O valor mais alto que sempre se alevanta

14 de julho de 2018 § 18 Comentários

Artigo para O Estado de S. Paulo de 14/7/2018

O domingão bolivariano vivido pelo país na ressaca da derrota na Copa é uma síntese do dramalhão brasileiro.

Foi só mais um golpezinho xinfrim, desta vez envolvendo deputados e desembargadores plantados. A cara do Lula. A cara do PT. A medida exata do valor que dão à democracia, às instituições que manipulam, ao Brasil e aos brasileiros.

A vitória, excepcionalmente, foi “dos mocinhos”. Teriam atirado no alvo errado ao visar o TRF-4, a outra Curitiba, a quem o Brasil fica devendo mais essa? Ha quem diga que tudo que queriam era desmoralizar as instituições. Já as gravações na rede comemorando antes da hora a libertação do chefe feitas por toda a cupula da organização criminosa descrita na Ação Penal 470 que Lula, como o PCC, comanda de dentro do presídio, indicam que eles realmente esperavam que essa armação mequetrefe pudesse colar…

Mas isso pouco importa pois no universo moral do lulismo nenhuma sujeira se perde, todas apenas se transformam. O que choca é terem os 200 milhões de brasileiros da “2a Classe” razões de sobra para se angustiar com mais essa palhaçada pois os favretos do STF que acabam de dar fuga ou apagar os pecados da cupula da quadrilha fixaram a jurisprudência de que os fatos, a lei, a constituição e até as sentenças deles próprios não valem nada, tudo pode virar do avesso conforme a “turma” que estiver de plantão. E se pode a “turma” (que em dois meses estará “lá”) ou mesmo um só entre eles nesta nossa monocracia, porque não o aparelhado solitário de turno plantado no TRF-4 pela janela do “quinto constitucional”?

Causa “intoleravel insegurança jurídica” a decisão “inusitada e teratológica” baseada em “premissa falsa” por autoridade “manifestamente incompetente”? Revela dolo ter ela redobrado sua truculência ameaçando juizes e policiais federais depois de alertada para o “flagrante desrespeito a decisões colegiadas do STJ e do plenário do STF”? Desejavam espicaçar perigosamente “paixões partidárias e políticas” pondo o país inteiro em risco e causando prejuízos sistêmicos à economia com esse “tumulto processual sem precedentes”?

Sim, sim e sim, é “óbvio e ululante”! Mas, data maxima venia, os editorialistas são esses aí da página ao lado. Da meritíssima Laurita Vaz, que representa a instituição agredida, o país tem o direito de esperar medida saneadora exatamente proporcional aos adjetivos todos que usou. Afinal, já está provado: a 2a Instância unida, isola e desarma até a ultima instância bandida.

A pergunta que nunca se faz em voz alta diante dessas mixórdias todas – alguns dos que deveriam faze-las porque mamam diretamente, outros porque mamam indiretamente, o favelão nacional apenas porque ninguém amplifica o som da sua voz – é porque, afinal de contas, o Poder Judiciário “mocinho”, de quem depende a segurança jurídica pela ausência da qual está o país inteiro se afogando em sangue e miséria, convive com os seus favretos e dá a esses cânceres no máximo a aspirina de um “pito”?

A resposta é igualmente óbvia e ululante: porque tem de ser monolítico o edifício periclitante da “privilegiatura”, especialmente no meio desse terremoto permanente que à esta altura ele custa à nação. E é natural que seja assim. É o instinto de sobrevivência que nos move como espécie. E não ha, fora da seara dos santos, altruísmo que resista a essa força da natureza. Por isso ninguém, nem no que resta de menos poluído no funcionalismo que ainda é pago em dia (e astronomicamente muito), dispõe-se a permitir que sua indignação vá mais longe do que foi a de Laurita Vaz.

A democracia é o regime que reconhece as forças da natureza e trata de colocá-las a serviço do bem. Não ha resposta institucional às bofetadas que o PT et caterva dão na cara das instituições não porque elas não disponham de armamento de defesa mas porque estão nas mãos erradas os gatilhos que os acionam.

Tudo que está errado no Brasil, aliás, está errado porque é isso que está errado.

É “dinheiro de pinga” essa montanha que ecandaliza o mundo do que nos roubam por fora da lei. O que arrebenta mesmo é o que nos tomam por dentro da lei. É o que nos tomam convertendo todo e qualquer assalto em mais um “direito adquirido”; automatizando o avanço anual sobre os bolsos do favelão nacional; rebatizando pedaços do esbulho como “auxílio”, “contribuição”, ou “salário-xis”. O que nos mata mesmo é, com todos os chineses do mundo fungando no cangote dos nossos empregos, ter o peso desses penduricalhos multiplicado pela ausência de cobrança de resultados, a estabilidade eterna e até hereditária no emprego, o avanço na carreira por decurso de prazo, a antecipação das aposentadorias…

Enquanto não estiver nas nossas mãos o direito de deseleger a qualquer momento estes que hoje elegemos para uma “privilegiatura” eterna, destruir o Brasil continuará lhes parecendo mais barato que perder uma eleição. Enquanto a pena máxima para juiz ladrão continuar sendo a aposentadoria precoce eles continuarão a soltar em vez de prender bandidos. Enquanto não for você que decide quem fica e quem sai do serviço público toda corporação que chantagear o povo será perdoada, toda lei adicional contra a corrupção se transformará na mais nova arma da corrupção, todo teto imposto ao funcionalismo será imediatamente convertido em piso.

Instituições e seus dispositivos de defesa são armas de afirmação de uma determinada hierarquia. Qual? Vai depender de quem puxa o gatilho. Se quisermos que mude o que está aí, temos de tirar a mão do Brasil que nos está matando do gatilho e por no lugar a do Brasil que queremos que sobreviva. O resto acontece sozinho.

Alô indignados de boa vontade! Alô candidatos sem bandeira nenhuma! Alô povo que ainda pode derrubar governos com passeatas sem levar tiro! Eleições distritais puras, retomada de mandatos a qualquer momento (recall), referendo de todas as leis que vierem deles, eleição de retenção de juízes regularmente é o que nos tira da condição de alvos e nos põe na de atiradores.

 

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§ 18 Respostas para O valor mais alto que sempre se alevanta

  • marcos disse:

    Excelente! Replicando…MAM

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  • Guilherme Polato disse:

    BRAVO! Mais um texto perfeito. Triste retrato de um país em frangalhos
    Precisamos tomar o poder .seguindo o mantra do guru deste site:voto distrital puro,recall…

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  • Lourenço disse:

    Excelente
    Acorda Brasileiro

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  • O exemplo é mais convincente que os discursos. Os reis europeus só mudaram depois que uma guilhotina começou a operar em Paris.

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    • Fernão disse:

      e nem assim, rubi…
      ao fim de um tempinho, tudo que a revolução francesa e sua guilhotina conseguiram foi trocar o rei por um imperador. e isso porque, como tanta gente espera fazer no Brasil de hoje, limitou-se a substituir o chefe mantendo o mesmo sistema.

      ja as reformas “Progressive” dos EUA da virada do 19 para o 20, mudaram o sistema: em vez de representantes mandando nos representados, o exato inverso.
      ou seja, a verdadeira revolução: em vez de uma troca de reis, a elevação dos suditos ao poder e o rebaixamento dos antigos mandatários à condição de súditos, daquele momento em diante

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  • Adriana disse:

    Fernão, meu pai deixou um formulário atribuindo pensão por morte a uma mulher com quem saía, Pensão muito boa no teto do funcionalismo, aquela que quando ninguém mais tem direito, atribuem a amigas, vizinhas, etc., para não ficar com o Estado.
    Apesar de denunciar, apresentar muitas provas, etc., a mulher obteve a pensão, que cumula com mais 3 benefícios previdenciários. Ainda por cima, no voto, o desembargador reproduziu no relatório ofensa proferida contra mim pelo advogado da mulher, um ser misógino.
    Ou seja, todos temos que pagar a conta, porque o desembargador, com o salário enorme que ganha não leu o processo, nem as provas, e acabou privilegiando a esperteza.
    Estou farta desse absolutismo reinante, em que magistrados tomam decisões irresponsáveis (em detrimento à moral, às finanças públicas, etc), sem submissão a nenhuma hierarquia e por mandato eterno.
    Até Reis e rainhas, no absolutismo monárquico, prestam mais contas de seus atos aos súditos.
    Se for feito uma comparação entre os absolutismos da rainha da Inglaterra e nossos magistrados absolutistas, certamente ficará mais fácil o povo perceber quem se sujeira a quem, e onde estamos errando.

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  • HSF HOME OFFICE disse:

    O horror, o horror…

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  • Eduardo disse:

    Fernão, você tem examinado o paciente Brasil há décadas. Cravou o DIAGNÓSTICO. Alguns órgãos do paciente já estão em metástase. Você tem indicado o REMÉDIO, perseverante. O cérebro do paciente, contudo, já foi atacado e é parte do problema, logo não quer tomar nenhum remédio. Emite sinais falsos, amplia a imaginação e as falsas esperanças do paciente, fazendo-o acreditar que não precisa de remédio algum. Quiçá, nem doente está. Ou pior: convence a si próprio que os remédios são outros. Sim, outros cuja finalidade é meramente estender a sobrevida do paciente, sem tocar na doença, pois esta precisa do paciente vivo, ainda que cambaleante ou acamado. Precisamos fazer o paciente tomar o remédio.

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    • Fernão disse:

      o caso é pior do que você diz, eduardo: o paciente não recusa o remédio, ele está sendo induzido em erro, tomando veneno pensando que é remédio.
      o papel de quem já entendeu isso é furar o bloqueio e espalhar a receita certa.
      o inimigo sabe da força desse remédio. não tem argumento contra ele e por isso trabalha tão somente para manter a sua existência em segredo. por isso você nunca viu uma materia mostrando esse sistema em funcionamento nas mídias de massa.
      faça a sua parte. espalhe a boa nova

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      • Penso que realmente esse pessoal não se dá conta do mal que fazem para todos. Foram ensinados que o sucesso é uma conta gorda no banco. A sua realização não é entrar para a história como promotor de civilidade e construtor do bem estar comum. Foram ensinados assim na Universidade que cursaram, essa mesma que agora reclama porque ele corta verbas da educação.

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  • Adriana disse:

    No fundo somos escravos. Escravos de uma elite que se esforçou para passar nas provas, e ao adentrar o portal a grande maioria praticamente se aposenta (tal como o escritor ao escrever seu último livro), apenas cumprindo os requisitos de comparecer para se aposentar.
    Mais escravos ainda somos do Norte e Nordeste, que tem maior representatividade política, e recebem maior percentual de impostos do que produzem. Se trata de colher sem plantar, escravizando os entes federados que geram as receitas.
    E tudo o que decorre da escravidão, está lá na CF como cláusula pétrea. Ou seja, seu desfazimento requer nova CF.
    Seremos capazes de elaborar nova CF por acordos, sem privilegiar classes (a de 1988 foi pacífica, um acordo entre elite beneficiaria)? Só com uma ruptura no sistema, bem alinhavado para não ruir, haverá avanços.

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    • Fernão disse:

      outra das conquistas do sistema de democracia semidireta americano foi introduzir gatilhos em todas as constituições estaduais (as que tratam de direitos especificos lá e são mais parecidas com a nossa em
      materia de intromissão) dispositivos para forçar reformas a cada 10 anos feitas por comissões especialmente eleitas de modo a não deixar isso nas mãos dos legislativos “que tendem a representar os poderes estabelecidos”.
      de 10 em 10 anos o povo vota pra dizer se quer ou não mais uma reforma

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    • Olavo leal disse:

      Fernão: muito bom o artigo e seus comentários.
      Adriana: muito bem opinado!
      Acho que a solução para introduzirmos um REAL FEDERALISMO no País deve vir já a partir da próxima eleição.
      Basta que interroguemos os candidatos (a presidente, governador, senador e deputados federal e estadual) sobre sua posição em relação ao federalismo. Aqueles que vacilarem, desconhecerem ou forem contrários não merecem nosso voto. Devem ser simplesmente ignorados!!!
      E isso deve ficar bem claro para tais candidatos: “Você não merece MEU VOTO enquanto desconhecer ou for contra o federalismo!”
      Aqueles que se declararem simpáticos ao federalismo devem saber que, caso eleitos, serão cobrados por nós quanto à sua posição.
      Acho ainda que o federalismo pode ser implantado aos poucos, pela beirada. Como?
      Dedicando parte dos IMPOSTOS FEDERAIS aos Municípios e Estados nos quais forem recolhidos, após consulta a cada população estadual. Assim, os Estados que aderirem ao procedimento terão 30% dos impostos federais direcionados diretamente a cada Município onde foram recolhidos; outros 30% serão direcionados ao Estado; e 40%, à União, que não poderá aplicar mais um centavo sequer nesses Estados e Municípios.
      Outrossim, como operacionalizar o processo? A Secretaria do Tesouro Nacional (STN) medirá, no período entre 1º/7 do ano A-2 até 30/6 de A-1, os tributos recolhidos em cada Município dos Estados aderentes. A seguir, informará a cada Município e ao Estado o valor que lhe será encaminhado durante o ano A.
      Cada Município e Estado votará seu orçamento (referente a esses tributos federais) no 2º semestre de A-1, remetendo-o à União, que disponibilizará os recursos financeiros durante o ano A, sem qualquer contingenciamento.
      Deverá ser impeditivo empregar esses recursos em custeio, ou seja, tudo será direcionado a INVESTIMENTO (para o custeio haverá os impostos municipais e estaduais, segundo legislação de cada Estado e Município). Estado ou Município que descumprir essa premissa será penalizado com a redução dos valores (digamos que 5% ao ano), até sua perda total, após 6 anos insistindo no erro. Aí, governador e prefeitos voltam a ficar de joelhos perante a União.
      (Os demais Estados continuarão dependentes totalmente dos 40% destinados à União – via Pres. da República, Ministérios, Câmara e Senado -, continuando seus governadores e prefeitos de joelhos perante aquelas autoridades. Problema deles!!!)

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  • Paulo Murano disse:

    Olá FLM, não consegui link wsapp e utilizo essa janela para pedir que leia a matéria https://brasil.elpais.com/brasil/2018/07/18/internacional/1531939580_786263.html?id_externo_rsoc=whatsapp.
    Se possível, comente se algo assim seria possível de acontecer no Brasil, daqui há 10 anos qdo Lula e Dilma deverão estar morrendo.

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