O Brasil real e o “da narrativa”

5 de setembro de 2016 § 15 Comentários

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Ricardo Lewandowski é o Eduardo Cunha do Judiciário. Não que seja venal nem que tenha aquela atitude temerária do outro mas, no escurinho, anda sempre “tinindo nos cascos” para manipular regimentos e votações colegiadas para “amaciar” penas para meliantes e transformar alhos em bugalhos.

Esta semana deu um susto no Brasil quando emergiu dos mais reconditos bastidores da “narrativa do golpe” cheio de anotações e deu um tirombaço abaixo da linha d’água do “seu” próprio STF, guardião da Constituição, colocando-a – e a ele até segunda ordem – abaixo do regimento interno do Senado de Renan Calheiros e pondo a bandidagem política como um todo em festa.

Se os seus presididos aceitarem essa demissão virtual por “extinção de função” ou jogarem nas costas do Brasil o ônus do golpe que houve como querem os autores da “narrativa” do golpe que não houve, terá sido o fim final da batalha épica para fazer a lei e a segurança jurídica imperarem um dia no Brasil.

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Esperemos que não o façam. Se alguém tem de ficar desmoralizado porque não ha como sair da encalacrada sem isso que não sejam o STF, a Constituição e o Brasil. Quem pariu Mateus que o embale…

No mais, vamos perdidos, como sempre, no vácuo entre o Brasil real e o Brasil “da narrativa” que não se restringe à do golpe ou não golpe.

O governo Temer, tangido pela opinião pública ou por iniciativa própria, tem voltado sempre para o canal certo até porque não ha alternativa para ele fora do canal certo.

O barulho todo que o PT fez, como não se cansam de repetir seus batedores de bumbo, era apenas para “construir a narrativa do golpe” a ser usada mais adiante quando levar ao nivel de saturação do costume a atribuição aos bombeiros do incêndio que ateou. Na verdade precisa livrar-se do desastre ambulante Dilma Rousseff tanto quanto você e eu e, mais que dela, da herança desses 13 anos de tramoias para nos impor, pela tangência das instituições democráticas, esse “socialismo do século XXI” que assola os países que retiraram seus embaixadores em solidariedade ao Chefe de Todos os Chefes caído. Mas não quer dizer que desistiram do poder em que tão gostosamente se têm lambuzado.

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O impeachment é a única chance de sobrevivência do PT. Se tivesse que descascar sozinho o abacaxi que plantou não sobraria nem o pouco que sobrou. O problema é que deixar ao PT o comando do naufrágio do navio cujo casco arrombou implicava o suicídio do Brasil, e já. De modo que, com ou sem vaidades e más intenções na carona, assumir a “trolha” era inevitável. Assim inverteram-se os papéis: evitar o naufrágio passou a ser a única chance de sobrevivência da oposição. E não ha como evita-lo senão fazendo a coisa certa e, mais ainda, na dose certa.

O Brasil está arrebentado pelo inchaço além de qualquer limite suportavel não só do numero de funcionários públicos mas também do excesso de privilégios que lhes foram concedidos, especialmente à minoria dentro dessa minoria, os “comissionados” e chefetes de encruzilhadas estratégicas do “Sistema” que constituem o nucleo duro da militância do PT que nunca caiu, antes ou depois da ascenção ou da queda do partido. Segundo especialistas acima de qualquer suspeita como Ricardo Paes de Barros, formulador do programa Bolsa Família, esse grupo desfruta de salários diretos e indiretos e vantagens tais que “distorcem a estatística de distribuição da renda nacional”. Trata-se, portanto, de uma minoria dentro da minoria que é o funcionalismo como um todo, menos de 5% da população que consome quase a metade do PIB (46% contado só o “por dentro”) e não devolve aos 95% dos quais surrupia esse balurdio senão humilhações, escândalos e o cipoal legislativo, tributário e burocrático tramado com o propósito específico de impedi-los de trabalhar a menos que comprem por bom preço a isenção a esse inferno.

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No campo da Previdência a distorsão é maior ainda. Apenas 980 mil aposentados e pensionistas da União produzem um deficit anual de R$ 93 bi, mais que o gerado pelos 32,7 milhões de aposentados e pensionistas do setor privado somados. E ha ainda os dos ourtos 25 estados e 5.570 municípios…

Este, não obstante, continua sendo um “não problema” que os governantes e administradores públicos não podem sequer mencionar porque, sendo esse tema uma pauta rigorosamente banida de uma imprensa decidida a não enxergar aquilo que lhe bate na cara, estas contas e a sua tradução “cênica” de tão ricas possibilidades mobilizatórias são mantidas fora do horizonte consciente do brasileiro médio, o que tira dos políticos e administradores publicos bem intencionados o “álibi” que se requer dentro dessa ditadura velada em que vivemos para jogar a favor dos 95%. Falar do tema por iniciativa própria dentro de qualquer instância política, partidária ou de governo é morte certa.

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Prevalece, assim, “a narrativa” que a imprensa e seus “especialistas” amestrados coonestam que fala numa vaga “desorganização da economia” herdada de Dilma Rousseff sem nunca mencionar uma causa localizada, precisa e escandalosamente definida como é de fato a única que existe, e que, consequentemente, só pode ser combatida por “medidas impopulares” ou “de redução de direitos”, não de quem permanece flutuando acintosamente por cima da crise e exigindo mais sangue, mas de quem já está morrendo de anemia.

Se o seu jornal ou canal de TV está entre os que lhe servem toneladas de matérias para demonstrar, por exemplo, que o maior problema do país mais miscigenado e libertino do mundo são o racismo e a repressão sexual e nem um grama de manchetes e cenas pungentes para cotejar as agruras da “via crucis” em que penam os 95% com as doçuras da abundância e da segurança inabalavel em que permanecem escondidos os 5% que fabricam crises mas não as vivem, ele é um dos que está cometendo o crime de responsabilidade que mantem o país refém dessa máfia. Você deveria cobrá-lo com o rigor que um crime desses merece.

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§ 15 Respostas para O Brasil real e o “da narrativa”

  • Luiz Antonio Genaro disse:

    A imprensa está dominada!

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  • Luiz Antonio Genaro disse:

    Fernão. Essa gente pensa que está fora do “Titanic”. Históricos é o que não falta: Iraque, Líbia, Síria, Líbano, Grécia, Turquia, Venezuela. Quem será o próximo? As origens dos problemas são os mesmo. Autoritarismo. O sujeito entra para governar o país junto com sua patota e acha que o País virou sua propriedade. O problema é que essa nova geração está perdendo a noção das coisas. Não sabem o que é ditadura, Não sabem o que é Inflação, Não sabem o que é PIB e não sabem das suas obrigações com o seu País! Não vai acabar bem.

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  • Moises rabinovici disse:

    Se ainda tivesse jornal, eu repúblicava este artigo.

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  • José Silverio Vasconcelos Miranda disse:

    Os. Noventa e cinco por cento espoliados não enxergam o problema.
    Aliás, muitos deles almejam estar também no Olimpo do funcionalismo.
    De uns tempos para cá foi criada uma nova classe: a dos concurseiros.
    Seleção mais dura do que o vestibular do ITA. Fora isso, somente sendo
    amigo dos chefes. Continue Fernão . O garnisé ganha a briga do galo
    grande pela tenacidade. Não por força.

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  • jcmrizzo disse:

    Mais uma vez cumprimento o bravo jornalista Fernão Lara Mesquita pelo estupendo texto, principalmente a comparação contida no seu início. Espero que a “cruzada” dele contra o “cancer” que o Sistema ou a Máquina Pública representa para o país. Esse é o inimigo a combater e não os outros aparentes problemas. Força Fernão!

    _____

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  • Para haver reformas que avancem no sentido de tocar o dedo na ferida do apartheid social em que vive o país da maledicência democrática, é preciso que o presidente leve para dentro do governo uma elite que não seja habitué dos escalões burocráticos, e tenha uma visão acurada do enfrentamento necessário aos privilégios encarquilhados na administração pública. Caso contrário, não será nada mais do que uma repetição eloquente dos fracassos anteriores.

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  • titus meili disse:

    Vce Fernão é plural e todos eles (fernães) andam me cutucando para compartilhar as suas provocações vespeiras em busca de uma narrativa mais adequada ao Brasil para as futuras nossas gerações. Tão logo resolvidas algumas pendengas pessoais _me aguardem _ MERDE!

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  • Lucila Esteve disse:

    Sensacional!

    Enviado do meu iPhone

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  • Márcia disse:

    Obrigada, Fernão. Você é a minha voz.

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  • Fernão. Falou por todos e engrandece o Vespeiro, seu jornal com muitos bons colaboradores. Continuo gostando e muito do Estadão que me acompanha ha mais de 50 anos. É o único com linha editorial que aprecio e concordo. Definido, nada de “plural” ou “saco de gatos” levados pela conveniência momentânea.

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  • Carmen Leibovici disse:

    Eu estou encafifada com uma questão:servidor público paga ou não imposto de renda?

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    • Fernão disse:

      só sobre a parte do salário que se chama “salario”. “auxilio”, “abono”, “adicional” e o mais do monte de penduricalhos que (para isso) eles inventam, não paga.
      agora brasileiro paga a partir de 2 minimos…

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      • Luiz Antonio Genaro disse:

        O salário é só para enganar trocha? O grosso dos penduricalhos não paga nada? Gostaria de saber como é composto o salário de um mala desse.

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