Como caminhar para a saída

27 de abril de 2018 § 14 Comentários

O Brasil precisa suspender as hostilidades. Manter essa briga de faca no escuro é o modo mais eficaz de não permitir que o que quer que seja mude. E não mudar tudo, e logo, vai nos levar reto para uma ditadura da violência organizada violenta o bastante para deter a violência desorganizada que está pondo o país em pânico.

Ditadura de que “lado”?

Daquele que nos manterá impossibilitados de aprender democracia, fora do nosso tempo e condenados a voltar sempre ao ponto de partida como estamos voltando mais uma vez agora…

Lava Jato?

É o que temos pra hoje. Quem ainda resiste ao desespero resiste agarrado a ela porque fora dela nada nos foi oferecido. Mas a esta altura todo mundo já aprendeu a manipulá-la. Ha lava jatos para todos os gostos e finalidades e só a menor e menos poderosa delas é realmente séria. O caminho para dar a cada um o que ficou devendo à justiça seria voltarmos a respeitar os pormenores, o que quer dizer reduzir drasticamente a velocidade. Deus (ou o diabo) está nos detalhes que o Brasil foi levado a deixar de enxergar porque essa era a unica maneira de evitar que os condenados na Ação Penal 470, do Mensalão, diferentes de todo o resto da boa e da má política do Brasil como de fato são, fossem expulsos para sempre do jogo democrático que trabalham para destruir por dentro.

A primeira parte das gravações dos 1829 candidatos de 28 partidos pedindo dinheiro de campanha que Joésley tem guardadas e às quais dá ou não “acesso” a jornais e TVs on demand, é igual para quem parou por aí ou para quem foi além vendendo favores para se locupletar. Apoiar só nessa parte as manchetes é a maneira mais fácil de seguir com o plano de desmoralização do único poder eleito da república excluido o Executivo que nomeia a cúpula do Judiciário. Aquele plano que começou pelo assalto aos fundos de pensão das estatais e pela criação de monopólios artificiais para financiar a compra de votos de congressistas no atacado, primeiro, e a de campanhas a granel mais adiante, para a consecução do projeto de poder antidemocrático com pretensões multinacionais que Lula descreve pessoalmente nas suas perorações ao Foro de São Paulo disponíveis no Youtube.

Diferenciar financiamento de campanha de corrupção e essas duas coisas de conspiração contra a democracia é perfeitamente possível como ficou demonstrado na sentença do Mensalão. Só que leva tempo. O tempo que a Lava Jato séria gasta nos seus processos e as lava jatos bandalhas atropelam nos delas. O tempo que deveria ser obrigatoriamente gasto em apuração independente dos fatos entre o “acesso” dado às gravações dos joésleys e a publicação das manchetes acusatórias. Um tempo, enfim, que este Brasil periclitante já não tem mais.

Eleições?

Ok. Mas quem for eleito terá de governar um país à beira do caos.
Montar um time tecnicamente capaz de deter a explosão da maior bomba fiscal jamais plantada nos alicerces da nação é o de menos. Mas até isso está prejudicado. No meio dessa guerra que fez a presunção de culpa substituir a presunção de inocência na cabeça das pessoas e na nossa (des)ordem judicial televisiva nenhum quadro técnico bem intencionado à altura do desafio terá coragem de vir trabalhar para governos. A chance de acabar incinerado é praticamente certa.

Mas parada dura mesmo é a política. Essa bomba fiscal não poderá ser desarmada sem uma mudança profunda nas regras de apropriação da riqueza nacional vigentes. Como construir maiorias para enfrentar 518 anos de corporativismo constitucionalmente “petrificado” num país conflagrado e com a política fechada à entrada de sangue novo?

Parece uma missão impossível mas a necessidade sempre fez milagres. O estado está a ponto de dissolver-se num país miserabilizado que emasculou a iniciativa privada e confiou tudo ao estado. Ha uma consciência clara até dentro da “privilegiatura” de que se não pusermos ao menos no horizonte visível o fim da desigualdade perante a lei que se traduz no sumidouro da previdência pública e está na base desse desastre ela vai morrer junto com o organismo que parasitou além do limite da sobrevivência. É uma faca de dois gumes pois para quem já não se vexa de abraçar ditaduras assassinas é a explosão que interessa, e para tê-la basta não fazer e não deixar fazer nada.

Mas para quem pensa no bem do Brasil é bom lembrar que para reformar um sistema defeituoso como o nosso é preciso antes de mais nada identifica-lo como tal . Reconhecer que, como comprova o fato de já termos dado a volta completa no circuito das ideologias no comando colhendo sempre o mesmo resultado, é o sistema que entorta todos que toca e não as pessoas que entortam o sistema.

Todas as forças necessárias para empurrar a mudança estão vivas e operantes. Mesmo diante da maior operação de patrulhamento jamais arquitetada na história da televisão brasileira, havia uma maioria no Congresso Nacional, como a que ha no Brasil aqui de fora e também dentro dos setores mais profissionais e pior pagos do serviço público, disposta a devolver privilégios em nome da salvação nacional. Mas ela foi bloqueada pelas defesas que o sistema erigiu contra a alteração de si mesmo, a mais forte das quais é a imprecisão da representação do Brasil Real no Brasil Oficial.

É preciso suspender a validade dessas defesas contra a devolução, em prazo marcado, de um país sob nova direção onde esteja absolutamente claro quem representa quem. Contra a entrega ao povo/eleitor, única fonte de legitimidade como reza a constituição, do direito à ultima palavra em todas as decisões que, ou afundam, ou fazem os países voarem. A receita é conhecida, testada e aprovada: eleições distritais puras, precariedade dos mandatos e empregos públicos retomáveis por iniciativa popular a qualquer momento (recall), direito ao referendo das leis dos legislativos, direito à reconfirmação periódica dos juízes encarregados de faze-las cumprir.

Isso – e só isso – cerca e mata a corrupção.

A eleição de outubro pode e deve ser plebiscitária. Quem propuser entregar ao povo o comando do seu próprio futuro, leva. Deixar rolar como está é suicídio.

 

§ 14 Respostas para Como caminhar para a saída

  • marcos disse:

    “A eleição de outubro pode e deve ser plebiscitária. Quem propuser entregar ao povo o comando do seu próprio futuro, leva.”

    Isso eu chamo de o milagre que nos salvará da guerra civil, MAM

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    • Fernão disse:

      eu usaria o futuro do pretérito…

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      • Zsolt KOLOSSVARY disse:

        Olá Fernão – GOSTEI do Futuro do Pretérito kkkk …. Como chamava aquela professora do S.A.? Concordo mas ; O Cargo de Ministro do S.T.F. é vitalício, portanto estaria fora do direito à reconfirmação periódica dos encarregados de fazer cumprir as LEIS. Sugestões em futuro do pretérito: 1-) Poderíamos e Deveríamos, Pressionar de todas aos formas e com “todos OS MEIOS” o FIM desta ” PERENIDADE” . 2-) Juntaríamos todos os fatos e Através de alguma lei,solicitaríamos o Impedimento de Ministros e outro magistrados que estão contra o Brasil. 3-) Faríamos rifas , pediríamos colaborações, para comprar pequenos aviões e convidaríamos ministros para fazer massagens na praia … 4-) Em última instância ema não funcionando bem o “Embargo dos Embargo” Iriamos a qualquer esquina se São Paulo , Rio , Ou qualquer cidade do País ,compraríamos M16, R15, K47, ou similares; Eliminaríamos assim essa Vitaliciedade, concederíamos assim um perene “HABEAS CORPUS ou “HABEAS PORCUS” . Configuraríamos destarte uma rápida e eficaz reconfirmação periódica dos encarregados de fazer cumprir as LEIS. PS. Se não quiser pois não poderíamos publicar na intgra , entendo …

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  • Saulo Mundim Lenza disse:

    Entre os possíveis candidatos aos diversos cargos até agora identificados, está muito difícil pinçar algum com o perfil que o país precisa.

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    • Fernão disse:

      esses m…s acham que quem vai elege-los ou não é a privilegiatura. eles pensam que o Brasil são os funcionários do Congresso, os funcionários do STF…
      a unica referência deles é o mundinho lá de Brasilua onde falar mal de teta realmente é “impopular”…

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  • Wilson Rodrigues disse:

    Pobre rico (muito rico!) Fernão, você sabe que não haverá solução pelo voto. Você e qualquer outra pessoa que tenha mais de dois neurônios funcionando. Basta ver as pesquisas, ainda que todos os ditos institutos não passem de meros especuladores, a ponto de,não acertarem praticamente nada faz muito tempo, mas elas trazem números grotescos, ainda que amplificados, tendo como exemplo maior os alegados 10% de intenção de votos para um homem irascível, preguiçoso e covarde como Joaquim Barbosa, sem contar os até certo ponto explicáveis 20% para um sujeito como Bolsonaro. Claro que as coisas tendem a mudar daqui até as eleições, mas não o suficiente para produzir um eleito com minimas condições e intenções de conduzir uma reforma que se faz urgente por demais e que, de tão profunda, jamais poderá ser comandada por quem quer que seja o vencedor do triste espetáculo em que se transforma toda eleição brasileira. Agora mesmo, as manchetes dão conta da correria de partidos e candidatos para elaboração dos planos de governo à serem apresentados ao distinto público, seja lá o que for que pensem, desde que consigam ludibriar o otário brasileiro que se delicia com cada vez mais embustes, parecendo se comprazer em ser enganado, na vã esperança de que daqui a quatro anos poder ser enganado mais uma vez, enquanto os assaltantes do erário continuam a saqueá-lo, impunemente, legalmente, através de contra-cheques inimagináveis para os pagadores de tanta esbórnia. Em qualquer lugar do mundo as despesas públicas brasileira são vistas com espanto, espanto por saberem que mesmo com o assalto contínuo, ano após ano, o Brasil ainda continua respirando, ainda que por aparelhos, e ninguém se dá conta de que a morte se dará a qualquer hora, na próxima esquina, que no caso, pode-se traduzir para o próximo mês, o próximo ano. Mas, vai acontecer. Chego a suspeitar que talvez seja esse mesmo o objetivo de vários segmentos, inclusive de boa parte da imprensa, quase sempre vermelhinha, mesmo adorando as verdinhas, além é claro, de boa parte dos políticos também vermelhinhos por fora e recheados de verdinhas que adorariam sair país e mundo afora gritando que a democracia brasileira foi implodida.

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    • Fernão disse:

      Rico pobre (muito pobre!) Wilson.
      Ainda bem que o Brasil tem você e todos os seus neurônios para dizer verdades proativas a essa gentalha para a qual não ha remédio!
      Eu, Wilson, humildemente, sou de Ogum, o que abre os caminhos…

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  • Ethan Edwards disse:

    Primeiro: ser rico não é mais crime. Foi, por muito tempo, o que ajuda a explicar nossa visceral inaptidão para a economia de mercado (vale dizer, para ganhar dinheiro – e a vida – com o comércio, a indústria, a agricultura, etc.) e nosso encanto com a riqueza obtida sem que se sujem as mãos (e o espírito!) com atividades “inferiores”. Não é preciso ler Os Maias para entender isso. Para o bem ou para o mal, milhões de brasileiros lutam hoje, com a ajuda da “teologia da prosperidade”, para se livrar desse “encosto” e… ficar ricos! Querem prosperar, encontrar um lugar no mercado de trabalho real – o que paga os impostos dos ricos que não sujam as mãos. Para esses, que já são muitos milhões, ficar rico é motivo de orgulho, e não de vergonha. E parece dilmescamente óbvio que um país de indivíduos ricos – se isso acontecer – será um país rico.

    Segundo: uma coisa é o que “o Brasil” deve fazer e outra, infelizmente, é o que “o Brasil” provavelmente fará nas próximas eleições. Na verdade, já não há “Brasil”. As aspas vão por conta de uma ideologia que sempre teve como horizonte a guerra civil, em que os brasileiros “bons”, “progressistas”, preocupados com a “justiça social”, exterminariam um dia os brasileiros “maus”, “de extrema-direita”, “racistas”, “homofóbicos” e “conservadores” – “fascistas”, em suma. Quem deve(ria) encerrar as beligerâncias, portanto, não é “o Brasil”, e sim, em primeiríssimo lugar, os beligerantes que há mais ou menos cinquenta anos solapam qualquer instituição associada à ideia de ordem, tradição, nacionalidade, na única política que conseguem imaginar depois que enterraram as velhas utopias e se tornaram cínicos: a política de terra arrasada. “O Brasil” não existe mais. O primeiro a fazer é recriá-lo.

    Creio que, por isso, “o Brasil” não fará o que você espera. As hostilidades não cessarão, porque cinquenta anos de guerra civil a frio produziram milhões de vítimas e exilados internos, que olham para o próximo 7 de outubro como o dia da vingança. Bolsonaro, Joaquim Barbosa, Ciro Gomes – os humilhados procuram um “homem forte” capaz de protegê-los e restaurar a ordem, ou seja, recriar um único Brasil, onde todos tenham os mesmos direitos e deveres, ainda que este “homem forte” não ostente, frequentemente, mais que uma variação da ideologia caudilhesca que nos trouxe até esta parte mais funda do pântano. Os termos da guerra civil a frio mudarão, haverá um reagrupamento das forças… – mas ainda estaremos longe de ter um único e desejado Brasil.

    Talvez, quem sabe?, seus sonhos comecem a se realizar em 2022, se até lá tivermos mais alguns milhões de brasileiros preocupados em ficar ricos, e não em amaldiçoar a riqueza alheia.

    Curtido por 1 pessoa

  • luizleitao disse:

    Mais uma vez, no parágrafo final, o recado está (muito bem) dado; aqui e nas páginas do Estadão. Para bom entendedor, meia palavra basta. Mas e para as massas? Como difundir em âmbito nacional esse ideário basicamente tão simples, de forma que essa portentosa maioria que irá decidir nosso futuro em outubro consiga entender o recado, perceber que é ela quem deve mandar? E que para que isso se torne realidade, é preciso mudar o sistema, e não apenas as pessoas?

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  • A. disse:

    Há dois pré requisitos para “caminhar para a saída”: saber onde ela está e se ela existe…

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    • Fernão disse:

      👍 esse o ponto!

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    • Adriana disse:

      Se não existir saída para o país, vai acabar em guerra. Se for por meios pacíficos, como se prega nesse país absurdamente violento, será por dominação exercida por colonização moderna (China é candidatíssima?), impondo seu plano de nação.
      Para o povo, sem poder decisório nessa ditadura das instituições, restará a saída pelo aeroporto internacional.

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