Como foi que eles conseguiram

11 de fevereiro de 2020 § 31 Comentários

Artigo para O Estado de S. Paulo de 11/2/2020

Todo mundo pergunta como foi que, partindo de uma situação em que tudo estava dominado” pela corrupção, os americanos conseguiram virar o jogo.

O Movimento Progressista” foi uma resposta aos problemas que se tornaram agudos depois da Guerra Civil (1861-1865) que em tudo fazem lembrar os do Brasil de hoje: urbanização desordenada com multiplicação de cortiços, favelas e violência urbana; exploração vil do trabalho; usurpação dos governos das cidades por máquinas políticas corruptas altamente profissionalizadas financiadas por empresários de araque; corrida às fusões e consolidações de empresas de setores inteiros da economia concentrando a riqueza e criando grupos gigantes com poder de corrupção ilimitado (os famigerados robber barons)…

Embora todos tivessem as mesmas queixas, até meados da década de 1890 dezenas de grupos reformistas ou de protesto separados por antagonismos em torno de minucias programáticas e vaidades imensas batiam cabeças em cidades e estados diferentes sem força para mudar nada.

Quatro fatores, principalmente, concorreram para que somassem forças a partir da crise que levou ao pânico financeiro de 1893. A ação de todas as igrejas na crítica do estado de coisas e na pregação do social gospel que associava a salvação individual também à “salvação socialpreparou o terreno. Mas foi a fundação da National Municipal League (NML), em 1894, amplamente financiada pelo empresariado que perdia com a corrupção, que profissionalizou a critica do sistema e a busca de alternativas pesquisando sistematicamente ao redor do mundo bons modelos de gestão das cidades, formando pessoal, prestando assessoria jurídica e legislativa e, principalmente, difundindo para o grande público as alternativas encontradas, municiando de argumentos e estruturando em rede” os movimentos reformistas do país inteiro.

Também foi crucial o início de uma revolução no jornalismo americano que evoluiu do sensacionalismo e do panfletarismo partidário para o jornalismo investigativo dos repórteres revolvedores da sujeira” (muckrakers) da revista de Samuel McClure que circulou entre 1893 e 1929 e expôs os intestinos da corrupção dos robber barons dos setores de petróleo, financeiro, do aço e outros, que constituíram monopólios maquiavélicos mancomunados com os donos das ferrovias e com políticos corruptos. Foram esses jornalistas, também, que pesquisaram e difundiram persistentemente nos EUA novos métodos de combate à corrupção, especialmente as ferramentas de democracia direta usadas na Suíça.

………

Os muckrakers e a NML deram a contribuição decisiva para a mobilização da opinião pública numa direção consistente apoiada numa espinha dorsal de sólido conhecimento.

O elemento sorte entrou, então, decisivamente em cena pela mão de Theodore Roosevelt. Vindo de fora dos currais tradicionais da política, ele foi o primeiro político do Ocidente a compreender a força do novo jornalismo nascente. Jogando fechado” com os grandes repórteres daquela geração, começou como chefe de polícia de Nova York, foi eleito na sequência governador do estado, e logo tornou-se herói nacional ao enfrentar a máfia que dominava a política local havia décadas e controlava nacionalmente o Partido Republicano. Traído, foi esterilizado” numa candidatura à vice-presidência num golpe dos velhos caciques corruptos dentro da convenção republicana. Mas com o assassinato do presidente McKinley antes da posse TR”, aos 42 anos, carismático e orador brilhante, tornou-se, em 1901, o 26o e mais moço de todos os presidentes dos Estados Unidos, servindo até 1909.

Sua primeira providência foi reviver o Sherman Antitrust Act de 1890, engavetado pelos antecessores, regulamentar a operação das ferrovias e instituir a preservação de um grau mínimo de concorrência em cada setor em benefício do consumidor como limite legal da disputa por mercados. Ao mesmo tempo atacou forte as bases do caciquismo” que viciava a política implantando eleições primárias diretas, eleição direta de senadores (antes indicados pelos legislativos estaduais) e os direitos de recall, iniciativa e referendo popular dos atos dos Legislativos e Executivos estaduais e municipais. Essas medidas vieram de encontro aos novos modelos de gestão das cidades a partir de eleições municipais despartidarizadas promovidos pela NML, o de City Council (um conselho eleito de 5 a 7 membros executando todas as funções antes prerrogativas de prefeitos e vereadores) e o de City Manager (uma variação do mesmo sistema mas ainda mais profissionalizado) e acabaram com o poder dos velhos caciques.

TR picou” o poder econômico onde estava excessivamente concentrado e, na política, deu poder de polícia aos eleitores contra os representantes eleitos o que matou o varejo da corrupção e garantiu a constante renovação de quadrosDesde então os EUA vivem em reforma permanente mas com o povo e não os políticos dirigindo a pauta, o que explica toda a diferença de desenvolvimento, afluência e liberdade entre eles e o resto do mundo.

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§ 31 Respostas para Como foi que eles conseguiram

  • Carmen Leibovici disse:

    No Brasil ,está faltando que o empresariado que perde com a corrupção se organize e financie uma organização desse tipo.Deveriam.
    Quanto ao jornalismo,até que tem havido a divulgação dos podres de estado.
    So não temos ainda uma ferrovia para ter suas operações regulamentadas e nem entrou ainda o fator sorte para dar uma mão.
    Quem sabe este entre logo!

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    • LSB disse:

      Prezada Carmen,

      Os empresários que são prejudicados pelo nosso “sistema” são os pequenos e médios. Esses não possuem capacidade de organização, representação política ou cacife ($) para bancar campanhas eleitores, patrocinar “Think Tanks”, “workshops”, “congressos” ou movimentos de renovação política…
      Os que poderiam fazer alguma coisa são os grandes (que gastam um grana preta com “política” genericamente falando), mas estes são beneficiados com a situação atual, uma vez que nosso “manicômio” jurídico regulatório os protegem de qualquer concorrência, já que só eles possuem capacidade (equipes jurídicas, por exemplo) para “sobreviverem” em meio ao nosso arcabouço jurídico, político e regulatório*…

      Abs
      LSB

      * Sem contar que para os grandes, o importante é uma certa “estabilidade” política (ainda que a custo da tragédia nacional), pois qualquer “instabilidade”, “revolta” ou mudança “radical” é extremamente prejudicial e arriscado aos seus negócios…

      PS: empresário não é capitalista… capitalismo é coisa de intelectual…
      (em diversos pontos ou momentos, a “ideologia” do empresário – ou de parte deles – concorre com a “teoria capitalista”, mas nem sempre, o que faz com que, nesses casos, o empresário deixe de ser “capitalista”)

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  • marcos a. moraes disse:

    Agora entendi todos os seus textos, assim como seu voto em Bolsonaro! Desde quando vc sabe sobre o desdobramento histórico do voto distrital, recall e referendo?

    Porque se vc já sabia desde o início da sua luta nada justificaria o voto em Bolsonaro. A não ser que vc tenha tido a estultice de avaliar Bolsonaro como o fator sorte.Na verdade, não existe fator sorte. Existe mais e melhor avaliação histórica do movimento que vc aplaude e sugere.

    Seu texto mostra o quanto será difícil implantar algo parecido no Brasil, pois aqui o fator sorte tem nome e é querido pelo povo. Chama-se Salvador, Messias e a doença é o sebastianismo.

    Enfim, já perdemos um ano. E com a morte do Adriano na Bahia fica patente que o fator sorte está perdendo para o fator casta.

    Excelente texto. Replicando.

    MAM

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  • marcos a. moraes disse:

    Pare com essa bobagem odienta de separar povo de político. O que vc chama de fator sorte com TR foi a política se movimentando. Com toda a problemática que vc apresentou há um fator comum que aqui jamais pode ser visto a não ser nos últimos 35 anos: democracia.

    A sua dificuldade é autocrata.

    MAM

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    • mario disse:

      Você, MAM, se dá ao trabalho de vir aqui com frequência não para argumentar e sim para ofender o jornalista.
      Com todo esse tempo livre e com essa “enorme sabedoria” deve ser professor de faculdade pública, o que explicaria sua obsessão com o assunto Bolsonaro.
      Bolsonaro foi necessário diante da outra opção!
      Qual a razão para vir aqui dar sua opinião? Procure os seus colegas da “academia”, lá você se sentirá mais acolhido, podem conversar, muito, sobre o “lula livre” (lula é com minúscula).
      Deixe de dar palpites idiotas!

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  • Lourenço disse:

    Este. MAM é um professor. Sabe tudo e algo mais.CUIDADO COM A SUA ARROGÂNCIA. Um pouco de humildade não faz mal

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  • rubirodrigues disse:

    Estou trabalhando o conceito de Pacto Federativo e penso que ele pode trazer luz a esta quadra de confusas mudanças na qual já está claro o que não queremos, mas carecemos de uma meta capaz de ser compartilhada.

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  • Olavo Leal disse:

    Acho interessante a ideia de se pensar a solução dos nossos problemas com o desenvolvimento do municipalismo, ou seja, dando importância à ideia de que é ali, no município, que devem ser resolvidos quase todos os problemas dos cidadãos que ali residem. Isso será a base da implantação do federalismo, de baixo para cima. como deveria ter sido. Infelizmente, a tentativa de implantação do federalismo no Brasil deu-se de cima para baixo, resultando num federalismo unitarista, ou seja, nossa República é “Federativa” apenas no nome.
    Precisamos lutar para colocar a pirâmide de impostos na posição correta: a base – mais volumosa – voltada para os Municípios; o meio voltado para os Estados, que deveriam resolver os problemas fora do alcance dos Municípios; e a União ficando com a menor parcela percentual dos tributos, mas recolhidos de todos os entes federativos – o que não é pouco em números absolutos.
    Para isso é preciso: (1) ir às ruas, gritando pelo federalismo; e (2) votar somente em candidatos que se declarem federalistas, cobrando essa posição durante todo o mandato.

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    • LSB disse:

      Concordo, “seu” Olavo, mas até o brasileiro entender essa questão do federalismo, das decisões locais (como o Fernão sempre descreve aqui), do voto distrital PURO e recall, vai levar muiiiiiiiiito tempo… se ocorrer, é claro…
      Pedimos centralização de forma “reflexiva” / “inconsciente”…
      Somos vítimas de uma tremenda “lavagem cerebral” levada a cabo nas escolas, universidades, imprensa, “debates públicos” com especialistas e demais “medalhões”, etc.

      Nossa colega de debates, “dona” Carmen, por exemplo, no artigo anterior publicou seu primeiro comentário criticando nossa centralização legislativa (em linha com as práticas americanas retratadas pelo Fernão): “O Brasil é grande demais para tudo ser decidido para todos de forma igualitária e,quase sempre,injusta e insensata”…

      No entanto, no último comentário, “dona” Carmen já havia dado uma guinada de 180 graus, afirmando que “Cada cidade brasileira,da pequena a grande,deveria ter uma equipe de planejadores urbanos,o que envolve engenheiros hidráulicos,civis,etc,arquitetos,paisagistas.”

      Trata-se de óbvia contradição: ou você deixa cada cidade decidir se vai fazer ou não planejamento (e como) OU você impõe que toda cidade tem que fazer planejamento (e como)…
      Descentralizar significa aceitar que uma cidade decida não fazer planejamento!!! (mesmo que você ache correto, ainda assim tem que aceitar que outra localidade pensa diferente e faça diferente)..

      Se toda cidade tem que ter planejamento, os municípios não estão tomando tal decisão localmente!!!
      Pelo contrário, todos terão que se adaptar a tal regramento (fazer planejamento) sem terem sido consultados se querem, se podem ou se acham necessário / prioritário tal “gasto”, tal “atividade” / investimento, etc.

      (aliás, já existe essa obrigação… se não funciona é porque não é exequível, adequado a todos… ou seja, trata-se uma imposição “insensata” vinda de uma esfera de decisão superior: lei federal.. em suma, consiste exatamente na decisão de “cima para baixo” sem que os de baixo tenham sido consultados)…

      Mas, enfim, pedimos mais centralização de forma “reflexiva” / “condicionada”…
      Quero até crer que tenha sido um lapso de “dona” Carmen… postou seu último comentário sem refletir muito… mas é JUSTAMENTE essa a questão: NOSSO CONDICIONAMENTO – sem maiores reflexões, ponderações, debates e confrontações “teóricas” – a sempre pedir, de “bate pronto”, mais “leis nacionais”, mais “estado/controle/planejamento centralizado”, etc…

      Abs
      LSB

      PS: alguém pode argumentar que, em linhas gerais, é a favor da descentralização legislativa e administrativa, MAS que, PORÉM, nesse específico caso (plano diretor e planejamento urbano) entende ser necessária, adequada, aplicável e providencial uma regra/lei nacional (obrigação de se fazer plano diretor/planejamento urbano)…
      O problema que exceções podem ser sempre defendidas (alegando especificidades de cada caso concreto) até tornarem a prática (regramento via leis nacionais) em “regra geral”…

      PS2: não há um ÚNICO político (e muito menos um partido) que defende uma Federação descentralizada “a la americana”…
      Repito: NÃO HÁ UM ÚNICO político ou pessoa pública que defenda tal bandeira (com a exceção do Fernão e mais meia dúzia de “loucos” que não são ouvidos). E o “meia dúzia” não é força de expressão…

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      • carmen leibovici disse:

        Eu esclareço o meu ponto de vista.
        Eu acho(tenho certeza) que o Estado,via municípios e governos estaduais,devem prover o “arcabouço ” onde os cidadãos vivem,ou seja a infraestrutura de saneamento básico,as ruas e sua limpeza,o calçamento,os jardins públicos,os hospitais,as escolas,etc.Já a dinâmica dessas localidades deve funcionar do modo que o Fernão vem propondo,determinada pela sociedade que nelas vive .
        Se quiserem melhorar a já boa e planejada infraestrutura que já possuem,entre outros detalhes,que o façam através dos mecanismos aqui propostos.Se acharem que seus gestores e funcionários públicos não servem,que peçam recall,com nova eleição localizada,quando o caso.

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      • LSB disse:

        Prezada Carmen,

        A questão é onde leis são feitas…

        Municípios e governos estaduais “devem prover o ‘arcabouço’ onde os cidadãos vivem,ou seja, a infraestrutura de saneamento básico,as ruas e sua limpeza,o calçamento,os jardins públicos,os hospitais,as escolas,etc.”?

        Ok, já é assim (se não funciona é outra questão, mas é assim que é determinado pelo nosso arcabouço legal)…
        Aliás, de fato, nem daria para ser diferente, pois não seria crível atribuir à União o dever que construir infraestrutura urbana, etc.

        A questão é: quem faz a lei que determina qual infraestrutura tem que ser construída? Quais os padrões para tais? Quais as prioridades de gastos?
        Quais são os gastos obrigatórios e quais são suas “regras” de desembolso e padrões a serem seguidos? Onde são feitas as leis que determinam tudo isso?

        Enfim, o grande “imbróglio” é, antes de tudo, legislativa: onde são feitas as leis as quais municípios e Estados devem seguir (ou a quais leis que tais “leis” são subordinadas*)..

        Abs
        LSB

        * Muitas vezes, por exemplo, a competência legislativa é municipal, porém, na prática, acaba não havendo, de fato, uma real “competência” municipal uma vez que leis federais impõem diversos requisitos, restrições e proibições que a “feitura” da lei, no âmbito municipal, deve “contemplar”…

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    • Flm disse:

      Historicamente falando, o Brasil nasceu “municipalista”. Por 300 anos fomos uma coleção de vilas isoladas umas das outras, praticando com inédita precocidade a democracia, elegendo a cada dois anos, com regularidade perfeita e nenhuma quebra os governos locais que tinham de prover todas as necessidades daquelas comunidades isoladas.
      E isso continuou assim atravessando o Império e prosseguindo na República que nasceu, sim, fortemente federalista. Quem destruiu o federalismo foi Getúlio Vargas com a cerimônia da queima das bandeiras estaduais no Rio de Janeiro, que levou São Paulo à revolução constitucionalista de 1932.
      O municipalismo e o federalismo estão, sim, no nosso DNA político.

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      • carmen leibovici disse:

        Getúlio Vargas era então uma espécie de comunista que,para implantar sua ideologia,precisava destruir todo e qualquer vestígio de construção histórica e cultural para assim deitar sobre a nação suas visões tortas?Era ele um nefasto predador?

        Eu vejo Lula dessa maneira,eu vejo Hugo Chaves dessa maneira e eu vejo a União Européia também dessa maneira.

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      • carmen leibovici disse:

        E anos depois Juscelino Kubitschek construiu Brasília,consolidando assim essa visão totalitária de estado central-corrupto ,como qq estado centralista e totalitário.
        Hoje o germe desse estado totalitário/corrupto vem à tona,como a Lava Jato começou a expor.Um estado que não serve a todo o povo mas apenas a uma casta estatal.
        Esse é a máquina criada por Getúlio ,que não cabe mais no Brasil

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      • carmen leibovici disse:

        Acho que li que Lula é cria de Getúlio,ou mesmo dos militares.
        Me desculpem se me engano…
        Mas se assim foi,vemos ai a montagem do sistema estatal perverso que está nos arruinando.
        Através de uma pessoa carismática do povão,Lula,seguraram(Getúlio segurou?Os Militares?) o povão na rédea curta através dos sindicatos corruptos,em simbiose com esse estado único,federal que se pretendia.
        Deu no que deu.
        A cria, qdo atingiu o poder,se tornou pior que os criadores.

        Bom,pelo menos uma coisa boa tem acontecido:foi dado um pé no traseiro desses sindicatos.
        Espero que esse tenha sido um paso definitivo.Assim ,pelo menos um dos lados do sistema perverso foi quebrado.Só falta quebrar o outro,ai o Brasil legitimo poderá voltar a florescer

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      • carmen leibovici disse:

        Vejam a perversidade do esquema sobre o qual elaboro acima:
        Tanto estado como sindicatos se mantêm com dinheiro alheio-os sindicatos com o dinheiro arrancado dos associados compulsórios,e o estado através dos impostos arrancados dos trabalhadores e empresários trabalhadores.Tudo isso permeado pela corrupção em todas as esferas,incluindo a privada que é coptada a participar do esquema se quiser progredir.
        Isso não é um estado ,é uma corporação criminosa,uma máfia mesmo.

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      • Olavo Leal disse:

        Caro FLM: corretíssima a sua análise histórica, sobre o municipalismo. Realmente, durante os períodos colonial, imperial e pós-República (café-com-leite), o Brasil foi eminentemente municipalista e, por fim, federativo – até Getúlio, em 1930, que iniciou a destruição dos ideais federalistas, como você bem expôs. A partir daí, tivemos uma forte centralização político-tributária-administrativa, que inclui JK, os militares (64-85) e a Constituição “cidadã”.
        Esta foi direcionada, em parte, para uma maior liberdade municipalista e federativa, mas temos sido manuseados por “políticos” de visão antiquada, getulista mesmo. Aí a coisa não engrena.
        Precisamos ir às ruas, mesmo com efetivos pequenos, e gritar pelo voto distrital com recall e pelo federalismo pleno – não sei exatamente se nessa ordem!
        Quanto às baixarias políticas, corrupção etc, reconheço que estas deverão continuar no nível municipal, já que o Município passaria a contar com a maior carga tributária (percentual, claro!).
        Entretanto, bastaria que um pequeno grupo de municípios (100, 200 ou 300, entre os mais de 5.500) passassem a “dar certo”, a progredir, a proporcionar uma boa condição de vida a seus cidadãos (fruto da administração municipalista mais a transparência decorrente do voto distrital com recall), para que os Municípios vizinhos fossem aderindo e o País evoluindo, rumo a seu grande destino!

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    • LSB disse:

      Fernão,

      Não desconheço que o Brasil tenha vivido por 300 anos de forma bem descentralizada em vilas e grupamentos humanos bastante isolados e longe do alcance do “Rei”.
      Aliás, algumas semanas atrás lembrei aqui no Vespeiro do livro “A História da Riqueza no Brasil” do Jorge Caldeira.

      Todavia, isso lá se vão 200 anos… A partir da chegada da família real ao Brasil e, depois com a Independência, o que houve foi um processo lento e consistente de centralização.

      O Império já foi um “exercício” de centralização (ainda que lenta e “suavemente” – alguém até poderia dizer que, em parte, necessária, mas tudo bem…) e o século XX viu esse processo se “radicalizar” (de fato, Getúlio foi o grande “centralizador” do Brasil, mas, posteriormente, o regime militar aprofundou a centralização e a Cidadã consolidou Brasília como o centro de tudo)…

      Esse Brasil que foi federalista não é o Brasil que teve sua identidade (enquanto país) começando a ser forjada exatamente quando acabou o “municipalismo” e começou a centralização política (Império)…
      O Brasil de 1800 tinha de 3 a 4 milhões de habitantes… Mesmo em 1930 (logo antes da “aniquilação” do federalismo brasileiro), nossa população era de 35 a 40 milhões (e predominantemente rural, analfabeta, pouco afeita a política e distante desta, etc.)

      Já quando o Brasil “emerge” como uma possível grande Nação, ou seja, nas últimas 8 décadas – período este no qual nos industrializamos, quintuplicamos nossa população, tornamo-nos urbano e alfabetizamos/educamos a população – nossa “psique” foi sendo moldada por uma doutrinação “política, educacional e intelectual” exatamente no sentido de justificar e aprofundar a centralização política administrativa… (e sem sermos apresentados a qualquer alternativa ou a qualquer pensamento contrário a isso)
      E é a “linha política” qua a grande maioria do brasileiros hoje conhece e, praticamente, SÓ conhece…

      Enfim, ainda que tenha existido essa DNA político “federalista” penso que isso se perdeu…(recuperável? não sei.. bem que eu gostaria…).

      Abs
      LSB

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  • Mario Junior Cobucci disse:

    Fernão, ótima aula. Que aprendam. abs Marito

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  • carmen leibovici disse:

    Nas próximas eleições,municipais e depois presidencial e estaduais,candidato que não abordar o federalismo e a questão da monstruosa máquina publica brasileira,deveria cair fora logo de início,pois estará demonstrando que pretende mais do mesmo é isso já não é mais possível ,no meu modo de ver.

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    • Olavo Leal disse:

      Corretíssimo, Carmen. É bem por aí!!!
      Diria que Bolsonaro abordou esses ideais mas está sofrendo uma enorme contraposição, com muita gente (fora do seu governo) remando contra, para não mudar o que aí está.

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      • carmen leibovici disse:

        É,Olavo,fácil não é mesmo.Talvez nem imaginemos o quanto é difícil.
        Mas eu confio que uma hora começará a dar certo.

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  • flm disse:

    Diz Olavo Leal:

    “Precisamos ir às ruas, mesmo com efetivos pequenos, e gritar pelo voto distrital com recall e pelo federalismo pleno – não sei exatamente se nessa ordem”!

    Na minha opinião, ir às ruas sempre porque sem isso, na falta de uma imprensa com os olhos voltados para fora de Brasilia, os ouvidos dos políticos ficam reservados exclusivamente para os funcionários públicos com quem eles convivem na ilha da fantasia.

    E para gritar pelo voto distrital puro com recall antes de mais nada, sem duvida nenhuma, porque todas as doenças do Brasil estão estritamente presas ao fato do Pais Oficial ser inteiramente independente do Pais Real e nenhum ser humano levado a Brasilia pelo voto saber quem votou nele, e vice-versa, o que faz da nossa democracia não representativa a farsa que é.

    Minha luta é para dar pernas aos brasileiros e não para dizer a eles para onde andar quando as tiverem. Tenho absoluta certeza de que andarão sempre na direção do interesse da maioria, ou seja, para cada vez mais longe do odioso privilégio.

    O resto é bobagem discutir…

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    • LSB disse:

      Caro Fernão,

      Belas e inspiradoras palavras… uma sublime síntese da situação na qual nos encontramos (sem qualquer ironia…)
      Porém, só não sei se realmente “o resto é bobagem discutir”, pois:

      1 – Na “luta” pelo voto distrital puro e recall, creio ser válido (e até necessário) pensarmos sobre estratégias, dificuldades, obstáculos, críticas e contra ataques que virão, etc.

      2 – Independentemente da sua (nossa) bandeira, os “temas” em pauta são outros (infelizmente) e podem colaborar/ajudar ou atrapalhar/prejudicar a “batalha” pela implantação do voto distrital PURO… por isso penso que não é totalmente desproposital discutir os demais assuntos que estão sendo tratados “pela opinião pública” e/ou na agenda governamental e/ou legislativa…

      Abs
      LSB

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  • LSB disse:

    Prezados,

    Farei um “mea culpa”:
    Já mencionei, em mais de uma ocasião, o voto distrital nas eleições municipais de 2020 para os municípios acima de 200 mil habitantes…

    Eu achava que já estava aprovado!
    Mas não está…
    De fato, foi aprovado no Senado, mas não foi aprovado na Câmara…
    Então, nada feito…
    Desculpem-me pela menção incorreta e… bem, preparem-se para mais do mesmo..

    Abs
    LSB

    PS: ah, achei um político que defende o voto distrital PURO (ao menos para os municípios acima de 200 mil habitantes): Luiz Philippe de Orléans e Bragança… (de fato, sempre há os “heróis da resistência”…)

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    • Olavo Leal disse:

      Sim, Caro LSB. Em “Por que o Brasil é um país Atrasado?” ele expõe (quase) todas as mazelas do nosso Brasil. Vale a pena lê-lo.

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      • LSB disse:

        Caro Olavo,

        Já vi esse livro, mas até por um certo “preconceito” (seria muito básico ou panfletário, etc.), não comprei…
        Mas dada sua indicação, vou reavaliar…

        Abs e obrigado pela dica!
        LSB

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  • LSB disse:

    Caro Fernão,

    Farei uma pergunta que, talvez, você não se sinta à vontade para responder…
    Mas farei assim mesmo… sinta-se livre para responder ou não…

    Trata-se, de fato, de uma tremenda (ou mera) “curiosidade”:

    Você publica seus artigos no, provavelmente, mais importante jornal do Brasil bem como vive nesse meio desde que nasceu (literalmente), então indago:

    Os jornalistas, de modo geral, e os articulistas (tanto do “Estadão” como de outros veículos de imprensa) leem seus artigos?
    (até acho que sim, ao menos por “dever” profissional, mas…)

    Formadores de opinião (políticos, intelectuais, especialistas, etc.) – que você deve ter contato em workshops, congressos, entrevistas, etc. – leem seus artigos? Comentam contigo?

    Enfim, esse povo “com voz” lhe “dá atenção”?
    Elogiam, concordam, criticam ou se calam sobre seus artigos?
    Dão, de certa forma, “feedback” ou simplesmente lhe ignoram?

    Bom, é isso.. apenas uma singela “pulga atrás da orelha” que eu cultivo…

    Abs
    LSB

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  • Jota Guedes disse:

    Fernão, me explique, por gentileza, qual é o fundamento das eleições quanto a existência de delegados para o colégio eleitoral que prometem votar no candidato e o fato de o vencedor do voto popular não ser necessariamente o vencedor no colégio eleitoral…muitos amigos acham isso “bizarro”…mas o fato é que deve existir algum fundamento que nunca é explicado…obrigado!

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    • flm disse:

      É uma questão que nasce junto com a formação da união americana. Está na Constituição.

      Ha uma fundamentação teórica – seria um meio de evitar corrupção, polarização, competições populistas, etc – e outra de sentido mais prático: os estados com menos população tinham medo de acabar tendo presidentes sempre “impostos” pelos de população maior.

      Os delegados começaram indicados pelos legislativos estaduais. A partir dos meados do século 19 passam a ser diretamente eleitos. O Colégio Eleitoral tem 538 membros que correspondem ao numero de deputados e senadores eleitos por cada estado. Hoje são 100 senadores e 435 deputados + 3 de Washington DC.

      Mas cada estado tem sua lei e decide seu método de eleição de delegados para o Colégio Eleitoral. Aí entra a disputa entre os dois partidos maiores. Não é constitucionalmente obrigatório mas 48 estados adotam a politica do vencedor-leva-tudo para evitar que haja traições dentro dos partidos por razões menores locais.

      É isso que expõe o sistema ao risco de dar diferença entre o voto do Colégio Eleitoral e o voto popular. Aconteceu 2 xs nas cinco eleições entre 2000 e 2016.

      Ha vários movimentos de contestação do sistema assim como ja houve varias decisões da Suprema Corte. No momento entre as mais fortes, 15 estados mais DC ja aderiram a um acordo, o National Popular Vote Interstate Compact que requer que os signatários indiquem seus delegados em conformidade com os candidatos mais votados na soma dos 50 estados. O acordo entraria em vigor se estados somando um total de 270 delegados aderirem. Por enquanto os aderentes contam 196 delegados, 76,2% do necessário.

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