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Funerales

Este post é um exemplo do melhor estilo de Yoani Sanchez, cujo blog, “Generacion Y” está na lista de links indicados pelo Vespeiro. Yoani, sequestrada e espancada ha 15 dias por agentes da ditadura castrista, corre riscos para mostrar ao mundo a Cuba que Lula não gostaria que você conhecesse.

funerario

De un tiempo a esta parte se respira un aroma funerario. En el noticiero de la televisión ya se ha hecho un hábito, casi mensual, las imágenes de ceremonias fúnebres: toque de corneta llamando al silencio, veintiuna salvas, el paso marcial de los soldados, lágrimas y palabras de despedida. Se inauguran nuevos mausoleos y se restauran los ya existentes. A esto se le suma una febril manía por conmemorar aniversarios de cualquier hecho y ensalzar efemérides de obligatoria celebración. La senil preocupación por la conservación de la memoria ha desplazado a la juvenil inquietud creativa.

La población cubana ha envejecido, en parte por la baja natalidad, la constante emigración de los más jóvenes y la elevación de la esperanza de vida. Pero las canas se acentúan entre quienes llevan los timones del país. Quizás por eso -cada día- sean más los analistas que se inclinan a usar la palabra gerontocracia para precisar nuestra forma de gobierno. La definición pudiera parecer inexacta si se tiene en consideración el promedio de edad de los diputados a la Asamblea Nacional, pero en sentido contrario se observa que hace más de doce años no se renueva el Comité Central del Partido Comunista. Hay un buen número de ministros que todavía no rebasan los sesenta años, aunque la mayor cuota de poder está concentrada en manos de septuagenarios y octogenarios.

En lugar de acelerar la marcha hacia adelante, estos veteranos se regodean en mirar el tramo recorrido y exigir agradecimiento por lo logrado. Mientras se preparan para lo que será sin dudas el funeral más espectacular de la historia de Cuba, o lo que algunos llaman “la solución biológica”, la saga luctuosa que inunda la programación televisiva tiene visos de ensayo general. El ruido de los cañonazos ceremoniales no permite que se escuchen los golpes con los que la nueva generación está llamando a la puerta, por la que entrará como una tromba a desmontarlo todo. Arrasando -de paso- con este olor a flores secas que sentimos por todos lados.

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  • O professor Zingales é um imigrante, um americano por opção e não por nascimento, e tem se dedicado a estudar a diferença entre o capitalismo americano e o capitalismo no resto do mundo. Estas são a sua análise e as suas recomendações.

O Capitalismo depois da crise

Luigi Zingales

A crise econômica do ano passado, centrada como foi no setor financeiro que é o coração do capitalismo americano, vai deixar marcas duradouras. A regulamentação financeira, o papel dos grandes bancos e as relações entre o governo e os principais players do mercado nunca mais vão ser as mesmas.

Mas o mais importante é o quanto pode mudar a atitude da opinião publica sobre o sistema. A natureza da crise e das respostas do governo a ela ameaçam minar a crença da opinião publica na honestidade, na justiça e na legitimidade do capitalismo democrático. Ao permitir que se criassem as condições que tornaram essa crise possível (particularmente a concentração de poder nas mãos de umas poucas instituições), e ao responder à crise do jeito que respondeu (especialmente com as gigantescas operações de resgate de bancos e grandes corporações), os Estados Unidos se arrisca a começar a derivar na direção do corporativismo europeu e do capitalismo de camaradagem de regimes mais estatizados. Isso ameaça a marca distintiva do capitalismo americano que, até agora, tinha conseguido evitar a associação automática que a opinião publica faz, no resto do mundo, entre esse sistema e a corrupção, que foi o que proporcionou a este país viver, até aqui, relativamente livre do populismo anti-capitalista.

Isto está começando a mudar? E se está, é apenas uma reação passageira à recessão ou uma mudança mais profunda e destrutiva da atitude dos americanos?

Os sinais mais recentes que temos colhido não são animadores…

Pau nos ricos

Um amigo meu trabalhou como consultor para o hoje infame gigante dos seguros American International Group (AIG). Para evitar que ele abrisse o seu próprio hedge fund, a AIG lhe ofereceu um acordo de não competição: uma soma em dinheiro para compensá-lo por não explorar essa oportunidade. Trata-se de uma prática ultra conhecida e aceita. Mas, infelizmente para o meu amigo, o pagamento era para ser feito no final de 2008. Assim, ele passou os primeiros meses de 2009 em pânico: seu contrato foi listado como um dos notórios bônus de retenção de empregados do AIG. No auge da fúria contra esses bônus, ele recebeu diversas ameaças de morte. Embora ele não tivesse nenhuma obrigação legal de fazer isso, devolveu o dinheiro à companhia esperando que o gesto pudesse evitar que seu nome fosse publicado nos jornais. No caso disso não ser suficiente para protegê-lo, deixou preparado um plano para a fuga de sua mulher e seus filhos. Era a única coisa responsável a fazer Afinal, manifestantes irados tinham atacado as casas de diversos executivos da AIG cujos nomes apareceram nos jornais e somente por sorte muitos deles não acabaram feridos.

Embora episódios desse tipo tenham, felizmente sido bastante raros, eles dão um testemunho de um descontentamento profundo. Numa pesquisa recente, 65% dos americanos disseram que o governo deveria cortar as bonificações para executivos das grandes corporações e 60% disseram que o governo devia intervir para melhorar o modo como essas corporações são geridas. Essas opiniões não refletiam, exatamente, confiança no governo: somente 5% dos americanos disseram, na mesma pesquisa, que confiam muito no governo e 30% que não confiam nada no governo. O problema é que, no momento, os americanos confiam menos ainda nas grandes corporações: menos de um em cada 30 americanos disseram que confiam muito nelas e um em cada três disseram que não confiam nada nelas.

Essas atitudes são familiares para os estudiosos da opinião publica na maior parte do mundo. Mas não são comuns nos Estados Unidos. Até recentemente, os americanos apoiavam os princípios básicos da economia de mercado e até expressavam a sua tolerância por alguns dos seus efeitos colaterais indesejáveis como a desigualdade de renda.

O capitalismo sempre teve um apoio publico excepcionalmente forte nos Estados Unidos porque o modelo americano de capitalismo sempre se distinguiu dos demais ao redor do mundo, especialmente por estar baseado num sistema de mercado realmente aberto e livre. O capitalismo não se apóia apenas na liberdade de empreender, mas sobretudo nas regras e políticas que permitem liberdade de acesso aos recursos financeiros para os iniciantes e que mantêm um jogo equilibrado entre os competidores. Os Estados Unidos sempre estiveram mais próximos que todos os outros dessa combinação ideal, o que não é coisa desprezível levando-se em conta que as pressões e as recompensas do jogo econômico não levam naturalmente a esse equilíbrio. Pois não obstante todos se beneficiem de um mercado livre e competitivo, ninguém em particular aufere lucros por manter o sistema competitivo e o jogo econômico equilibrado. O verdadeiro capitalismo pede uma ação forte dos lobbies.

Essa afirmação pode parecer estranha diante dos bilhões de dólares que as empresas gastam fazendo lobby no Congresso dos Estados Unidos, mas esse é exatamente o ponto. A maior parte dessa ação de lobby tenta desequilibrar o jogo numa ou noutra direção e não mantê-lo equilibrado. A maior parte do esforço de lobby é pró-business, no sentido de que promove interesses de negócios existentes e não pró-mercado, no sentido de fomentar a competição livre e aberta. A competição força as empresas estabelecidas a provar sua competência todos os dias; por isso os maiores players tendem a usar sua força para restringir essa competição e fortalecer suas posições. O resultado é que há uma forte tensão entre a agenda pró-mercado e a agenda pró-business, ainda que.

A exceção americana

Num estudo recente, Rafael Di Tella e Robert MacCulloch mostraram que o apoio ou a rejeição ao capitalismo num dado país está diretamente associado à realidade do trabalho. Onde o trabalho, e não a sorte, determina o sucesso, a avaliação é positiva. Onde se dá o contrário, a idéia de capitalismo é associada à de corrupção. E é basicamente isso que explica o apoio ao capitalismo nos Estados Unidos. De acordo com um estudo recente, somente 40% dos americanos acreditam que a sorte pesa mais que o trabalho para explicar as diferenças de renda. No Brasil, 75% acreditam que é a sorte o fator decisivo; na Holanda 66%, na Alemanha 54%.

Há quem afirme que essa percepção da legitimidade do capitalismo é mero resultado de propaganda do chamado sonho americano, um mito que estaria profundamente arraigado na cultura americana, e não, necessariamente apoiada na realidade. É verdade que os dados brutos não mostram uma abundancia de evidencias de que a mobilidade social na base da pirâmide seja maior nos Estados Unidos que em outros países desenvolvidos. Mas ainda que essa diferença não apareça na estatística geral, está fortemente presente no topo da pirâmide que, frequentemente, é a que recebe maior atenção e mais influi para definir a atitude das pessoas. Bem antes que o boom da internet criasse um monte de jovens bilionários, a partir de 1996, um em cada quatro bilionários americanos podiam ser descritos como self-made men – comparados com um a cada dez na Alemanha. E os mais ricos entre os bilionários self-made dos Estados Unidos – de Bill Gates e Michael Dell a Warren Buffet e Mark Zuckerberg – construíram suas fortunas em negócios competitivos, com pouca ou nenhuma ajuda do governo.

O mesmo não pode ser dito da maioria dos países onde as pessoas mais ricas tendem a fazer fortuna em negócios regulamentados pelo governo, nos quais as conexões políticas são o fator decisivo de sucesso. Os oligarcas russos, Silvio Berlusconi, na Itália, Carlos Slin, no México e mesmo os grandes tycoons de Hong Kong estão todos nessa categoria. Fizeram suas fortunas em negócios altamente dependentes das concessões do governo como energia, empreendimentos imobiliários, telecomunicações, mineração. O sucesso nesses negócios quase sempre depende mais de ter as conexões certas do que de ter espírito empreendedor e iniciativa.

Na maior parte do mundo a melhor maneira de se fazer dinheiro não é ter idéias brilhantes e trabalhar duro para implementá-las, mas sim cultivar boas conexões no governo. Esse modelo do “capitalismo de camaradagem” molda as atitudes do publico a respeito do sistema econômico do pais. Quando perguntados sobre o mais importante fator determinante de sucesso financeiro, os administradores de empresa italianos põem “conhecer pessoas influentes” em primeiro lugar (80% consideram isso importante ou muito importante). “Competência e experiência” apareciam em quinto lugar, atrás até de quesitos como “Lealdade e obediência”.

Esses diferentes caminhos para a prosperidade revelam mais que uma diferença de percepção. O capitalismo americano é realmente diferente das suas contrapartidas européias, por razões que estão profundamente enraizadas na história.

As raízes do capitalismo americano

Na America, diferentemente do resto do Ocidente, a democracia precede a industrialização. Quando a Segunda Revolução Industrial estava em curso no final do século XIX, os Estados Unidos já tinham vivido várias décadas de voto universal (masculino), assim como várias décadas de educação para todos. Isso criou uma opinião publica exigente, pouco disposta a aceitar políticas econômicas com distorções e injustiças evidentes. Não é por coincidência que o conceito de lei antitruste – uma idéia pró-mercado e não pró-business – tenha se desenvolvido nos Estados Unidos do fim do século XIX e início do XX. Também não é por coincidência que no início do século XX, alimentada por uma imprensa atuante e investigativa e um movimento político populista (mas não anti-mercado), os Estados Unidos aumentaram a regulamentação da economia para reduzir o poder das grandes empresas. Ao contrário da Europa – onde a oposição aos excessos do poder econômico vinham de um movimento socialista anti-mercado – nos Estados Unidos essa oposição era entusiasmadamente pró-mercado. Quando Louis Brandeis atacava os grandes trustes, ele não estava tentando interferir com o mercado, ele estava apenas tentando fazer com que ele funcionasse melhor. O resultado é que os americanos foram os primeiros a entender que os interesses do mercado e o das empresas nem sempre são coincidentes.

O capitalismo americano também se desenvolveu numa época em que o envolvimento do governo na economia era muito fraco. No início do século XX, quando a moderna América capitalista estava tomando forma, os gastos do governo dos Estados Unidos correspondiam a 6,8% do PIB. Depois da II Guerra Mundial, quando o capitalismo finalmente tomou forma na Europa Ocidental, o gasto médio dos governos europeus correspondia a 30% do PIB. Até a I Guerra Mundial, os Estados Unidos tinham um governo federal magérrimo comparado ao governo nacional de qualquer outro país. Isso se devia, em parte, ao fato de os Estados Unidos nunca terem sofrido uma ameaça militar significativa, o que permitia ao governo gastar uma pequena parcela do orçamento em armamento. A natureza federativa do regime americano também fez a sua parte para limitar o tamanho do governo central.

Quando o governo é pequeno e relativamente fraco, o melhor meio de se fazer dinheiro é abrir um negócio particular. Mas quanto mais amplo for o espectro dos gastos governamentais, mais fácil fica fazer dinheiro desviando recursos públicos. Começar um negócio do zero é difícil e envolve muito risco. Ganhar um favor do governo, ou mesmo fazer um contrato com ele, é muito mais fácil e muito mais seguro. Assim, em nações com governos grandes e poderosos, o Estado acaba por se colocar no centro do sistema econômico, mesmo quando esse sistema é relativamente capitalista. Isso acaba por misturar política com economia na percepção da opinião publica. Quanto maior a parcela dos capitalistas que fizeram fortuna graças às suas conexões políticas, mais o sistema será avaliado como injusto e corrupto.

Um outro aspecto que distingue o capitalismo americano é o fato dele ter se desenvolvido com pouca influencia estrangeira. Enquanto os capitais europeus (especialmente o britânico) tenham tido um papel importante no desenvolvimento econômico da América dos séculos XIX e XX, as economias européias da época não eram mais desenvolvidas que a americana. Assim, os capitalistas europeus podiam investir na ou competir com as companhias americanas, mas nunca chegaram a dominar o sistema. O capitalismo americano se desenvolveu de forma mais ou menos orgânica, e ainda mostra as marcas dessas origens. O código de falências americano, por exemplo, tem um viés claramente pró-devedor, porque os Estados Unidos nasceram e se desenvolveram como um país de tomadores de empréstimos.

A situação é muito diferente em países que desenvolveram economias capitalistas depois da II Guerra Mundial. Esses países (na Europa não soviética, partes da Ásia e na maior parte da América Latina) se industrializaram sob a sombra do gigante norte-americano. Nesse processo, as elites locais se sentiam ameaçadas pela perspectiva de colonização econômica por companhias americanas muito mais eficientes e capitalizadas. Para se proteger, construíram deliberadamente um sistema pouco transparente onde as conexões locais eram muito importantes, porque isso lhes dava uma vantagem. Essas estruturas têm se provado resistentes desde então. Depois que um sistema é montado para recompensar boas relações mais que a eficiência, passa a ser  dificílimo reformá-lo, já que as pessoas no poder são as que mais perderiam com as mudanças.

Finalmente, os Estados Unidos puderam desenvolver melhor a sua agenda pró-mercado que a sua agenda pró-business porque nunca sofreu influencia do marxismo. É possível que o tipo de capitalismo que os Estados Unidos desenvolveram seja a causa mais que o efeito da ausência de movimentos marxistas significativos no país. Mas, seja como for, essa diferença em relação a outros regimes ocidentais foi significativa para o desenvolvimento da atitude do americano médio em relação à economia. Em países com partidos marxistas fortes, as forças pró-mercado e as forças pró-business foram compelidas a se aliar para enfrentar o inimigo comum. Se alguém enfrenta a ameaça de nacionalização (isto é, o controle dos meios por uma pequena elite política), mesmo o capitalismo de relacionamentos (que envolve o controle dos meios por uma pequena elite de negócios) começa a parecer uma alternativa atraente.

O resultado é que muitos países não puderam desenvolver um capitalismo mais aberto e competitivo porque não podiam se dar o luxo de dividir a oposição ao marxismo. Pior que isso, a bandeira da liberdade de mercado acabou sendo apropriada pelas forças pró-business, que estavam melhor equipadas e tinham melhores condições. Paradoxalmente, à medida que as idéias marxistas entraram em declínio, esse problema se agravou, em vez de melhorar, na maioria desses países. Após décadas de convivência e submissão, as forças pró-mercado não conseguiram mais se separar do campo pró-business. Tendo desaparecido a oposição ideológica do marxismo e não tendo de enfrentar nenhuma oposição da ideologia pró-mercado, as forças pró-business passaram a nadar de braçada. Em nenhum país esse fenômeno é mais evidente que na Itália, onde o movimento pró-mercado hoje é literalmente propriedade de um único homem, o primeiro ministro Silvio Berlusconi, que quase sempre parece estar dirigindo o país no interesse do seu império de mídia.

Por todas essas razões, os Estados Unidos desenvolveram um modelo de capitalismo que chega mais perto que nenhum outro da . Por isso a visão que muitos americanos têm do capitalismo é aquela do “corra para a riqueza via trabalho duro” das historias de Horatio Halger, que vieram a definir o sonho americano. No resto do mundo, Horatio Halger é um desconhecido e a imagem de mobilidade social é dominada por histórias como a de Cinderela ou a de Evita: simples fantasias, em lugar de sonhos plausíveis. Foi esse entendimento do que seja oportunidade que ajudou a fazer do capitalismo algo popular e seguro nos Estados Unidos.

Como o sistema de liberdade de mercado se apóia nesse apoio publico, e esse apoio publico depende da continuação da confiança do publico na justiça do sistema, qualquer erosão dessa percepção ameaça o sistema inteiro. Essa erosão ocorre quando conexões com o governo ou o poder de interesses arraigados do mercado superam a competição realmente livre e justa como o melhor caminho para a riqueza e o sucesso. Tanto o governo quanto as grandes corporações têm forte incentivo para empurrar as coisas nessa direção e, assim, se deixados fora de controle, constituem uma ameaça para a forma peculiar de capitalismo americano.

Ainda que os Estados Unidos tenham tido a grande vantagem de começar a partir de um modelo superior de capitalismo e de desenvolver uma ideologia para sustentá-lo, o sistema ainda é vulnerável a essas pressões – e não apenas em situações de crise. Nem mesmo a mais persuasiva e resistente das ideologias pode sobreviver às condições e aos fundamentos que a criaram. O capitalismo americano precisa de defensores que compreendam os desafios que o ameaçam, e que possam defende-lo perante o publico. Mas nos últimos 30 anos, na medida em que foi desaparecendo a ameaça comunista, os defensores do capitalismo foram se tornando mais raro enquanto as tentações corporativistas aumentavam. Foi isso que criou as condições para a eclosão da crise que agora enfrentamos – e nos deixou menos aptos a discernir como poderemos nos recuperar dela.

O legado do excepcionalismo americano

Um sistema financeiro saudável crucial para o funcionamento de qualquer economia de mercado. O acesso mais universal possível aos recursos financeiros é essencial para aparelhar os melhores talentos e lhes permitir prosperar e crescer. É fundamental para trazer sangue novo para o sistema, e para tornar mais forte a competição. O sistema que aloca recursos financeiros aloca também poder e renda; se esse sistema não é justo, equitativo, há pouca esperança de que o resto da economia seja. E o potencial para as distorções e abusos no sistema financeiro é sempre muito grande.

Os americanos sempre foram sensíveis a essas distorções e abusos. Mas ainda que tenham sempre rejeitado um discurso anti-capitalista genérico, sempre acalentaram uma espécie de populismo anti-financeiro. Essa tendência levou a inúmeras decisões políticas ao longo da história dos Estados Unidos que, embora ineficientes do ponto de vista econômico, ajudaram a preserva a saúde do capitalismo democrático americano no longo prazo. Nos últimos anos da década de 1830, o presidente Andrew Jackson se opôs a renovar o mandato do Segundo Banco dos Estados Unidos – um movimento que contribuiu para o pânico de 1837 – porque ele o via como um instrumento de corrupção política e uma ameaça às liberdades civis. Uma investigação iniciada por ele provou “alem de qualquer duvida que esta poderosa instituição se dedicou ativamente a influenciar a eleição dos funcionários públicos usando dinheiro”.

Ao longo da maior parte da historia americana as regulamentações estaduais para bancos foram pautadas pelas preocupações com o poder dos bancos de Nova York sobre o resto do país, e o medo de que grandes bancos drenassem o dinheiro do campo para desviá-lo para as cidades. Para lidar com esses medos, vários estados criaram inúmeras restrições: desde o numero de agências (cada banco só podia ter uma única agência), às restrições para a expansão dentro de um mesmo estado, a proibição de atividades inter estaduais. De um ponto de vista estritamente econômico tais restrições parecem malucas. Forçavam o re-investimento de depósitos na mesma área onde tinham sido colhidos, distorcendo violentamente a alocação de recursos. E, ao impedir os bancos de crescer, tornando-os menos diversificados e mais sujeitos à falência. Mas, assim mesmo, essas políticas tiveram um efeito colateral positivo: fragmentaram o setor bancário reduzindo o seu poder político e, em conseqüência, ensejando o nascimento de um vibrante mercado de seguros.

Mesmo a separação entre banco de investimento e banco comercial introduzida pela lei Glass-Steagall, durante o New Deal foi produto de uma longa tradição americana. Ao contrário de muitos outros regulamentos para o setor, a Glass-Steagall ao menos tinha um racional econômico: impedir os bancos comerciais de explorar seus correntistas enfiando-lhes os bônus de firmas para as quais o banco tinha emprestado dinheiro e tinham ficado inadimplentes. A maior consequência dessa lei foi a fragmentação que provocou e que ajudou a reduzir a concentração da industria bancária criando interesses divergentes para diferentes setores do mercado financeiro, e ajudando a reduzir o seu poder político.

Nas ultimas três décadas, todos esses impedimentos foram levantados ao longo da progressiva desregulamentação da atividade bancária. As restrições estaduais eram altamente ineficientes desde sempre, mas as inovações tecnológicas as tornaram completamente insustentáveis. Que sentido faz limitar o numero de filiais se os bancos podem fazer transações eletrônicas no país inteiro?

Assim, começando no final dos 70, os regulamentos estaduais começaram a ser relaxados ou eliminados aumentando a eficiência dos bancos e vitaminando o crescimento econômico. Mas a mudança também provocou o aumento da concentração. Em 1980 havia 14.434 bancos nos Estados Unidos, mais ou menos o mesmo numero de 1934. Em 1990 o numero tinha caído para 12.347; em 2000, para 8.315. Em 2009, o numero está abaixo dos 7.100. Mas o mais importante é que a concentração dos depósitos e dos empréstimos aumentou muito mais. Em 1984, os cinco maiores bancos controlavam só 9% dos depósitos. Em 2001 a porcentagem cresceu para 21% e no final de 2008 para 40%.

O ponto crucial desse processo foi a aprovação, em 1999, da lei Gramm-Leach-Bliley, que anulou as restrições impostas pela lei Glass-Steagall. Essa lei foi erroneamente acusada de ser a maior protagonista da atual crise mas, na verdade, teve pouco ou nada a ver com ela. As maiores instituições que faliram ou foram resgatadas pelo governo nos últimos dois anos foram bancos de investimento puro sangue –  como Lehman Brothers, Bear Sterns e Merril Lynch – que não se beneficiaram da extinção da lei Glass-Steagall; ou eram bancos comerciais puro-sangue como o Wachovia e o Washington Mutual. A única exceção foi o Citigroup, que fundiu suas operações comercial e de investimento antes que a nova lei o permitisse, graças a uma isenção especial.

O efeito real da lei Gramm-Leach-Bliley foi político, mais que econômico. No regime anterior, bancos comerciais, bancos de investimento e seguradoras tinham agendas diferentes e, consequentemente, seus esforços de lobby se compensavam mutuamente. Depois que as restrições foram levantadas, os interesses de todos os grandes players do mercado financeiro se alinharam, o que deu ao setor um poder irresistível de moldar a agenda política. A concentração da industria bancária só fez aumentar esse poder.

A mais importante fonte de poder da industria financeira era a sua lucratividade, pelo menos a que constava dos livros. Nos anos 60, a fatia do PIB produzida pelo setor financeiro chegava a pouco mais que 3%. Em 2000, estava beirando os 8%. Essa expansão refletia o rápido crescimento não só dos lucros como também dos salários. Em 1980, o salário relativo de um trabalhador do setor financeiro era comparável ao de outros trabalhadores do mesmo nível nos demais setores. Em 2007, uma pessoa trabalhando em finanças ganhava 70% mais. Qualquer tentativa de explicar essa diferença pela qualificação ou pelo que o trabalho demandava não fica em pé. Mas o fato é que as pessoas trabalhando em finanças estavam fazendo muito mais dinheiro que todas as outras.

Essa lucratividade enorme permitia à industria gastar quantias desproporcionais às investidas por qualquer outra fazendo lobby sobre o sistema político. Nos últimos 20 anos o setor financeiro deu 2,2 bilhões de dólares em contribuições de campanha, muito mais que qualquer outra industria. E nos últimos 10 anos, gastou 3,5 bilhões em trabalhos de lobby.

Naturalmente, a explosão dos salários e dos lucros também atraiu os melhores talentos – com repercussões que foram muito alem do setor financeiro, atingindo profundamente também os governos. Há 30 anos, os melhores alunos que saiam das faculdades iam para a ciência, a tecnologia, o direito e os negócios; nos últimos 20 anos, foram todos para o setor financeiro. E, lá dentro, passaram naturalmente a trabalhar pelos seus próprios interesses. É natural que uma pessoa trabalhando com derivativos comece a acreditar sinceramente na importância e no valor dos derivativos para a saúde do sistema, do mesmo modo que um engenheiro nuclear acredita que a energia nuclear pode resolver os problemas do mundo. E se a maior parte da elite política fosse recrutada entre os engenheiros nucleares, não seria mais do que natural esperar que eles enchessem o país de usinas nucleares. De fato, existe um exemplo exatamente desse cenário na França onde, por razões culturais complicadas, uma parcela incomumente grande da elite política estudou engenharia na Ecole Polytechnique – o que fez com que a França seja o país mais dependente de energia nuclear em todo o mundo.

Um efeito semelhante aconteceu com as finanças nos Estados Unidos. A proporção de pessoas treinadas e experimentadas em finanças trabalhando nos mais altos escalões das ultimas presidências da republica é extraordinária. Quatro dos últimos seis secretários do Tesouro cabem nessa descrição. Na verdade, os quatro estavam direta ou indiretamente ligados a uma única empresa: Goldman Sachs. Mas isso não era a norma; dos seis secretários do Tesouro que os antecederam, só um tinha um background financeiro. Hoje, gente do setor financeiro ocupa cargos não só na secretaria do Tesouro mas em inúmeros outros departamentos, especialmente a Casa Branca. O chefe da equipe de Barak Obama, Rahm Emanuel, já trabalhou para um banco de investimentos, assim como seu predecessor sob George W. Bush, Joshua Bolten.

Não há nada de intrinsecamente maligno nesses desenvolvimentos. Na verdade é até natural que governos procurando os melhores quadros acabem por achá-los no mundo financeiro, para onde muitos dos melhores migraram. O problema é que pessoas que passaram a maior parte de suas vidas trabalhando em finanças têm uma tendência natural de pensar que os interesses de sua industria e os interesses do país sempre coincidem. Quando o secretário do Tesouro Henry Paulson foi ao Congresso, no outono passado, para dizer que o mundo como ele o entendia ia acabar se os deputados não aprovassem 700 milhões de dólares em socorro de emergência, ele estava falando sério e em boa fé. E, em certa medida, ele estava certo: o mundo dele – o mundo em que tinha vivido e trabalhado –  teria mesmo acabado se não tivesse havido a operação de socorro. O Goldman Sachs teria quebrado e as repercussões para todas as pessoas que ele conhece seriam enormes. Mas o mundo de Henry Paulson não é o mesmo mundo em que vive a maioria dos americanos e nem mesmo o mundo em que nossa economia, como um todo, existe. Saber se esse mundo também teria acabado sem as operações de socorro do Congresso é uma questão muito mais controvertida; e, lamentavelmente, esse debate nunca ocorreu.

O problema é que as pessoas no governo tendem a confiar nas suas redes de relacionamento para obter “informações do mundo real”. E se todas as pessoas dessa rede vêm do mesmo meio, as informações e idéias circulando entre os formuladores de políticas ficarão muito limitadas. Uma piada significativa é atribuída a um funcionário do Tesouro de Bush que notou que no calor da crise financeira, toda vez que o telefone tocava e o prefixo 212, de NY, aparecia na bina, a mensagem era a mesma: “comprem os ativos podres”. E uma tal unanimidade torna difícil até para o mais inteligente e bem intencionado dos formuladores de políticas chegar às conclusões certas.

O circulo vicioso

A crescente concentração da industria financeira e sua influência política cada vez maior minou a tradicional diferenciação que o americano médio fazia entre liberdade de mercado e o jogo das grandes corporações. Isto quer dizer não apenas que os interesses do setor financeiro dominam o entendimento dos formuladores de políticas mas também – o que é mais importante – que a percepção do publico da legitimidade do sistema econômico está sob risco.

E se o sistema de liberdade de mercado é politicamente frágil, o seu componente mais frágil é justamente o setor financeiro. Ele é frágil porque se baseia inteiramente na intocabilidade dos contratos e no respeito estrito às normas legais, e nenhuma dessas duas coisas podem se manter intocadas sem o apoio da opinião publica. Quando as pessoas estão furiosas a ponto de ameaçar a vida dos banqueiros; quando uma maioria de americanos começa a pedir a intervenção do governo não só para regulamentar o setor mas também para controlar o modo como as empresas são tocadas; quando os eleitores perdem a confiança no seu sistema econômico porque o vêm como fundamentalmente corrupto – então a garantia da propriedade privada também começa a balançar. E quando o direito de propriedade começa a balançar, a sobrevivência de um setor financeiro atuante e, com ele, toda a economia, entram em cheque.

O envolvimento do governo com o setor financeiro na esteira da crise –  e particularmente as operações de socorro de grandes empresas e bancos – exacerbou o problema. A desconfiança do publico em relação aos banqueiros se misturou com sua desconfiança em relação ao governo, e as preocupações com o desperdício de dinheiro publico se somaram às preocupações com o efeito deletério da decisão de se recompensar os culpados pelo desastre de Wall Street. Isso fez com que muitos políticos tentassem salvar suas reputações se voltando contra o setor financeiro para exigir uma espécie de vingança. A aprovação pela Câmera do exame de uma proposta de taxar retroativamente em 90% os bônus pagos às instituições financeiras incluídas no TARP (o programa de resgate), mostra o quanto essa combinação de revanche com demagogia pode se tornar perigosa.

Felizmente essa proposta, em particular, nunca chegou a se transformar em lei. Mas o clima de revanche contra o universo financeiro contribuiu fortemente, por exemplo, para a expropriação dos avalistas de crédito da Chrysler. Ao condenar publicamente os credores da Chrysler que pediam que seus direitos contratuais fossem respeitados e excluí-los do programa de resgate, o presidente Obama estava apenas explorando o sentimento de rejeição do publico. Essa exceção acabou sendo paga pelos investidores e mandou um recado para o futuro. Ainda que o gesto de Obama parecesse conveniente no curto prazo, ele ainda pode se revelar mortífero para o sistema financeiro, no longo prazo. Porque a proteção para credores securitizados é crucial para manter o acesso ao crédito de empresas em dificuldades ou para empresas em processo de concordata. O precedente da Chrysler vai por em risco a continuação desses financiamentos no futuro, especialmente para as empresas mais necessitadas deles e, assim, vai contribuir para aumentar a pressão por mais intervenção do governo.

O padrão que se estabeleceu na esteira da crise ameaça, portanto, abrir um circulo vicioso. Para evitar uma identificação, no imaginário publico, os políticos acabam apoiando e até insuflando os ataques ao setor financeiro; isso assusta os investidores legítimos, que passam a não ter mais certeza de contar com o cumprimento dos contratos e com o respeito à lei e seca o mercado dos recursos para empresas em dificuldades para as quais a ajuda do governo passa a ser o ultimo recurso.

Não é só por coincidência que na sequencia dos ataques irados contra a ganância dos executivos de Wall Streen, o governo pôs em cena o mais generoso subsidio jamais inventado para Wall Street.  O Programa Publico Privado de Investimeno anunciado em março pelo secretario do tesouro Timothy Gartner é um esquema tão generoso que, resumidamente, os investidores privados recebem um subsidio de US$ 2 para cada dólar que investirem na compra de “ativos tóxicos”.

Essas condições são justificadas pelas incertezas levantadas pela revanche populista e, ao mesmo tempo, exacerbam as condições que geram essa revanche, confirmando a impressão de que o governo e os grandes players do mercado financeiro estão jogando juntos às custas dos contribuintes e dos pequenos poupadores. Se o Programa Publico Privado de Investimento funcionar, as mesmas pessoas que causaram a crise vão ficar fabulosamente ricas com a ajuda do governo. E isso com certeza não vai fazer bem para a imagem do capitalismo americano junto à opinião publica.

Esse é exatamente o circulo vicioso em que o capitalismo está preso na maioria dos países do mundo. De um lado, investidores e empresários se sentem ameaçados pela hostilidade do publico e, com isso, justificam a busca de privilégios junto ao governo. Do outro, os cidadãos comuns se sentem ultrajados pelos privilégios que os empresários e investidores recebem aumentando a hostilidade. Para todo mundo que sabe como o capitalismo é visto fora da America, mundo afora, o que está acontecendo agora nos Estados Unidos parece muito familiar.

O futuro do capitalismo americano

O capitalismo americano está numa encruzilhada. Um dos caminhos pode transformar a irritação do povo em apoio político para algumas reformas genuinamente pró-mercado, ainda que isso não sirva aos interesses das grandes financeiras. Puxando pelo melhor lado da tradição populista será possível colocar limites para a industria financeira e restaurar os princípios que dão uma dimensão ética ao capitalismo: liberdade, meritocracia, um link direto entre recompensa e esforço e um senso de responsabilidade que assegure que aqueles que podem ganhar também podem suportar perdas. Isso implica abandonar a noção de que qualquer empresa possa ser grande demais para quebrar, criar regras para impedir as grandes corporações de manipular o governo em detrimento do mercado. Ou seja, voltar a olhar a economia com um aproach pró-mercado em vez de pró-business.

O outro caminho é aplacar a ira popular com medidas como a criação de limites para bônus e seguir segurando as pontas dos grandes players financeiros, tornando-os dependentes do governo e a economia dependente deles. Medidas desse tipo jogam para a platéia nos momentos críticos mas, no longo prazo, ameaçam o sistema financeiro e o apoio do publico ao capitalismo americano. E, alem disso, reforçam os comportamentos que resultaram na crise. Esse é o caminho do capitalismo das grandes corporações: um caminho que apaga a diferença entre políticas pró-mercado e medidas pró-business, o que acaba destruindo a fé que os americanos sempre depositaram na legitimidade do capitalismo democrático.

Infelizmente, por enquanto parece que o governo Obama escolheu esse ultimo caminho. É uma escolha que nos joga numa espiral negativa de ressentimento crescente do publico e pressões cada vez maiores pelo capitalismo para os amigos tão comum no resto do mundo – o que pode acabar com o excepcionalismo econômico que foi tão crucial para a prosperidade americana. Quando a poeira tiver baixado e o pânico tiver passado,  este efeito lateral pode bem despontar como a mais séria e destrutiva conseqüência desta crise financeira.

Luigi Zingales é professor de Emprendedorismo e Finanças na Booth School of Business da Universidade de Chicago e co-autor do livro Salvando o Capitalismo dos Capitalistas.

Democracia ateniense online?

Anand Giridharadas

Talvez a maior grande ideia a ganhar força durante o último milênio tenha sido a de que nós mesmos, humanos, deveríamos nos governar.  Mas ninguém pretendia realmente isso.

O que se pretendia, na maioria dos lugares, era que elegêssemos pessoas para nos governar e esporadicamente renovássemos ou revogássemos seu contrato.  Isso bastava.  Não havia maneira prática de envolver todos, o tempo todo.

As atuais manchetes de Washington apregoam salvamentos financeiros, estímulos, carros velhos, Afeganistão-Paquistão, seguro-saúde.  Mas é possível que historiadores futuros, olhando para o passado, se fixem num projeto menos ruidoso do presidente Barack Obama: a exploração de como o governo deve estar aberto a uma maior participação pública na era digital, de como fazer do autogoverno mais que uma metáfora.

Durante sua campanha, Obama disse que “somos aqueles por quem estivemos esperando”.  Essa frase messiânica encerrava a promessa de um novo estilo de política nesta época de tweets e pokes.  Mas isso era vago, um paradigma tratado casualmente em nossos drinques.  Até aqui, o gosto tem sido amargo.

Agências federais foram orientadas a liberar online informações antes sigilosas; repórteres de publicações exclusivas da internet foram chamados a coletivas de imprensa; o novo portal Data.gov permite que cidadãos criem aplicativos para analisar dados do governo.  Mas os esforços mais reveladores estão na crowdsourcing: a solicitação via internet aos cidadãos para que deem ideias políticas e a permissão para que votem nas propostas uns dos outros.

Durante a transição, a administração criou o Citizen’s Briefing Book (um resumo de sugestões dos cidadãos) online para as pessoas enviarem ideias ao presidente. “As mais bem classificadas chegarão ao topo e, após a posse, nós as imprimiremos e reuniremos numa pasta como as que o presidente recebe todos os dias de especialistas e consultores”, escreveu Valerie Jarrett, consultora de Obama, a correligionários.

Foram recebidas 44 mil propostas e 1,4 milhão de pessoas votaram nelas.  Os resultados foram publicados discretamente, mas eram embaraçosos – não tanto para a administração quanto para nós, que estávamos esperando por eles.

Em meio a duas guerras e ao derretimento da economia, a ideia mais votada foi a legalização da maconha – proposta quase duas vezes mais popular que repelir os cortes de impostos de Bush para os ricos.  A legalização do pôquer online despertou duas vezes mais interesse que uma rede Wi-Fi de alcance nacional.  Revogar a isenção de impostos da Igreja da Cientologia recebeu três vezes mais votos que levantar fundos para o tratamento de câncer infantil

Uma vez no poder, a Casa Branca fez nova consulta via internet.  Em março, seu Departamento de Política de Ciência e Tecnologia abrigou um esforço coletivo online sobre tornar o governo mais transparente.  Chegaram boas ideias, mas um número espantoso delas não tinha a menor relação com transparência.  Muitas eram ainda sobre a legalização da maconha.  Travou-se também um debate furioso (e sem fundamento) sobre a autenticidade da certidão de nascimento de Obama.

Se a internet precisava de uma sacudida extra para cair do pedestal, esta foi dada pelo debate sobre o sistema de saúde.  Do ponto de vista da administração, a web provou ser melhor em espalhar mentiras sobre “painéis da morte” que em divulgar a verdade, e mais eficaz em provocar brigas em câmaras municipais que em fomentar a discussão sem restrições que muitos imaginam ser o ponto alto da internet.

Há um vigoroso debate em curso sobre o que alguns chamam de Gov 2.0.  Um campo vê na internet uma oportunidade sem precedente para trazer de volta a democracia direta no estilo ateniense.  Essa visão foi capturada num recente documentário britânico, Us Now, que pinta um futuro no qual cada cidadão estará conectado ao Estado tão facilmente quanto ao Facebook, escolhendo políticas, questionando políticos, colaborando com vizinhos. “Será que podemos todos governar?”, pergunta o filme.  (Evidentemente, o filme pode ser visto na web.)

As pessoas desse campo apontam para o auxílio que a tecnologia da informação prestou a movimentos populares, da Moldávia ao Irã.  Citam a Índia, onde os eleitores agora podem acessar, via mensagem de texto, informações sobre os registros criminais de candidatos ao Parlamento, e a África, onde telefones celulares estão melhorando a fiscalização eleitoral.  Assinalam a facilidade de repassar conhecimentos científicos e culturais a um público amplo.  Observam como a internet, ao democratizar o acesso a fatos e números, encoraja tanto políticos como cidadãos a basearem suas decisões em mais que intuição.

Mas sua visão de democracia da internet é parte de uma evolução cultural maior rumo à expectativa de que sejamos consultados sobre tudo, o tempo todo.  Cada vez mais, os melhores artigos para se ler são os mais enviados por e-mail, as músicas que merecem ser compradas são dos cantores que acabamos de eleger para o estrelato por mensagem de texto, o próximo livro a ler é aquele comprado por outras pessoas que compraram o mesmo livro que você, e a mídia, que antes noticiava para nós, agora publica tudo que pomos no Tweeter.  Nessa nova era, nosso consentimento é colhido a cada poucos minutos, e não a cada poucos anos.

Um outro campo vê a internet de maneira menos rósea.  Seus membros tendem a ser entusiastas da web e da participação cívica, mas são céticos sobre a internet como panaceia para a política.  Temem que isso crie uma ilusão falsamente tranquilizadora de igualdade, transparência, universalidade.

“Vivemos numa era de experimentação democrática – tanto em nossas instituições oficiais como nas muitas maneiras informais de que o público é consultado”, escreve James Fishkin, cientista político de Stanford, em seu novo livro When the People Speak (Quando o Povo Fala). “Muitos métodos e tecnologias podem ser usados para dar voz à vontade pública.  Mas alguns dão um quadro da opinião pública como se vista numa casa de espelhos.”

Uma vez que é tão fácil filtrar online o próprio ponto de vista, as opiniões extremadas dominam a discussão.  Os moderados ficam sub-representados, de modo que os cidadãos que buscam um sistema de saúde melhor parecem menos numerosos que os fãs de pôquer.  A imagem de abertura e igualdade da internet camufla suas desigualdades de raça, geografia e idade.

As mentiras se espalham como fogo na web.  Eric Schmidt, presidente executivo do Google, advertiu em outubro passado que se os grandes veículos do jornalismo confiável morrerem, a internet se tornará uma “cloaca” de informações ruins.  A Wikipedia pretende dar um toque de edição – lembram-se da edição? – em artigos sobre pessoas vivas.

O mais ameaçador talvez seja que a abertura da internet permite a grupos bem organizados simularem ter apoio para “capturar e personificar a voz pública”, como escreveu Fishkin numa troca de e-mails.

Não é possível voltar no tempo.  Temos hoje mais opinião pública exercendo pressão na política do que nunca.  A questão é como ela pode ser canalizada e filtrada para criar sociedades mais livres e bem-sucedidas, porque simplesmente colocar coisas online não é uma panaceia. “Neste momento, a discussão não é mais se a internet é importante e se vai se espalhar ainda mais”, disse Clay Shirky, teórico da internet e autor de Here Comes Everybody: The Power of Organizing Without Organizations (Aí vêm todos: o poder de organizar sem organizações).  Ele acrescentou, numa entrevista telefônica: “Na verdade, ela é importante demais para ser deixada de lado nas questões constitucionais e de governança”.

Há uma busca pela metáfora correta.  Qual é o novo papel do governo – uma plataforma?  Uma máquina de vender na qual colocamos dinheiro para tirar serviços?  Um facilitador?  E qual é, de fato, o novo papel para nós – os que estão esperando?

(publicado no Estado de S. Paulo de 19/09/2009)

Ruidosos arautos do silêncio

Demétrio Magnoli

Hugo Chávez não sabe quem foi John Milton. No Areopagítica, de Milton, está escrito: “Aquele que mata um homem, mata uma criatura da razão, feita à imagem de Deus, mas aquele que destrói um bom livro, mata a própria razão, mata a imagem de Deus”. Subtitulado como Um Discurso ao Parlamento da Inglaterra pela Liberdade da Impressão sem Licença e publicado em 1644, no auge da guerra civil, o texto contém a mais clássica das justificativas racionais contra a censura. Milton acreditava na razão humana e, portanto, na capacidade das pessoas de distinguir as boas ideias das más. Chávez também acredita nela – e justamente por isso empreende uma campanha estatal contra a liberdade de imprensa.

George W. Bush invocou a palavra “terrorismo” para trair o compromisso dos EUA com os direitos humanos e legalizar a tortura. Mas tudo começou com terroristas de carne e osso, que fizeram o fatídico 11 de setembro de oito anos atrás. Chávez apropriou-se da palavra para, mesmo sem terroristas, delinear uma campanha internacional: em março de 2008, Caracas sediou o 1º Encontro Latino-Americano contra o Terrorismo Midiático, um evento destinado a combater jornais e redes de TV que seriam “porta-vozes dos interesses imperiais”. O canal noticioso venezuelano Globovisión converteu-se, então, no alvo de um governo que já fechara a RCTV. Há pouco, em meio a pressões oficiais contra o canal, uma turba chavista invadiu suas instalações. Já se usam tropas de assalto para calar a imprensa, no país cuja candidatura ao Mercosul é patrocinada pelo governo brasileiro.

“A segurança nacional deve prevalecer sobre a liberdade de expressão”, explicou a promotora pública venezuelana ao apresentar um projeto de lei destinado a controlar os meios de comunicação. Se os EUA tivessem aplicado esse princípio há quatro décadas, a Guerra do Vietnã talvez acabasse de outro jeito. O projeto cria a figura dos “delitos midiáticos”, que abrangem a divulgação de informação que cause “prejuízo aos interesses do Estado”, atente contra a “moral pública” ou a “saúde mental” da população. O Estado – nesse caso, um Estado cada vez mais personificado no caudilho – decide, é claro, sobre o que significa cada uma dessas tipificações. A lei chavista é um modelo: no Equador, na Bolívia e na Nicarágua, países da Aliança Bolivariana das Américas (Alba), desenham-se legislações similares.

Na Argentina não se vai tão longe, mas o jornal El Clarín sofreu uma invasão de uma “tropa de assalto” singular, constituída por fiscais de tributos que agiam a mando direto da presidência e ao largo do próprio órgão de fiscalização tributária. Uma nova lei de serviços audiovisuais, patrocinada pelos Kirchners, tramita no Congresso e tem como alvo direto o grupo Clarín.

Na antiga URSS, dissidentes eram rotulados como “doentes mentais” e internados em instituições psiquiátricas. A referência à “saúde mental” da população, na lei de censura venezuelana, não é apenas um expediente para criminalizar o jornalismo, mas uma evidência do que efetivamente pensam os arautos do combate estatal à liberdade de expressão. Milton, no Areopagítica, esboçou o conceito de um “mercado de ideias”. A ofensiva contra a imprensa imagina a concorrência de ideias como uma doença social que ameaça o poder de Estado.

José Sarney não é, evidentemente, um chavista – mas sempre sabe surfar numa nova onda, a fim de proteger seus interesses patrimoniais. Num discurso no Senado, dias atrás, ele classificou a “mídia” como “uma inimiga das instituições representativas”. Há um método infalível de saber a posição de cada um na polêmica sobre o controle da liberdade de expressão: se alguém emprega o termo “mídia” no lugar de “imprensa” é porque flerta com a ideia da censura. “Mídia” indica a indústria do entretenimento, um setor da economia de mercado; imprensa é a difusão de informação e opinião, um pilar insubstituível da democracia.

A onda que sustenta a prancha de Sarney avolumou-se, no Brasil, com o episódio do “mensalão”. A trajetória do pensamento da filósofa Marilena Chauí pontua a mudança. Num debate com o também filósofo José Arthur Giannotti, em 2001, Chauí escrevera que “ao desqualificar os partidos políticos e a imprensa, Giannotti desqualifica politicamente algo mais profundo: a sociedade civil e o conjunto dos cidadãos”. Era o tempo do governo FHC e a filósofa petista escrevia abundantemente nos grandes jornais. No auge do escândalo de 2005 ela já substituíra “imprensa” por “mídia” e mudara radicalmente de ideia. A “mídia” não representa nada além dos interesses das elites, pois, na sociedade capitalista, os meios de comunicação são empresas privadas e, portanto, pertencem ao espaço privado dos interesses de mercado”, ensinava numa carta postada na internet.

A Chauí de 2001 prezava o “mercado de ideias” e sabia que os interesses políticos dos empresários de comunicação estão subordinados a seus interesses empresariais. A imprensa depende dos leitores e anunciantes – e só os têm se conservar a credibilidade. Mas a Chauí de 2005, que se recusava a escrever ou falar para jornais, traduzia numa linguagem “sofisticada” o mantra simples da esquerda autoritária, para a qual a “liberdade de imprensa é a liberdade da empresa”. Enquanto ela conferia legitimidade à senha ideológica, Lula selecionava jornalistas “confiáveis” e deflagrava o projeto de criação de um aparato midiático chapa branca centralizado na TV Brasil.

Chávez controla hoje seis emissoras de TV, oito rádios, uma agência de notícias, centenas de sites e a maior provedora de internet da Venezuela. No Brasil, supostos especialistas em comunicação social engajados no programa do “controle social da mídia” apontam na Europa exemplos de países em que o poder público detém parcela expressiva dos meios de radiodifusão. Evidentemente, eles não aprofundam a comparação, silenciando sobre o abismo que separa a independência editorial da BBC da submissão das redes de TV estatais da América Latina aos detentores do poder político. É que, não por acaso, quase todos eles admiram a ditadura cubana, na qual todos os meios de comunicação ecoam a diretriz única do Partido-Estado.

O Brasil não é a Venezuela. Mas os inimigos da liberdade de imprensa fazem parte do consórcio heterogêneo que está no poder. No início de dezembro, o programa do “controle social da mídia” dará um novo passo, realizando a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). O convescote reunirá essencialmente órgãos de governo e ONGs ligadas ao PT, pois as entidades representativas das emissoras de TV, dos jornais, das revistas e dos provedores de internet decidiram boicotá-lo. Eu sugiro que alguém distribua cópias do discurso de Milton aos participantes. Ele continua muito atual.

(publicado no Estado de S. Paulo de 19/09/2009)

EUA não vencerão a crise sozinhos

Henry Kissinger *

(publicado em O Estado de S. Paulo em 18/1/2009)

A nova administração americana se prepara para assumir num momento de grave crise financeira internacional.  Embora possa soar estranho, pode-se dizer que a própria natureza desencontrada do sistema cria uma oportunidade única para a diplomacia criativa.

Essa oportunidade envolve uma aparente contradição.  Em um nível, o colapso financeiro representa um grande golpe na posição dos EUA.  Embora os julgamentos políticos americanos tenham sido com frequência controvertidos, a receita americana para uma ordem financeira mundial não foi, em geral, contestada.  Agora, existe uma desilusão generalizada com a forma como os EUA estão gerenciando isso.

Ao mesmo tempo, a magnitude da catástrofe torna impossível para o restante do mundo proteger-se atrás do predomínio americano ou de falhas americanas. Cada país terá de reavaliar sua própria contribuição para a crise existente. Cada um procurará se tornar independente, no maior grau possível, das condições que produziram o colapso.  Ao mesmo tempo, cada um será obrigado a encarar a realidade de que seus dilemas só poderão ser resolvidos com uma ação comum.

Cada um terá que redefinir suas prioridades nacionais.  Só surgirá uma ordem internacional se um sistema de prioridades compatíveis tomar forma.  E essa ordem se esfacelará desastrosamente se as várias prioridades não puderem ser conciliadas.  A alternativa a uma nova ordem internacional é, portanto, o caos.

Há uma relação estreita entre uma crise que é financeira e outra que é política, justamente porque, durante o período de exuberância econômica,abriu-se uma lacuna entre as organizações econômicas e políticas do mundo.  A economia foi globalizada.  Suas instituições têm um alcance global e operaram por máximas que supunham um mercado autorregulador.

PROTECIONISMO

O colapso financeiro expôs a miragem.  Ele deixou evidente a ausência deinstituições globais para amortecer o choque e inverter a tendência. Inevitavelmente, quando o público afetado recorreu a suas instituições políticas nacionais, essas foram impelidas, principalmente pela política doméstica, sem considerações de ordem mundial.

Cada grande país ficou tentado a resolver seus problemas imediatos por conta própria, adiando uma ação comum para um momento posterior, menos marcado pela crise.  Surgiram os chamados pacotes de resgate calcados numa base nacional fragmentada.  Em geral, eles substituíram o crédito governamental, que parecia ilimitado, pelo crédito doméstico, que produziu o colapso – sem conseguir, até agora, mais do que conter o pânico incipiente.  A ordem internacional não virá, seja no campo político, seja no econômico, até que surjam regras gerais pelas quais os países possam se orientar.

No fim das contas, os sistemas político e econômico só podem ser harmonizados de uma das duas maneiras: criando um sistema regulatório político internacional com o mesmo alcance do mundo econômico; ou encolhendo as unidades econômicas para um tamanho manejável pelas estruturas políticas existentes, o que provavelmente conduzirá a um novo mercantilismo, talvez, de unidades regionais.  Um novo acordo global tipo Bretton Woods é, de longe, o resultado preferível.

O papel dos EUA nesse empreendimento será decisivo.  Paradoxalmente, a influência americana será grande em proporção com a modéstia de nossa conduta.  Precisamos modificar a rigidez que caracterizou muitas atitudes americanas, em especial desde o colapso da União Soviética.

Esse acontecimento seminal e o período subsequente de crescimento globalquase ininterrupto induziram muitos a igualar a ordem mundial a umaaceitação dos desígnios americanos, incluindo nossas preferênciasdomésticas.  O resultado foi um certo unilateralismo inerente – a queixa padrão de críticos europeus – ou um tipo insistente de consulta pela qual nações eram convidadas a comprovar sua aptidão para entrar no sistema internacional conformando-se a receitas americanas.

Nunca, desde a posse do presidente John Kennedy, há meio século, uma nova administração assumiu em meio a expectativas tão grandes. É um fato sem precedente que todos os principais atores no cenário mundial estejamconfessando seu desejo de empreender as transformações impostas a eles pela crise mundial em colaboração com os EUA.

O impacto extraordinário do presidente eleito sobre a imaginação dahumanidade é um elemento importante na modelagem de uma nova ordem mundial. Mas isso define uma oportunidade, não uma política.  O desafio final é modelar a preocupação comum da maioria dos países – incluindo entre eles os mais importantes – com respeito à crise econômica, junto com o medo geral do terrorismo islâmico, numa estratégia comum reforçada pela percepção de que as novas questões como proliferação nuclear, energia e mudança climática não permitem nenhuma solução nacional ou regional.

A nova administração não cometeria erro pior que se acomodar a suapopularidade inicial.  O estado de espírito cooperativo do momento precisa ser canalizado para uma grande estratégia que vá além das controvérsias do passado recente.

A acusação de unilateralismo americano tem alguma base real.  Ela também se tornou um álibi para uma diferença-chave entre os EUA e a Europa.  Segundo o conceito europeu, os EUA são um Estado nacional capaz de pedir sacrifícios a seu povo pensando no futuro.

De outro lado, está a Europa, presa ao dilema de abandonar sua estruturanacional e um sucesso político ainda a ser atingido, e com dificuldades para postergar benefícios presentes.  Daí sua concentração no “poder brando” (soft power).  A maioria das controvérsias atlânticas tem sido substantiva e só marginalmente processual.  Haveria conflito por mais intensas que fossem as consultas.  A parceria atlântica dependerá mais de políticas comuns que de procedimentos acordados.

O papel da China numa nova ordem mundial é igualmente crucial.  Uma relação que começou em ambos os lados, basicamente como um desígnio estratégico para limitar um adversário comum, evoluiu, ao longo das décadas, para um pilar do sistema internacional.  A China tornou possível a extravagância do consumo americano ao comprar a dívida dos EUA, que ajudaram a modernização e a reforma da economia chinesa ao abrir seus mercados para produtos chineses.

COOPERAÇÃO

Ambos os lados superestimaram a durabilidade desse arranjo.  Mas enquanto durou, ele sustentou um crescimento global sem precedente.  Ele mitigou também os receios sobre o papel da China, na medida em que Pequim emergia como superpotência.  Formou-se um consenso, segundo o qual relações antagônicas entre esses pilares do sistema internacional destruiriam boa parte do que fora conseguido e não beneficiariam ninguém.  Essa convicção precisa ser preservada e fortalecida.

Os dois lados do Pacífico precisam cooperar para enfrentar a crise financeira.  Agora que o colapso global devastou mercados de destino para as exportação chinesas, a China está enfatizando o desenvolvimento deinfraestrutura e o consumo doméstico.

Não será fácil mudar de marcha rapidamente, e a taxa de crescimento chinesa poderá cair abaixo dos 7,5% que os especialistas sempre definiram como a linha que delimita a estabilidade política.  Os EUA precisam da cooperação chinesa para enfrentar seu desequilíbrio em conta corrente e impedir que seus déficits explosivos provoquem uma inflação devastadora.

O tipo de ordem econômica mundial que surgirá vai depender em muito de como China e EUA se entenderão nos próximos anos.  Uma China frustrada poderá adotar outra visão de uma estrutura asiática regional exclusiva, para a qual o núcleo já existe no conceito da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean, na sigla em inglês).

Ao mesmo tempo, se o protecionismo aumentar nos EUA ou se a China vier a ser vista como uma adversária no longo prazo, uma profecia autoalimentada poderá frustrar as perspectivas de uma ordem global.  Essa volta ao mercantilismo e à diplomacia do século 19 dividiria o mundo em unidades regionais competidoras com consequências perigosas no longo prazo.

A relação sino-americana precisa ser levada a um novo nível.  A crise existente só poderá ser superada pelo desenvolvimento de um senso de objetivo comum.  Questões como proliferação de armas de destruição em massa, energia e meio ambiente requerem um fortalecimento dos laços políticos entre a China e os EUA.

Essa geração de líderes tem a oportunidade de moldar relações transpacíficas para um destino comum, como foi feito com as relações transatlânticas no início do período pós-guerra – exceto que os desafios são hoje mais políticos e econômicos do que militares.

Essa visão precisa abarcar também países como Japão, Coreia do Sul, Índia,Indonésia, Austrália e Nova Zelândia, seja como parte de estruturas pacíficas, seja em acordos regionais para lidar com temas especiais,como energia, proliferação e meio ambiente.

A complexidade do mundo emergente requer dos EUA uma atitude mais histórica que a insistência de que cada problema tem uma solução final passível de expressão em programas com limites de tempo específicos, com frequência adaptados ao nosso processo político.  Precisamos aprender a operar dentro do atingível e estar preparados para perseguir objetivos finais pela acumulação de nuances.

Uma ordem internacional só pode ser permanente se seus participantes tiverem participação não só na sua construção, mas também na sua garantia.  Portanto, os EUA e seus parceiros têm uma oportunidade única para transformar um momento de crise numa visão de esperança.

We need a better cushion against risk

by Alan Greenspan

Published: March 27 2009

The extraordinary risk-management discipline that developed out of the writings of the University of Chicago’s Harry Markowitz in the 1950s produced insights that won several Nobel prizes in economics. It was widely embraced not only by academia but also by a large majority of financial professionals and global regulators.

But in August 2007, the risk-management structure cracked. All the sophisticated mathematics and computer wizardry essentially rested on one central premise: that the enlightened self-interest of owners and managers of financial institutions would lead them to maintain a sufficient buffer against insolvency by actively monitoring their firms’ capital and risk positions. For generations, that premise appeared incontestable but, in the summer of 2007, it failed. It is clear that the levels of complexity to which market practitioners, at the height of their euphoria, carried risk-management techniques and risk-product design were too much for even the most sophisticated market players to handle prudently.

Even with the breakdown of selfregulation, the financial system would have held together had the second bulwark against crisis – our regulatory system – functioned effectively. But, under crisis pressure, it too failed. Only a year earlier, the Federal Deposit Insurance Corporation had noted that “more than 99 per cent of all insured institutions met or exceeded the requirements of the highest regulatory capital standards”. US banks are extensively regulated and, even though our largest 10 to 15 banking institutions have had permanently assigned on-site examiners to oversee daily operations, many of these banks still took on toxic assets that brought them to their knees. The UK’s heavily praised Financial Services Authority was unable to anticipate and prevent the bank run that threatened Northern Rock. The Basel Committee, representing regulatory authorities from the world’s major financial systems, promulgated a set of capital rules that failed to foresee the need that arose in August 2007 for large capital buffers.

The important lesson is that bank regulators cannot fully or accurately forecast whether, for example, subprime mortgages will turn toxic, or a particular tranche of a collateralised debt obligation will default, or even if the financial system will seize up. A large fraction of such difficult forecasts will invariably be proved wrong.

What, in my experience, supervision and examination can do is set and enforce capital and collateral requirements and other rules that are preventative and do not require anticipating an uncertain future. It can, and has, put limits or prohibitions on certain types of bank lending, for example, in commercial real estate. But it is incumbent on advocates of new regulations that they improve the ability of financial institutions to direct a nation’s savings into the most productive capital investments – those that enhance living standards. Much regulation fails that test and is often costly and counterproductive. Regulation should enhance the effectiveness of competitive markets, not impede them. Competition, not protectionism, is the source of capitalism’s great success over the generations.

New regulatory challenges arise because of the recently proven fact that some financial institutions have become too big to fail as their failure would raise systemic concerns. This status gives them a highly market distorting special competitive advantage in pricing their debt and equities. The solution is to have graduated regulatory capital requirements to discourage them from becoming too big and to offset their competitive advantage. In any event, we need not rush to reform. Private markets are now imposing far greater restraint than would any of the current sets of regulatory proposals.

Free-market capitalism has emerged from the battle of ideas as the most effective means to maximise material wellbeing, but it has also been periodically derailed by asset-price bubbles and rare but devastating economic collapse that engenders widespread misery. Bubbles seem to require prolonged periods of prosperity, damped inflation and low long-term interest rates. Euphoria-driven bubbles do not arise in inflation-racked or unsuccessful economies. I do not recall bubbles emerging in the former Soviet Union.

History also demonstrates that underpriced risk – the hallmark of bubbles – can persist for years. I feared “irrational exuberance” in 1996, but the dotcom bubble proceeded to inflate for another four years. Similarly, I opined in a federal open market committee meeting in 2002 that “it’s hard to escape the conclusion that . . . our extraordinary housing boom . . . finan-ced by very large increases in mortgage debt, cannot continue indefinitely into the future”. The housing bubble did continue to inflate into 2006.

It has rarely been a problem of judging when risk is historically underpriced. Credit spreads are reliable guides. Anticipating the onset of crisis, however, appears out of our forecasting reach. Financial crises are defined by a sharp discontinuity of asset prices. But that requires that the crisis be largely unanticipated by market participants. For, were it otherwise, financial arbitrage would have diverted it. Earlier this decade, for example, it was widely expected that the next crisis would be triggered by the large and persistent US current-account deficit precipitating a collapse of the US dollar. The dollar accordingly came under heavy selling pressure. The rise in the euro-dollar exchange rate from, say, 1.10 in the spring of 2003 to 1.30 at the end of 2004 appears to have arbitraged away the presumed dollar trigger of the “next” crisis. Instead, arguably, it was the excess securitisation of US subprime mortgages that unexpectedly set off the current solvency crisis.

Once a bubble emerges out of an exceptionally positive economic environment, an inbred propensity of human nature fosters speculative fever that builds on itself, seeking new unexplored, leveraged areas of profit. Mortgage-backed securities were sliced into collateralised debt obligations and then into CDOs squared. Speculative fever creates new avenues of excess until the house of cards collapses. What causes it finally to fall? Reality.

An event shocks markets when it contradicts conventional wisdom of how the financial world is supposed to work. The uncertainty leads to a dramatic disengagement by the financial community that almost always requires sales and, hence, lower prices of goods and assets. We can model the euphoria and the fear stage of the business cycle. Their parameters are quite different. We have never successfully modelled the transition from euphoria to fear.

I do not question that central banks can defuse any bubble. But it has been my experience that unless monetary policy crushes economic activity and, for example, breaks the back of rising profits or rents, policy actions to abort bubbles will fail. I know of no instance where incremental monetary policy has defused a bubble.

I believe that recent risk spreads suggest that markets require perhaps 13 or 14 per cent capital (up from 10 per cent) before US banks are likely to lend freely again. Thus, before we probe too deeply into what type of new regulatory structure is appropriate, we have to find ways to restore our now-broken system of financial intermediation.

Restoring the US banking system is a key requirement of global rebalancing. The US Treasury’s purchase of $250bn (€185bn, £173bn) of preferred stock of US commercial banks under the troubled asset relief programme (subsequent to the Lehman Brothers default) was measurably successful in reducing the risk of US bank insolvency. But, starting in mid-January 2009, without further investments from the US Treasury, the improvement has stalled. The restoration of normal bank lending by banks will require a very large capital infusion from private or public sources. Analysis of the US consolidated bank balance sheet suggests a potential loss of at least $1,000bn out of the more than $12,000bn of US commercial bank assets at original book value.

Through the end of 2008, approximately $500bn had been written off, leaving an additional $500bn yet to be recognised. But funding the latter $500bn will not be enough to foster normal lending if investors in the liabilities of banks require, as I suspect, an additional 3-4 percentage points of cushion in their equity capital-to-asset ratios. The overall need appears to be north of $850bn. Some is being replenished by increased bank cash flow. A turnround of global equity prices could deliver a far larger part of those needs. Still, a deep hole must be filled, probably with sovereign US Treasury credits. It is too soon to evaluate the US Treasury’s most recent public-private initiatives. Hopefully, they will succeed in removing much of the heavy burden of illiquid bank assets.

The writer is the former chairman of the US Federal Reserve.

The Quiet Coup

by Simon Johnson

The crash has laid bare many unpleasant truths about the United States. One of the most alarming, says a former chief economist of the International Monetary Fund, is that the finance industry has effectively captured our government—a state of affairs that more typically describes emerging markets, and is at the center of many emerging-market crises. If the IMF’s staff could speak freely about the U.S., it would tell us what it tells all countries in this situation: recovery will fail unless we break the financial oligarchy that is blocking essential reform. And if we are to prevent a true depression, we’re running out of time.

ONE THING YOU learn rather quickly when working at the International Monetary Fund is that no one is ever very happy to see you. Typically, your “clients” come in only after private capital has abandoned them, after regional trading-bloc partners have been unable to throw a strong enough lifeline, after last-ditch attempts to borrow from powerful friends like China or the European Union have fallen through. You’re never at the top of anyone’s dance card.

The reason, of course, is that the IMF specializes in telling its clients what they don’t want to hear. I should know; I pressed painful changes on many foreign officials during my time there as chief economist in 2007 and 2008. And I felt the effects of IMF pressure, at least indirectly, when I worked with governments in Eastern Europe as they struggled after 1989, and with the private sector in Asia and Latin America during the crises of the late 1990s and early 2000s. Over that time, from every vantage point, I saw firsthand the steady flow of officials—from Ukraine, Russia, Thailand, Indonesia, South Korea, and elsewhere—trudging to the fund when circumstances were dire and all else had failed.

Every crisis is different, of course. Ukraine faced hyperinflation in 1994; Russia desperately needed help when its short-term-debt rollover scheme exploded in the summer of 1998; the Indonesian rupiah plunged in 1997, nearly leveling the corporate economy; that same year, South Korea’s 30-year economic miracle ground to a halt when foreign banks suddenly refused to extend new credit.

But I must tell you, to IMF officials, all of these crises looked depressingly similar. Each country, of course, needed a loan, but more than that, each needed to make big changes so that the loan could really work. Almost always, countries in crisis need to learn to live within their means after a period of excess—exports must be increased, and imports cut—and the goal is to do this without the most horrible of recessions. Naturally, the fund’s economists spend time figuring out the policies—budget, money supply, and the like—that make sense in this context. Yet the economic solution is seldom very hard to work out.

No, the real concern of the fund’s senior staff, and the biggest obstacle to recovery, is almost invariably the politics of countries in crisis.

Typically, these countries are in a desperate economic situation for one simple reason—the powerful elites within them overreached in good times and took too many risks. Emerging-market governments and their private-sector allies commonly form a tight-knit—and, most of the time, genteel—oligarchy, running the country rather like a profit-seeking company in which they are the controlling shareholders. When a country like Indonesia or South Korea or Russia grows, so do the ambitions of its captains of industry. As masters of their mini-universe, these people make some investments that clearly benefit the broader economy, but they also start making bigger and riskier bets. They reckon—correctly, in most cases—that their political connections will allow them to push onto the government any substantial problems that arise.

In Russia, for instance, the private sector is now in serious trouble because, over the past five years or so, it borrowed at least $490 billion from global banks and investors on the assumption that the country’s energy sector could support a permanent increase in consumption throughout the economy. As Russia’s oligarchs spent this capital, acquiring other companies and embarking on ambitious investment plans that generated jobs, their importance to the political elite increased. Growing political support meant better access to lucrative contracts, tax breaks, and subsidies. And foreign investors could not have been more pleased; all other things being equal, they prefer to lend money to people who have the implicit backing of their national governments, even if that backing gives off the faint whiff of corruption.

But inevitably, emerging-market oligarchs get carried away; they waste money and build massive business empires on a mountain of debt. Local banks, sometimes pressured by the government, become too willing to extend credit to the elite and to those who depend on them. Overborrowing always ends badly, whether for an individual, a company, or a country. Sooner or later, credit conditions become tighter and no one will lend you money on anything close to affordable terms.

The downward spiral that follows is remarkably steep. Enormous companies teeter on the brink of default, and the local banks that have lent to them collapse. Yesterday’s “public-private partnerships” are relabeled “crony capitalism.” With credit unavailable, economic paralysis ensues, and conditions just get worse and worse. The government is forced to draw down its foreign-currency reserves to pay for imports, service debt, and cover private losses. But these reserves will eventually run out. If the country cannot right itself before that happens, it will default on its sovereign debt and become an economic pariah. The government, in its race to stop the bleeding, will typically need to wipe out some of the national champions—now hemorrhaging cash—and usually restructure a banking system that’s gone badly out of balance. It will, in other words, need to squeeze at least some of its oligarchs.

Squeezing the oligarchs, though, is seldom the strategy of choice among emerging-market governments. Quite the contrary: at the outset of the crisis, the oligarchs are usually among the first to get extra help from the government, such as preferential access to foreign currency, or maybe a nice tax break, or—here’s a classic Kremlin bailout technique—the assumption of private debt obligations by the government. Under duress, generosity toward old friends takes many innovative forms. Meanwhile, needing to squeeze someone, most emerging-market governments look first to ordinary working folk—at least until the riots grow too large.

Eventually, as the oligarchs in Putin’s Russia now realize, some within the elite have to lose out before recovery can begin. It’s a game of musical chairs: there just aren’t enough currency reserves to take care of everyone, and the government cannot afford to take over private-sector debt completely.

So the IMF staff looks into the eyes of the minister of finance and decides whether the government is serious yet. The fund will give even a country like Russia a loan eventually, but first it wants to make sure Prime Minister Putin is ready, willing, and able to be tough on some of his friends. If he is not ready to throw former pals to the wolves, the fund can wait. And when he is ready, the fund is happy to make helpful suggestions—particularly with regard to wresting control of the banking system from the hands of the most incompetent and avaricious “entrepreneurs.”

Of course, Putin’s ex-friends will fight back. They’ll mobilize allies, work the system, and put pressure on other parts of the government to get additional subsidies. In extreme cases, they’ll even try subversion—including calling up their contacts in the American foreign-policy establishment, as the Ukrainians did with some success in the late 1990s.

Many IMF programs “go off track” (a euphemism) precisely because the government can’t stay tough on erstwhile cronies, and the consequences are massive inflation or other disasters. A program “goes back on track” once the government prevails or powerful oligarchs sort out among themselves who will govern—and thus win or lose—under the IMF-supported plan. The real fight in Thailand and Indonesia in 1997 was about which powerful families would lose their banks. In Thailand, it was handled relatively smoothly. In Indonesia, it led to the fall of President Suharto and economic chaos.

From long years of experience, the IMF staff knows its program will succeed—stabilizing the economy and enabling growth—only if at least some of the powerful oligarchs who did so much to create the underlying problems take a hit. This is the problem of all emerging markets.

Becoming a Banana Republic

In its depth and suddenness, the U.S. economic and financial crisis is shockingly reminiscent of moments we have recently seen in emerging markets (and only in emerging markets): South Korea (1997), Malaysia (1998), Russia and Argentina (time and again). In each of those cases, global investors, afraid that the country or its financial sector wouldn’t be able to pay off mountainous debt, suddenly stopped lending. And in each case, that fear became self-fulfilling, as banks that couldn’t roll over their debt did, in fact, become unable to pay. This is precisely what drove Lehman Brothers into bankruptcy on September 15, causing all sources of funding to the U.S. financial sector to dry up overnight. Just as in emerging-market crises, the weakness in the banking system has quickly rippled out into the rest of the economy, causing a severe economic contraction and hardship for millions of people.

But there’s a deeper and more disturbing similarity: elite business interests—financiers, in the case of the U.S.—played a central role in creating the crisis, making ever-larger gambles, with the implicit backing of the government, until the inevitable collapse. More alarming, they are now using their influence to prevent precisely the sorts of reforms that are needed, and fast, to pull the economy out of its nosedive. The government seems helpless, or unwilling, to act against them.

Top investment bankers and government officials like to lay the blame for the current crisis on the lowering of U.S. interest rates after the dotcom bust or, even better—in a “buck stops somewhere else” sort of way—on the flow of savings out of China. Some on the right like to complain about Fannie Mae or Freddie Mac, or even about longer-standing efforts to promote broader homeownership. And, of course, it is axiomatic to everyone that the regulators responsible for “safety and soundness” were fast asleep at the wheel.

But these various policies—lightweight regulation, cheap money, the unwritten Chinese-American economic alliance, the promotion of homeownership—had something in common. Even though some are traditionally associated with Democrats and some with Republicans, they all benefited the financial sector. Policy changes that might have forestalled the crisis but would have limited the financial sector’s profits—such as Brooksley Born’s now-famous attempts to regulate credit-default swaps at the Commodity Futures Trading Commission, in 1998—were ignored or swept aside.

The financial industry has not always enjoyed such favored treatment. But for the past 25 years or so, finance has boomed, becoming ever more powerful. The boom began with the Reagan years, and it only gained strength with the deregulatory policies of the Clinton and George W. Bush administrations. Several other factors helped fuel the financial industry’s ascent. Paul Volcker’s monetary policy in the 1980s, and the increased volatility in interest rates that accompanied it, made bond trading much more lucrative. The invention of securitization, interest-rate swaps, and credit-default swaps greatly increased the volume of transactions that bankers could make money on. And an aging and increasingly wealthy population invested more and more money in securities, helped by the invention of the IRA and the 401(k) plan. Together, these developments vastly increased the profit opportunities in financial services.

Not surprisingly, Wall Street ran with these opportunities. From 1973 to 1985, the financial sector never earned more than 16 percent of domestic corporate profits. In 1986, that figure reached 19 percent. In the 1990s, it oscillated between 21 percent and 30 percent, higher than it had ever been in the postwar period. This decade, it reached 41 percent. Pay rose just as dramatically. From 1948 to 1982, average compensation in the financial sector ranged between 99 percent and 108 percent of the average for all domestic private industries. From 1983, it shot upward, reaching 181 percent in 2007.

The great wealth that the financial sector created and concentrated gave bankers enormous political weight—a weight not seen in the U.S. since the era of J.P. Morgan (the man). In that period, the banking panic of 1907 could be stopped only by coordination among private-sector bankers: no government entity was able to offer an effective response. But that first age of banking oligarchs came to an end with the passage of significant banking regulation in response to the Great Depression; the reemergence of an American financial oligarchy is quite recent.

The Wall Street–Washington Corridor

Of course, the U.S. is unique. And just as we have the world’s most advanced economy, military, and technology, we also have its most advanced oligarchy.

In a primitive political system, power is transmitted through violence, or the threat of violence: military coups, private militias, and so on. In a less primitive system more typical of emerging markets, power is transmitted via money: bribes, kickbacks, and offshore bank accounts. Although lobbying and campaign contributions certainly play major roles in the American political system, old-fashioned corruption—envelopes stuffed with $100 bills—is probably a sideshow today, Jack Abramoff notwithstanding.

Instead, the American financial industry gained political power by amassing a kind of cultural capital—a belief system. Once, perhaps, what was good for General Motors was good for the country. Over the past decade, the attitude took hold that what was good for Wall Street was good for the country. The banking-and-securities industry has become one of the top contributors to political campaigns, but at the peak of its influence, it did not have to buy favors the way, for example, the tobacco companies or military contractors might have to. Instead, it benefited from the fact that Washington insiders already believed that large financial institutions and free-flowing capital markets were crucial to America’s position in the world.

One channel of influence was, of course, the flow of individuals between Wall Street and Washington. Robert Rubin, once the co-chairman of Goldman Sachs, served in Washington as Treasury secretary under Clinton, and later became chairman of Citigroup’s executive committee. Henry Paulson, CEO of Goldman Sachs during the long boom, became Treasury secretary under George W.Bush. John Snow, Paulson’s predecessor, left to become chairman of Cerberus Capital Management, a large private-equity firm that also counts Dan Quayle among its executives. Alan Greenspan, after leaving the Federal Reserve, became a consultant to Pimco, perhaps the biggest player in international bond markets.

These personal connections were multiplied many times over at the lower levels of the past three presidential administrations, strengthening the ties between Washington and Wall Street. It has become something of a tradition for Goldman Sachs employees to go into public service after they leave the firm. The flow of Goldman alumni—including Jon Corzine, now the governor of New Jersey, along with Rubin and Paulson—not only placed people with Wall Street’s worldview in the halls of power; it also helped create an image of Goldman (inside the Beltway, at least) as an institution that was itself almost a form of public service.

Wall Street is a very seductive place, imbued with an air of power. Its executives truly believe that they control the levers that make the world go round. A civil servant from Washington invited into their conference rooms, even if just for a meeting, could be forgiven for falling under their sway. Throughout my time at the IMF, I was struck by the easy access of leading financiers to the highest U.S. government officials, and the interweaving of the two career tracks. I vividly remember a meeting in early 2008—attended by top policy makers from a handful of rich countries—at which the chair casually proclaimed, to the room’s general approval, that the best preparation for becoming a central-bank governor was to work first as an investment banker.

A whole generation of policy makers has been mesmerized by Wall Street, always and utterly convinced that whatever the banks said was true. Alan Greenspan’s pronouncements in favor of unregulated financial markets are well known. Yet Greenspan was hardly alone. This is what Ben Bernanke, the man who succeeded him, said in 2006: “The management of market risk and credit risk has become increasingly sophisticated. … Banking organizations of all sizes have made substantial strides over the past two decades in their ability to measure and manage risks.”

Of course, this was mostly an illusion. Regulators, legislators, and academics almost all assumed that the managers of these banks knew what they were doing. In retrospect, they didn’t. AIG’s Financial Products division, for instance, made $2.5 billion in pretax profits in 2005, largely by selling underpriced insurance on complex, poorly understood securities. Often described as “picking up nickels in front of a steamroller,” this strategy is profitable in ordinary years, and catastrophic in bad ones. As of last fall, AIG had outstanding insurance on more than $400 billion in securities. To date, the U.S. government, in an effort to rescue the company, has committed about $180 billion in investments and loans to cover losses that AIG’s sophisticated risk modeling had said were virtually impossible.

Wall Street’s seductive power extended even (or especially) to finance and economics professors, historically confined to the cramped offices of universities and the pursuit of Nobel Prizes. As mathematical finance became more and more essential to practical finance, professors increasingly took positions as consultants or partners at financial institutions. Myron Scholes and Robert Merton, Nobel laureates both, were perhaps the most famous; they took board seats at the hedge fund Long-Term Capital Management in 1994, before the fund famously flamed out at the end of the decade. But many others beat similar paths. This migration gave the stamp of academic legitimacy (and the intimidating aura of intellectual rigor) to the burgeoning world of high finance.

As more and more of the rich made their money in finance, the cult of finance seeped into the culture at large. Works like Barbarians at the Gate, Wall Street, and Bonfire of the Vanities—all intended as cautionary tales—served only to increase Wall Street’s mystique. Michael Lewis noted in Portfolio last year that when he wrote Liar’s Poker, an insider’s account of the financial industry, in 1989, he had hoped the book might provoke outrage at Wall Street’s hubris and excess. Instead, he found himself “knee-deep in letters from students at Ohio State who wanted to know if I had any other secrets to share. … They’d read my book as a how-to manual.” Even Wall Street’s criminals, like Michael Milken and Ivan Boesky, became larger than life. In a society that celebrates the idea of making money, it was easy to infer that the interests of the financial sector were the same as the interests of the country—and that the winners in the financial sector knew better what was good for America than did the career civil servants in Washington. Faith in free financial markets grew into conventional wisdom—trumpeted on the editorial pages of The Wall Street Journal and on the floor of Congress.

From this confluence of campaign finance, personal connections, and ideology there flowed, in just the past decade, a river of deregulatory policies that is, in hindsight, astonishing:

• insistence on free movement of capital across borders;

• the repeal of Depression-era regulations separating commercial and investment banking;

• a congressional ban on the regulation of credit-default swaps;

• major increases in the amount of leverage allowed to investment banks

• a light (dare I say invisible?) hand at the Securities and Exchange Commission in its regulatory enforcement;

• an international agreement to allow banks to measure their own riskiness;

• and an intentional failure to update regulations so as to keep up with the tremendous pace of financial innovation.

The mood that accompanied these measures in Washington seemed to swing between nonchalance and outright celebration: finance unleashed, it was thought, would continue to propel the economy to greater heights.

America’s Oligarchs and the Financial Crisis

The oligarchy and the government policies that aided it did not alone cause the financial crisis that exploded last year. Many other factors contributed, including excessive borrowing by households and lax lending standards out on the fringes of the financial world. But major commercial and investment banks—and the hedge funds that ran alongside them—were the big beneficiaries of the twin housing and equity-market bubbles of this decade, their profits fed by an ever-increasing volume of transactions founded on a relatively small base of actual physical assets. Each time a loan was sold, packaged, securitized, and resold, banks took their transaction fees, and the hedge funds buying those securities reaped ever-larger fees as their holdings grew.

Because everyone was getting richer, and the health of the national economy depended so heavily on growth in real estate and finance, no one in Washington had any incentive to question what was going on. Instead, Fed Chairman Greenspan and President Bush insisted metronomically that the economy was fundamentally sound and that the tremendous growth in complex securities and credit-default swaps was evidence of a healthy economy where risk was distributed safely.

In the summer of 2007, signs of strain started appearing. The boom had produced so much debt that even a small economic stumble could cause major problems, and rising delinquencies in subprime mortgages proved the stumbling block. Ever since, the financial sector and the federal government have been behaving exactly the way one would expect them to, in light of past emerging-market crises.

By now, the princes of the financial world have of course been stripped naked as leaders and strategists—at least in the eyes of most Americans. But as the months have rolled by, financial elites have continued to assume that their position as the economy’s favored children is safe, despite the wreckage they have caused.

Stanley O’Neal, the CEO of Merrill Lynch, pushed his firm heavily into the mortgage-backed-securities market at its peak in 2005 and 2006; in October 2007, he acknowledged, “The bottom line is, we—I—got it wrong by being overexposed to subprime, and we suffered as a result of impaired liquidity in that market. No one is more disappointed than I am in that result.” O’Neal took home a $14 million bonus in 2006; in 2007, he walked away from Merrill with a severance package worth $162 million, although it is presumably worth much less today.

In October, John Thain, Merrill Lynch’s final CEO, reportedly lobbied his board of directors for a bonus of $30 million or more, eventually reducing his demand to $10 million in December; he withdrew the request, under a firestorm of protest, only after it was leaked to The Wall Street Journal. Merrill Lynch as a whole was no better: it moved its bonus payments, $4 billion in total, forward to December, presumably to avoid the possibility that they would be reduced by Bank of America, which would own Merrill beginning on January 1. Wall Street paid out $18 billion in year-end bonuses last year to its New York City employees, after the government disbursed $243 billion in emergency assistance to the financial sector.

In a financial panic, the government must respond with both speed and overwhelming force. The root problem is uncertainty—in our case, uncertainty about whether the major banks have sufficient assets to cover their liabilities. Half measures combined with wishful thinking and a wait-and-see attitude cannot overcome this uncertainty. And the longer the response takes, the longer the uncertainty will stymie the flow of credit, sap consumer confidence, and cripple the economy—ultimately making the problem much harder to solve. Yet the principal characteristics of the government’s response to the financial crisis have been delay, lack of transparency, and an unwillingness to upset the financial sector.

The response so far is perhaps best described as “policy by deal”: when a major financial institution gets into trouble, the Treasury Department and the Federal Reserve engineer a bailout over the weekend and announce on Monday that everything is fine. In March 2008, Bear Stearns was sold to JP Morgan Chase in what looked to many like a gift to JP Morgan. (Jamie Dimon, JP Morgan’s CEO, sits on the board of directors of the Federal Reserve Bank of New York, which, along with the Treasury Department, brokered the deal.) In September, we saw the sale of Merrill Lynch to Bank of America, the first bailout of AIG, and the takeover and immediate sale of Washington Mutual to JP Morgan—all of which were brokered by the government. In October, nine large banks were recapitalized on the same day behind closed doors in Washington. This, in turn, was followed by additional bailouts for Citigroup, AIG, Bank of America, Citigroup (again), and AIG (again).

Some of these deals may have been reasonable responses to the immediate situation. But it was never clear (and still isn’t) what combination of interests was being served, and how. Treasury and the Fed did not act according to any publicly articulated principles, but just worked out a transaction and claimed it was the best that could be done under the circumstances. This was late-night, backroom dealing, pure and simple.

Throughout the crisis, the government has taken extreme care not to upset the interests of the financial institutions, or to question the basic outlines of the system that got us here. In September 2008, Henry Paulson asked Congress for $700 billion to buy toxic assets from banks, with no strings attached and no judicial review of his purchase decisions. Many observers suspected that the purpose was to overpay for those assets and thereby take the problem off the banks’ hands—indeed, that is the only way that buying toxic assets would have helped anything. Perhaps because there was no way to make such a blatant subsidy politically acceptable, that plan was shelved.

Instead, the money was used to recapitalize banks, buying shares in them on terms that were grossly favorable to the banks themselves. As the crisis has deepened and financial institutions have needed more help, the government has gotten more and more creative in figuring out ways to provide banks with subsidies that are too complex for the general public to understand. The first AIG bailout, which was on relatively good terms for the taxpayer, was supplemented by three further bailouts whose terms were more AIG-friendly. The second Citigroup bailout and the Bank of America bailout included complex asset guarantees that provided the banks with insurance at below-market rates. The third Citigroup bailout, in late February, converted government-owned preferred stock to common stock at a price significantly higher than the market price—a subsidy that probably even most Wall Street Journal readers would miss on first reading. And the convertible preferred shares that the Treasury will buy under the new Financial Stability Plan give the conversion option (and thus the upside) to the banks, not the government.

This latest plan—which is likely to provide cheap loans to hedge funds and others so that they can buy distressed bank assets at relatively high prices—has been heavily influenced by the financial sector, and Treasury has made no secret of that. As Neel Kashkari, a senior Treasury official under both Henry Paulson and Tim Geithner (and a Goldman alum) told Congress in March, “We had received inbound unsolicited proposals from people in the private sector saying, ‘We have capital on the sidelines; we want to go after [distressed bank] assets.’” And the plan lets them do just that: “By marrying government capital—taxpayer capital—with private-sector capital and providing financing, you can enable those investors to then go after those assets at a price that makes sense for the investors and at a price that makes sense for the banks.” Kashkari didn’t mention anything about what makes sense for the third group involved: the taxpayers.

Even leaving aside fairness to taxpayers, the government’s velvet-glove approach with the banks is deeply troubling, for one simple reason: it is inadequate to change the behavior of a financial sector accustomed to doing business on its own terms, at a time when that behavior must change. As an unnamed senior bank official said to The New York Times last fall, “It doesn’t matter how much Hank Paulson gives us, no one is going to lend a nickel until the economy turns.” But there’s the rub: the economy can’t recover until the banks are healthy and willing to lend.

The Way Out

Looking just at the financial crisis (and leaving aside some problems of the larger economy), we face at least two major, interrelated problems. The first is a desperately ill banking sector that threatens to choke off any incipient recovery that the fiscal stimulus might generate. The second is a political balance of power that gives the financial sector a veto over public policy, even as that sector loses popular support.

Big banks, it seems, have only gained political strength since the crisis began. And this is not surprising. With the financial system so fragile, the damage that a major bank failure could cause—Lehman was small relative to Citigroup or Bank of America—is much greater than it would be during ordinary times. The banks have been exploiting this fear as they wring favorable deals out of Washington. Bank of America obtained its second bailout package (in January) after warning the government that it might not be able to go through with the acquisition of Merrill Lynch, a prospect that Treasury did not want to consider.

The challenges the United States faces are familiar territory to the people at the IMF. If you hid the name of the country and just showed them the numbers, there is no doubt what old IMF hands would say: nationalize troubled banks and break them up as necessary.

In some ways, of course, the government has already taken control of the banking system. It has essentially guaranteed the liabilities of the biggest banks, and it is their only plausible source of capital today. Meanwhile, the Federal Reserve has taken on a major role in providing credit to the economy—the function that the private banking sector is supposed to be performing, but isn’t. Yet there are limits to what the Fed can do on its own; consumers and businesses are still dependent on banks that lack the balance sheets and the incentives to make the loans the economy needs, and the government has no real control over who runs the banks, or over what they do.

At the root of the banks’ problems are the large losses they have undoubtedly taken on their securities and loan portfolios. But they don’t want to recognize the full extent of their losses, because that would likely expose them as insolvent. So they talk down the problem, and ask for handouts that aren’t enough to make them healthy (again, they can’t reveal the size of the handouts that would be necessary for that), but are enough to keep them upright a little longer. This behavior is corrosive: unhealthy banks either don’t lend (hoarding money to shore up reserves) or they make desperate gambles on high-risk loans and investments that could pay off big, but probably won’t pay off at all. In either case, the economy suffers further, and as it does, bank assets themselves continue to deteriorate—creating a highly destructive vicious cycle.

To break this cycle, the government must force the banks to acknowledge the scale of their problems. As the IMF understands (and as the U.S. government itself has insisted to multiple emerging-market countries in the past), the most direct way to do this is nationalization. Instead, Treasury is trying to negotiate bailouts bank by bank, and behaving as if the banks hold all the cards—contorting the terms of each deal to minimize government ownership while forswearing government influence over bank strategy or operations. Under these conditions, cleaning up bank balance sheets is impossible.

Nationalization would not imply permanent state ownership. The IMF’s advice would be, essentially: scale up the standard Federal Deposit Insurance Corporation process. An FDIC “intervention” is basically a government-managed bankruptcy procedure for banks. It would allow the government to wipe out bank shareholders, replace failed management, clean up the balance sheets, and then sell the banks back to the private sector. The main advantage is immediate recognition of the problem so that it can be solved before it grows worse.

The government needs to inspect the balance sheets and identify the banks that cannot survive a severe recession. These banks should face a choice: write down your assets to their true value and raise private capital within 30 days, or be taken over by the government. The government would write down the toxic assets of banks taken into receivership—recognizing reality—and transfer those assets to a separate government entity, which would attempt to salvage whatever value is possible for the taxpayer (as the Resolution Trust Corporation did after the savings-and-loan debacle of the 1980s). The rump banks—cleansed and able to lend safely, and hence trusted again by other lenders and investors—could then be sold off.

Cleaning up the megabanks will be complex. And it will be expensive for the taxpayer; according to the latest IMF numbers, the cleanup of the banking system would probably cost close to $1.5 trillion (or 10 percent of our GDP) in the long term. But only decisive government action—exposing the full extent of the financial rot and restoring some set of banks to publicly verifiable health—can cure the financial sector as a whole.

This may seem like strong medicine. But in fact, while necessary, it is insufficient. The second problem the U.S. faces—the power of the oligarchy—is just as important as the immediate crisis of lending. And the advice from the IMF on this front would again be simple: break the oligarchy.

Oversize institutions disproportionately influence public policy; the major banks we have today draw much of their power from being too big to fail. Nationalization and re-privatization would not change that; while the replacement of the bank executives who got us into this crisis would be just and sensible, ultimately, the swapping-out of one set of powerful managers for another would change only the names of the oligarchs.

Ideally, big banks should be sold in medium-size pieces, divided regionally or by type of business. Where this proves impractical—since we’ll want to sell the banks quickly—they could be sold whole, but with the requirement of being broken up within a short time. Banks that remain in private hands should also be subject to size limitations.

This may seem like a crude and arbitrary step, but it is the best way to limit the power of individual institutions in a sector that is essential to the economy as a whole. Of course, some people will complain about the “efficiency costs” of a more fragmented banking system, and these costs are real. But so are the costs when a bank that is too big to fail—a financial weapon of mass self-destruction—explodes. Anything that is too big to fail is too big to exist.

To ensure systematic bank breakup, and to prevent the eventual reemergence of dangerous behemoths, we also need to overhaul our antitrust legislation. Laws put in place more than 100 years ago to combat industrial monopolies were not designed to address the problem we now face. The problem in the financial sector today is not that a given firm might have enough market share to influence prices; it is that one firm or a small set of interconnected firms, by failing, can bring down the economy. The Obama administration’s fiscal stimulus evokes FDR, but what we need to imitate here is Teddy Roosevelt’s trust-busting.

Caps on executive compensation, while redolent of populism, might help restore the political balance of power and deter the emergence of a new oligarchy. Wall Street’s main attraction—to the people who work there and to the government officials who were only too happy to bask in its reflected glory—has been the astounding amount of money that could be made. Limiting that money would reduce the allure of the financial sector and make it more like any other industry.

Still, outright pay caps are clumsy, especially in the long run. And most money is now made in largely unregulated private hedge funds and private-equity firms, so lowering pay would be complicated. Regulation and taxation should be part of the solution. Over time, though, the largest part may involve more transparency and competition, which would bring financial-industry fees down. To those who say this would drive financial activities to other countries, we can now safely say: fine.

Two Paths

To paraphrase Joseph Schumpeter, the early-20th-century economist, everyone has elites; the important thing is to change them from time to time. If the U.S. were just another country, coming to the IMF with hat in hand, I might be fairly optimistic about its future. Most of the emerging-market crises that I’ve mentioned ended relatively quickly, and gave way, for the most part, to relatively strong recoveries. But this, alas, brings us to the limit of the analogy between the U.S. and emerging markets.

Emerging-market countries have only a precarious hold on wealth, and are weaklings globally. When they get into trouble, they quite literally run out of money—or at least out of foreign currency, without which they cannot survive. They must make difficult decisions; ultimately, aggressive action is baked into the cake. But the U.S., of course, is the world’s most powerful nation, rich beyond measure, and blessed with the exorbitant privilege of paying its foreign debts in its own currency, which it can print. As a result, it could very well stumble along for years—as Japan did during its lost decade—never summoning the courage to do what it needs to do, and never really recovering. A clean break with the past—involving the takeover and cleanup of major banks—hardly looks like a sure thing right now. Certainly no one at the IMF can force it.

In my view, the U.S. faces two plausible scenarios. The first involves complicated bank-by-bank deals and a continual drumbeat of (repeated) bailouts, like the ones we saw in February with Citigroup and AIG. The administration will try to muddle through, and confusion will reign.

Boris Fyodorov, the late finance minister of Russia, struggled for much of the past 20 years against oligarchs, corruption, and abuse of authority in all its forms. He liked to say that confusion and chaos were very much in the interests of the powerful—letting them take things, legally and illegally, with impunity. When inflation is high, who can say what a piece of property is really worth? When the credit system is supported by byzantine government arrangements and backroom deals, how do you know that you aren’t being fleeced?

Our future could be one in which continued tumult feeds the looting of the financial system, and we talk more and more about exactly how our oligarchs became bandits and how the economy just can’t seem to get into gear.

The second scenario begins more bleakly, and might end that way too. But it does provide at least some hope that we’ll be shaken out of our torpor. It goes like this: the global economy continues to deteriorate, the banking system in east-central Europe collapses, and—because eastern Europe’s banks are mostly owned by western European banks—justifiable fears of government insolvency spread throughout the Continent. Creditors take further hits and confidence falls further. The Asian economies that export manufactured goods are devastated, and the commodity producers in Latin America and Africa are not much better off. A dramatic worsening of the global environment forces the U.S. economy, already staggering, down onto both knees. The baseline growth rates used in the administration’s current budget are increasingly seen as unrealistic, and the rosy “stress scenario” that the U.S. Treasury is currently using to evaluate banks’ balance sheets becomes a source of great embarrassment.

Under this kind of pressure, and faced with the prospect of a national and global collapse, minds may become more concentrated.

The conventional wisdom among the elite is still that the current slump “cannot be as bad as the Great Depression.” This view is wrong. What we face now could, in fact, be worse than the Great Depression—because the world is now so much more interconnected and because the banking sector is now so big. We face a synchronized downturn in almost all countries, a weakening of confidence among individuals and firms, and major problems for government finances. If our leadership wakes up to the potential consequences, we may yet see dramatic action on the banking system and a breaking of the old elite. Let us hope it is not then too late.

Simon Johnson, a professor at MIT’s Sloan School of Management, was the chief economist at the International Monetary Fund during 2007 and 2008. He blogs about the financial crisis at baselinescenario.com, along with James Kwak, who also contributed to this essay.

§ 7 Respostas para De outros autores

  • Joao Camargo disse:

    Li todos os artigos muito bom.

    Abraco Fraterno a todos do Vespeiro…

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  • I am sure this paragraph has touched all the internet visitors, its
    really really nice article on building up new blog.

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  • Frank Chen disse:

    ” PORQUE TE CALAS?”
    A imprensa LIVRE, ou quase, deveria melhor informar seus leitores e seguidores apresentando a REALIDADE, distorções da PREVIDÊNCIA, sujeiras políticas. Os FATOS, claramente expostos.Muitos itens teriam uma apresentação IDÔNEA através deste seu CANAL O atraso do STF na decisão dos POUPADORES de 30 nos atrás, muitos já falecidos e que não verão a solução de forma PROPOSITAL.. Interesses, interesses.

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  • Robin de Rooy disse:

    Gostei muito da Opinião no Estadão do dia 14/07 “O valor mais alto que sempre se alevanta”. Gostaria de solicitar autorização para reproduzir um pequeno trecho do artigo no Whatsapp, evidentemente informando a fonte.

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  • flm disse:

    sim, robin, pode reproduzir

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  • anto desouza disse:

    Ei ,

    Eu vejo o site http://www.vespeiro.com e é impressionante. Me pergunto se as opções de publicidade de conteúdo ou banners disponíveis no seu site?

    Qual será o preço se gostaríamos de colocar um artigo em seu site?

    Nota: O artigo não deve ser qualquer texto como patrocinado ou anunciado ou como esse

    Felicidades
    anto desouza

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  • Pedro Marcelo Cezar Guimaraes disse:

    Eh que, em se tratando de relacoes eco nomicas internacionais, muitas vezes fica evidente que os paises nao tem amigos, os paises tem interesses….e ai vira e mexe… engolem-se sapos e outros bichos…

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