Unidos pelo repúdio

9 de outubro de 2014 § 9 Comentários

a3

Artigo para O Estado de S. Paulo de 9/10/2014

O divisor de águas, afinal, é “social” ou é ético?

Ha duas maneiras de ler o resultado do 1º Turno.

O que nos disse esse PT que dispensa a contribuição dos fatos para compor a sua versão da realidade com o bombardeio de “reclames” do gênero daqueles em que os pratos de comida de uns esvaziavam-se na proporção em que os dos outros enchiam-se, é que não apenas faz sentido que a “Bélgica” vote maciçamente em Aécio e a “Índia” vote maciçamente em Dilma – tanto mais quanto mais para baixo estiver o eleitor no IDH – como que não ha outro caminho nesta nossa “Belíndia” onde, por definição, o bolo não cresce e cada um só pode aumentar o seu quinhão às custas dos demais, senão uma submeter a outra, pela força se houver resistência.

A mesma receita que o partido reconfirma com sua política de alinhamento automático com todas as ditaduras que cavalgam essa mesma falácia na arena internacional.

a10

Mas esta eleição provou que se existe um país manipulável porque vive na insegurança econômica extrema e tem prioridades mais urgentes que distinguir a verdade da mentira ou pensar além da sobrevivência até amanhã, convive com ele outro que, por cima dos matizes ideológicos em que se divide internamente, pode olhar para mais adiante e responde com avalanches de indignação às que lhe têm sido atiradas desaforadamente à cara, como confirma o contingente antipetista que chegou às urnas maior do que partiu.

Por que a relação desse Brasil com o PT que sobrou (depois da debandada da esquerda honesta) se vai tornando tão radicalmente insuperavel?

Porque sendo esse PT, essencialmente um produto desse mesmo Brasil com mais capacidade de discernimento, não poderá jamais convencê-lo de que não está mentindo a cada vez que mentir.

a14

Para atrair o Brasil que vive da assistência à miséria, à margem da economia real, e continuar acenando-lhe com “uma melhora geral da economia” e uma “redução da desigualdade” que o IBGE não confirma, o PT que sobrou terá de continuar mentindo, e cada vez mais à medida que suas mentiras forem piorando o ambiente econômico e empurrando os indicadores mais para baixo. E quanto mais mentir, maior será a indignação que colherá no Brasil que não só não engole suas mentiras como, principalmente, sente-se cada vez mais ameaçado pela temerária realimentação do ódio de classes para os quais elas inevitavelmente nos empurram.

O resultado que as urnas de domingo colheram reflete um movimento de autopreservação desse Brasil que, tudo indica, ainda não se completou. Pois ao assumir a mentira como linha mestra de sua campanha, o PT que sobrou não está apenas confessando falido o “projeto” com que tenta vender-se ao outro, está declarando guerra ao Brasil com discernimento posto que esse caminho não tem volta: ou o país inteiro regride ao estágio de que ainda não conseguiram sair os grotões – como foi feito nas ditaduras que o PT nos aponta como exemplos e trata-se de fazer nos rebentos “bolivarianos” que nos cercam calando a imprensa (e até o IBGE) e substituindo os debates legislativos dos representantes eleitos pelo povo pelos decretos das Organizações Não Governamentais Organizadas pelo Governo (ONGOGs), ditas “movimentos sociais”, conforme prescrito no Decreto 8243 baixado pela “presidenta” – ou confina esse PT ao nicho reservado aos dinossauros políticos que, em todo o resto do planeta, foram à extinção no ano 89 do século passado.

a13

É isto que tem mantido unidas a esquerda e a não esquerda honestas e democráticas que, somadas, ainda são maioria na sociedade brasileira.

É normal e saudável que haja divergências a respeito do que se deseja para o pais e que isso mude, na visão dos mesmos grupos, em diferentes momentos da conjuntura nacional e internacional.

Mas, até para que isso possa continuar sendo assim, tem de haver uma concordância de todos a respeito do que não se deseja para o país, qualquer que seja a circunstância. E esse limite é o da preservação da democracia representativa (de todos os brasileiros e não só de alguns).

É sobre esse ponto que mostram estar de acordo os brasileiros todos que votaram sob o signo do antipetismo e, felizmente, tanto Aécio Neves quanto Marina Silva parecem ter entendido perfeitamente que é disso que se trata.

a11

A “polarização entre PT e PSDB” em que insistia Marina Silva é um falso problema. Ela existe no mundo inteiro, sob siglas variadas, com a diferença de que, quanto mais alto o IDH, os extremos entre as partes em disputa se vão aproximando do centro e a alternância no poder entre elas se vai tornando menos turbulenta.

Aqui mesmo já estiveram muito menos afastados um do outro do que a distância para a qual voltaram a ser empurrados pelo sistemático processo de subversão de significados que o PT que sobrou conseguiu instalar nas escolas e universidades brasileiras, estas que vão despencando em queda livre pelos rankings internacionais de qualidade em função dessa violência.

O próprio Lula entendeu em 2002 que, para eleger-se, teria de comprometer-se com a democracia e com o modelo econômico civilizado, por acaso implantado no Brasil pós-Sarney pelo PSDB. A grande “novidade” que Marina Silva prometia, para além do repúdio moral à mentira generalizada como modelo político, era recolocá-lo no lugar de onde foi expulso pelo voluntarismo arrogante e mal articulado de Dilma Vanna Rousseff.

a9

Tudo o mais – as dosagens de assistência aos necessitados, desde que com os indispensáveis dispositivos de saída obrigatórios como provas de boa fé para diferenciá-los das execráveis operações de compra de votos e exploração da miséria dessa “política” de fato “velha” aliada ao PT que sobrou – como tem dito Aécio e como tem dito Marina, mantem-se ou até expande-se se for o caso.

O Brasil pode tranquilamente arcar com isso.

Com o que não pode mais arcar, por um minuto que seja, é com o resto do pacote de aparelhamento do Estado e compra de poder às custas do futuro do Brasil do PT que sobrou e da legião dos indecorosos bilionários vendedores de “governabilidade” abraçado à qual ele tem a cara-dura de nos falar em “mudança”.

a7

Marcado:, , , , , , , , , ,

§ 9 Respostas para Unidos pelo repúdio

  • Fabio de Araujo disse:

    A batalha será árdua. SP, felizmente, conseguiu barrar a entrada do PT no Estado. Acredito que o ex-presidente Lula levou um sério golpe e ainda está desnorteado com a derrota de Padilha e com a vitória de Serra sobre Suplicy. Lula e seus aliados irão jogar pesado, com todas as fichas disponíveis, legais, ilegais ou anti-éticas para reeleger sua candidata, que se revelou de uma incompetência sem paralelo na história política recente do Brasil. Tenho por inspiração a saga dos Hobbits, de J.Tolkien, quando faço meus comentários críticos diariamente no jornal Valor e também no Carta Maior, um reduto do PT, cujos comentaristas estão tomados mais por um fervor irracional do que por ideologias da esquerda.

    Curtir

  • Fabio de Araujo disse:

    Uma das estratégias do Lulo-Petismo é insistir na comparação do governo Lula/Dilma com o do FHC. Diariamente na mídia o Lulo-Petismo tentar fazer do programa de Aécio Neves uma extensão do governo FHC, que é passado, já foi. Sobre esse assunto eu vou encaminhar ao comitê de campanha do Aécio Neves uma sugestão para que o candidato do PSDB refute essas tentativas de seu (sua) oponente. Essa estratégia é uma das facetas da política do medo sobre as massas, como se FHC ou Aécio Neves fossem a mesma coisa. O Lulo-Petismo se inspirou no cineasta alemão Fritz Lang ou em Paul Joseph Goebbles para construir estratégia de espalhar o terror e descontruir seus adversários. Não estou aqui criticando ou desmerecendo o governo FHC. Temos que olhar o futuro.

    Curtir

  • fernaslm disse:

    totalmente de acordo, Fabio, especialmente com sua intenção de mandar sugestões ao comando da campanha de Aécio.
    isso ja seria um outro estágio de participação!

    Curtir

    • Também citei sua proposta do recall no jornal Valor Econômico – Comentários.

      Curtir

      • Fabio, permita a interferência. Observo que todas as presentes sugestões são de imensa utilidade as discussões à tão esperada mudança política. Todavia, diante do momento creio que nossos esforços devem se voltar ao dia 26 tão qual uma obsessão em eleger o Aécio. A propósito, ontem, estive com amigo que trabalha em grande banco americano em NY, e segundo ele numa eventual vitória da Dilma as chances de rebaixarem o “grade” do Brasil é muito grande e já está sendo analisada pelos agentes financeiros. Como vc deve saber mais uma rebaixamento em nossa avaliação, todos os fundos norte-americanos e europeus são obrigados a liquidarem suas posições no nosso mercado. Vc avalia o que isso significa à nossa economia?, será o efeito Orloff de que tanto se falava em relação a Argentina..Vai pro espaço uma vez que o grande volume de recursos vem de fora.

        Curtir

    • Mauricio Reis disse:

      Eu acho incrível as pessoas que têm alguma formação e ingressam no PT e se elegem pelo PT. Perdem totalmente a honestidade intelectual e se sentem livres e sem a mínima auto-censura e constrangimento quando ferem análises chulas de comparação de governos totalmente descontextualizadas. Torturam os dados até que eles confessem para a formação de qualquer bravata de botequim. Triste…

      Curtir

  • Li e vou reler. Nota 10.Parabéns

    Curtir

  • Fabio, já que vc entrará em contato com o comitê do Aécio, quanto as mentiras sobre as 3 quebras do Brasil no governo FHC. informo de referência em meu texto sobre a matéria diante das MENTIRAS e burramente declaradas pelos Lula- Dilma.

    Tivessem um poco de decência ficariam quietos ou reconheceriam de que a suposta quebra tratava-se de empréstimos do Fundo Monetário Internacional; o primeiro, em 1998-1999 na transição do regime para câmbio flutuante que o PT com tanta interferência “desflutuou”; o segundo, em 2001 quando a Argentina literalmente quebrou o que está prestes a ocorrer novamente, e o terceiro, em 2002 cujo maior beneficiário foi o Lula, que iniciou seu governo com caixa graças ao governo anterior quem obteve o empréstimo, sobre o qual o ex-presidente demagogicamente cantou em prosa e verso ter pagado antecipadamente ao vencimento, deixando de explicar até hoje qual o proveito de tanta generosidade.

    Curtir

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

O que é isso?

Você está lendo no momento Unidos pelo repúdio no VESPEIRO.

Meta