Jornalismo, censura e democracia
28 de abril de 2022 § 1 comentário
Esta entrevista foi dada a Rodrigo Romero, da TV Câmara de Jacareí, SP, em meados de março e liberada para republicação no Vespeiro esta semana.
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3a Parte
O que falta para salvar a pátria
15 de janeiro de 2019 § 14 Comentários
Artigo para O Estado de S. Paulo de 15/1/2019
Não ha quem no serviço público brasileiro não tenha sido tocado ao menos pela corrupção institucionalizada, aquela que oficialmente não é tida como o que é porque a lei é o seu instrumento de ação. Nem mesmo os militares passaram incólumes por essas três décadas de elevação da cultura do privilégio à força em torno da qual tudo o mais gravita no país oficial desde a Constituição de 88. Mas se havia qualquer duvida sobre o valor da reserva moral que lhes restou ela acabou com os fatos que se seguiram ao primeiro embate de 2019 entre Brasília e o Brasil.
Como acontece sempre na formação de qualquer governo a “área econômica” é a única que chega ao dia da posse com todas as suas referências fincadas exclusivamente no pais real. Brasília, de onde, com as regras eleitorais vigentes, obrigatóriamente sai o nucleo dos grupos que se substituem no poder, não sente o Brasil. Lá os salários sobem e as carreiras progridem por decurso de prazo tão certo quanto que o sol nascerá amanhã. Nunca aconteceu com seus familiares, nunca aconteceu com seus amigos, nunca aconteceu com seus colegas de trabalho, nunca aconteceu com eles próprios: a figura do “andar para traz” simplesmente não existe no modelo cognitivo do típico cortesão de Brasília nem como exercício abstrato de antecipação de uma possibilidade, simplesmente porque essa possibilidade não existe.
Não é de surpreender, portanto, que para todos quantos a cada nova conta a ser paga corresponde um novo “auxílio” arrancado ao favelão nacional o “modelo de capitalização” na Previdência – que em português plebeu quer dizer pagar por aquilo que se vai consumir – pareça uma inominável maldade. Essa relação, para eles, nunca foi obrigatória.
Mas agora a realidade está aí nua e crua. Financiar os 30-40 anos de ócio que o brasiliense aposentado típico vem colhendo sem nunca ter plantado custou ao Brasil passar da economia que mais crescia para a economia que mais decresce no mundo hoje, mas Brasília nem percebeu. Brasília “cresce” sempre, chova ou faça sol, por “pétrea” determinação constitucional. E, na dúvida, lá vem o cala-a-boca: “a constituição não se discute, a constituição cumpre-se”.
Só que não.
Agora, à beira do precipício, até Brasília já sente a vertigem. O inchaço do funcionalismo nos 13 anos de PT transbordando em progressão geométrica para as aposentadorias na flor da idade que congelam os salários públicos no tope de cada carreira por quase meio século mergulhou essa previdência sem poupança num processo de metástese. Com quase 40% do PIB entrando, já não sobra sequer para pagar os aposentados mais os seus substitutos com o salário de entrada. E como quando falta dinheiro para pagar funcionário no Brasil é porque já faltou antes para tudo o mais – hospitais, escolas, segurança pública, infraestrutura – não ha mais como não agir.
Velhos hábitos demoram para morrer mas os embates da primeira semana de governo deram indicações animadoras da força da humildade de Jair Bolsonaro. Ele vacilou quando se calou diante do sindicalista Lewandowski infiltrado no STF. Ele vacilou quando recusou vetar o aumento dos incentivos para a Sudam e a Sudene. Ele tem vacilado diante dos “quiéquiéisso companheiro” dos amigos da vida inteira das corporações militar e política de que faz parte. Ele vacilou, até, diante do “fogo amigo” contra Paulo Guedes. Mas Paulo Guedes é um homem de contas. A transição e os primeiros dias de governo têm sido uma avalanche de números. E com números não se discute. Assim que Guedes se decidiu a dar o limite dos “bailes” que estava disposto a levar de Brasília parece ter caído a ficha e o presidente teve a nobreza de rever sua posição. Realinhou o governo inteiro à Prioridade Zero de deter a hemorragia previdenciária e o Brasil entrou em festa para deixar bem claro a fundamental importância que essa atitude teve.
Brasília pode reagir a Onix Lorenzoni mas o Brasil reage a Paulo Guedes. E se confundir essas prioridades o governo comete suicídio e nos leva junto. Não haverá segunda chance. Não há tempo. Privatizações e descomplicações liberalizantes da vida produtiva poderão acelerar o processo. Mas o que dirá se haverá ou não processo a ser acelerado é o desenho da reforma da previdência. E o lucro ou o prejuízo serão colhidos inteiros a partir do momento que esse desenho for conhecido.
Tudo isso parece se ter tornado subitamente claro para o governo. Tocados nos brios os militares, que estão longe de desfrutar os maiores entre os privilégios do Brasil com privilégios, embora vivam no que para o país real não entra nem em sonho, declaram-se dispostos a puxar a fila dos sacrifícios para dar o exemplo. É um gesto inédito na História do Brasil e absolutamente decisivo. Se confirmado, cala para todo o sempre a boca dos detratores da instituição. Já o campo do Legislativo reflete, para bem e para mal, a diversidade do país. Mas quando chamado ao sacrifício com o devido empenho, no governo Temer, prontificou-se a responder majoritariamente a favor do Brasil. Foi detido pelo golpe Janot-Joésley que abortou a votação decisiva na véspera de acontecer. Desde então, sentindo espaço, suas piores figuras voltaram a dominar a cena. Mas um novo Congresso vem aí e, no extremo, poder eleito que é, ele sempre faz o que o Brasil diz que quer que ele faça.
Falta, agora, o movimento da inefável Versailles da privilegiatura que tem sido o Poder Judiciário. Não haverá avanço na segurança publica se não houver avanço na economia. E não haverá avanço na economia se não houver avanço na Previdência. Sem ambos, não haverá pacote de leis nem articulação de forças de repressão capaz de deter a quase guerra civil contra o crime organizado que vivemos. Mas se o ministro Sérgio Moro e seus fiéis escudeiros do Ministério Publico, seguindo o exemplo dos militares, liderassem o movimento de devolução de privilégios que suas corporações ha muito devem ao Brasil, a pátria com toda a certeza estaria salva.
A arte da biografia não vivida
19 de novembro de 2013 § 1 comentário
Enquanto a minoria ilustrada, eleitoralmente insignificante, gasta o seu latim discutindo apaixonadamente o direito ou não de se publicar biografias não autorizadas, o PT trata de empurrar goela abaixo das massas as biografias nunca vividas que ele cria e recria “ao seu pesar ou seu contentamento” e impõe a todas as escolas do Brasil.
Não vou longe porque ao fim de 10 anos desse “esqueça o que eu escrevi”, “o que eu disse”, “o que eu fiz”, “o que eu acabei de dizer”, “o que eu acabei de fazer” em que não paramos mais de avançar, muito menos que meia palavra basta.
Fiquemos só com a última semana.
Negar o crime e jurar inocência, vá lá. É proverbial. É o padrão, de Hollywood para cima. Agora, tentar transformar suborno, roubalheira e abuso de poder em atos de “heroísmo cívico”, péra lá!
Mas chocar não choca.
Desde que está pacificamente aceito e estabelecido que Dilma, Genoíno, Dirceu e cia. ltda. pegaram em armas “para lutar pela democracia brasileira” desde Cuba, que continua hoje como estava ha 56 anos, só que mais mansa, tudo mais que vier cola.
O PT, por exemplo, “não privatiza” nem no minuto mesmo em que bate o martelo e sai pro abraço da maior venda de poços de petróleo do século. E o Mensalão, nem por ter, subitamente, se tornado heroico, deixou de nunca ter existido.
Brasileirices…
Agora vem essa segunda morte de João Goulart.
Não vou entrar no mérito sobre se foi envenenado ou não foi envenenado pois parece que isto ainda se vai aferir cientificamente se é que ainda não entramos no estágio da falsificação de cadáveres.
Tentaram a mesma coisa com o JK, que nem era da tribo, e quanto pano pra manga rolou até que se confirmasse que o tiro dos “assassinos” na cabeça do motorista do ex-presidente não era senão o prego descuidado do coveiro mão-de-paca do cemitério São João Batista!
Pois o Getúlio Vargas, que saudava Hitler como “uma nova aurora para a humanidade” e nos legou o peleguismo fascista que Jango queria ver mandando na República não virou herói da esquerda brasileira?
Então quiéquitem querer fazer do vice do Jânio um fura-paredes que chegou “lá” nos ombros da classe operária e só saiu depois de muito resistir?
Como lembrou bem o Élio Gaspari neste fim-de-semana, a verdade verdadeira é que o Jango ouviu mais barulho com a salva de 21 tiros de canhão desta sua volta triunfal à Brasília petista do que os que foram disparados em todo o golpe militar que o pôs para correr antes da hora e mais os 21 anos inteiros da ditadura que se seguiu.
Coisa totalmente irrelevante, aliás. Porque aqui o que importa, cada vez mais, é só a versão.
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