plantar gramíneas africanas e leguminosas asiáticas (ou introduzir animais exóticos que se tornam pragas) continua sendo o único meio legalmente admitido por nossos ambientalistas e governantes de fazer a natureza produzir dinheiro nisto que foi o maior paraíso da biodiversidade na Terra…

A consequência é muito mais deletéria que o prejuízo ambiental que poderia ser evitado. Os desorientados urbanóides desta geração de brasileiros, arrancados por diletantes apaixonados por si mesmos que se julgam capazes de revogar as leis da natureza à vivência de qualquer dos processos que trouxeram a humanidade até onde ela chegou, vivem mortificados pela idéia de que a sua própria sobrevivência é fruto de um crime. A maior parte acredita piamente, já, que o que comemos vem mesmo dos fundos dos supermercados embaladinho em plástico e sem sangue.

Esse desenraizamento existencial está, com certeza, na base dessa crise “total” que o Brasil está vivendo. Sem o “pertencimento” a um todo eco-lógico muito maior que o “eu”, o “agora”, o “meu” e o “eu acho portanto submetam-se“, que só se assimila fechando a boca e abrindo os olhos e os ouvidos para aprender vivendo integralmente a floresta, a beira do rio, os oceanos; mergulhando de corpo e alma nas interações da fauna e da flora que os constroem e que são construídas por eles, o que sobra é essa trágica bateção de cabeça sem sentido em que o Brasil anda perdido.

Que a descriminalização da caça ao javali seja o primeiro passo de uma ampla reconciliação. Sem o culto e a reencenação cerimonial dos processos que definem a reciclagem da vida é impossivel entender o que somos e qual o nosso lugar na ordem das coisas.

O “bom selvagem” em ação

7 de maio de 2015 § 18 Comentários

Reza o decreto “politicamente correto” que o homem originalmente era um santo que vivia em perfeita comunhão com a natureza (embora já naquele tempo comesse…) e que o que deturpou tudo foi a contaminação dele pela ganância imposta pelas culturas européias.

Não é só um truísmo, é fato histórico que uma famosa “entrevista” com um tupinambá feita por Jean de Lery, cronista que esteve no Rio de Janeiro com Villegaignon no final dos 1500, lida pelos intelectuais franceses dos séculos 16 e 17, inspirou toda a lenda rousseauniana que fez do “bom selvagem” um arquétipo e uma “lei da natureza” de onde nasceu o braço esquerdo do pensamento ocidental. Foi, por assim dizer, uma versão “científica” do mito católico onde o agente poluente do “paraíso” seria o conhecimento…

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Mas a verdade é bem outra como sabem os antropólogos, os arqueólogos, os historiadores da botânica, as pessoas que frequentam os ambientes selvagens reais e outros homens e mulheres humildes que cuidam mais de fazer “perguntas à” que “afirmações sobre” a natureza, à história e aos fatos. E o que estes nos dizem é que o homem sempre foi o que continua sendo, e isto inclui o seu exacerbado apego a certas mentiras renitentes, principalmente as que dizem respeito à sua própria natureza freqüentemente tão pouco “respeitável” segundo os cânones do que supostamente “é correto” ser ou não ser, sentir ou não sentir. É, ao contrário, a civilização, a lei e o medo da polícia que o impedem de sair por aí dando pauladas em tudo quanto se move.

Não obstante, é em nome dessas mentiras tão caras à metade da humanidade que não consegue se encarar como aquilo que é que nós todos pagamos os barcos, os motores de popa (60 cavalos com tele-comando!) e até os celulares com que estes representantes dos “povos da floresta“, em vez de guarda-la dos predadores aqui do mundo sem salvação, registraram o sublime ato de amor à natureza que se vê neste filme.on1

Lobos ensinam como a Natureza funciona

3 de abril de 2014 § 2 Comentários

Filme enviado por Cláudio Antonio Noschese

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