A maldição das commodities

17 de dezembro de 2014 § 12 Comentários

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O desastre econômico é o corolário obrigatório das autocracias que misturam ignorância com arrogância resultando em instabilidade institucional, desconfiança e destruição do habitat do progresso e da criação de riquezas. E aprofunda-se exponencialmente quando, enfraquecidas pela colheita daquilo que semeiam, essas autocracias passam a se agarrar ao poder na base da violência.

Mas não ha força terrena que faça isso durar para sempre. Não foram as democracias ocidentais ou as forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte que derrubaram o socialismo imposto à metade do mundo no século passado. Foram os próprios habitantes do outro lado da Cortina de Ferro que, cansados de olhar o mundo andando de Mercedes de dentro dos seus Lada, derrubaram O Muro que já estava roído de podre e marcharam para Oeste sob o olhar impotente do Exército Vermelho.

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Desde então, com exceção do parque jurássico ideológico criado pelo Foro de São Paulo sob a batuta do nosso Luis Ignácio Lula da Silva, um autoproclamado inimigo do conhecimento, ninguém mais neste planeta fala em socialismo.

Nesta “nuestra América” o dinossauro, ironicamente, reviveu por consequência do seu DNA, “congelado no ambar” da falta de escolas, ter sido tocado pelo fulminante arranco dado por aquele quinto da humanidade que ficou meio século paralisado pelo terror da versão maotsetunguiana do surto socialista que ensanguentou o século 20 quando ele finalmente adotou o capitalismo, ainda que numa forma pervertida. Aquele bilhão e meio de famintos acuados livres outra vez para fazer por si voltando subitamente a comer e a consumir mais que o estritamente necessário para sobreviver até amanhã provocou uma explosão no preço das commodities de um mundo que não estava pronto para produzi-las na escala necessária.

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Para o Brasil essa inesperada onda de bonança foi uma tremenda falta de sorte!

Já é um clássico o artigo de Jeffrey Sachs e Andrew Warner, de 1995, “A Maldição do Petróleo”, em que tratam de demonstrar porque os países muito ricos em recursos naturais – o petróleo em especial – crescem em geral muito menos que os demais. Tudo é uma função ampliada daquilo que todo ser humano aprende de observar o seu próprio círculo de relacionamentos, e que pode ser resumido no seguinte axioma: toda riqueza corrompe; mas a riqueza que não é consequência do esforço e do trabalho corrompe absolutamente tanto indivíduos quanto sociedades inteiras justamente porque quebra essa educativa relação de causa e efeito entre a arrogância ignorante temperada pela violência institucional e o desastre econômico que, cedo ou tarde, será a consequência obrigatoria delas.

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A disponibilidade de riqueza fácil enterrada a poucos metros do solo ou produzida pela luz do sol associada à amenidade do clima aumenta exponencialmente os hiatos de crime desacompanhado de castigo, transformando-os em armadilhas psicológicas de consequências funestas, capazes de desgraçar populações e sacrificar gerações inteiras. Pois por maiores que sejam as estupidezes perpetradas pelo energúmeno no poder continua chovendo mais dinheiro no cofre do que ele consegue dissipar com a sua incúria e com os seus crimes, passando aos seus súditos a impressão de ser ele o responsável pelo “milagre” da fartura sem suor.

Com os cofres abarrotados ele ganha, por cima do “egotrip” que a tudo isso agrava muito, a condição de comprar apoios e eleições dando “provas” cotidianas de que “melhorar de vida” é coisa que não tem nenhuma relação com trabalho, investimento em conhecimento, esforço individual ou mérito, basta a sua “vontade política” de distribuir privilégios que, para serem revertidos mais adiante, haverão de custar sangue, suor e lágrimas posto que esse tipo de droga vicia organicamente ao primeiro contato com o organismo do usuário.

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Eis aí o resumo do fenomeno do “renascimento do socialismo” entre os grandes produtores de petróleo e de commodities da América do Sul, tais como a Venezuela, o Brasil e o resto da grei bolivariana, espelhado pelo recrudescimento das autocracias que sobreviviam ao Norte do Equador como a da Russia de Vladimir Putin que, ao contrário da China que teve de enriquecer trabalhando, nadava numa tal abundância de petro e gasodólares que convenceu-se de que era “iluminado” o bastante para patrocinar um “revival” do velho imperialismo soviético que o desastre econômico socialista matara à mingua, e voltou a invadir seus vizinhos.

Agora acabou.

O petróleo mergulhou de volta para a casa dos US$ 60 depois de chegar quase ao dobro desse valor porque passou a interessar aos árabes inviabilizar fontes alternativas de energia e os tanques de Putin estão voltando para casa onde a crise se avoluma. Bye, bye pre-sal, mesmo se ainda houver uma Petrobras. A China anda mais devagar e as commodities agrícolas e minerais estão em limite de baixa. Tudo que deixou de ser feito ou foi destruído sob o manto enganador da abundância “sino-propulsada” de quatro ou cinco anos atras está aparecendo como o que de fato sempre foi: a obra de energúmenos arrogantes que só construíram mesmo de sólido gigantescas redes de corrupção.

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O esvaziamento dos tesouros nacionais é sempre vertiginoso a partir do momento que saem de cena os ingressos alheios à conta doméstica de entrada e saída de valores, reflexo da quantidade de esforço investido em educação e em produção real, mais o que os especuladores internacionais sempre prontos para a fuga no momento exato punham por cima desse numero para morder o seu pedaço do bolo artificialmente inflado para enganar eleitores. E isso cria uma conjuntura de altíssimo risco pois a cada minuto que passa fica mais claro para os autores da fraude que não ha mesmo meios de continuar a escondê-la e que o último caminho que resta para não perder o poder é parar de disfarçar e puxar a arma. É o estágio de que já passou a Venezuela e no qual estão ingressando a Argentina e tantos outros, e que se prenuncia no horizonte do Brasil na forma de pesadas nuvens de tempestade.

No que diz respeito ao tempo histórico, não ha a menor dúvida: no final eles “não passarão”. Mas podem, sim, sacrificar mais uma ou duas gerações de brasileiros condenando-as a ser devastadas por uma doença cuja cura já era conhecida desde meados do século passado.

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Cuidado! Delfin Netto está adorando!

25 de setembro de 2012 § Deixe um comentário

Peço desculpas aos leitores por voltar em tão poucos dias a usar esta tão definidora (conquanto chula) expressão da Última Flor do Lácio mas é que, desde que o li no Valor de hoje, depois de ter lido Miriam Leitão no Globo, ela volta-me a cabeça sem parar.

Não é de hoje, aliás, que considero este senhor como um dos mais seguros alarmes da ameaça permanente de recidiva das velhas doenças brasileiras. Sempre que ele gosta demais da situação meus pelos se eriçam. E há tempos que tem sido este o caso.

Meu pai diz que o pior tipo de filho da puta é o que escreve bem. E tem toda a razão porque são estes os mais capazes de seduzir os incautos para que caminhem de livre e espontânea vontade para o abismo.

É o caso de Antônio Delfin Netto.

Em qualquer país com polícia ele estaria na cadeia. Não pelo que diz, naturalmente, porque malgré l’Islam, todo mundo tem o direito sagrado a qualquer grau de blasfêmia. Mas pelo que fez. A assinatura dele está lá no famigerado AI-5 que inaugurou os Anos de Chumbo. Foi ministro da Fazenda do general Costa e Silva, o mais “tapado” entre todos os que nos comandaram e, desde então (1969) nunca mais deixou de ser o grande “mago” do “Milagre Econômico Brasileiro“, a mesma tapeação que o PT está voltando a encenar e que acabou numa inflação que, nas vésperas da chegada de Fernando Henrique Cardoso ao controle da economia brasileira, bateu em mais de 80% ao mês (diz a Wikipédia que a inflação média no Brasil, sob as luzes delfinianas, foi de 166% ao ano).

Mas como vivemos neste país esquisito, saiu do Ministério (àquela altura) do Planejamento dos milicos em 1985 diretamente para o PMDB e, desde então, tem a secreta admiração daquela mesma “esquerda” que, como Lula, no fundo no fundo, sempre adorou o mandonismo dos milicos e odiou o jogo com regras com a diferença que o queria vestido de rosa em vez do antigo verde-oliva.

Assim é que, mesmo se tendo envolvido em falcatruas grossas, além de fabricar um dos mais formidáveis moto-contínuos da miséria e da concentração da riqueza de que o mundo tem notícia, Delfin Netto não só safou-se da cadeia como ganhou as maiores tribunas do país para pregar a volta da infecção de que o Plano Real livrou o país. E o faz sempre com aquela inteligência perversa com que o aparelharam os anjos caídos, a cozinhar o seu velho caldo de cultura.

Hoje está no Valor a defender com exemplos internacionais torcidos como todo argumento de que se serve, a livre troca de secreções entre os bancos centrais e aqueles de quem eles foram feitos para nos proteger, como se o mundo viesse, desde sempre, na mesma contramão em que ele manteve o Brasil pelos 16 anos durante os quais reinou. Isto é, como se a regra geral fosse abrir uma exceção à falta geral de regras em função do pânico da crise, como aconteceu no curto interregno de FHC, e não o contrário.

Miriam Leitão expõe hoje no Globo com todos os “comos” e os “quantos“, o que de fato está acontecendo. Mas como vive sob as regras estritas da nossa Lei de Imprensa, tem de ser mais comedida com as palavras que dedica às conclusões do que ainda é permitido nesta internet.

Esqueçam o palavrório do dr. Antônio. A verdade é a que Miriam Leitão descreve e o nome desse joguinho de me engana que eu gosto, pelo menos até a edição de um eventual AI-6 que de novo dispense a formalidade do voto, é estelionato eleitoral, suborno de massas, compra de popularidade (na sequência da compra de votos no Congresso).

Compra de poder político, este irmão siamês do poder econômico, enfim, nessa nossa capenga “democracia de obstáculos” onde é preciso dar um saltozinho a cada quatro anos, mas no meio do caminho pode-se deitar e rolar.

Confira o que conta a Miriam:

O Perigo Silencioso

por Miriam Leitão (para O Globo de 25 de setembro de 2012)

A gestão do ministro Guido Mantega no Ministério da Fazenda está destruindo o patrimônio fiscal que levou uma década e meia para ser construído. Dentro dessa categoria, de demolição da ordem fiscal duramente edificada, encaixa-se a decisão de o Tesouro se endividar em R$ 21 bilhões para a Caixa Econômica e o Banco do Brasil aumentarem a oferta de empréstimos.

Por 15 anos, entre o fim da ditadura militar e o ano 2000, o país executou uma enorme tarefa para acabar com os orçamentos paralelos, a conta movimento, os ralos e as fantasias contábeis até chegar à aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal.

É esse arsenal que tem sido furtivamente recriado. A operação autorizada por Medida Provisória na sexta-feira é parecida com as que foram feitas para o BNDES. A dívida aumentará, porque o Tesouro tem que lançar papéis no mercado, mas a operação é mascarada como empréstimo a esses bancos. Não se sabe quando eles pagarão a dívida, por isso é impossível calcular o custo disso para os cofres públicos.

O custo médio de financiamento da dívida pública interna este ano está em 11,85%. A Selic está em 7,5%, mas o custo real é impactado pelos juros que incidem sobre títulos antigos. O Tesouro receberá do Banco do Brasil os 5,5% da TJLP nos R$ 8,1 bilhões que irão para a instituição. Haverá custo para o governo, mas ele não estará no Orçamento. Criar despesas de forma disfarçada e não registrá-la no Orçamento é contornar a obrigatoriedade de que não se criem despesas sem a definição de receitas.

A conta movimento parecia um gasto sem ônus e sem limite. O Banco do Brasil sacava no Banco Central para cobrir seu balanço. Agora, os bancos públicos têm recebido recursos de uma forma semelhante.

O objetivo da operação, segundo a nota do Ministério da Fazenda, é “manter a capacidade de expansão da carteira de crédito, garantir a continuidade do aumento da participação no mercado”.

Há sinais fortes de que o ciclo de empurrar as famílias para o endividamento está se esgotando. O crédito nos bancos públicos cresceu 27%, e a inadimplência subiu 22%, em 12 meses até julho.

Se o BB e a Caixa crescerem no mercado via competição normal com bancos privados, isso é saudável. O erro é o governo estabelecer como objetivo de política pública que eles tomem mercado à custa de subsídio público, ainda mais porque um dos bancos, o Banco do Brasil, tem sócios privados.

Se esse crescimento der lucro, será transferência de recursos públicos para particulares; se der errado, o acionista do BB pagará a conta em forma de queda de redução de dividendos. Se for capitalização, vai diluir o capital do minoritário, e isso tem que ser comunicado previamente à CVM.

O Tesouro se comporta como se tivesse descoberto a fórmula mágica da multiplicação dos recursos sem ônus. Lança títulos ao mercado e transfere o dinheiro para os bancos públicos, e eles, por sua vez, pagarão com juros baixos e no prazo que quiserem. Se é que pagarão. Há gasto público embutido aí, mas não há registro como despesa em lugar algum, e por isso o impacto fiscal é escondido. Já foram emprestados assim mais de R$ 300 bilhões ao BNDES. Agora, o mesmo acontecerá com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica.

Equívocos na política econômica pesam muito tempo sobre o país. Durante anos pagamos o preço dos erros da bagunça fiscal do governo militar, em forma de inflação. São esses mecanismos, aparentemente engenhosos, que estão silenciosamente voltando a ser criados. Parece que os economistas do governo não aprenderam a lição número um: a de que não existe almoço grátis.

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