E quem decolou foi o México…
12 de março de 2013 § 4 Comentários
Lula, chegando ao poder pela primeira vez em 2002 depois de dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso à frente do governo do PSDB, e Enrique Peña Nieto, levando este ano o Partido Revolucionário Institucional (PRI) de volta ao poder após dois governos do Partido da Ação Nacional (PAN), de centro direita, tiveram ambos uma oportunidade única na história política do Brasil e do México: os dois puderam concentrar-se no futuro de seus países em vez de, como todos os seus antecessores, terem de gastar metade de seus mandatos tentando arrumar a bagunça herdada dos governos anteriores.
Tanto o PSDB, no Brasil, quanto o PAN, no México, graças a uma condução civilizada das finanças públicas que os dois transformaram nas suas marcas registradas, entregaram seus países prontos para crescer aos seus sucessores.
Uma herança tão essencial e tão valorizada no Brasil de então por uma população traumatizada pela inflação devastadora herdada do hoje sócio do PT, José Sarney, que Lula só passou a ser palatável para o eleitorado depois de assinar um documento comprometendo-se formalmente a não dilapidá-la como o seu partido jurava que faria.
Outra característica a aproximar os dois presidentes é que seus respectivos partidos, de tradição populista “de esquerda“, têm pleno controle sobre os sindicatos e as demais forças tradicionais de resistência contra reformas modernizadoras de economias amarradas por anos sem fim de servidão corporativista, o que abria uma oportunidade única para que eles finalmente libertassem seus povos dessas amarras seculares.
Mas cessam por aí as semelhanças.
Lula passou seus dois mandatos tratando de eliminar, pela corrupção, toda e qualquer sombra de oposição ao seu poder pessoal e nunca sequer tentou fazer reforma alguma ou, muito menos, levar adiante a obra iniciada por Fernando Henrique de modernização da economia nacional.
Já Enrique Peña Nieto começou a faze-lo antes mesmo de tomar posse.
Em 1º de dezembro, levou seu partido a propor e um Congresso que sempre resistiu a elas a aprovar um pacote de reforma das leis trabalhistas que, segundo a unanimidade dos analistas mexicanos, vai injetar grandes doses de dinamismo à economia local.
Em seguida, fez aprovar uma lei nos moldes da de Responsabilidade Fiscal, pilar da “arrumação da casa” brasileira conseguida por Fernando Henrique que Dilma, a criatura de Lula, vai endereçando à lata de lixo, para forçar a transparência e o manejo responsável das finanças estaduais e municipais que, como aqui no passado, são o maior ralo da economia do México.
Para completar o acerto nas contas nacionais, prepara agora uma reforma para reforçar as receitas fiscais do governo e abrir o setor de energia, aí incluídos principalmente os de petróleo e gás, aos investimentos privados nacionais e estrangeiros, base para o relançamento da economia nacional.
Menos de 24 horas após sua posse, aliás, Peña Nieto havia arrancado dos presidentes do seu e dos demais partidos políticos do país a assinatura de um “Pacto pelo México”, comprometendo-se com 95 reformas de base. E no fim de semana retrasado, enquanto a do PT se reunia para aprovar o “controle social da mídia” fez a Assembleia Nacional do PRI mudar os estatutos que impediam membros do partido de votar o imposto sobre valor agregado que civilizará a ordem tributária mexicana ou modificações no setor estatizado da energia.
No início deste mês, Peña Nieto mandou prender Elba Esther Gordillo, a poderosa e corrupta presidente do sindicato dos professores do México que se punha à frente das reformas, inclusive a que pretende fazer também no setor decisivo da educação.
Gordillo, tida como um símbolo do poder intocável dos sindicatos foi levada para trás das grades mais ou menos no mesmo momento em que Rosemary Noronha e José Dirceu comemoravam juntos num resort da Bahia o feito de sua liberdade ter sobrevivido, um a uma condenação do Supremo Tribunal Federal, a outra aos flagrantes de corrupção e tráfico de influência, além de crimes menores semelhantes aos que levaram Gordillo, que também pagou seus luxos e suas operações plásticas com dinheiro público, à cadeia.
Finalmente anteontem Peña Nieto enviou ao Congresso um projeto de lei que vai sacudir os setores de telecomunicações e televisão, hoje concentrados nas mãos de Carlos Slim, “o homem mais rico do mundo”.
Nada a ver, é claro, com o “controle social da mídia” do PT. Ao contrário. Slim detém 70% do mercado de telefonia celular e 80% do de linhas fixas do México. E com o que aufere aí, sustenta a sua Televisa que detém 70% da audiência de televisão no México. Lá de fato existe uma concentração excessiva, semelhante à que o PT tem posto nas mãos dos diversos “barões do BNDES” que está criando em setores-chave da nossa economia. A lei de Peña Nieto vai na direção contrária: dá poderes a agência de controle do setor de exigir a alienação (para outros players privados) de tudo que ultrapassar 50% de ocupação de cada mercado.
Graças a tudo isso o problema do México é, no momento, o inverso do brasileiro: eles não sabem o que fazer da horda de investidores internacionais que batem à sua porta se oferecendo para participar a qualquer preço da onda de progresso que já está rolando.
De modo que, se derem certo os planos anunciados do PT de levar-nos, primeiro ao degrau argentino com o fim da liberdade de imprensa e a aniquilação do Judiciário, depois ao estágio venezuelano de extinção do direito de propriedade e finalmente ao éden cubano de adoração obrigatória a um Lula já caquético mas ainda cheio de vontade de cagar regras como o seu guru do Caribe, você já tem mais um lugar para onde poderá, eventualmente, emigrar.
O que as contas do dr. Mantega têm a ver com o linchamento de Yoani Sanchez
22 de fevereiro de 2013 § Deixe um comentário
Parecem coisas distantes entre si, mas não são. A diferença é de grau e não de gênero.
Existe um nexo perfeito entre a “matemática criativa” do dr. Mantega, a nova política de controle de preços agrícolas que o governo começa a esboçar porque a inflação nos alimentos insiste em ficar acima de 10% desde 2008 e a fúria dos “camisas pardas” do PT encarregados por agentes do governo brasileiro sob ordens diretas do governo de Havana de perseguir, passo a passo, e calar na porrada a boca da blogueira Yoani Sanchez em suas andanças pelo Brasil.
O ponto exato de “ruptura revolucionária” com a lógica que desloca o pensamento de esquerda para o campo ideo-lógico é a negação do princípio do mérito.
Quer tirar um estatólatra do sério? Por um funcionário público em pânico? Provocar urticária no governante autoritário que gostaria de não ser apeado nunca do poder em função do julgamento de eleitores que não sabem sequer o que é bom para eles próprios?
Proponha-lhes um sistema de mérito em que o esforço empenhado na ação seja medido pelo seu resultado e a remuneração do agente seja estipulada em função da medida colhida como esse que vigora para o resto do mundo e para todos os reles mortais aqui do Brasil real.
Negar o conceito de mérito é, em última instância, negar a relação de causa e efeito e, por inferência direta, também as ideias de responsabilidade individual e de livre arbítrio.
Daí decorre que para fazer regredir a inflação, nada dessa besteira de alterar os fundamentos políticos e as práticas concretas no trato do dinheiro público que levam as contas nacionais para um resultado indesejado, basta alterar as contas para que o resultado indesejado não apareça.
Analogamente, para evitar que Yoani Sanchez se queixe da repressão em Cuba ou que a “imprensa golpista” cobre ética na política, nada dessa besteira de promover mais liberdade e democracia na ilha daqueles dois velhinhos fardados ou de deter a roubalheira e a institucionalização do lenocínio parlamentar no governo do PT, basta estabelecer na porrada o “controle da mídia” – um blog que seja – para que cessem as queixas contra a falta delas.
O critério ideo-lógico, como diz a palavra, põe a ideia à frente da lógica e insiste em submeter esta àquela. O problema é sempre que, como a lógica traduz o que dizem os fatos e os fatos insistem em se rebelar contra o que querem deles as ideias, estas só podem se sobrepor a eles mediante o emprego da força bruta. De modo que esse conflito insanável acaba sempre em violência.
Violência contra a rebelião da matemática ou violência contra a rebelião das pessoas são, portanto, apenas estágios diferentes do mesmo desvio fundamental. No fim, tudo chega ao mesmo lugar.
Ou volta-se a entronizar o mérito, ou institucionaliza-se a violência. Não ha exemplo histórico de meio termo. As variações possíveis são só de grau, e este oscila exclusivamente em função da resistência oferecida pelo violentado.
Porque o Google pode e Murdoch não?
19 de fevereiro de 2013 § 1 comentário
Correspondentes do NY Times em Londres informavam, na semana passada, que mais seis jornalistas que trabalham para The Sun ou trabalhavam para The News of the World, dois dos tablóides sensacionalistas de Rupert Murdoch, foram presos e tiveram suas casas devassadas, ainda com relação às investigações de escutas telefônicas, hackeamento de computadores, interceptação de mensagens e suborno de policiais nos anos de 2005 e 2006 para conseguir informações sobre celebridades ou crimes e publicá-las em primeira mão.
Mais de 100 repórteres, editores, policiais e funcionários públicos já foram presos nessa investigação. Rupert Murdoch sentiu-se obrigado a fechar o The News of the World, o mais lucrativo dos seus tabloides em junho de 2011 para tentar aplacar a indignação do público que ameaçava contaminar todos seus títulos em papel, na TV ou em bits, 169 vítimas desses atos de invasão de privacidade entraram com processos e 144 já foram indenizadas em valores em torno de US$ 1 milhão cada.
Perfeito! É o mínimo que tem de acontecer com picaretas desse naipe num país civilizado.
Agora, o que possivelmente ficará para os historiadores explicarem a nossos filhos é porque invasões de privacidade, bisbilhotagem, arapongagem e roubo de informações para proporcionar lucro fácil a quem se entrega a essas práticas é punida de forma proporcional à ofensa e ao prejuízo produzido quando praticados pela “old mídia” e até pelas companhias telefônicas mas não apenas é permitido como, até, é saudado como um paradigma de autêntica ação democrática em favor do bem comum quando praticada pelos donos dos meios modernos de comunicação online como o Google, o Facebook e todas as famigeradas “third parties” a quem todo mundo que possui algum “hub” ou ponto de trafego de alguma significância na internet encarrega de espionar seus clientes e usuários para vender legalmente as informações assim obtidas a qualquer um que queira pagar por elas.
Qual a diferença entre subornar um policial que prega o seu grampo no telefone de uma ou outra celebridade para obter as informações e pagar pelas que a legião de programadores ultra-especializados dos senhores Page ou Zuckergberg arranca de todos nós, celebridades ou não, abrangendo todas as nossas movimentações físicas e financeiras, nossas perambulações pela rede, nossas conversas, nossas intimidades e até as fotografias que trocamos com os amigos, senão a solerte afirmação deles próprios de que não fazem isso pelas dezenas de bilhões de dolares que isto lhes rende por mês, coisa de somenos, mas sim pelo bem da humanidade?
Por que razão deixar ir adiante esse tipo de espionagem interessa a governos é uma pergunta cuja resposta não exige muito tirocínio. Por que isso interessa a partidos totalitários e a inimigos da democracia como os apedrejadores das yoanis sanchez da vida, menos ainda.
É multimilenar a luta dessa gente pelo controle e o esmagamento do indivíduo. É proverbial a sua ânsia de espionar.
Mas, mais que tudo, o que lhes espicaça o apetite neste momento particular é a ameaça mortal que decorre do roubo sistematico de informações para o jornalismo independente, seu inimigo figadal desde sempre. Sobretudo em países de instituições periclitantes como o Brasil onde a imprensa professional e livre é o ultimo obstáculo entre eles e o poder absoluto.
Agora por que uma massa enorme de intelectuais, cientistas e pessoas geralmente bem intencionadas sanciona e aplaude os “big brothers” que invadem nossas vidas por todos os lados hoje em dia é algo mais difícil de responder, embora também não seja novidade.
Não existe caso na História de ditadura ou de opressão totalitária que tenha conseguido se instalar no poder sem o concurso decisivo desse tipo especial de imbecil cujo cérebro entra em curto-circuito à menção de certas palavras mágicas, que é quem de fato arma a mão dos genocídas e só acorda para a realidade quando já é tarde demais.
Isso quando não é posto para dormir para sempre pelos próprios “heróis” pelos quais costumava babar…
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