Que raio de povo é este?

20 de julho de 2011 § 1 comentário

É incrível a resistência do vício dos jornalistas, especialmente os de Brasília, nas distorções do jogo político brasileiro (se é que se pode chamar aquilo de jogo).

Pela primeira vez em dois mandatos seguidos do mais puro deboche, que deixaram em estado terminal qualquer resquício de probidade em todos os níveis da administração publica, temos uma presidente que está realmente “botando pra quebrar” o mais notório dos antros de corrupção deste país que é o covil onde reinava Valdemar da Costa Neto (ex-das Costas Quentes), o deputado de dois bilhões e meio de reais, 1,2 bilhão dos quais declaradamente “investidos” em fundos estrangeiros fora do alcance da polícia, se este país vier um dia a ter uma para essa gente.

Pela primeira vez, também, essa limpeza vem despida dos sinais evidentes de seletividade ideológica ou cinicamente dirigida ostensivamente presentes em todas as outras ações espetaculares que, de vez em quando, Lula ordenava que a sua Polícia Federal fizesse contra os ladrões dos outros.

Não. Desta vez ataca-se a corja toda do Ministério da Roubalheira, os ladrões do PT inclusive, para não falar dos “aliados” históricos e especialmente diletos do “nosso líder”.

E, no entanto ainda não li ou ouvi na televisão um texto, um discurso de apoio irrestrito à luta contra a corrupção que se ensaia e que os brasileiros estão esperando ha 500 anos que um dia começasse.

Ha quem se lembre, todos os dias, que Dilma também faz parte do grupo que semeou e se beneficia da corrupção. Há os que “estranhem” que ela só aja depois que a imprensa aponta podres dentro de um ministério que todo mundo sabe que sempre foi podre. Há os que reclamam porque ela está caçando os corruptos a conta-gotas e, com isso, um “importante executor de obras essenciais”, como o Ministério dos Transportes fica parado. Como se até então ele viesse trabalhando como louco para nos garantir essas belezas de estradas, ferrovias e portos que temos. E há, finalmente, a legião dos “preocupados” – incluindo de Lula à quase unanimidade dos jornalistas – com o jeito “duro” da Dilma, a sua “inabilidade política” e o isolamento em que ela pode ficar “com grave prejuízo da governabilidade”.

A preocupação de Lula eu até entendo. Porque se a moda pega mesmo ele não escapa. Agora, “grave prejuízo da governabilidade” é o que resulta desse sistema de chantagem institucionalizado que ela está tentando quebrar. Ou sou eu que estou enganado? O governo deste país funciona como um relógio? Estamos esbanjando educação e saúde publica? Não dá pra mexer que vai piorar?

A mim a única coisa que preocupa é como a Dilma poderá continuar levando adiante essa saudabilíssima intransigência para com a corrupção sem implodir o seu próprio partido, o único que tem força para derrubar presidentes desde o advento da Nova Republica.

O país que Lula nos legou está tão podre que só se pode tratar desse problema como se trata das guerras civis: “anistiando” o que ficou para trás e não constitui “crime hediondo”. Senão vamos para um Gotterdamerung, para um Juízo Final do qual não escapa ninguém.

Agora, tem de ser uma anistia apenas tácita; não declarada. Porque o que não pode nunca, de jeito nenhum, é um presidente declarar tolerância com a corrupção. Topar de frente com ela e fechar os olhos. Vê-la denunciada, com todas as provas na imprensa e fingir que não aconteceu nada.

Isso é o Lula. O cu da cobra. Não dá pra ir mais baixo. É entregar o país pros valdemares.

Vira zona.

Então é o seguinte: “Daqui pra frente, tudo vai ser diferente”. É o que dá pra fazer. E já é muito. É muitíssimo. Eu, por exemplo, já não tinha nenhuma esperança de que isso pudesse vir a acontecer um dia, sobretudo antes que acabasse a Era PT.

Por isso eu continuo CHOCADO com a atitude dos jornalistas. Esse discursinho vaselina; essas tantas “preocupações” carregadas de ameaças veladas é o papel dos valdemares. Dos ladrões.

O dos roubados é “fechar” de corpo e alma com quem, num momento e numa posição em que peitar essa pedreira requer uma enorme dose de coragem, está tendo a ousadia de enfrentar a bandidagem política. O papel dos roubados é pedir mais. É exigir que os Transportes seja só o começo. É ir pra rua e quebrar tudo se alguém ousar fazer ela voltar pra traz e engolir um desses pulhas.

Qualquer sujeito que não esteja doente dos critérios entende isso na hora como é o caso daquele jornalista do El País que, chegado da Espanha que nem é lá essas coisas, escreveu a matéria que inúmeros jornalistas brasileiros têm citado no meio dos seus textos que tresandam a medo dos zé sarneys, se preguntando que raio de povo é este que marcha pela liberação da maconha e do casamento gay mas não põe um pé na rua para exigir que parem de roubá-lo.


No novo testamento de Lula só Judas é que não se enforca

12 de julho de 2011 § Deixe um comentário

Conforme o previsto, o depoimento ontem no Senado de Luís Antônio Pagot, o agente de Valdemar da Costa Neto protegido de Blairo Maggi que ocupa o suculento cargo de diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes neste país rodoviário, apontou o Brasil outra vez na direção da “normalidade política” que a “inexperiência” de Dilma ainda insiste em perturbar.

Outro dia, na homenagem a Fernando Henrique no Senado, o ministro da Defesa e ex-presidente do Supremo, Nelson Jobim, lembrou Nelson Rodrigues para dizer de forma meio enigmática (quanto à quem se referia) que antigamente “os idiotas sabiam-se idiotas, eram humildes, chegavam devagar e ficavam quietos” mas hoje “eles perderam a modéstia”.

Estava enganado. Os idiotas, que somos os roubados, continuamos quietos. Os ladrões, que antigamente agiam por baixo do pano e em segredo é que “perderam a modéstia” e hoje nos esfregam abertamente na cara o que fazem com a segurança de quem fala de mais um irremovível “direito adquirido”.

Foi das mais acachapantes a semana e pouquinho que transcorreu entre a manhã de ontem no Senado Federal e a matéria da Veja de sábado retrasado mostrando a esbórnia que é o Ministério dos Transportes, encarregado de zelar pelas veias por onde circula o sangue da economia brasileira.

Os fatos eram tão contundentes que em menos de 24 horas tinha “caído” toda a cúpula da quadrilha que o PR instalou lá dentro. O ministro mesmo ainda esperneou por mais três dias mas também não resistiu.

Mas, a partir daí, o Brasil inteiro começou a ser lembrado sobre “quem é que manda nesta merda”.

O primeiro sinal foi francamente surpreendente. Pois veio a publico o chefão do PR Valdemar da Costa Neto em pessoa, para dizer que sim, o Ministério dos Transportes da republica lulista é, antes de mais nada, a teta onde mama o PR, e que ele próprio – que ministro que nada! – despachava diariamente de dentro do ministério que contrata a construção e a manutenção de todas as estradas do Brasil com aqueles empreiteiros habitués da nossa crônica policial para determinar a quais deles e a que preço deve ser entregue cada pedaço dessa tarefa. E que se os ladrões titulares – acusados 1, 2, 3! – estavam “pegos”, ladrões “reserva” do mesmo PR ocupariam os seus lugares.

Daí por diante o país foi tomando conhecimento, dia após dias, das novas regras do jogo, anunciadas, acinte por acinte, entre os estertores de Dilma Roussef no doloroso processo de evicção do estômago por que ela vem passando para se tornar apta a tratar em ritmo de “normalidade” com este Brasil que resulta do novo testamento de Lula onde só os judas que nos vendem (agora por 41 votos + 24 “associados”) se salvam, enquanto os apóstolos honestos têm mais é de se enforcar.

Ex-prefeito, filho de ex-prefeito de uma obscura cidadezinha nas aforas de São Paulo, ultimamente deputado federal, Valdemar da Costa Neto, o chefão do PR que nunca trabalhou fora da politica, declara ao Fisco deste país onde existe uma lei que dá força de prova de corrupção aos sinais evidentes de riqueza não explicáveis pela atividade profissional de quem os exibe, que é dono de uma fortuna de “R$ 2,5 bilhões, R$ 1,2 bilhão dos quais investidos em ações e fundos de investimento no exterior”.

Ele e o petista João Paulo Cunha são os únicos ainda com mandatos legislativos entre os 36 acusados na denuncia do Procurador Geral da Republica pelo Mensalão do PT enviada ao STF. (Recorde-se: em 2005 ele correu para o “piques” da renuncia para fugir da polícia mas, passado o susto, elegeu-se de novo e voltou para a brincadeira).

Para colocar-se em posição para receber as parcelas de suborno que o famigerado “publicitário” Marcos Valério repassava aos parlamentares dispostos a prestar serviços remunerados ao PT pagos com dinheiro do “caixa” alimentado para este fim diretamente por José Dirceu e Delúbio Soares, Valdemar criou a Garanhuns Empreendimentos. A “empresa” cujo nome homenageia a cidade natal de Lula é, segundo o Procurador Geral da Republica, “especializada na lavagem de dinheiro”, crime no qual, por enquanto, “há provas” de que Valdemar tenha se envolvido 41 vezes.

Essa atividade frenética começa a se tornar necessária depois do episódio que, é triste lembrar neste país tão falto de heróis, guindou o “Boy”, um obscuro ex-prefeito malufista que gostava de se exibir na prosaica Mogi das Cruzes em extravagantes automóveis e motocicletas dignos da Cote d’Azur, para o centro do Reich de Mil Anos que o PT trata de estruturar.

Tudo começou lá nos idos de 2002, quando Lula ia resvalando para mais uma derrota eleitoral e teve de escrever a “Carta aos Brasileiros” prometendo não fazer tudo que desde sempre jurara que faria com a herança de FHC caso fosse eleito.

A “Carta”, porém, não foi o suficiente. Lula sozinho não era palavra que bastasse a um eleitorado ressabiado. Foi então que se deu o famoso encontro num obscuro apartamento funcional de Brasília em que Lula e José de Alencar Gomes da Silva, na sala, falavam, mineiramente, dos entretantos enquanto José Dirceu e Valdemar da Costa Neto, no quarto, discutiam os finalmentes, acertados os quais a sala foi liberada para o aperto de mãos que selou a adesão de um empresário de sucesso, como vice-presidente, à chapa do candidato estatizante que se dizia convertido, o que foi tido e havido como a garantia que faltava de que a “Carta aos Brasileiros” era para valer.

Dez milhões de reais, hoje se sabe, foi o preço da transação por meio da qual Valdemar da Costa Neto se tornou o artífice da manobra que deu ao PT a chave para o poder, um feito que, esta semana provou, nunca será suficientemente pago.

Eis porque Valdemar da Costa Neto, que poderia se chamar com maior justiça Valdemar das Costas Quentes, não tem medo do que faz nem, muito menos, do que diz.

Diante do flagrante no Ministério dos Transportes Dilma já tinha escolhido sua linha de ação. Mas esqueceu-se de combinar antes com “os russos”.

Então, valores mais altos se alevantaram.

Tirar os Transportes do PR? Jamais! Afinal é de lá que despacha diariamente o deputado Valdemar, conforme as suas cândidas e textuais afirmações.

Passá-lo a Blairo Maggi como alternativa ao “perrista” ficha meio-limpa da preferencia da presidente?

Hummm. Mau negócio! As empresas do senador Maggi mantêm transações milionárias com o ministério do seu próprio partido e, feito ministro, ele teria de abrir mão desses milhões. Em sua estranha lógica, sua excelência julga-se “impedido” de desfrutá-los como ministro mas livre para gozá-los como senador do partido que agracia suas empresas, pelo que, fez uma opção preferencial pelos milhões.

E os quatro que Dilma “varreu” do ministério antes que os valores mais altos se alevantassem? Como é que ficam? Bem, diz o honesto Maggi, se quiserem mesmo fritá-los o dr. Pagot dirá quem mais, PT acima, mama na teta dos Transportes no interrogatório que lhe fariam os senadores ontem.

Sucesso!

Menos de 24 horas depois, o bom Maggi já tranquilizava a galera. “O dr. Pagot é um homem honrado; não vai cuspir no prato que comeu”…

(“No prato que comeu”, vejam bem! Isso não é uma liberdade poética deste escriba. É literal!)

E lá foi a Dilma pra cama, com mais um nó no estômago.

Num sistema de nomeações, a hierarquia é férrea. Não dá pra alguém ser punido por corrupção se o primeiro nomeador tiver garantia de impunidade. A corrupção, nos sistemas assim, é uma cadeia. Todos fazem parte da mesma operação, que tem o propósito exclusivo de fazer com que a operação não termine nunca.

Se um cair, todos caem.

Depois de oito anos “operando”, então, as diferenças possíveis são entre quem rouba para si e quem só rouba para o partido; entre quem rouba diretamente e quem só se beneficia do roubo indiretamente. Mas quem nunca tenha roubado, nunca tenha visto roubar e nunca tenha se beneficiado ao menos indiretamente do roubo, não há.

De modo que a solidariedade entre os ladravazes, os meio ladrões e até os quase honestos acaba se tornando um imperativo de sobrevivência. Não adianta ficar esperneando cada vez que um “manezinho” dá bandeira. Ou se torna o primeiro da fila punível e tudo se arruma; ou ele é intocável e tudo segue entortando cada vez mais.

Um sistema como este não pode, naturalmente, conviver com a imprensa livre, a menos que, de escândalo em escândalo, o povo resolva adotar o padrão avestruz para evitar que o trem pare de vez ou se acanalhe ele também e passe a jogar segundo a regra que lhe é imposta de cima.

Também não dá pra ter um judiciário independente. No máximo pra fingir que se tem um. Aí fica nisso: pega-se o esquema nu e cru do Mensalão, por exemplo, e se o transforma num processo de “44 mil páginas”. Coisa de uma meia dúzia de enciclopédias britânicas, senão mais. E aí, enquanto a trolha circula pra lá e pra cá sem que nenhum ser com meras capacidades humanas seja capaz de traga-la, espera-se a “prescrição” do crime, essa outra pérola do nosso sistema institucional segundo a qual cometida uma barbaridade, é só o seu autor esperar quietinho (pagando bons advogados, naturalmente) que daqui a pouco ele “deixará de tê-la praticado”.

O resto é puro Darwin. Num sistema como este quem não é filho da puta morre. No fim sobram só eles.

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