Porque a esquerda ama Joe Biden

11 de maio de 2021 § 26 Comentários

Diz Joe Biden que seus três pacotes de chuva de dinheiro que, se aprovados todos conforme a encomenda chegarão a astronômicos US$ 6 trilhões, têm por objetivo animar “reformas de caráter progressista” para “criar emprego, distribuir renda, melhorar o valor do salário mínimo e ampliar a educação e a saúde públicas fazendo disso um direito e não um privilégio”.

Mas pelos volumes definidos tem tudo para viciar a democracia americana num tipo de droga nossa velha conhecida da qual dificilmente há cura possível. Afinal, US$ 6 trilhões, é mais que o PIB inteiro do Japão, o 3º maior do mundo, com US$ 5 tri, e mais que quatro vezes o PIB do Brasil de US$ 1,45 tri. E vão ser aplicados em doses cavalares. Um salário mensal de US$ 1.400 dólares (R$ 7.840) por pessoa, mais ajuda a pequenas empresas afetadas pela pandemia é o trecho já aprovado no valor de US$ 1,9 trilhão. Mas há outra “ajuda às famílias”, agora também classificadas como “infraestrutura social”, de entre US$ 3 e US$ 3,6 mil por filho (R$ 20.160) a título de financiamento de escola “gratuita”, assim como um valor não definido para extensão de saude “grátis” para todos, num segundo pacote de US$ 1,8 tri. E US$ 2,2 tri num terceiro pacote de incentivos para financiamento de uma infraestrutura física focada na promessa de emissão zero de carbono até 2035. Não é coisa, convenhamos, que se possa experimentar e depois voltar atras sem dor num sistema em que os políticos são eleitos pelo voto de quem está prestes a receber tudo isso deles para não trabalhar.

Quem nunca comeu melado…

Para sustentar tudo isso Joe Biden pretende não só aumentar os impostos sobre as  empresas que Donald Trump tinha rebaixado para 21%, de volta para 28%, como aumentar o imposto de renda para 40% e criar novas taxas de transmissão de heranças. O componente ambiental de sua proposta inclui, também, um forte aumento regulatório com o objetivo de substituir completamente, em apenas 14 anos, a matriz energética da economia americana baseada no petróleo, começando por banir a extração de petróleo de xisto pela tecnologia de fracking, aquela que, ao longo do período Trump, levou os EUA de maior importador a maior exportador de energia do mundo, com o gás industrial mais barato do planeta.

A China agradece penhorada…

O primeiro efeito da chuva de dinheiro de Joe Biden não será uma inflação apenas doméstica mas uma onda planetária de carestia que já está rolando, com todos os metais e insumos de construção, entre outras commodities, alcançando cotações recorde (o minério de ferro pela primeira vez ultrapassou a barreira dos US$ 200 a tonelada). O segundo efeito, que ele próprio espera, embora negue, será a fuga de empresas e empregos dos Estados Unidos. A prova de que conta com ela é a ordem dada à sua secretária do Tesouro, Janet Yellen, para promover, nos fóruns internacionais, um aumento de impostos sobre a produção coordenado globalmente para evitar a “arbitragem” que hoje fazem todos os empreendedores do mundo, a começar pelos americanos, para ir produzir onde os governos sangram menos os produtores.

São esses os odores que, desde já, estão bombando para a estratosfera o valor das moedas que se escondem dos governos do mundo na tecnologia de blockchain

Como resultado da “Bidenomics” os analistas especializados “esperam” aquilo que já está aí: a instalação de “uma economia dual” nos Estados Unidos com um setor muito forte de alta tecnologia que gera pouco emprego e muita renda, cada vez mais concentrada em monopólios que controlam, além de literalmente tudo o mais, também e principalmente a circulação do discurso político, ficando “criar empregos, distribuir renda, melhorar o valor do salário mínimo e ampliar a educação e a saúde públicas” a cargo do Estado, no estilo Frankenstein – aquele da criatura que sempre acaba por destruir seu criador – na base de subsídios e intervenções pontuais, endividamento crescente e impostos cada vez mais altos.

Não entra no cenário deles a carga pesada de corrupção que vem junto com as economias onde o Estado decide quem ganha quanto, na qual o Brasil é phd, summa cum laude. Também esta já mostrou sua cara lá atras, quando os americanos fizeram a sua primeira grande incursão formal nesse território com os quantitative easy oferecidos pelo Federal Reserve na crise de 2008 que os bancos privados embolsaram inteiros sem que nenhuma parcela daquela primeira grande chuva de dinheiro descesse ao setor produtivo na forma de empréstimos que criassem empregos. Serviu para enriquecer os ricos e empobrecer os pobres.

Joe Biden não me parece pessoalmente, aos 78 anos, mais um desses candidatos ao poder eterno que, depois de passar a vida cuspindo nos Estados Unidos, hoje reservam a ele todos os seus mais entusiasmados aplausos. É apenas mais um desses tipos muito abaixo da qualificação para a posição para a qual o destino o empurrou, que foram às alturas através do deserto de lideranças do mundo de hoje pelo escorregador criado por Donald Trump e pela pandemia, e veio a calhar para a esquerda jurássica do Partido Democrata , esta que não tem qualquer proposta concreta que extrapole os temas de raça, gênero, sexo, drogas e rock & roll, e não tinha com que preencher a vaga aberta à sua frente.

A ironia de tudo isso está no fato de que Joe Biden só está em condição de fazer chover US$ 6 trilhões porque os Estados Unidos foram o único país do mundo que jamais entrou na ratoeira onde ele agora os está metendo. No primeiro confronto com a concentração extrema da riqueza nacional nas mãos dos donos de uns poucos monopólios de sua história, na virada do século 19 para o 20, Theodore Roosevelt e os reformadores da Progressive Era, com os horrores do Estado absolutista ainda frescos na memória e a ameaça socialista rugindo na Europa à frente, trataram humildemente apenas de tornar seguro e higiênico o parto natural da produção e da distribuição de riquezas, reorientando a democracia americana para um forte viés antitruste e dando ao povo condições objetivas de controlar seus políticos com o recall, a iniciativa e o referendo de leis.

Proibiram a ocupação de mercado por uma mesma empresa além de um limite porque tornou-se claro que a “condição ambiental” essencial para a realização do ideal democrático não era só inscrever direitos numa constituição mas sim preservar um nível de competição tal que garantisse a valorização continuada do trabalho mediante a disputa de trabalhadores por um grande numero de patrões pelo aumento dos salários e a desses mesmos trabalhadores, enquanto consumidores, por um grande número de fornecedores mediante a redução de preços. 

Foi essa arrumação simples e inteligente que, pela primeira vez na história da humanidade, fez do trabalhador americano alguém que melhorava diariamente de vida sem ter de pedir favores a ninguém e dos Estados Unidos e da civilização ocidental, que eles carregaram nas costas, o que ainda hoje eles são.

Ao aceitar a briga com os monopólios do “capitalismo de estado” chinês nos termos impostos por eles e “achinezar” as relações de trabalho, revertendo a orientação antitruste e admitindo o retrocesso para o capitalismo selvagem dos monopólios dos amigos do rei em vez de constrange-los a domesticar o deles para ter acesso aos seus mercados, o Ocidente condenou à morte a democracia, síntese dos valores da sua obra civilizatória que, por definição, não pode conviver, nem com patrões, nem com partidos únicos.

A única saída possível, cada vez mais distante no horizonte, está em reverter esse mau passo.

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§ 26 Respostas para Porque a esquerda ama Joe Biden

  • oliverilg disse:

    O mau passo já está dado! Pobre USA…

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  • Pedro Marcelo Cezar Guimaraes disse:

    Sementes de Kronstadt no Vespeiro…Que caiam as escamas dos olhos!

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  • A.(sno) disse:

    “Quem nunca comeu melado…”
    – Por aqui também se lambuza! Mas o cardápio é outro…

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  • Marcos Andrade Moraes disse:

    Por que vc ama Bolsonaro e os generais? A resposta é bem mais simples; resta saber: vc está preso no armário?

    MAM

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    • A.)sno) disse:

      Foi só falar em cardápio diversificado olha quem apareceu…!

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      • Flm disse:

        Não esquenta, A!

        É um robô. Um algoritmo. Não raciocina. Não argumenta. Qualquer coisa que se escreva ele repete a mesma frase…

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      • A.(sno) disse:

        Robô ou projeto de ser humano, esse sujeito “desperta em mim os instintos mais primitivos”.
        O lado positivo é que você não o censura: por muito menos alguns blogueiros até extinguem a área de comentários. Parabéns, Fernão!

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      • Paulo Murano disse:

        Aqui, pensar/compreender por si instiga e revela joio e trigo; outro ser observa, impassível observa na feira de vaidades inúteis.

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      • A.(sno) disse:

        Foi só falar em cardápio diversificado olha quem reapareceu…!

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  • rubirodrigues disse:

    O Brasil está se tornando a última alternativa de uma democracia que preserve a liberdade possível das pessoas. Mas precisamos entender a inteligência organizativa da natureza do universo e usá-la na organização de nossas instituições sociais. Estou convencido que o problema dos homens é apenas um: ignorância. O universo nos oferece ambiente inteligentemente organizado para viver e nós nos comportamos como broncos irracionais. O Estados Unidos já foram esperança…

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    • A.(sno) disse:

      Brasil, alternativa de democracia???????
      Como diria Bussunda: fala sério, Rubi!

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      • rubirodrigues disse:

        E isso mesmo A. Observe que a esquerda brasileira já não tem argumentos. Os caciques já não tem soldados para queimar e estão tendo eles mesmos que fazer o serviço sujo. Veja como os ministros do stf estão tendo que se expor. Veja os patrimonialistas tendo que se expor na cpi. Veja a plateia da Gleisi e dos petralhas nas comemorações do dia do trabalho. Estão se desmanchando e a população brasileira não se deixa enrolar mais e se reconhece conservadora. A esquerda se aliou aos globalistas e abandonou a população. Bolsonaro está certo em ter paciência, vão cair de podre.

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  • latebloomerla disse:

    Mais um excelente artigo do FLM! Que estoque, hein!

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  • José Luiz de Sanctis disse:

    Nenhuma força externa poderia destruir a democracia americana. Como teria dito Stalin, a democracia americana só poderá ser destruída por dentro. O bidê e os demo-cratas estão a serviço do diabo comunista. Resta saber se quem paga a conta vai concordar e se terá forças para reagir.

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    • Fernão disse:

      A democracia americana está sendo destruída por dentro mas não pela razão que você suspeita. Não se trata de uma vitoria de outra ideologia e nem do resultado de um trabalho de subversão, tipo Gramsci. Está rolando um processo desse tipo por lá também, mas ele não é a “causa”, é muito mais a consequência do desgaste do apoio do público americano ao sistema.

      O que aconteceu é que eles se apavoraram diante da chegada dos produtos chineses a preço de banana quando a internet passou a permitir compras em qualquer lugar do planeta lá nos anos 90. E em vez de apostar na superioridade do seu sistema, diante dos empregos desaparecendo e das empresas falindo abandonaram a política antitruste que tinha “domesticado” o capitalismo deles, e partiram cegamente para a concentração da propriedade via fusões e aquisições, voltando para a economia dos monopólios que ja tinha quase destruído a democracia americana no final do século 19.

      Abandonaram, enfim, o capitalismo democrático e passaram a imitar o capitalismo de estado chinês na ilusão de que era preciso combater monopólios com monopólios. E é esse capitalismo, agora instalado dentro dos EUA, com seus salários minguantes, a corrupção crescente e a falta de opção para quem esta insatisfeito com o patrão que tem, que recebe o repudio maciço dos americanos.

      Eles adotaram o sistema chinês que funciona para quem passou os últimos 40 anos comendo morcegos e agora esta melhorando de vida, mas está sendo detestado por quem passou os últimos 40 anos comendo hambúrgueres e agora está indo ladeira abaixo.

      Não foi e nem é, repito, uma disputa de ideias. Eles trocaram o sistema que tinham pelo sistema chinês, esquecidos de que ele só funciona porque tudo pertence, na verdade, ao Estado que pode sustentar prejuízos indefinidamente até matar o concorrente que for. É essa versão americana do sistema chinês que os americanos hoje repudiam. O resto é a confusão que a turma das “narrativas” aproveita para fazer porque as pessoas não enxergam claramente o quê é exatamente o quê. O capitalismo democrático americano está em vias de desaparecimento. E é disso que o povo americano, errática e inarticuladamente, está se queixando.

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      • José Luiz de Sanctis disse:

        Concordo Fernão, mas a origem de tudo foi a ganância de alguns empresários em levar suas indústrias para a China por causa da mão de obra escrava para ganhar da concorrência interna, que usava mão de obra bem paga, Em resumo, dinheiro. E o mundo inteiro caiu nessa arapuca. Uma coisa que me marcou muito foi a veemente advertência de um senador republicano (infelizmente não lembro o nome) que quando esse suicídio econômico teve inicio, foi radicalmente contra, pois os comunistas não respeitam patentes, direitos autorais e nenhuma regra do jogo democrático. Copiariam tudo, venderiam mais barato e quebrariam a economia americana e mundial. Ele disse que esses empresários estariam fabricando a corda com a qual seriam enforcados. Bingo. Para piorar, disseminaram uma peste acompanhada de uma eficiente campanha de marketing para aterrorizar as pessoas. Quero ver como reverter isso. Na medida do possível procuro prestigiar o produto nacional, mesmo pagando mais caro, mas é praticamente impossível não comprar algum produto chinês.

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      • José Luiz de Sanctis disse:

        Tentei publicar meu comentário abaixo no artigo “Os americanos estão odiando se achinezar”, mas acusa que o comentário é repetido.

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  • Alexandre disse:

    Que os EUA não se mirem numa preguiçosa socialdemocracia europeia. Os chineses (e russos) adorariam isso.

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  • Edson Galindo disse:

    “A Revolta de Atlas” neles!

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  • arioba disse:

    O Partido democrático é totalmente submisso ao comunismo desta vez chines, os Clintons e Obama eram totalmente submissos, por isso os EUA estavam amargando alto desemprego, saindo do primeiro lugar como nação etc. O povo e as instituições perceberam, só que os banqueiros impingiram aos americanos ou Trump (um maritaca de mão de cheia) ou Hilary (um poste submissa aos chineses). As instituições entre os piores, escolheu Trump, foi apenas uma jogada dos banqueiros que voltam a atacar. Claro que esse outro poste Biden só por sorte chegará ao fim de mandato. Ele é preferido pela esquerda que ainda é comunista. Vamos ter algo semelhante no Brasil, já ficamos das esquerdas, mas acontece que aqui estavam associadas com os coronéis do pudê, e estes vêm desde o Império, é uma praga mais difícil de extirpar. Os milicos nem mexeram aí. O grande fato que mexe o mundo é que já estamos cheios de comunismo, que infelizmente está enraigado nos meios culturais e também políticos. Acho que vamos levar algumas décadas para cair na real.

    Ariovaldo Batista – engenheiro – arioba06@hotmail.com ________________________________

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  • André disse:

    Em sendo imparcial, fiel e verdadeiro o teor do artigo abaixo, o caminho será ainda mais tortuoso e torpe…
    https://www.zerohedge.com/political/dsouza-abolish-fbi
    Um Forte Abraço

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  • A política de subsídios de Biden é inflacionária, e as consequências não serão nada boas para eles como para nós que ainda temos o dólar como referência. O declínio americano é visível em setores industriais, monopolizados ou não. A preferência por produtos estrangeiros, dentro dos EUA é algo chocante para quem conheceu o país há mais de 4 décadas.

    Como acreditar num sistema que tem uma Tesla que produz 500 mil veículos por anos com valor de mercado de U$1 trilhão, quando comparada com uma Toyota que produz 8,5 milhões de veículos/ano e é cotada em um quarto do valor daquela? Ou uma Apple que vende 190 milhões de aparelhos e vale 2,3 tri, quando comparado com a Samsung que vale U$63 bilhões e produz 290 milhões de aparelhos?

    Tem alguma coisa errada acontecendo nos EUA ou o mundo é que está errado?

    Pelo visto, a corrida para a blockchain carrega uma desconfiança confessa no futuro do dólar e das ações. Não é só o Biden que está maluco.

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  • GATO disse:

    Vamos produzir aspirinas, o mercado vai crescer muito. Não serão dores de cabeça, serão enxaquecas para todos.

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