Desse jeito os “contra” reelegem Bolsonaro

8 de novembro de 2021 § 39 Comentários

Sejamos curtos e grossos. Só tem uma alternativa: democracia existe quando o povo manda no governo e não existe quando o governo manda no povo; estado democrático de direito existe quando a lei é igual pra todo mundo e o privilégio é crime e não existe quando é ela que cria e faz do privilégio “cláusula pétrea”. Todo o resto da vasta literatura e, mais ainda, da torrente de discursos construídos para “beiradear” essas verdades elementares é tapeação.

É esse o problema dos 3os NOMES que não emplacam para nos tirar da sinuca eleitoral de 2022 porque 3a VIA mesmo nunca houve. Só ha duas e nenhum dos 3os nomes quer mudar o poder de mãos, para as do povo como é da democracia sem aspas. Todos só querem ser eles a presidir o estupro legalizado do favelão nacional.

É a mesma gente para a qual reduzir privilégios da privilegiatura que consome 95% ou mais da quase metade do PIB que os governos arrancam do favelão nacional com a mais alta carga de impostos do mundo (36% nominais mais os quase 10% ao ano de déficits/dívidas para fechar a conta) é “altamente impopular”.

Corte de privilégios, nem pensar! Só de investimentos! Direito arranquirido não morre jamais!” E a cada geração, a reforma vale só pra próxima geração…

É a mesma turma pra quem a “antidemocracia” de uns pede prisão enquanto o “amor à liberdade” de outros se expressa censurando e prendendo. Aquela imprensa que clama contra “o lavajatismo” (usar todos os meios, inclusive os ilegais, para combater a corrupção) mas exige o uso de todos os meios, inclusive o mais subversivo, de “legalizar” os ilegais, para soltar corruptos ou calar quem ousa pensar diferente.

O problema sem solução dessa gente é que, tirante a estupidez granítica quanto a vacinas, que é mais semântica que concreta, fato que à “de esquerda” não interessa esclarecer porque é a que lhe garante a sobrevivência, e a diferente disposição de roubar e deixar roubar que é aritmeticamente demonstrável, Bolsonaro e a privilegiatura “de direita” só são pertinentemente criticáveis pelo que têm de igual e não pelo que mais têm de diferente dela.

A “revolução”, depois que a realidade matou o sonho, caiu nessa bizarrice de gênero, raça e “correção do discurso” — pro Brasil nada! — porque tudo que de fato condena o favelão nacional a permanecer favelão nacional, nem a “direita” nem a “esquerda” da privilegiatura podem denunciar sem denunciar-se a si mesmas.

São eles – do barnabé e do soldado raso ao professor das universidades públicas de rico e aos generais, uns um pouco menos os outros muito mais – com seus empregos eternos, suas mordomias obscenas, suas aposentadorias plenas e precoces, suas legiões de criados e assessores rachadores, sua impunidade, seus “auxílios”, suas lagostas e seus vinhos tetracampeões, que custam a metade do PIB que falta agudamente à mesa do resto do país.

E é também pra que tudo isso fique intacto que o tema ambiental vive atolado na desconfiança sobre as ações propostas pela vasta horda dos profissionais da caça às verbas disponíveis para o assunto e não na discussão sobre a necessidade de ação séria e efetiva, sobre a qual ninguém mais que viva sob estes céus cada vez mais inclementes tem dúvida. O ambientalismo profissional carnavalesco, que quer índio no zoológico, virou um rabo da privilegiatura que, como ela, vive de, e se promove com, dinheiro público, e se quer intocável, inauditável e inimputável como ela.

Os bolsonaros do mundo foram eleitos em função da repulsa das maiorias sóbrias contra a hegemonia arrogante e assumidamente desonesta desse discurso. E o pânico da perspectiva da perda do poder empurrando a falta de diferença na substância entre esses dois lados da mesma moeda, levou a essa polarização cretina que está aí. Grita-se A se Bolsonaro estiver gritando Z, mas passa-se imediatamente a gritar Z se ele concordar em mudar para A.

Não tem acerto. E o favelão nacional é o refém desse ódio.

Como de bobo Bolsonaro não tem nada, é ele quem escolhe o discurso. Empurrado de volta para o Centrão e para a “velha política” de tanto apanhar por tentar nega-la, fica com o de reduzir o preço do gás e da gasolina e como tornar perene o auxílio de R$ 400 para as vítimas da pandemia. Automatica e estupidamente como todos os raciocínios binários que cavaram esse buraco por baixo dos pés do Brasil, ao outro lado, que no ano passado empurrou dos R$ 200 propostos por Paulo Guedes para os R$ 500 impostos por Rodrigo Maia que, numa das manobras de cálculo mais sórdidas dos anais da sordidez, levou aos R$ 600 finalmente replicados por Bolsonaro que quebraram o Brasil, resta o discurso de como impedir o governo de fazer isso acrescentado às acusações de “crime contra a humanidade” que tanto comovem quem vive sob o fogo cruzado do crime organizado pra ver se conseguem levar a eleição com a fome do povo.

E como a este “A ou Z ou A” não ha argumento racional que sobreviva, a conversa sobre o interesse em zelar pelas contas públicas, proteger os acionistas da Petrobras, os donos de precatórios e os futuros investimentos estrangeiros no Brasil, junto com o de “salvar vidas” da CPI canalha de Renan Calheiros, Omar Aziz e Randolfe Rodrigues, não é que não enganam a velhinha de Taubaté. Não convencem nem mesmo o PT.

Assim, se não surgir nenhum lúcido por fora falando em aderir finalmente à revolução democrática e em entregar o poder ao povo, única maneira historicamente conhecida de faze-lo servi-lo, periga a “esquerda” da privilegiatura, que já fez isso uma vez, conseguir reeleger a “direita” da privilegiatura, e assim sucessivamente num nunca acabar, até o Brasil acabar.

Porque o PSDB está morrendo

29 de novembro de 2012 § 4 Comentários

Terminava assim o artigo “Renovação (com Sólida Memória) ou Irrelevância”, de Sergio Fausto (aqui), hoje no Estadão:

O País clama por uma oposição à altura dos desafios e oportunidades que o quadro político apresenta. Ou o PSDB se ergue ou se condena à irrelevância. É agora ou jamais”.

Temo que seja jamais, tanto pelo que está ausente do artigo dele, que é o Diretor Executivo do Instituto FHC, quanto pelo que não aborda o artigo que ele nos convoca a ler, o interrogativo Um Futuro para o PSDB?, de Jose Augusto Guilhon de Albuquerque e Elizabeth Balbachevsky (aqui) publicado no mesmo jornal dias atrás.

Os dois últimos concentram-se nos sintomas do “esgarçamento das bandeiras”, do “caciquismo” e da “crise de identidade” da doença que afeta o partido. Já Fausto atem-se às memórias de um passado que reconhece “distante” e aos “estigmas” que os espertos marqueteiros petistas pespegaram no PSDB, outro modo de enumerar os mesmos componentes do diagnóstico anterior, excluída a ênfase no caciquismo.

Mas a chave da charada parece-me estar escondida por tras desta sua outra constatação:

Os governos de Lula e Dilma têm méritos. O maior deles é o terem aproveitado e, em alguns casos, aprimorado e expandido instituições e programas criados nos governos anteriores (…)

O que isto quer dizer?

Por que o mero debate em torno dos “direitos autorais” sobre a mesma obra a que se têm resumido as campanhas eleitorais não consegue mobilizar uma aliança entre os 30% de paulistanos que votaram em Serra e os 33% que preferiram não votar nem nele, nem no PT, assim como o resto dos milhões de brasileiros que se manifestaram de forma exatamente semelhante na última eleição municipal?

Porque o PSDB é o PT civilizado. Ou, se preferirem, o PT é o PSDB tosco. Não há diferenças conceituais essenciais entre eles.

Falo, naturalmente, do PT que vai sobreviver ao Mensalão e não das pontas bandidas que, de qualquer maneira, o STF condenou ao desaparecimento. A questão é que entre esse PT e o PSDB, como admite Fausto citando Lula e Dilma, não há diferenças senão de estilo e dosagem no que diz respeito ao essencial que é a forma de relacionamento entre o Estado e a sociedade civil.

E, sendo assim, prevalece, com a ajuda da sorte, o que o outro tem a mais que ele em matéria de empatia emocional com o arquétipo brasileiro.

O PSDB nasceu (…) antagônico à tradição patrimonialista e clientelista (…) venceu a hiperinflação (…) rompeu os monopólios estatais (…criou) regimes de competição regulada”,  melhoramentos que o PT reverteu, coisa que é preciso denunciar apontando “a infestação do aparelho do Estado por gentes sem qualificação técnica e sem independência profissional para resguardar o interesse público”, diz Fausto.

É aí que está o ponto.

No sistema que temos e que nenhum dos dois propõe mudar na sua essência, não ha nem pode haver segurança institucional.

Infestar o Estado por gente sem qualificação; aparelhar a máquina pública para colocá-la a serviço de um projeto de poder não pode continuar sendo uma opção ao alcance do governante de plantão. Respeitar instituições, preservar as conquistas macro-econômicas, investir em educação e infraestrutura de qualidade, manter a responsabilidade fiscal não pode ser uma escolha entre muitas; têm de ser uma imposição para todo e qualquer governante tão incisiva quanto a imposição de probidade no trato da coisa pública que o STF começa a exigir.

Só que esta não é uma questão que o Judiciário possa resolver. Esses movimentos de fluxo e refluxo em que vivemos atolados desde o início da República continuam sendo possíveis porque todas as melhorias apontadas por Fausto dizem respeito apenas às relações do Estado com o Estado, aos arranjos dele consigo mesmo, e não às relações do Estado com a sociedade que é o que de fato precisa ser reformado.

Essas nunca foram alteradas. “Eles” continuam “lá” e nós “aqui”, uns fora do alcance dos outros. Passado o momento da eleição e até a próxima eleição somos totalmente impotentes; tudo que temos direito de fazer é “torcer” pelo melhor.

Alterar essa relação, rearranjar o equilíbrio de forças entre representantes e representados é a única coisa que fará diferença do ponto a que já chegamos em diante. E isso só se consegue dando aos principais interessados na preservação dessas conquistas as armas necessárias para efetivamente guardá-las.

Como?

Quebrando  a capilaridade das máfias que traficam “governabilidade” pela despartidarização das eleições municipais; tornando transparente o sistema de representação com o voto distrital; restringindo o poder de nomear estritamente às funções políticas; acabando com a incondicionalidade da estabilidade no emprego do funcionalismo; tornando eletivos os cargos públicos nas áreas com relação mais direta com a população tais como educação, segurança e saúde públicas; armando o eleitor com o poder de deseleger rápida e facilmente quem se mostrar indigno da delegação recebida; fortalecendo a figura da lei de iniciativa popular para que os legislativos não possam mais desfigurar o que os eleitores ordenarem diretamente que façam como tem ocorrido; tornando obrigatório o referendo das questões mais importantes como a cobrança de novos impostos…

Transferindo, enfim, poderes reais e concretos do Estado para a sociedade civil.

A fórmula é conhecida, testada e aprovada. Trata-se de reduzir o espaço para a ladroagem e a exploração do outro que são características do bicho homem.

Nós estamos muito longe dela?

Menos, talvez, do que possa parecer à primeira vista. Porque aquilo que só parece mas não é, o povo já sabe identificar. Não o comove mais.

E por as decisões essenciais sobre o futuro de seus filhos nas mãos de pais e mães “ignorantes”; seria tal sistema mais perigoso que deixá-las nas de quem tem feito de nós gato e sapato ha 512 anos?

Engula essa truta se ela ainda passar pela sua goela…

É hora de começar a tratar do essencial!

Quem tiver a coragem de erguer as novas bandeiras primeiro, emergirá como uma luz brilhante das trevas da irrelevância geral.

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