Porque não ha perigo no “recall” – 7

2 de agosto de 2013 § 21 Comentários

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(7º de uma série sobre voto distrital com recall. O 6to está neste link)

Saí para uma semana de férias com o eco da hesitação de vários leitores e interlocutores diante do componente de ação popular incluído na receita das eleições distritais com recall batendo-me na cabeça.

Isso não é perigoso? Como o povo que elege esses caras vai, de repente, passar a fazer melhor? Só porque tem recall? Eles não vão acabar sendo manipulados pelos demagogos de sempre para impor uma ditadura de maioria construída no grito?

Há boas razões para se olhar com desconfiança para a “democracia direta”. Ela é como os cogumelos: ha milhares de versões e quase todas são tóxicas. Mortais para a democracia. Golpes para substituir representantes eleitos por “representantes” autoproclamados da “sociedade civil”, usá-los para fechar a porta e depois mandar os descontentes reclamar com o bispo. A rasteira preferida por nove entre dez dos candidatos a reizinhos de países com muita miséria e pouca escola.

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Mas não é a esses que eu me refiro. O buraco é mais embaixo…

O brasileiro tem medo disso que se tornou. Ou melhor, tem medo do que fizeram dele. Não confia no seu taco. É aquela coisa do “Eu sou, mas quem não é?“.

Não é pra menos. A realidade é essa mesmo: “Quem é que não é?”, ou melhor, “Quem é que se pode dar o luxo de não ser nessa realidade em que temos vivido?

Pois está na hora do Brasil se dar uma anistia. Começar de novo.  E o recall é o instrumento para isso; para instalar uma nova realidade.

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Desde sempre não nos tem sido dada opção. O brasileiro ou é explorado ou se torna explorador. Qualquer coisa no meio é uma pedreira. O Sistema não é que não ajuda. Ele praticamente não permite que se atue fora dessa dualidade.

Vá você tentar fazer qualquer coisa aqui certinho, pela letra da lei. Eles te comem o fígado devagarinho!

Você vai rolar de dificuldade em dificuldade, de burocrata em burocrata, de impedimento em impedimento até deixar de se fazer de desentendido e aceitar o achaque que é o objetivo único dessa corrida de obstáculos.

É morrer de amargura ou se entregar.

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Você tenta uma vez. Insiste. Persiste…

Aí você começa a se dar conta de que o tempo está passando e você continua parado. Até a tua gente vai te interpelar. Chegará a altura em que você começará a duvidar do sentido dessa sua resistência moral.

Afinal o que é que você está querendo provar? Que você é melhor que os outros? Que é mais realista que o rei? O que é que você pode fazer se a regra do jogo é esta, senão jogá-lo como ele é?

Então você se entrega. Topa o suborno. Ou vira de vez a casaca e se torna você o achacador.

É uma coisa ou a outra. Sempre foi uma coisa ou a outra. Ou você é escravo ou vira feitor. Ou vai se abrigar, manso, na Casa Grande se não estiver talhado para predador. Não tem nada no meio. Nunca teve nada no meio.

vaca4Mas se você cede à lógica do Sistema tudo começa a andar. Arrastando os parasitas todos de que você tem horror, mas andando.

Água mole em pedra dura…

O preço é a sua consciência. Você passa a ser mais um igual a todos os demais que ja assumem que “são“. Já não tem mais moral para reclamar. Deixa de ser uma ameaça.

Com você sentindo-se mais um merda o Sistema pode voltar a dormir sossegado.

Essa é a vertente “sistêmica” e mais sinistra dessa corrupção que nos impõem.

Mas sobre eleições com recall não ha o que temer. O recall atribui uma pequena dose de poder a cada cidadão sem dar a ninguém poder demais. Põe nas mãos do mais humilde deles uma arma capaz de derrubar o rei mas que não pode ser acionada senão por um consenso que vai além da sua vontade pessoal.

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O indivíduo, na ação coletiva, reage defensivamente. Para não ser lesado. Não está à caça de poder. Quer só preservar o seu espaço. Proteger a sua família. Não ser empurrado para tras.

Não se dará a maquinações maquiavélicas para conseguir isso porque não ha ganho individual que recompense esse esforço. Recall só se ganha convencendo, somando esforços e dividindo resultados. A ação de quem o propõe e de quem adere a essa proposição é, na verdade, reação.

Não confundir com o indivíduo em luta pelo poder. Este sim é proativo. Fala em nome do coletivo mas tem sempre um propósito oculto de ganho individual. Acena com o privilégio, o ganho fácil e a acomodação numa mediocridade semi-protegida, conforme o cliente, para colher o único bem considerado por essa “política” de hoje: mais poder e mais tempo no poder seja a custa do que for, seja com os sócios que for.

Um é ataque, o outro é defesa. Uma coisa é o antídoto da outra.

O recall com eleição distrital torna tudo isso mais difícil. Bane definitivamente as opções extremas escravidão ou feitoria e propociona a abertura de dezenas de alternativas mais honestas pelo meio.

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TODA A SÉRIE SOBRE VOTO DISTRITAL COM “RECALL”

https://vespeiro.com/2013/08/21/democracia-a-mao-armada-9/

https://vespeiro.com/2013/08/14/a-travessia-do-deserto/

https://vespeiro.com/2013/08/02/porque-nao-ha-perigo-no-recall-7/

https://vespeiro.com/2013/07/23/recall-sem-batatas-nem-legumes/

https://vespeiro.com/2013/07/20/discutindo-recall-na-tv-bandeirantes-6/

https://vespeiro.com/2013/07/15/mais-informacoes-sobre-a-arma-do-recall/

https://vespeiro.com/2013/07/12/voto-distrital-com-recall-como-funciona/

https://vespeiro.com/2013/07/10/a-reforma-que-inclui-todas-as-reformas/

https://vespeiro.com/2013/06/25/voto-distrital-com-recall-e-a-resposta/

 

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