Deliverance: a lenda e a realidade

20 de julho de 2014 § 5 Comentários

A história que circula pela rede diz o seguinte: 

O filme Deliverance (Amargo Pesadelo) estava sendo rodado no interior dos Estados Unidos. O diretor fez a locação de um posto de gasolina nos confins do mundo, onde aconteceria uma cena entre vários atores contracenando com o proprietário do posto onde ele também morava com sua mulher e filho (este era autista e nunca saía do terreno da casa).

Num dos cortes para refazer a cena do abastecimento, um dos atores que sendo músico sempre andava acompanhado do seu instrumento de cordas aproveitando o intervalo da gravação e já tendo percebido a presença de um garoto que dedilhava um banjo na varanda da casa aproximou-se e começou a repetir a sequência musical do garoto.

Como houve uma resposta “musical” por parte do garoto, o diretor captou a importância da cena e mandou filmar.

O que se seguiu é antológico.

Atentem para alguns detalhes:

– O garoto é verdadeiramente um autista;
– Ele não estava nos planos do filme;
– A alegria do pai curtindo o duelo dos banjos… Dançando
– A felicidade da mãe captada numa janela da casa;
– A reação autêntica de um autista quando o ator músico quer cumprimentá-lo. .

Repare na expressão dele.

O garoto brilha, cresce e exibe o sorriso preso nas dobras da sua deficiência, que a magia da música traz à superfície.

Depois, ele volta para dentro de si, deixando a sua parcela de beleza eternizada “por acaso” no filme “Amargo Pesadelo” (Ano: 1972).

… No filme a presença dos atores John Voigt e Burt Reynolds

Mas o leitor Edmilson Siqueira indica o site Crônica Autista onde se afirma o seguinte:

Amargo Pesadelo (Deliverance) é um filme de 1972 dirigido por John Boorman, baseado no romance de mesmo nome escrito por James Dickey. O escritor aparece no filme, no papel de um xerife.

A cena do Duelo de Banjos não é “real”. O jovem (na época, com 16 anos) Billy Redden foi escolhido na sua escola, Clayton Elementary School, devido a sua aparência, mas não é autista, nem tem qualquer outra deficiência. Ele não sabia tocar banjo e, assim, foi usado um truque de filmagem – um músico se posicionou atrás dele e tocou o banjo por dentro das mangas de sua camisa. Foi usada maquiagem para fazê-lo parecer mais “esquisito”. Além disso, a cena estava nos planos do filme, pois o personagem Lonnie, com deficiência intelectual, está presente no livro que inspirou o filme.

A wikipedia o apresente como um ator americano, mas Billy trabalha na lanchonete em que é um dos proprietários em sua cidade natal, Clayton, na Geórgia.

Jon Voight, que atuou no filme, o descreveu como tendo “um desequilíbrio genético” e sendo um “camarada muito falante”.

Somente em 2003 Redden reapareceu em um filme, Peixe Grande “Big Fish”, de Tim Burton. Em 2004, apareceu no programa Blue Collar TV.

Por favor, divulgue esta informação, para tentarmos minimizar o impacto negativo que tem a ideia de que todo autista é “superdotado”.

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§ 5 Respostas para Deliverance: a lenda e a realidade

  • Augusto de Bueno Vidigal disse:

    Fernão fantástico, foste buscar nos confins dos anos 70, ou talvez 60.
    A vida inteira carregava estes momentos marcantes e não sabia da estória verdadeira, impressiona mais

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  • Edmilson Siqueira disse:

    Prezado Fernão: a cena é realmente fantástica, aliás, o filme todo é muito bom, mas o garoto que duela no banjo era um artista e não autista. Essa história roda há muito tempo na rede. Veja em: http://cronicaautista.blogspot.com.br/2011/03/duelo-de-banjos.html

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    • flm disse:

      obrigado edmilson.
      inclui sua versão na matéria.
      o que a repetição de casos como este nos lembra é que a “liberdade” da rede nos devolve a uma época pre normatizada onde nao vale o pressuposto que ainda esta na cabeça de muitos de que se foi publicado é porque foi checado.
      essa é uma parte fundamental da desordem dos dias de hoje. vai dar muuuuito trabalho para surgirem os espaços na rede que farao nome por incluir esse cuidado e seprar o joio do trigo.
      muito mais do que deu no mundo físico, dados os volumes ciclópicos envolvidos…
      ate la, as wikipedias da vida serao espaços livres para a semeadura de mentiras de que se valerao figuras como tantas que conhecemos hoje no Brasil para nos vender gato por lebre…

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  • duca10 disse:

    O filme é genial e a sequencia da cena aqui relatada antológica.

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  • Extraordinário e comovente, Fernas. E fala tanto sobre o menino e o diretor como sobre você.

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