Militar ou não militar

18 de setembro de 2018 § 46 Comentários

Artigo para O Estado de S. Paulo de 18/9/2018

Militar também é cidadão?

Sem duvida. Mas à instituição à qual ele pertence é confiado o exercício do componente mais pesado do monopólio do uso da força que a nação delega ao estado. E isso põe regras rígidas para os que encarnam essa instituição participarem da discussão política, especialmente da parte dela que diz respeito à conquista e ao exercício do governo. Como o poder, mais que tudo, corrompe, convém manter uma distância profilática entre o poder armado e o poder desarmado (assim como também, e pela mesma razão, entre o poder político e o poder econômico). Os dois (ou os três) concentrados nas mesmas mãos, diz a História que não registra exceções, produzem tentações fortes demais para a natureza humana resistir e esse é o caminho mais curto para o poder absoluto, aquele que corrompe absolutamente.

Um militar tem todo o direito, portanto, de desligar-se da instituição das Forças Armadas para tentar uma carreira política. Mas militares da ativa ou da reserva ainda ligados às Forças Armadas, se quiserem enveredar por esse caminho, têm de escolher entre o desligamento da instituição ou manter, acima de tudo, o respeito à hierarquia que lhe impõe silêncio no debate político-eleitoral.

O limite desse racional está na definição das atribuições constitucionais das Forças Armadas, a primeira das quais é defender a própria constituição cujos fundamentos básicos são a soberania do povo sobre o estado e o princípio da alternância no poder que definem a natureza democrática do regime.

As Forças Armadas Brasileiras vêm respeitando irrepreensivelmente esse limite desde 1985. Agora essa fronteira começa a ficar menos nítida. Mas seria falsear a verdade apontar os últimos pronunciamentos que passaram da medida como manifestações espontâneas de pessoas ou instituições sedentas de poder.

A mais nefasta das especialidades da esquerda radical militante – aquela que põe as ideias à frente das “narrativas” e as faz independentes dos fatos na estruturação da sua “lógica” – é materializar os fantasmas que cria. Se ha algum grau de atrito dentro dos limites da convivência e da tolerância entre classes, raças, gêneros, preferências ideológicas e o que mais possa diferenciar pessoas de pessoas, ela trabalha sempre no sentido de acirrá-lo até transformá-lo na “guerra” com que justifica o seu próprio radicalismo e, no extremo, a eliminação física do adversário transformado em “inimigo”.

As declarações de militares assinaladas em condição de impedimento não são propriamente ações, são mais exatamente reações. O partido ou o candidato que oficialmente aponta como exemplo regimes como o da Venezuela e outros que se estabelecem exclusivamente pela força, está assumindo uma posição de fato contra a democracia e a alternância de poder prescritos pela constituição. Também não foram os militares, foi a presidente do PT em pessoa e os dois candidatos que disputam a simpatia da esquerda – o “poste” finalmente erguido e Ciro Gomes – que têm afirmado textualmente que suas candidaturas são uma etapa do projeto de anular a condenação de Lula pela Justiça e pelas leis vigentes no Brasil (“a bala” se alguem resistir na versão de Ciro). Tudo isso não apenas soa como frequentemente se apresenta explicitamente como ameaça direta contra a democracia e o princípio da alternância no poder.

E o que dizer de um Supremo Tribunal Federal que, coroando uma sequência de manobras de uma insistência impossível de interpretar como fortuita, proibe a produção de uma prova física do voto – como as de que dispõem todos os países democráticos do mundo – depois dela ter sido aprovada uma vez pelos representantes eleitos do povo e reconfirmada, depois de vetada pela “presidenta” petista, com votação muito mais que suficiente para reverter um veto presidencial? Ou da sucessão de decisões votadas pelos representantes eleitos do povo e em seguida anuladas, seja por votações do plenário, seja por decisões monocráticas de ministros do STF que, de troco, legislam em causa própria atribuindo-se aumentos de salário indecentes num quadro de economia de guerra para o resto do país? Onde tudo isso deixa o principio da soberania do povo?

A válvula de escape que resta quando as demais instituições rateiam é o chamado 4º Poder da Republica. Mas também a imprensa tem falhado. Só que ha uma realidade aqui fora que já foi a um extremo tal que não ha mais como contemporizar. A estratégia de paralisar o governo Temer esfriou a memória nacional e diluiu os direitos autorais do desastre econômico do lulismo. Isso, mais a velha mistura de desinformação com miséria assistida, explica a posição de um terço do eleitorado. A penuria em que essa paralisia deixou a classe média meritocrática, os micro-empresários, os caminhoneiros, os prestadores de pequenos serviços, os aposentados do país real e até a fatia de baixo do funcionalismo mal pago (que inclui boa parte dos militares e dos policiais), explica o outro terço. De um jeito ou de outro esse Brasil tem de se fazer ouvir. Cada fato omitido, cada pergunta que deixar de ser feita pelos atores contratados pelos sistemas democráticos para atuar nessas ocasiões acaba por voltar na boca de alguém que deveria ficar do lado de fora do debate eleitoral. Daí ser a verdade – inteira – não apenas o melhor, mas o único remédio receitavel para uma democracia que se quer representativa.

Mas por mais “justificados” pelos fatos que tais desabafos possam estar é preciso resistir à tentação de faze-los. O Brasil, à beira de um processo de entropia que uma vez instalado torna-se irreversível, já viu esse filme. Andar à margem da democracia, não importa por qual margem, é para os anti-democratas. Por isso ao terço restante do eleitorado – aquele que insiste na democracia sem aspas, nem vírgulas, nem hiatos – resta, por enquanto, uma escolha de sofia que toda e qualquer suspeição em torno do respeito ao principal só fará tornar ainda mais dificil.

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§ 46 Respostas para Militar ou não militar

  • […] via Militar ou não militar — VESPEIRO […]

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  • marcos disse:

    Tá, mas qual é a sua escolha? Pois Bolsonaro/Mourão de um lado e Haddad de outro, são faces da mesma moeda…

    A minha escolha é Alckmin, Meirelles, Amoêdo, ou Marina. Quem estiver na frente votarei para chegar ao 2º turno.

    Qual quer coisa diferente disso receberá meu voto nulo no 2º turno. E vamos pra Porrada…

    MAM

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  • marcos disse:

    Vc fala em ação e reação, mas o PT é reação aos generais de 64. Pelo menos é o que se pensava.

    Então, deixa de papo e nos diga: vai votar em quem?

    MAM

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    • Marco Antonio Pereira disse:

      PT nunca foi de bom cerne. Não foi reação aos militares, foi, já no seu surgimento, o aproveitamento da lacuna deixada pelos militares, sem uma transição mais elaborada. Assim, o discurso “caiu no gosto popular”.
      Assim sempre fizeram, desinformando e aproveitando-se dos planos de governos mais preocupados com o futuro da nação. Assim foi o período PT no poder após 2003. Para manterem-se, instituíram o apaniguamento de milhões em todas as esferas públicas. Através de um plano plenipotenciário desconstruíram a nação, lotearam os órgãos públicos e aparelharam toda o Estado. E, pasmem, manterem-se “a qualquer preço”. Bandidos travestidos de políticos, aproveitadores de oportunidades e fragilidades de um país sedento por melhor porvir, porém atrasado por mazelas que remontam os períodos colonial e imperial.
      O país, ora o país… O país é o povo desesperançado e inculto, um mero instrumento nas mãos dos maus!
      Atualmente estão agindo da mesma forma, no mesmo diapasão, pendendo para os extremos nefastos.

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    • Alexandre Souza disse:

      A estratégia petista é ocupar todos os espaços possíveis na máquina pública e na sociedade civil organizada, dominar as narrativas sobre todos os assuntos importantes, conquistar paulatinamente a hegemonia (acepção de Gramsci) política e cultural, para, enfim, de forma lenta, gradual e silenciosa, transformar a ideia do socialismo na única opção existente dentro do horizonte de consciência do cidadão comum. Assim, instaura-se a ditadura perfeita, aquela que não tem oposição prática ou mesmo teórica porque os potenciais opositores sequer conheceriam as referências contrárias, do mesmo modo que o peixe só conhece a água que o envolve.

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  • marcos disse:

    A minha escolha de sofia é um dos 4 que externei para o 1º turno e, se não foi possível, voto nulo no 2º.

    A sua qual é?

    MAM

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    • Fernão disse:

      quem acompanha o vespeiro sabe: eu não acredito em pessoas, acredito em sistemas; acredito no eleitorado mandando antes, durante e depois das eleições. e nele, só ele, autorizado a punir desvios na medida em que se manifestem como tal. se puser esse poder só na mão de juiz vira Brasil: pune um, não pune o outro, entra no jogo ideologico etc. o roubado não. o roubado vai punir sempre quem merecer ser punido.

      não acredito que seja possível “votar certo” de uma vez para sempre nem para um mandato só incondicionalmente. o certo é poder tirar o mandato a qualquer hora se o eleito não honra-lo e dar esse poder exclusivamente ao eleitor. acredito que não ha um “rumo certo” mesmo porque quem sabe exatamente onde quer chegar e não abre são “eles”. nós podemos e devemos mudar de rumo sempre que isso nos parecer bom.

      ha meios praticos e seguros em matéria de legitimidade de fazer isso como tenho mostrado neste site. todo o mundo que funciona funciona assim.

      enquanto não vamos por aí e, ainda por cima, temos o próprio regime de alternância no poder ameaçado, a prioridade zero é manter o sistema aberto. e no quadro que está aí isso quer dizer:

      1) votar em quem for preciso para garantir que os bolivarianos não sejam eleitos;

      2) evitar que entremos mais uma vez na ilusão militarista e tenhamos de chegar ao 2ndo seculo do 3ro milênio ainda com escolhas do seculo 20 pq quem tenta andar por atalhos, minha geração aprendeu, depois tem de voltar e percorrer o caminho de novo.

      não creio que a proposta do Bolsonaro seja essa mas é bom deixar claro esse ponto pra que os caras em volta dele não comecem a viajar.

      São essas as prioridades e nessa ordem.

      vou olhando as pesquisas e balizando meus votos pela orientação acima.

      dos cargos executivos pra baixo, voto só em gente e em partidos novos para plantar para o futuro.

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      • fabius justus disse:

        Fernão I S E N T Ã O…

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      • Gustavo Gonçalves disse:

        Concordo com td oq vc disse. Acho tão urgente arrancar os bolivarianos do poder. Se ao menos o Brasil se livrasse por 4 anos, quantas ideias boas não poderiam surgir ou vingar. O país perde muito tempo com nulidades. Toda a juventude atual é entorpecida por discussões cada vez mais inúteis. Bolsonaro não é o candidato perfeito, mas sinto que se ele não for eleito, perdeu-se as espetanças.

        Fernão, sinto que você anda meio silencioso, posta mais por favor 🙂

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  • Fernando Lencioni disse:

    29 presidentes americanos foram militares, incluindo o pai fundador da pátria americana George Washington. Não há nenhum problema intrinsecamente nesse fato. Não é isso que tem animado multidões a dar suporte aos candidatos militares à presidência e vice-presidência no país. É a posição conservadora. A intransigência com o errado e o apego à família e aos valores cristãos. O brasileiro é conservador. Foi a marcha com Deus pela família que deu impulso à revolução de 64. Agora, mais uma vez, o conservadorismo se levanta expontâneamente, inclusive entre os jovens e pessoas de todas as classes sociais. Aliás as pesquisas apontam que a maioria dos eleitores de Bolsonaro é composta de jovens com nível universitário. É tolice achar que a linguagem desse candidato equivale a um flerte com o autoritarismo. Ele é deputado federal há muitos anos e conhece o jogo democrático. Todavia, tirar o país das garras dos comunistinhas não é tarefa para picolés de chuchu embebidos até o cabo nas piores práticas de nossa política tradicional nem para liberais sem experiência em parlamentos ou esquerdistas disfarçados de democratas. O momento pede gente forte e destemida. Ponto.

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    • flm disse:

      sim, ok.
      a crise sistêmica do Brasil é de ausência de hierarquia, de cabo a rabo. na escola, na família, nas relações do povo com o povo e do povo com o governo.
      mas uma vez “tirado o país das garras dos comunistinhas” ainda haverá uma guerra por suspender, um estado destruído e uma economia em frangalhos por consertar, tudo numa conjuntura abaixo da de UTI e que ele próprio está.
      e, para isso, ninguém sabe que respostas políticas o Bolsonaro tem.
      o problema do Brasil não é econômico. qualquer dona de casa sabe que tem de acertar as contas. ponto.
      mas como se faz isso politicamente é que é o “X”…

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      • Fernando Lencioni disse:

        Não se faz com Alckmin pode ter certeza e nem com nenhum dos outros igualmente socialistas que são candidatos. Conheço essa gente de perto. Sei o que estou falando. Chega de espoliação legal. O caminho que queremos não virá com socialistas no governo, ainda que fabianos. Esse caminho tem que ser construído com pressão popular, mas só gente honesta e sincera pode representar a esperança de um canal para o diálogo, porque socialistas tem sua própria agenda e que, como todos sabem, não é e nunca será a do país.

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      • Fernando Lencioni disse:

        Aliás Fernão vc sabe tão bem quanto eu que sem os arroubos de indignação e o destemor de John Adams – que embora fossem na linguagem ordinariamente utilizada por um grande advogado, eram, para o meio político e para a situação delicada do momento, uma linguagem inapropriada por que representava o dizer o que o pensamento dizia. Todavia, sem o verdadeiro “drive” representado pela força do querer de John Adams, muito provavelmente os EUA não existiriam diante da vassalagem e covardia de alguns dos delegados que compunham o Congresso formado na Philadelphia e até mesmo pela polidez excessiva do Gal. George Washington.

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  • Dênio disse:

    Essa falta de postura desse terço, nos empurra pro radicalismo, pro abismo, quem sabe uma secessão, uma guerra civil?

    Vendo a história de nações em que hoje a democracia impera, não seria a lógica para finalmente termos a garantia de acesso a ela, o bilhete?

    Seria ilusão da nossa parte, acreditar que para termos acesso a fundamentos democráticos, teríamos a compaixão destes partidos que a nós renegam, faz tempo?

    Teríamos a compaixão de personagens como Sarney, Temer, Lula, Dirceu, FHC, Renan e outros tantos dessa estirpe, e eles, em ato próprio de grandes estadistas, nos libertassem, permitindo provar a tal democracia?

    Cada vez mais acredito, que nosso futuro será igual ao de todas as atuais nações democráticas, guerra fratricida até entendermos na pele, que o respeito e a ordem nos pacifica e nos torna uma nação democrática.

    Talvez estejamos muito próximo de vivermos o destino que sempre tiveram todas as grandes democracias conhecidas.

    Liberdade, ordem, justiça e trabalho. Brasil!!!

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  • Herbert Forster disse:

    Infelizmente a grande maioria não participa desta reflexão e por isso fica à margem de uma escolha mais consciente. Daí estarmos diante de uma encruzilhada onde qualquer direção não oferece uma solução.

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  • Marco Antonio Pereira disse:

    NENHUM EXTREMISMO RESULTOU EM BENEFÍCIO PERMANENTE PARA QUALQUER SOCIEDADE !!!
    A VOCAÇÃO HISTÓRICA E SENSATA DO POVO BRASILEIRO É DE CENTRO, EM QUE PESEM AS ADVERSIDADES NESSE CAMINHO EM BUSCA DO MELHOR PARA O CIDADÃO.
    QUANTO ANTES SE ALCANÇAR ESSA ESTABILIZAÇÃO, TANTO MELHOR PARA O CONFORTO SOCIAL.

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  • Penso que persiste certo romantismo em achar que o dialogo resolve tudo. Uma justiça que nessa situação aumenta salário próprio e teima em afirmar que dispositivos eletrônicos são invioláveis, depois de ter dividido dispositivo legal para preservar direito eleitoral de um presidente cassado, no meu, modesto entender, já deixou claro que só entenderá outro tipo de argumento.

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  • Alexandre Souza disse:

    A estratégia petista é ocupar todos os espaços possíveis na máquina pública e na sociedade civil organizada, dominar as narrativas sobre todos os assuntos importantes, conquistar paulatinamente a hegemonia (acepção de Gramsci) política e cultural, para, enfim, de forma lenta, gradual e silenciosa, transformar a ideia do socialismo na única opção existente dentro do horizonte de consciência do cidadão comum. Assim, instaura-se a ditadura perfeita, aquela que não tem oposição prática ou mesmo teórica porque os potenciais opositores sequer conheceriam as referências contrárias, do mesmo modo que o peixe só conhece a água que o envolve.

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  • Paulo Ferreira da Silva disse:

    O militar é apenas o cidadão de farda.

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  • José Silvério Vasconcelis Miranda disse:

    As Forças Armadas representam o último bastião . Parece-me que até
    agora o PT não conseguiu aparelhar as FAs. O restante, incluindo o
    Judiciário ” come na mão ” dos comunistas travestidos de ” cumpanherus”. E ainda dizem que Deus é brasileiro.

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  • Arnaldo disse:

    Extemporâneo o texto, Fernão. Certamente concordaria com ele, publicado fosse após 7 de outubro. Agora, claramente é um manifesto em favor do voto útil já no primeiro turno. Qual é? Não há matemático que consiga me explicar que se somados, a fatura fica pronta no primeiro turno e os mesmos somados não fica no segundo.
    Por falar em “fato omitido”, não foram os militares mas sim o próprio Bolsonaro que falou que se ele não ganhar, é fraude na eleição. Não seria algo do tipo, “eleição sem Lula é fraude”?
    Então, comigo é assim: “voto útil” somente no 2º turno; “menos pior” somente no 2º turno; “escolha de sofia” somente no 2º turno; “não tem tu, vai tu mesmo” somente no 2º turno. Mais: Aliviado por evitar “a treva”, porém profundamente preocupado com a mediocridade, com a instabilidade emocional, com a dependência de terceiros e com a falta de liderança .

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    • Fernão disse:

      é um bom ponto, arnaldo, a ser considerado frente às pesquisas dos ultimos dias…

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    • Fernão disse:

      a melhor alternativa para o país é sem duvida o alkmin. mas ele cometeu o erro tático de subestimar a ressaca moral do país e se abraçar fortemente demais ao centrão.
      foi, junto com o xiismo de certa imprensa, o que “fez a vida” do Bolsonaro

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      • Alexandre Souza disse:

        Imprensa esta que já se prepara para indultar o Lula, Fernão.

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      • Fernando Lencioni disse:

        Desculpe Fernão. Você não conhece esse cara. Com todo o respeito. Ele me dá nojo. Simples. A medicina é uma profissão sagrada, quem faz por vocação verdadeira, como meu filho fez, jamais a negligenciará ou a mercantilizará em detrimento da nobre missão de salvar vidas ou a colocará em segundo plano – e isso não significa ter uma visão romântica da profissão, mas ética, honesta, decente e amorosa e humana pela profissão – para trocá-la por outra na qual a ética, a decência e a honestidade passam a ser geridas pela relatividade do momento – por exemplo, unir-se ao que tem de pior no Congresso. O famoso ganhar a qualquer custo ou como gostam de dizer os comunistinhas, fazer o diabo. Desculpe mais uma vez. Não dá. Estou cansado de gente que bate e esconde a mão.

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      • Fernão disse:

        eu tento não misturar as bolas, fernando.
        tem caras que me provocam horror em alguma dimensão, mas cujo currículo e desempenho eu reconheço e respeito. jeff bezos, dono da amazon, por exemplo, é tudo que me provoca arrepios. mas que ele é o cara mais craque do mundo em montar plataformas de comércio eu reconheço que é.
        nunca me canso de repetir que temos de montar um sistema em que essas características estritamente pessoais pesem menos. um sistema com defesas: pisou na bola alem do que é tolerável pisar? rua!

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  • Adriana disse:

    A melhor alternativa para o país continua sendo uma nova Constituição Federal, liberal. Preferencialmente, copiando-se a americana, e deixando os Estados mais livres para legislar. Nela constariam voto distrital, recall, e devem ser removidas de nosso ordenamento as jabuticabas.
    A questão é quem vai fazer e se poderá fazer, bem como se o povo brasileiro a quer?
    Será que só sairá a partir de uma guerra? E se Rússia e China nos usarem contra USA? Aí estaremos na guerra sempre evitada, sem um objetivo para nosso país, mas como instrumentos de outros.
    Um país grandioso como o nosso, cheio de recursos naturais, que não teve um projeto de nação até hoje, ficou à deriva no mundo, podendo ser usado por nações ou organizações criminosas (parece que já é), mal intencionadas.
    Esquerdistas acham que o perigo está nos militares. Direitistas nos bolivarianos.
    Acho que o bolivarianismo já avançou mais, e sendo externo ao país, o considero mais perigoso no momento.
    Espero que o candidato com apoio militar não seja corporativista, e enfim garantam uma transição sem guerra para um novo modelo de Estado, bem mais liberal.

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    • Fernão disse:

      sem duvida, adriana.
      em qualquer “negócio” a qualidade do “contrato” é tudo. é ali que se perde ou ganha o jogo.
      mas na terra arrasada que foi feita da educação no Brasil isso fica difícil mesmo que, por milagre, se tornasse politicamente possível.
      já assistiu O Rato que Ruge?
      é uma velha comédia estrelada por Peter Sellers. um paizinho falido decide declarar guerra e “invadir” os Estados Unidos pra, depois de derrotado, ser objeto de um plano e reconstrução (física e política) a cargo deles…
      o Japão teve essa sorte. maior que a da Europa que, com o Plano Marshall, só foi objeto da reconstrução física. o japão teve uma constituição imposta pelo general MacArthur que continua em vigor, sem mudar uma linha, até hoje. e olha o resultado!
      o perigo é os Estados Unidos perderem essa guerra como acaba acontecendo no filme…

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  • Liliane Carlos disse:

    Veja o relato de alguém que conviveu com o socialismo desde a ditadura militar: http://carlosliliane64.wixsite.com/magiaeseriados/um-relato-pessoal

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  • Ethan Edwards disse:

    Se todos os indicadores apontam um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, essa é a escolha que está colocada… já no primeiro turno! Votar em outro candidato, nessas circunstâncias, teria exclusivamente a função de “salvar a consciência”, o que, tratando-se de política, não serve para nada (serve, às vezes, para confundir alguém que, no segundo turno, votaria no seu candidato e, em função do que ocorre no primeiro turno, deixa de votar). “Ah, mas eu quero viabilizar a candidatura Amoedo para uma próxima eleição”. É justo. Você terá quatro anos para ajudar Amoedo, mas, dependendo do resultado desta eleição, não haverá outra daqui a quatro anos.
    A eleição de Bolsonaro/Mourão implica um risco? Implica, é óbvio, porque tudo o que a dupla Bolsonaro/Mourão afirma que vai fazer deverá provocar duras resistências no Congresso, na Universidade, nas redações, nos sindicatos, e essa resistência nem sempre será leal. Como ficou evidente no atentado de Juiz de Fora, alguns cães de guerra já estão à solta. Outros podem se soltar. Os apoiadores de Bolsonaro/Mourão também têm seus cachorros. Não é uma perspectiva encantadora.
    Mas esse é o cenário; não há outro. Todos os demais candidatos já se mostraram inviáveis. Em circunstâncias normais, seria razoável votar naquele que o coração prefere, como é do jogo democrático. O diferencial desta eleição é que nela se decide se ainda haverá jogo democrático. Vencendo Haddad, é certo que não haverá, mesmo porque o indulto a Lula, já abertamente prometido, fará explodir uma violenta crise institucional. Vencendo Bolsonaro/Mourão, não é certo que haverá, mas, se o Congresso mantiver seu padrão histórico – adesão majoritária ao vencedor -, temos boas chances de, superando pequenas crises, chegar às próximas eleições com o país relativamente saneado, tanto do ponto de vista institucional quanto em matéria de costumes.
    É uma pequena diferença a favor da esperança. Vale a pena arriscar.

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  • Fernão disse:

    sim, é isso.
    mas continua sendo lamentável…

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    • Alexandre Souza disse:

      A omissão, leniência, mesmo conivência!, do PSDB por todos esses anos permitiu que esse tipo de coisa acontecesse, Fernão. Atualmente, mal consigo escutar a voz do FHC! Ele tinha obrigação moral e intelectual de dizer ao povo o que é, sempre foi, o petismo. Agora, a sinuca do ‘menos pior’ nunca este tão clara.

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  • Ethan Edwards disse:

    Pequeno comentário filosófico:
    Admiro e respeito pessoas que, por razões religiosas ou filosóficas, preferem não se envolver com política, atividade que, acreditam, acabará por “contaminar” seu espírito, cujo aperfeiçoamento é o que mais ambicionam na vida. Essas pessoas – e só essas – são livres para dizer “pouco me importa quem vença”. Por isso, habitualmente se abstêm, votam em branco ou anulam o voto.
    Mas as pessoas que se propõem agir na esfera da política não podem, se a disputa pelos destinos da Cidade se dá, em termos práticos, entre as falanges de João e José, dizer “pouco me importa quem triunfe, escolherei Paulo, que não usa armas”. Nesse momento, na esperança de servir ao Espírito, estarão migrando para o grupo dos renunciantes, deixando que “os fatos”, “a História”, ou “o Destino” decidam que força prevalecerá no mundo real. Filosoficamente, trata-se de um paradoxo: não salvam a própria alma (que se perdeu quando colocaram os pés no chão da política) e arriscam-se a nem mesmo salvar o próprio corpo, pois um Tirano poderá arrasar a Cidade onde vivem.

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  • Jota Guedes disse:

    Fernão, essa é uma análise ampla de um amigo que, como poucos, enxerga do alto o projeto PTista para o Brasil. O que acha? Pouco vejo análises nestes termos.

    “…existe aí algo que é preciso entender.

    A discussão pública está, como sempre, muito idiota. Ou por método – no caso, da propaganda do PT. Ou por mera idiotice.

    Explico.

    Em Política, é preciso discernir o circunstancial (ex.: um triplex) do estrutural (o PT lavando dinheiro pela Odebrecht). E, ainda, o detalhe (um sítio em atibaia) do quadro geral (o PT e as zaibatsu).

    O PT possuía, óbvio está, um projeto de poder. Mas ele não era o poder pelo poder.
    Ele implicava, pelo menos, três esferas de ação diferentes.

    Uma delas é o do Brasil Grande. A de um Brasil potência – econômica e militar – com tecnologia nuclear (inclusive, submarinos nucleares), assento de segurança da ONU, dominando com multinacionais financiados e sócios do Estado setores estratégicos das matérias-primas (a proteína seria a JBS… o minério, a Vale e o grupo de Eike Batista… sonhou-se o etanol, como bio-combustível… e o pre-sal acalentava sonhos de ser OPEP). A estratégia era a de formar essas multinacionais – repetindo o que fizera a Alemanha… o Japão… a Coréia do Sul… a China – com crédito barato do BNDES e mesmo monopólio local, e assim dando-lhe fôlego. A contrapartida era que o Estado tornava-se SÓCIO das empresas, como se tornou da JBS. Também apostava o PT nas empreiteiras, como ponta-de-lança de tecnologia, não só construção civil, mas também estaleiros, indústria bélica, etc.

    Um parêntese importante. A mecânica usual da empresa – ainda mais empreiteira – é que ela suborna o político, e o político dá a obra pública. O PT inventou a lógica OPOSTA. O fluxo era outro. O PT oferecia a obra pública, com sobre-preço monstro, e, em troca, o PT lhe devolvia SUA PARTE. Por isso a Odebrecht tinha sua planilha. Isso é FUNDAMENTAL… No entanto, ninguém parece ter percebido isso.

    Outra: Kadafi doou dinheiro ao PT. Mas… mas Lula perdoou a dívida externa da Líbia antes. Entendeu? É O MESMO. Lula perdoa dívida de países, e pede, em troca, sua parte.

    Voltando: o outro sonho era o da Pátria Grande. O da união da América Latina, como um experimento do Socialismo, que seria o condutor da Esquerda do futuro. Isso explica as transferências de dinheiro para Argentina, Bolívia, Equador, Venezuela, Cuba.

    O terceiro era uma articulação sul-sul – era termo usado -, articulando os antigos países não-alinhados, o Terceiro Mundo….

    Se isso é esquecido, tudo fica turvo e mesquinho.

    Mas acho que é preciso entender nessa escala.

    Claro, não facilita o fato de que o PT – e seus congêneres americanos – sonhavam em ser cabeça-de-rato, e não mais rabo-de-leão. E tinham, e têm, de conviver com inputs – dinheiro, idéias, frases, políticas, leis – que vêm das fortunas ligadas ao Bilderberg Club com sua pauta própria…. O fim do PT, nisso, não faz sumir a Esquerda… apenas a torna mais dócil a esses inputs. Sem nenhum sonho ou condição sequer de ser protagonista.

    …a leitura que tenho é: o governo tentou formar esses cartéis.

    A estratégia é conhecida, clássica até.

    No ramo das matérias-primas, Perón havia, lá por 1974, apontado esse caminho.

    A lógica me parece clara.

    No meio, na vida real, tem toda a confusão das pessoas reais, dos interesses concretos.

    Por exemplo, Lula sempre quis ser um estadista: um novo Vargas, para o Brasil, e uma espécie de líder internacional, como um Mandela plus. Toda a propaganda do PT foi na tentativa de criar essa realidade.

    A imagem que a Esquerda, lá fora, tem dele, é a de um grande líder popular e carismático… que ele nunca foi.
    O povo mais pobre só começou a votar nele DEPOIS do primeiro governo: ele criou esse eleitorado com o Bolsa-Família.
    Sempre sugiro uns papers do André Singer – do PT – que faz esse mapeamento e avisa aos companheiros que sua base eleitoral havia se modificado… que havia penetrado nesse setor… e perdido na classe média – mais à Esquerdo.

    O papo rende mais.”

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    • Adriana disse:

      Onde seu amigo encaixa o narcotráfico nesse projeto? Esse, é parte intrínseca do projeto petista.
      Quanto à pátria grande, particularmente os acho inocentes, porque acham que Rússia e China os deixaria ter algum protagonismo. Esses países escravizam os aliados, logo após os puxarem para sua margem de domínio.
      Por que não se aliar aos Estados Unidos, como Europa, Japão e todo ocidente que deu certo? Ah, porque Estados Unidos são imperialistas, segundo os ideólogos. Mas permitem protagonismo de seus aliados.

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      • Alexandre Souza disse:

        No limite, a estratégia petista é ocupar todos os espaços possíveis na máquina pública e na sociedade civil organizada, dominar as narrativas sobre todos os assuntos importantes, conquistar paulatinamente a hegemonia (acepção de Gramsci) política e cultural, para, enfim, de forma lenta, gradual e silenciosa, transformar a ideia do socialismo na única opção existente dentro do horizonte de consciência do cidadão comum. Assim, instaura-se a ditadura perfeita, aquela que não tem oposição prática ou mesmo teórica porque os potenciais opositores sequer conheceriam as referências contrárias, do mesmo modo que o peixe só conhece a água que o envolve.

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      • Fernão disse:

        sim, alexandre.

        e sendo uma ilha cultural cercada de língua portuguesa por todos os lados foi sempre muito mais fácil.

        por 389 anos a censura foi o instrumento por excelência da dominação do Brasil por Portugal.

        nos 129 anos restantes, com pequenos hiatos pelo meio, o instrumento de dominação do Brasil por um punhado de brasileiros.

        o Gramsci é isso: um projeto gigantesco de censura, assunto no qual nós sempre fomos especialistas.

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      • Alexandre Souza disse:

        Oi, Fernão. Você já deve tê-lo lido, mas não me custa indicar. Falo do artigo do Demétrio Magnoli publicado na Folha há algumas semanas, cujo título é “Haddad, o educador”.
        Muita gente por aí, inclusive na imprensa, se engana com a polidez do Haddad. Haddad hoje é um cardeal do petismo, e isso já seria suficiente para desconsiderá-lo um democrata genuíno.
        P.S. Infelizmente, em seu último artigo na Folha o mesmo Magnoli, talvez por medo do crescimento do Bolsonaro, tentou mostrar que haveria uma chance de democracia no petista.

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    • Fernão disse:

      é por aí.
      tudo isso foi traçado, esmiuçado e provado na Ação Penal 410, dita do Mensalão.
      lá demonstrava-se com clareza, também, como tudo isso foi instrumentalizado em favor de um homem, sua fome de poder e a de seu partido, felizmente a tempo de evitar que pagássemos o preço que as chinas pagaram.

      só que essa saga, aqui, ainda não acabou…
      e infelizmente eu creio que a continuação vai se dar muito antes do que muitos idiotas estão pensando.

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      • Alexandre Souza disse:

        Oi, Fernão. Você já deve tê-lo lido, mas não me custa indicar. Falo do artigo do Demétrio Magnoli publicado na Folha há algumas semanas, cujo título é “Haddad, o educador”.
        Muita gente por aí, inclusive na imprensa, se engana com a polidez do Haddad. Haddad hoje é um cardeal do petismo, e isso já seria suficiente para desconsiderá-lo um democrata genuíno.
        P.S. Infelizmente, em seu último artigo na Folha o mesmo Magnoli, talvez por medo do crescimento do Bolsonaro, tentou mostrar que haveria uma chance de democracia no petista.

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      • Fernão disse:

        o Haddad não existe. ele é o Lula, abraçador de venezuelas

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