Sobre sístoles, diástoles e otários

3 de dezembro de 2014 § 15 Comentários

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Artigo para O Estado de S. Paulo de 3/12/2014

Começou com aquela senhora sob cuja responsabilidade a Petrobras esteve nos últimos 12 anos – diretamente, enquanto presidente do Conselho que comprou a “Ruivinha” de Pasadena, ou indiretamente enquanto ministra à qual ela estava afeita e, logo, como a “presidenta” que nomeou pessoalmente os diretores da última etapa do “petrolão” que acaba de reconfirmar em seus cargos – nos apresentando como “prova” da sua disposição de “dar combate sem tréguas à corrupção e à impunidade” os flagrantes da Polícia Federal dos delitos de que ela própria é coautora! Agora ela se nos oferece como o antídoto contra si mesma.

É preciso aproveitar desse mau teatro ao menos o que tem de educativo. Com a morte das utopias o que restou é a verdade nua e crua. Não ha quem não saiba que a continuação do saque organizado à Nação tem tido um único objetivo: comprar eleições para permanecer em posição de continuar a fazê-lo ad infinitum.

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A convocação para a Fazenda Nacional de um liberal ortodoxo da “escola de Chicago” que chefiava as missões do FMI no Brasil e é irmão ideológico do apedrejado Armínio Fraga – o próprio Lúcifer segundo a demonologia petista de até 32 dias atrás – constitui-se numa enfática confissão de que toda a patacoada “ideológica” e “social” maniqueísta com que o PT vem tentando atear fogo ao país não passa de isca para atrair otários. Com a eleição no bolso são os primeiros a admitir que não existe mais que uma maneira – e, talvez, mais meia – de se gerir a economia, e que a que serve para o Bradesco e o FMI é a mesma que serve para o PT, para FHC e para o Brasil.

A roubalheira na Petrobras é isso. Os indivíduos que enriquecem em torno da atividade principal são apenas caronas. Empreiteiros e “operadores”, que por mais ricos que fiquem vão dormir na prisão sempre que o pessoal que realmente manda nas coisas estala um dedo, não têm o poder que se requer para saquear as “brases”. Os únicos com força para tanto são os políticos que entregam a cada “operador” o seu cofre previamente arrombado junto com o alvará para que saia à caça do empreiteiro que lhe proporcione servir-se do que eles contém em escala industrial sem que ninguém na empresa assaltada lhes oponha a menor resistência.

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Os tais R$ 10 bilhões de que se fala são fichinha perto do que cada nova revelação indica que realmente se passou numa estatal que faz R$ 60 bi em compras por ano, 90% das quais sem licitação, ao longo de 12 anos. Mas mesmo considerado esse numero esta é a menor conta que vamos pagar pela aquisição de mais quatro anos no comando da ordenha do Brasil por PT & Co.

O subsídio aos combustíveis custou R$ 60 bi. Isso mais o resto jogou o valor da Petrobras R$ 198 bi para baixo. A indústria do álcool foi tragada no arrasto e a de manufatura minguou até desaparecer naquele dólar falso pró-Miami. A “redução” na marra do preço da energia destruiu R$ 32 bi da Eletrobrás só no dia em que foi anunciada. A rasteira nos investidores que financiam a infraestrutura do mundo não dá pra calcular. Fez da energia o maior buraco negro dos próximos anos. Por antecipação o preço dela no mercado “spot” multiplicou-se por oito. Foi a pá de cal na indústria. Salvaram-se os “campeões nacionais” de financiamentos de eleições que embolsaram R$ 230 bi do BNDES.

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Tudo para que a “nova classe média”, entulhada de quinquilharias “made in China”, pudesse continuar acreditando, a bordo de seus automóveis “desonerados” em 22 bi por ano, que a festa nunca ia acabar.

Por cima de tudo há o aumento de 740% no custeio da máquina pública com seus 39 ministérios e a multidão dos “companheiros” que, de Lula até hoje, ocuparam o Estado. Eis aí – mais as “ONGs” chapa-branca, os “movimentos sociais” amestrados e o exército dos linchadores da internet sustentados com dinheiro público – a famigerada “militância” sempre cheia de tempo para “militar”, e com a fúria de quem luta pelo que “é seu”.

Nada disso, é claro, foi feito para melhorar o país ou a vida dos pobres. É só o preço da eleição do PT, pelo PT, para o PT. Os R$ 24 bilhões do Bolsa Família são um troco perto dessa conta.

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Para coroar a obra, trocou-se a educação de toda uma geração pelo “aparelhamento” do sistema nacional de ensino por professores “organicamente” encarregados de rebaixar seu senso crítico, mantê-los referenciados a um passado morto e barrar-lhes o acesso à discussão da modernidade.

Qual é o sentido de todo esse sacrifício imposto à Nação para, no final, tudo acabar em Joaquim Levy?

O que há é só o de sempre: esse negócio de andar de jatinho, ficar olhando o mundo lá de cima, dizer qualquer besteira e ser obrigatoriamente ouvido, não fazer fila nunca, não ter de pagar as próprias contas vicia tanto e tão rapidamente quanto ganhar sem trabalhar, aposentar-se sem contribuir, ter um emprego eterno qualquer que seja a crise. E tudo que é preciso fazer pra que não acabe nunca é não perder eleições.

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Todo o resto é pura tapeação.

E lá vamos nós de novo. Sístole: os donos do poder bombam dinheiro para os músculos e os pulmões da Nação; os otários que vivem de trabalho, asfixiados, respiram e agradecem com votos a graça recebida. Diástole: com a eleição garantida eles relaxam e drenam de volta para si e para os seus o sangue da Nação que, ainda assim, respira aliviada porque o que se anunciava era muito pior.

O dr. Levy chega prometendo “superavits”; dona Dilma açula no Congresso o homem que tem uma Transpetro para chamar de sua para livrá-la da obrigação legal de entregá-los. É o prelúdio. Como é contra a lei tocar quem tenha posto um pé dentro do Estado ou “adquirido” algum “direito” por doação de alguém lá de dentro, o desfecho será o de sempre: o “doloroso ajuste” pelo alargamento do duto de entrada e não pelo estreitamento do de saída dos cofres públicos.

Para cima; para baixo. A cada volta no círculo, maior fica o Estado e menor fica o país. Além de um limite de que já estamos perigosamente próximos, contrai-se a “síndrome argentina”. A partir de então é só para baixo.

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§ 15 Respostas para Sobre sístoles, diástoles e otários

  • Fernão, Muito, muito bom. Vc disse tudo que deve ser dito, lembrando-me do Golbery com as “sístoles e diástoles”. que ele usava com relativa frequência.

    A síndrome argentina ou efeito orloff foi bem referenciado e melhor ainda será o de acrescentar a Venezuela. Ambas e mais o nosso país, graças ao petismo, jogaram pra baixo a economia da América latina.

    Em matéria de desastres morais, corrupção, e ineficiência na gestão, onde se instalam, a esquerda bolivariana é insuperável..

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  • José J Amaral disse:

    Achei muito esclarecedor o seu artigo. Acho, no entanto, que a coisa ainda seja pior, no sentido de não se tratar apenas de se manter no poder para auferir $ e prestígio. Desconfio que tudo faz parte de um projeto ideológico de dominação da América Latina. Rezo para que eu esteja errado, mas será que estou?
    Obrigado

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    • flm disse:

      sim, essa é a maneira mais “segura” e barata de se manter eternamente no poder.
      se der mole não tenho duvida de que eles usam essa também.
      mas não se iluda: trata-se do poder pelo poder mesmo.
      ideologia, no sentido que essa palavra já teve no milênio passado não tem mais nada a ver com isso, a não ser como argumento para desarmar ou cooptar otários

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  • fabio ungaro disse:

    Muito bom artigo, é triste ver que o pais continuará se distanciando do desenvolvimento que poderia atingir por culpa de pessoas que fazem o diabo.

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  • Renato disse:

    Ë nisso que dá eleger comunistas, guerrilheiros e assaltantes de banco para governar o País. E depois ainda querem que eles cumpram as leis? Aí já é querer demais.

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  • JOSÉ EDGARD CUNHA BUENOI disse:

    ADOREI O ARTIGO !!

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  • O Joaquim a quem vc bem referiu vai dançar. basou dizer que não haveria repasse ao BNDES eis que o demitido Mantega autorizou a captação no mercado de R$ 30 bi!, supostamente à financiar tratores caminhões e sei lá o que mais.

    Acrescente de mais 50 pontos no aumento dos juros.

    A sessão da votação do golpe na LDO está hilária com as justificativas petistas, não pelo fanatismo mas pela burrice.

    É uma luta à excluir a presidente do crime de responsabilidade e que merece uma matéria pelo Fernão, em nome de todos os idiotas entre os quais me incluo.

    Nosso país precisa de mais pessoas como a dona Ruth, aquela senhora de 79 anos, que ontem foi “engravatada” no sentido literal enquanto protestava nas galerias do Congresso.

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  • Dr.Eduardo Gonsales de Ávila disse:

    TAXA SELIC 11,75 %

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  • Dr.Eduardo Gonsales de Ávila disse:

    A questão nunca foi ideologia, o que vale é mamatologia. A teta do governo. Com tantas sistoles e diástoles na vida nunca aprendemos que a história sempre se repete, uma como drama e a outra como comédia, e por incrível que pareça somos nós os otários de sempre.

    Clique para acessar o Pedro_Campos.pdf

    vocês acham que o JANGO, um camarada gordo, fazendeiro latifundiário, gaúcho de São Borja, comedor de churrasco era mesmo comunista? O que estava por detrás do Mensalinho americano, que nunca foi investigado?

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  • Dr.Eduardo Gonsales de Ávila disse:

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  • Dr.Eduardo Gonsales de Ávila disse:

    Digno de nota é também o livro QUEBRA DE CONTRATO.
    Então, compenetramos que o jogo já é antigo, sempre com cartas marcadas. e com final feliz para ambas as partes. É, o Brasil agradece a infra-estrutura que ganhou, não fosse isto estaríamos dando manivelas nos caminhões atolados na estrada do Chatão Mineiro, que faz meio seculo e ainda não foi pavimentada.

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  • À sístoles e diástole, corresponderiam ao caso os endógenos e exógenos.

    O primeiro na indecência e burrice dos petistas à justificarem a desesperada luta em excluir a Dilma do crime de responsabilidade,A outro são os consequências que receberemos por parte desse medíocre governo que, absurdamente está fazendo exatamente com o Joaquim Levy o que o Armínio Fraga propusera.

    A mentira aos civilizados tem peso e custo.

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  • Fernando Celso Moraes Antunes disse:

    Cheguei ao ‘vespeiro’ através da leitura da brilhante matéria “Sobre sístoles, diástoles e otarios”, publicada no Estadão de 03/12/14, de autoria do não menos brilhante jornalista Fernão Lara Mesquita.
    Desejo que meus parabéns ao autor ecoe por toda a família Mesquita/Estadão, pela longa luta à procura de um país mais ético e justo. O sentimento de fazer nosso Brasil de otário e, por consequência todos os Brasileiros, dos quais não tenho e nem posso me excluir, apesar de não ter colaborado com meu voto pelo que aí está, me provoca profundos sentimentos de revolta que só é atenuado ao me lembrar da virtude da esperança. Esperança de ver renascer no Brasil a honestidade, a moral e o verdadeiro sentido da responsabilidade política. Esperança de aplaudir representantes públicos que não se destacam nas página policiais e, pior, muito menos por detrás delas, pois nunca sabem de nada. Esperança de não ter mais de aturar servidores que, de tão poderosos que pensam que são, se sentem até no direito de mudar nossa gramática, confundindo e trocando sufixos e gêneros do nosso vocábulo e da língua portuguesa. Em poucas palavras: em minha modesta opinião isto retrata uma pessoa “incompetenta”.

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  • Maria A.. B.i Ribeiro disse:

    Sem comentários. Não pensei que nossa recente democracia chegasse tão perto do retrocesso em taõ pouco tempo. Vivenciei o golpe de 64 e estou vivenciando o retrocolpe de 2014.

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