Zelaya, Marco Aurélio Garcia e a grande imprensa

28 de setembro de 2009 § 1 comentário

zelaya + lula

Ha jornalões assimilando, sem tirar nem por, o discurso lulo-chavista e condenando liminarmente em suas manchetes como “golpista” o governo no poder em Honduras que está às voltas com o foco de provocação e baderna que o Brasil instalou no centro de Tegucigalpa contra todos os cânones da diplomacia, do direito internacional, do bom senso e, sobretudo, da boa fé.

Ha quem afirme que tais derrapadas da imprensa são fruto apenas de incompetência, descuido com as palavras ou a mistura dessas duas coisas.

Eu não acredito nisso. É uma ofensa à inteligência dos profissionais que têm todas as informações necessárias para uma decisão informada sugerir que eles sejam incapazes de processá-las de forma minimamente condizente com a realidade. E invocar o coro dos atores da arena política internacional para justificar a incorporação pelo jornal de julgamentos distorcidos por óbvios interesses políticos só faria agravar culpas. Pois que o papel da imprensa é justamente pairar acima desse jogo de cartas marcadas para, ao menos, procurar a verdade.

A maior carga de responsabilidade pelo desaparecimento do zelo pela verdade e do cuidado com as palavras na grande imprensa é dos donos desses jornais que se permitem olhar só para o dinheiro e abrem mão da responsabilidade institucional inerente ao direito de gerir um orgão de comunicação de grande expressão. Mais que as novas mídias, é isso que o mercado dá sinais de rejeitar na imprensa tradicional. Mas este não é o tema deste artigo. Voltarei a ele noutro dia.

MAG 3

No que diz respeito ao caso Zelaya, cabe destacar que a diplomacia brasileira sob Lula funciona de um jeito curioso. Como há que continuar tratando com os países civilizados, nem todos na escala hierarquica, podem dizer exatamente o que pensam. Lula, por exemplo, tem de manter sempre uma duvida razoavel a seu respeito. Amorin já pode ser mais explícito que ele. E Marco Aurélio Garcia, a quem cabe o varejo do trabalho sujo, pode mostrar integralmente o que é. Cabe a ele empurrar e torcer a realidade, à revelia dos fatos, para que caibam no gabarito pré-estabelecido do que o governo Lula quer da sua diplomacia. Daí ter o seu discurso aquele caráter  (vamos usar uma expressão camarada) “dialético” tomado de empréstimo à fábula do Lobo e o Cordeiro onde, não importa o que aconteça, o lobo tem sempre razão nos argumentos que usa para devorar sua vítima.

Já os jornalistas brasileiros deveriam ter outros objetivos. E se sabem tanto quanto Marco Aurélio Garcia qual foi a sequencia dos acontecimentos que desaguou nos fatos que estão noticiando em Honduras e tiram deles as mesmas conclusões que Marco Aurélio Garcia afirma tirar é porque são equivalentes morais de Marco Aurélio Garcia a quem não importa um grama a verdade do que diz, mas sim a utilidade do que diz para alcançar aquilo que quer.

Senão, vejamos.

Em 28 de junho passado, o ex-presidente Zelaya foi alvo de uma ordem de prisão por violação da Constituição emitida pela Suprema Corte de Honduras que o condenou em processo legal que vinha na sequência de outros procedimentos legais, exatamente dentro do figurino legal hondurenho. O mandato unico para presidentes é cláusula pétrea na Constituição de Honduras, um pais escaldado por sucessivos golpes de Estado no passado. Zelaya , eleito pelo voto conservador de Honduras mas que, aos poucos, foi se aproximando de Hugo Chaves que começou a seduzí-lo vendendo-lhe petroleo a preços subsidiados (ele sempre sabe como amolecer as convicções de um bom político latino-americano…), tinha tentado passar sua lei de reeleições no Congresso hondurenho, mas perdeu. Como Hugo Chaves, porem, ignorou o veredicto do Legislativo e quis insistir passando por cima dele e montando um plebiscito não previsto na legislação de seu país, abrindo reeleições sucessivas.

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O Judiciário, então, entrou em cena. Zelaya foi julgado por violação da Constituição e preso mas as autoridades hondurenhas cometeram a burrice, que prova sua boa fé, de metê-lo num avião e expulsá-lo do país, em vez de mantê-lo onde estava. Assumiu a presidência o presidente do Legislativo, como manda a Constituição local. O Judiciário e o Legislativo continuaram abertos e funcionando sob o comando dos mesmos civis de sempre. Os militares tambem seguem comandados por um civil. Ninguem mais foi preso. A livre circulação de informações continuou sendo garantida e uma nova eleição foi convocada para 29 de novembro próximo, a data em que expiraria o mandato que Zelaya quer encompridar a qualquer custo.

Como prova do apoio popular às medidas das instituições competentes para manter a legalidade em Honduras, não houve manifestações dignas de nota de apoio a Zelaya e o país vivia na mais perfeita ordem até que Hugo Chaves (que o confessa) e Lula (que o nega) trouxessem Zelaya de volta a Honduras numa operação clandestina e o instalassem, com um bando de homens armados, dentro da embaixada brasileira no centro de Tegucigalpa e permitissem, desde então, que ele fizesse comícios para os seus seguidores por cima dos muros da embaixada.

Dizem Lula, Celso Amorim e Marco Aurelio Garcia, que por qualquer pelo em ovo costumam gritar contra “ingerências nos assuntos internos” dos países cujos governos lhes interessa defender, ainda que seja algum daqueles serial killers africanos aos quais estão afeitos, que plantaram essa base para a derrubada do governo hondurenho no centro de Tegucigalpa por amor à democracia, razão pela qual não darão ouvidos a “governos golpistas” que ousem reclamar dessa pequena colaboração que estão prestando ao sr. Zelaya.

E para deixar ainda mais claras as suas boas intenções, anunciam, agora, que estão enviando a Tegucigalpa, para ajudar a pacificação, o deputado Ivan Valente, do PSOL, aquele que comandava  dentro do STF as manifestações de apoio ao terrorista Cesare Battisti, condenado pela “ditadura”  italiana e pela Corte de Direitos Humanos da União Européia por quatro assassinatos, mas abrigado como “perseguido político” pelo minstro da Justiça de Lula.

Amor, estranho amor!

Na mesma semana em que Hugo Chaves fechou 30 rádios, mandou espancar jornalistas e invadiu a rede de televisão que lhe faz oposição na Venezuela, Lula, Celso Amorim e Marco Aurelio Garcia declararam não ver “nenhum sinal de ameaça à liberdade de imprensa” naquele país. Tambem não viram qualquer desvio do mais genuino padrão democrático nas tres tentativas que Chaves fez de passar o seu ato de reeleição sucessiva, antes de conseguir finalmente impo-lo e calar no muque todos os orgãos de imprensa que não aceitam essa imposição.

Iran Missile

São eles, tambem, que se abraçam efusivamente, toda vez que têm uma oportunidade, com Mahmud Ahmadinejad, aquele que declara todos os dias querer ser o protagonista de um genocídio, para o qual se prepara ostensivamente fabricando bombas atômicas e mísseis capazes de levá-las até os alvos aos quais declara ódio sempre que pode. Nega o holocausto de judeus pelos nazistas mas não nega que quer fazer pessoalmente o que, a seu ver, o mundo imputa injustamente a Hitler.

Em eleição transcorrida no mes passado no Irã, Ahmadinejad foi claramente derrotado nas urnas mas se impos ao seu povo como costuma fazer: no tiro e na porrada, televisionada ao vivo para todo mundo, graças à internet, que conseguiu, assim, passar por cima das simpatias e antipatias dos “especialistas” sempre consultados pela grande imprensa e trazer os fatos ao vivo para a opinião publica.

Lula, Marco Aurélio Garcia e Celso Amorin não disseram uma palavra sobre tudo que todos nós vimos acontecendo no Irã. Seu propalado amor à democracia acorda e adormece exatamente quando eles querem.  Ao contrário, na primeira oportunidade que tiveram de mostrar a quem se alinham no joguinho do armagedon particular do iraniano que esta mesma imprensa costuma chamar de “líder”, apoiaram, contra a candidatura de um brasileiro, a eleição de um obscuro egípcio, notório por incitar à queima de todos os livros escritos por judeus, para nada menos que diretor-geral da Unesco.

Agora, quando todo o mundo civilizado procura criar embargos e dificuldades para isolar o facinoroso ditador do Irã e suas bombas atômicas o que fazem esses tres honestos paladinos da democracia? Convidam este bom senhor para vir visitar o Brasil, com toda a pompa e circunstância…

FARC

O mesmo tratamento que dão a Hugo Chaves, que, certamente cheio de boas intenções, lançou a América Latina numa corrida armamentista, enquanto grita e esperneia, ecoado por Lula, Celso Amorin e Marco Aurélio Garcia, contra a “real e iminente ameaça contra a independência do continente sul-americano” configurada na instalação de uma base com 800 civis e militares americanos que assessoram o governo Uribe para resgatar a Colombia das garras dos traficantes das FARC, ao fim de quase 40 anos de sucessivos banhos de sangue. Não se ouviu um pio desses tres quando computadores capturados a guerrilheiros das FARC provaram que é Hugo Chaves quem os sustenta. Lula, Celso Amorin e Marco Aurélio Garcia, aliás, nem sequer consideram guerrilheiros os integrantes das FARC que andam de farda camuflada, carregando fuzis Kalashnikov, sequestram, matam e fabricam cocaína para trocar por armas e munições. Ao contrário, dão-lhes guarida em nosso território quando a situação aperta para eles. Afirmam que são parte do jogo democrático colombiano como qualquer vereador do interior do Brasil.

Sobre Cuba, ha 50 anos nas mãos do mesmo governante, seus fuzilamentos, seus prisioneiros políticos, a miséria e o aprisionamento de seu povo na Ilha da qual não podem sair se quiserem, nada tambem. Lula, Celso Amorin e Marco Aurélio Garcia afirmam que se trata de uma democracia mais pura e menos iniqua que a nossa, cujo unico problema é o injusto e imotivado embargo mantido pelos americanos desde que eles, como Ahmadinejad hoje, começaram a armazenar foguetes e ogivas nucleares na Ilha vizinha da Flórida.

Até aí, tudo normal. Lula, Celso Amorin e Marco Aurélio Garcia têm objetivos claros e confessados.

Mas não venham me dizer que a imprensa que adota como seu o discurso deles o faz enganada e inocentemente.

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