Como se encher de popularidade

6 de outubro de 2016 § 10 Comentários


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O elemento comum às eleições municipais em todo o país, mesmo nos “grotões”, é o fuzilamento com desonra do “lulopetismo”.

Na conta nacional o partido perdeu 44,8% dos vereadores e quase 2/3 das prefeituras que tinha (de 638 para 256) e foi pouco porque o PT destruiu a obra de vida de uma geração inteira e o pior ainda está por vir. Depois de passar arrasando pelo país real enquanto o baile prosseguia na Corte a ressaca da tempestade começa, finalmente, a atingir seus autores. R$ 10 bi de déficit em junho, 12,8 bi em julho, mais de 20 bi em agosto. Vai em progressão geométrica a chuva de atestados de óbito de empregos e empregadores sobre o “cartório” insuspeitíssimo da Receita Federal. A Lava-Jato, sem querer diminuir a importância da catarse que produziu, foi só um coadjuvante nesta eleição como atesta a performance do PMDB, o co-réu “não sistêmico” dela. O PT foi esmagado mesmo pelo tal “conjunto da obra” de que vinha fugindo como o diabo da cruz.

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O lado potencialmente positivo é a inédita janela de oportunidade que a virulência do desastre abre. Ele amarra uns aos outros por uma necessidade básica de sobrevivência todos os prefeitos, governadores e demais atores políticos eleitos domingo ou em campo há mais tempo. Estão todos igualmente falidos e, no extremo a que chegou a causa fundamental dessa falência que é a apropriação do Estado por uma casta que não por acaso constitui o núcleo duro da militância petista, não há meio de sair da situação senão pelo desafio como nunca antes na história deste país do império incontestável do “direito adquirido” que está nos destruindo.

Repete-se a toda hora que “o sistema político brasileiro fracassou”. Essa não é a exata expressão da verdade. O sistema que está aí entregou exatamente aquilo que foi desenhado para produzir. A pedra fundamental em que se apoia é a falsificação da representação política do país real pela compra com dinheiro público dos sindicatos, dos movimentos sociais e dos partidos políticos antes mesmo de se apresentarem aos seus eleitores e simpatizantes. Segue-se, na arquitetura do desastre brasileiro, a blindagem dos governos constituídos pelos produtos dessa primeira distorsão subversiva contra qualquer revide de suas vítimas, a não ser com enorme prejuízo imposto a elas próprias como está acontecendo agora. E completa o anel de ferro a decretação da irreversibilidade perpétua de toda e qualquer mamata outorgada pelas criaturas desse caldo de cultura às castas por elas cooptadas para se apropriarem do trabalho alheio sem a obrigação de oferecer nada em troca, que é o tal “direito adquirido” que essa Constituição dita “Cidadã” mas que de cidadania é a antítese, torna pétreo.

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Continuar chamando as coisas pelos nomes errados é induzir ao êrro de diagnóstico e excluir a mera possibilidade da cura. Daí a importância que “O Sistema” dá à “construção de narrativas” que garantam que toda leitura da realidade será distorcida e do foco absoluto que mantem no controle dos instrumentos de propagação dessas leituras distorcidas.

O que estamos assistindo nesta eleição é a pré-estreia da “disrupção” da hegemonia da “narrativa” distorcida da realidade nacional. Ela continua formalmente prevalecendo nos meios políticos, acadêmicos e artísticos, em parte da imprensa e em muito da internet “organizada” mas o resultado prático produzido pelos seus autores no poder é mais forte que qualquer versão. Agora é de sobrevivência que se trata e quem se puser à frente dela será aplastado como ficou demonstrado domingo.

A conclusão da eleição de 2016 libera o governo interino para expor o problema nacional inteiro. O Brasil está na iminência de se transformar num imenso Rio de Janeiro. Não haverá, muito em breve, dinheiro para os serviços básicos, para salários do funcionalismo nem para as aposentadorias e pensões na União, nos estados ou nos municípios. As três reformas postas sobre a mesa por enquanto são genericamente essenciais mas, como sempre, deus ou o diabo estão nos detalhes. Até onde se ventilou por enquanto, nenhuma põe dinheiro no caixa já, a não ser com mais prejuízo ainda para a mais que periclitante “galinha dos ovos de ouro” pela míngua das já esquálidas infraestruturas física, de saúde e de educação, as únicas que não estão cobertas pela intocabilidade automática que a “Constituição Cidadã” garante a tudo quanto o país oficial conseguir surrupiar aos cidadãos.

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A “narrativa” falsa do momento é que as reformas necessárias são “polêmicas” porque requerem “decisões impopulares” dos governantes. O sinal claro desta eleição, no entanto, é que nada pode ser mais popular que fazer o que realmente precisa ser feito, e que quem ousar fazê-lo será carregado em triunfo pelos eleitores. Privatizar estatais feitas para o roubo e reapertar as “frouxidões deliberadas” que foram pendurando multidões de “não pobres” no sistema de assistência à pobreza, “não funcionários” nos quadros do funcionalismo, “não salários” isentos de IR nos mais polpudos salários públicos, “não trabalho” no serviço público; tudo isso garante avalanches de votos e píncaros de popularidade a quem abraça a causa e desanuvia o horizonte futuro mas não desarma a força devastadora do desastre presente. É essa e só essa a parcela do problema sensível à boa gestão que João Dória e outros candidatos vitoriosos venderam e o eleitorado comprou.

Não há como fazer o Estado voltar a um tamanho sustentável e conquistar uma popularidade ainda mais indiscutível senão desmontando os privilégios obscenos que tornam desembestados os números da Previdência que não são os que dizem respeito aos 33 milhões de quase misérias que ela remunera, mas sim os do milhãozinho de “marajás” que pesam sozinhos mais que todos os outros somados. Não há gestão que produza a mágica da necessária união nacional contra isso senão uma quase mágica gestão da política apoiada na arma invencível da verdade.

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§ 10 Respostas para Como se encher de popularidade

  • jeanmorgado disse:

    Sem a reduçao do tamanho da maquina estatal não ha soluçao, mesmo privatizando tudo – o que representa apenas uma troca de gerentes – os funcionarios publicos e politicos continuarão ditando as tarifas de energia, recebendo alugueis de concessoes e rendimentos de exportaçoes de commodiities direto nas contas deles, e os concessionarios chineses, arabes etc. buscam o retorno do investimento com a maior rapidez possivel, seja nas Hidrelétricas ou no falso Pré-sal, onde exploram a camada superior com equipamentos e MO trazidas de seus paises….. basta ver a depredaçao que a China faz na Bolivia, . Alem do excesso de 70% de funcionarios publicos é criminosa a atitude da Receita em nao taxar, nao ver e nao punir a brutal evasao de diviisas protagonizada pelo PT, enquanto o cidadao comum tem suas contas vigiadas 24 hs por dia..

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  • Edson Galindo disse:

    Começo a ver no Estadão artigos sobre o problema básico do Brasil que você vem apontando com precisão. É um começo, por favor continue. Sds

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  • Marcos Jefferson da Silva disse:

    Esse vespeiro está cada vez melhor. Só espero que nossas picadas se espraiem para todo esse país.

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  • Muito bom Fernão. Vc apenas não teve tempo em saber dos 50.000 cargos comissionados que acompanharão as prefeituras petistas perdidas. Mais que a economia é o afastamento de inúteis e incompetentes cumpanheiros, mamando nas tetas municípais.

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    • Marito. Aposto um guaraná como os 50.000 petistas que serão demitidos, serão repostos na sua totalidade pela grande família (cabos eleitorais, parentes, amantes e amigos) dos vencedores.
      Aliás, você está sendo modesto ao citar 50 mil. Nas 400 Prefeituras que o PT entregará, o número com certeza passa disto.
      Em 90 dias depois da posse, todas essas Prefeituras estarão novamente com o mesmo número de “servidores”, salvo que as finanças estejam tão deterioradas, que serão obrigados a “contratar” um pouco menos.
      O Brasil tem 11 milhões de empregados públicos. Destes, tranquilamente, a metade não tem trabalho. Ou, 5,5 milhões, que só em salários significa R$ 264 bi/ano, sem contar as despesas que eles geram. Para comparar: déficit previsto para este ano = R$ 170 bi.
      Pergunto: os partidos políticos, todos, pois são eles que decidem, tomarão alguma providência quanto à isto ? NÃO !!!
      Logo: http://capitalismo-social.blogspot.com.br/2016/02/61-passos-para-implantacao-do-ante.html

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  • Carmen Leibovici disse:

    O que me dá raiva é que os “corajosos”jornalistas da Jovem Pan(e também da Veja,no caso do primeiro que cito a seguir),Reinaldo Azevedo e Marco Antonio Villa,se comportam como mesquinhos covardes de voz fina,apesar do vozeirão de opiniões que emitem todos os dias para um público grande.

    Quase cai de decepção nesta manhã ao ouví-los entrevistando Michel Temer:questionaram o entrevistado sobre tudo,inclusive sobre a Reforma da Previdência,mas deram uma facada no seu fiel público:NÃO MENCIONARAM UMA VEZ SEQUER o problema do que é gasto em benesses e aposentadorias do setor público.Nem uma palavrinha sequer para honrar seus leitores,que foram mantidos por esses jornalistas no escuro da narrativa que os golpeia.Deixaram Michel Temer desenvolver a vontade sua “narrativa”,aquela que vai dar um chute nos já miseráveis aposentados brasileiros ,que não pertencem a máquina do estado.

    Esses dois,que eu gostava de ouvir,são jornalistas da vergonha.
    Que me perdoem se,por acaso, lerem tão cruas palavras,mas não dava para não falar!

    VERGONHOSO!

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  • jcmrizzo disse:

    Caro Fernão,

    Mais uma joia de artigo! O que você precisa conseguir é por na rua, protestando, os 95% que sustentam os 5% detentores desses privilégios escandalosos. Precisamos contar com a ajuda desses movimentos populares, tipo Passe Livre, ou Frente Brasil, etc. para conseguir uma mega mobilização. Você tem um canal poderosíssimo que é o Estadão para iniciar essa batalha. Conte comigo para o que precisar.

    Um forte abraço,

    Claudio Rizzo

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  • jcmrizzo disse:

    Caro Fernão,

    Continuando os comentários que fiz em mensagem anterior desta mesma data, imagino que após grandes manifestações nacionais contra esse estado de coisas, a ação a tomar seria a ameaça de “desobediência civil” com a cessação de pagamento de impostos em todos os níveis privados, físicos e jurídicos, federais, estaduais e municipais. A ideia é ameaçar “cortar o oxigênio” e começar a “asfixiar” esses privilegiados sem-vergonha que vivem a nossas custas. Chega! Sei que pode parecer meio radical, mas não há outro jeito. Os políticos temem manifestações populares de protesto e a ameaça sugerida vai fazê-los tremer de medo ainda mais.

    Vamos à luta!

    Claudio Rizzo

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    • jeanmorgado disse:

      Claudio, falta uniao dos brasileiros (agora divididos em 200 classes sociais) e no caso do cidadao comum – ao contrario dos politicos que nao pagam impostos – o leão da SRF e o Judiciario seriam rapidissimos em mandar executar os bens dos inadimplentes ou lhes retirar direitos civis ……

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  • José Silverio Vasconcelos Miranda disse:

    Nunca foi dito aos brasileiros que pagar aposentadoria de INSS, dar
    assistência tipo SUS, pagar Bolsa Família e outras migalhas é barato.
    Custa caro sustentar a Corte e seus “nobres”. Não por acaso Brasília tem a maior renda per capita do Brasil e nada produz. Estamos quebrados e não pagar impostos gera de imediato multas, juros e execução. O governo pode dever, o cidadão comum, nunca.Pensar que
    pelo Quinto do Ouro foi feita a Incofidencia.Não me entusiasmo com
    Tiradentes, heroi fabricado pela República e tampouco advogo uma
    insurreição. Artigos de fôlego iguais a este são necessários e devem
    continuar ecoando entre as pessoas que pensam . Sem duvida o Estadão é uma bela tribuna e já trabalhou por muitas causas nobres.
    A família Mesquita tem um passado de lutas pelo País. Conte comigo.

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