Depois de ouvidas as gravações – 3

19 de maio de 2017 § 8 Comentários

O governo Temer está morto. Aquela gravação é letal e o que ha de menos grave nela é a questão Eduardo Cunha cujo destaque foi forçado para caracterizar os dois elementos que, tecnicamente, podem sujeitar um presidente a impeachment: obstrução de justiça e crime cometido durante o exercício do mandato. Toda essa operação foi armada para essa finalidade e isso foi o que melhor se encaixou no figurino técnico exigido. Mas o resto da conversa é bem pior que aquele trecho.

Que o que determinou a escolha do momento para trazer tudo isso que já estava guardado ha tempo nas gavetas dos operadores do “sistema” à tona não foi o amor à justiça mas sim a perspectiva de aprovação iminente das reformas que, pela primeira vez na história, arranhariam de leve a incolumidade dos marajás não tem dúvida nenhuma. Voltamos à estaca zero mas por pouco tempo. Mesmo mostrando, como mais uma vez mostraram, quem é que de fato governa o Brasil, lição de que a nação não se esquecerá ao longo do pesadelo que vem aí, terão de dobrar o lombo e voltar a discuti-las, e logo, porque a alternativa agora é a morte.

Esse serviço, venha o que vier, Temer prestou à nação. Com todas as reservas com que tentou inutilmente evitar colidir de frente com o “marajalato” (que nem no dia de ontem conseguiu encher uma praça inteira pelo país afora) está sabido e re-sabido por deus e o mundo o que é que está matando o Brasil.

É, também, horrivelmente fascinante para quem viveu as redações no tempo em que tudo era, antes de mais nada e acima de tudo, referido a isso, como o Brasil “não é matéria” para quem vive naquela longínqua estação espacial chamada Brasilia, seja os que têm por função mandar-nos as chuvas de raios lá daquele Olimpo, seja os que estão lá apenas para cobrir a vida desses semi-deuses malignos.

Aquela doença pega! Uns com mais outros com menos dolo, ninguém perde uma frase que seja com as hemorragias que possam nos causar. Todos os lados entregam-se com uma volúpia quase sexual às emoções  da luta pelo poder como se elas não implicassem nada mais que abstratas substituições de peças em Brasilia.

É preciso, agora, aprender a “ler” esse novo/velho Brasil. Como nunca ha uma genuína novidade de que ninguém nunca tivesse suspeitado antes nesse sistema onde abrir um partido político (ou um sindicato) garante automaticamente vida mansa paga pelo governo e qualquer candidatura tem de pedir votos em áreas quase continentais, o verdadeiro FATO a ser considerado por quem estiver interessado em saber quem é que está movendo quais pauzinhos nessa nossa eterna briga de navalha no escuro é sempre EM QUE MOMENTO se usa aquilo que todo mundo sempre soube mas, segundo o jogo das cumplicidades, fingia não saber. Olhar a coisa por esse viés do MOMENTO DA DESOVA é sempre elucidativo. A segunda chave para a compreensão da verdade é a tradicional de que falava sempre Sherlock Holmes: a quem interessa o “furo” passado ao órgão de imprensa da vez (na atual quadra dos acontecimentos, tendo em vista 2018).

Isso posto, vamos às gravações.

Aécio foi mesmo um acidente de percurso. Mas um acidente fatal. Ele não é nem muito melhor, nem muito pior do que o que está à sua volta (resista sempre ao barulho ou seu cérebro vira massa para escultura!) mas tornou-se uma questão definitivamente resolvida. Não tem remissão.

Já a gravação Joesley x Temer parece, em primeira audição, menos inofensiva do que seria bom para o Brasil e do que fazia crer a confusa descrição dela feita por O Globo. Para o que interessa, que são as reformas, nada se alteraria mais depois da simples detonação do tiro, não importa onde a bala viesse a acertar. Essa é a parte que interessa a quem puxa o gatilho e, exatamente por isso, também a que informa quem quer o quê para o país real, e porquê. O debate entre os eruditos dos meandros da corte que vem na sequência deve às vezes entediar, às vezes divertir esses “atiradores“.

Mesmo assim, “morta Inês”, examine-se o cadáver. O caso só não é absolutamente claro ainda porque o que está lá é um longo monólogo de Joesley cuidadosamente ensaiado para instruir processos em torno de três ou quatro histórias diferentes com todos os seus personagens, entremeado por murmúrios quase sempre inaudíveis de Temer. O que é inteligível é suficientemente pesado mas o contexto é o que lhe dá o último sentido; a mala de dinheiro no final é o “fio terra” que “arruma” tudo.

Aí pode, no limite, haver uma trampa. Excepcionalmente desta vez, porém, existe uma maneira de tirar isso 100% a limpo. É ir saber, na Petrobras e no Cade, qual era a situação do contrato de fornecimento de gas para a alteração do qual Joesley teria pedido a ajuda de Temer. Checando qual foi a alteração havida no contrato, se é que houve alguma, e em que valores resulta essa alteração, ficaremos sabendo se a “semanada” de R$ 500 mil ao longo de 20 anos realmente faz sentido e se já estava mesmo na hora dela começar a ser paga. E isso nos dirá não só quanto Temer tem ou não tem a ver com isso como também, se tiver, se não será obrigatório reverter uma “correção” que precisou ser comprada por tanto dinheiro.

Afinal, não lhe parece que está fácil demais para os ésleys livrarem-se de tudo que fizeram e embolsaram do que era nosso só com uma cartinha de desculpas e mais o que lucraram com sua última “aquisição“, possivelmente ilegítima, junto à Petrobras e com as gigantescas posições em dólares que, enquanto nos falavam de seu “choque” com a corrupção do Brasil, eles trataram de montar meia hora antes de O Globo detonar a bomba que eles fabricaram?

Um dia talvez o país ainda ouça as fitas onde os dois meliantes combinam com os verdadeiros donos do poder cada passo da tocaia que acabou nesse tiro de misericórdia na nuca do Brasil, e possamos ir busca-los nos palácios em que estiverem, mundo afora, gastando o nosso dinheiro, para dar-lhes o que eles realmente merecem.

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§ 8 Respostas para Depois de ouvidas as gravações – 3

  • José Augusto Baldassari Filho disse:

    Para pensar : Estou inclinado a achar que armaram para Temer.Agoram alegam prevaricação por ele ouvir crimes e não dar “voz de prisão” ao cafajaste que fez a confissão e a gravou! Quem a ouviu e não está gravando que prova teria para prender e acusar o”confessor”? Aguardemos.

    ESCRITÓRIO BALDASSARI

    RUA GENERAL TELLES, 1463 SALA 133

    13º ANDAR EDIFICIO ESMERALDA CENTRO

    FRANCA – SP CEP 14.400-450

    Tel/Fax (16) 3724-3655 – (16) 98126-8801

    E-mail:jmb@com4.com.br

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  • Carmen Leibovici disse:

    É certo que em uma medida ou outra,quem detém o poder de controle de um país é quadrlheiro,mas no Brasil de e pós Lula e dilma,”quadrilheiro”tornou-se um elogio,pois o que os novos detentores do poder vem fazendo e inominável.no Brasil de antes,talvez tamanha monstruosidade estivesse restrita ao Maranhão;depois de Lula virou metástase

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  • disse:

    Realmente !
    O Brasil tem donos!
    E não são os “contribuintes” !
    A política no Brasil, virou coisa de louco! Onde os mais “bobinhos”, dizem quem serão os palhaços, que ganharão alguns trocados, no palco eleitoreiro, para enganar ao povo, em exercícios diversionistas, que assassinam o futuro do Brasil.
    38 partidos é um crime, mas nada é feito?
    Se me permite perguntar, senhor Fernão, você é um democrata ou um republicano ?
    Não é possível falar de ciências políticas, sem uma declaração sobre qual é a corrente mais racional e coerente! entao?
    O que existe no Brasil, é a legalização de uma GRANDE TAPEAÇÃO !
    O psdb é primo do pt, nenhuma novidade!
    A limpeza da latrina precisa ser feita!
    Vai feder !
    O balcão de negociatas, precisa ser FECHADO!
    A Vênus só foca no dinheiro?
    Tudo está muito previsível !
    As próximas gerações serão CONDENADAS!
    NÃO TEMOS POLÍTICAS PÚBLICAS !
    A era da especulação contra o Brasil, vai voltar !
    Meu governo?
    Um estepe petista ?
    Comprar apoio político, não é governar !
    Prefeitos e Governadores precisam ser responsáveis, já os presidentes devem ser perfeitos !
    Não temos moral ?
    Só dívidas !

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    • Fernão disse:

      eu não acredito em moral, acredito em “policia”, isto é, do eleitor investido de poderes “policiais” sobre os eleitos.
      a história e a “vitrine” mundial comprovam que, em todos os tempos e todos os lugares, os politicos servem não a quem tem o poder de eleger mas a quem tem o poder de deseleger.
      aqui quem tem esse poder são os marajas, os juizes do stf, os proprios colegas dos eleitos quando por alguma razão, eles passam a incomodar ou ameaçar o sistema.
      o resto pasta.
      como nos…

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  • Renato Pires disse:

    A gravação dos “carniceiros” tem pelo menos uma utilidade pública: vai finalmente abrir a caixa preta do BNDES, o “Itamaraty” do lulismo usado para fazer política terceiro-bolsista. Passa, Demo!

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  • Francisco Teixeira disse:

    Fernão, é mesada de R$500.000 (não semanada) convém corrigir. Creio também que não seja por 20 anos, mas até R$20milhões; isto é, 3,3 anos sendo que aparentemente algumas já teriam sido pagas.

    Livre de vírus. http://www.avg.com .

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